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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
A separação, o divórcio ou o momento de rutura de um casal é uma experiência intensa e marcante, constituindo-se como um verdadeiro choque psicológico.
De facto, o contexto específico da crise da separação faz-se acompanhar por um intenso stress que ambos os envolvidos terão de enfrentar e que é gerado por inúmeros sentimentos e realidades que se impõem. Ambos os envolvidos terão de enfrentar a partir de então, nos seus processos e ritmos certamente diferentes e de acordo com a natureza do processo da separação, a tristeza perante a partida do outro, o eventual sentimento de se ter sido abandonado ou rejeitado, a culpabilidade perante o fracasso de não se conseguir manter a relação com o outro e a insegurança perante um futuro incerto. Acrescem-se ainda a inevitabilidade das realidades que se alteram e que são também elas geradoras de um grande stress, como por exemplo, a alteração da situação económica do casal, a frequência de oportunidades relacionais com os filhos e com a família alargada do ex-parceiro/parceira.
É assim compreensível que esta convergência de fatores gere um nível de stress elevadíssimo, que torna mais claro que a resolução deste momento de crise extremamente penoso possa estender-se a 2 anos.
É preocupante que é que esta crise por ser habitada por sentimentos tão dolorosos pode tornar-se destrutiva se não forem encontradas formas de a serenar.
É então importante sabermos que dificilmente se pode eliminar o stress associado à crise, mas que podemos sim reduzi-lo para níveis não destrutivos e que no processo sejam encontradas formas de se armazenar e gerar energia capazes de gerir uma crise que parecia insuperável.
Assim, e de forma a evitar cair num caminho de destrutividade, é importante conseguir-se evitar duros julgamentos relativos aos envolvidos até porque, e apesar da natureza da tomada de decisão da separação, ambos estarão provavelmente a elaborar, a compreender e a incorporar a situação no seu projeto de vida.
Importa compreender que sob o efeito de um stress tão intenso e com a revolta como líder verifica-se a tendência a serem adotados comportamentos atípicos, estranhos ou bizarros ao ponto de os envolvidos não se reconhecerem ou reconhecerem a outra pessoa da qual tinham um entendimento que permitiu cimentar uma vivência em conjunto. Assim, o enviesamento que este choque imprime distorce frequentemente a avaliação do outro que acaba por sair naturalmente contaminada, chegando a colocar-se em causa o valor do outro, o que se torna perigoso nos casos, em que ambos necessitarão um do outro para um exercício harmonioso da “função parental”.
De forma recorrente, torna-se difícil nestes momentos evocar as memórias saborosas dos momentos partilhados a dois, e apesar de certamente estes aspetos positivos não terem desaparecido, é como se se tivessem tornado invisíveis.
De facto verifica-se que para se sobreviver enquanto pais, após a desunião observada entre marido e mulher é necessária apelar à qualidade do perdão dos erros falhas e faltas cometidas e resistir à tentação de se realçar os desvios e deslizes do comportamento do outro. De forma a facilitar a compreensão, o casal desagregou-se exatamente pela divergência e é paradoxalmente o que se solicita como tarefa: uma tolerância a essa diferença, após a separação, para que possam continuar a exercer uma função parental saudável, num regime agora diferente.
A separação é inegavelmente um momento muito difícil mas incorrer na tentação de culpar o outro não irá alterar verdadeiramente a dor e a sua compreensão.
O caminho da cicatrização interna é encontrado no caminho de olharmos para nós próprios e procurarmos o que há da nossa responsabilidade nesta crise, porque normalmente numa situação de separação ou divórcio a responsabilidade é partilhada e é importante que cada um descubra o que lhe pertence.
Ultrapassar a crise significa ter a coragem de nela mergulhar, no sentido de a conhecer, compreender e incorporar.
É importante reter que a saída desta crise pode ser uma condição melhorada e que passará por uma elevação do nível de consciência daqueles que fomos, daqueles que somos e daqueles que pretendemos ser.
Autora: Susanne Marie França
Psicóloga Clínica
“Quando a namorada do Paulo termina o relacionamento, ele ameaça que se vai suicidar. A vida sem ela não faz sentido. Tudo o que ele valoriza na vida, está relacionado com ela….Tem sido uma dedicação total…e agora, como é que ele vai viver sem ela? “
“Cristina faz tudo para agradar ao marido. Ter a sua aprovação é fundamental. Chega a fazer coisas que não tem vontade… chega a humilhar-se….e ele é um bruto! É violento…mas depois fica tão amoroso…tão querido…e promete que vai mudar…que é a última vez…Estar com ele sempre é melhor do que estar sozinha…”
Quantos de nós não queremos acreditar que os relacionamentos amorosos podem ser uma fonte de crescimento, partilha e uma experiência de respeito mutuo? No fundo todos nós nutrimos a esperança de encontrarmos alguém com quem nos possamos sentir valorizados/as, amados/as e acompanhados/as no percurso da vida.
Mas, para alguns, um relacionamento pode ser uma experiência autenticamente infernal!
Gostaria de abordar convosco o tema dos relacionamentos de co-depêndencia.
Acredita-se que o co-dependente é uma pessoa que não tem um sentido do eu bem definido, e consequentemente, não está em sintonia com as suas próprias necessidades, desejos e emoções, sentindo assim uma enorme dependência afectiva, que por sua vez vai exercer pressão nas relações, provocando ansiedade cronica, dificuldades de controlo e expressão emocional adequada e marcantes flutuações de humor. Frequente, é igualmente, a necessidade doentia inesgotável e se sentir amado/a e correspondido/a, levando à procura incessante de “provas de amor”, cujo efeito apaziguador, nunca perdura o tempo suficiente para dar descanso ao desgaste que o ritmo deste tipo de relacionamento impõe.
O ponto-chave subsiste no tema do controlo. Pessoas com este tipo de problema sofrem frequentemente de formas de ciúme patológico, comportamentos obsessivos, agressividade passiva, e/ou explicita. Existem autores que consideram este tipo de relacionamento como o equivalente à total perda de auto-estima e perda da capacidade de racionalização e juízo critico. Weiss & Weiss, 2001, classificam este problema na área dos comportamentos aditivos como a toxicodependência, alcoolismo e perturbações de comportamento alimentar, associando outras perturbações como as perturbações de humor (depressão), ansiedade, de personalidade e abuso de substâncias e álcool.
Se nos “sintonizar-mos” com pessoas co-dependentes com estes tipos de comportamentos, surge-nos na base de toda esta amálgama de sentimentos e comportamentos disfuncionais, uma “criança interior” desamparada e aterrorizada com medo do abandono e da solidão. Para o adulto co-dependente, ter que defrontar-se com o seu próprio “vazio” é de tal modo amedrontador, que recorre a todos os meios que possam levar os outros a “preencher” esta grave lacuna, transformando-se numa fonte insaciável sorvendo aprovação e amor.
Paradoxalmente existe dificuldade em conseguir reconhecer e receber amor genuíno, temendo a intimidade e a partilha saudável de sentimentos e carinho.
Para ajudar a resumir, podemos classificar as dificuldades das pessoas com este tipo de problema em cinco componentes principais:
Todos os relacionamentos apresentam dificuldades e situações de crise. Faz parte integrante de um relacionamento saudável, abraçar a mudança e crescer dentro do próprio sistema relacional. Os relacionamentos co-dependentes trespassam por vezes o senso comum e formam ciclos de funcionamento viciados, sem rumo para aparente crescimento ou mudança.
Se por um lado não podemos viver na fantasia de que os relacionamentos amorosos são como os “contos de fadas”. Por outro, será que não merecemos viver um relacionamento que nos proporcione pequenos momentos de felicidade, em que nos esquecemos de tudo, e por preciosos momentos vivenciamos a experiencia de sermos uma princesa ou um príncipe….Numa história com um final feliz!
Se tem consciência de que está num relacionamento de co-dependência, por favor procure ajuda de um psicólogo ou outro profissional de saúde da sua confiança!
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Os affairs são um tema presente nas relações de hoje e são experiências emocionalmente dolorosas para todos os envolvidos.
Qualquer traição tem um impacto profundo pois cruza temas como o amor e a rejeição, e se a traição é sexual o impacto emocional é normalmente mais avassalador.
É importante reter que diferentes tipos de affairs têm normalmente associados diferentes significados. Não espelham de forma tão linear as respostas às perguntas normalmente colocadas: “o que é que ele/ela tem a mais do que eu?”; “significa que já não gostas de mim?”. Pode ser difícil compreender estes quebra- cabeças, mas os affairs não são normalmente uma questão de sexo e não têm normalmente a ver com o facto de se gostar ou não do/a companheiro/a.
Os affairs comunicam o sofrimento e o desconforto. São então uma forma de se “falar” acerca do sofrimento pelo qual se está a passar ou pelo sofrimento que se está a passar na relação ou casamento.
Em determinados tipos de relações que os casais têm como lema “não se discutir é sinal de uma relação feliz”, as tantas coisas acumuladas por refletir ou discordar podem falar pelo affair.
Nas relações em que ambos receiam a vulnerabilidade, levantam-se altas barreiras à intimidade e o affair torna-se então mais um escudo protetor.
Nas relações em que um dos elementos se privou de alimentar o seu espaço individual e que sentiu que se sacrificou em demasia pela relação, o affair fala por fim desta necessidade às vezes não conhecida pelo próprio.
Há relações também em que o affair é apenas um veículo para se terminar o casamento e não a razão pela qual ele acaba, distraindo no entanto o casal das verdadeiras questões emergentes.
Os affairs são puzzles difíceis de entender mas é importante deixar a mensagem de que por vezes com a coragem de os descortinar, estes funcionaram em muitos casais como catalisadores para se reconstruir e encontrar uma relação muito mais satisfatória do que a conhecida antes do affair, pois foi utilizado como a oportunidade de se conhecer, trabalhar e dissolver os dilemas a ele associados.
Fonte: Brown, E. M (2001) Um guia para sobreviver às repercussões da infidelidade
...ou quando os príncipes e princesas são, afinal, simples seres humanos...
Autora: Isabel Policarpo
Psicóloga Clínica
O casamento começa quase sempre como uma idealização do outro. Ela olha para ele e acredita que ele a fará feliz, que a completa, que tomará conta dela e que as vossas crianças serão lindas e inteligentes. Ele por seu lado, olha para os seus olhos convidativos e vê um universo cheio de promessa e desejo. Tudo parece perfeito e acreditamos que vamos viver o “e foram felizes para sempre”. Sonhamos com o grande dia e planeamo-lo com um imenso detalhe. Mas apesar de toda a pompa e circunstância, o casamento envolve riscos, porque a idealização inerente ao amor romântico e à paixão pode levar a uma armadilha onde nos podemos sentir verdadeiros escravos.
Frequentemente esquecemo-nos que o casamento é como quando compramos uma casa pela primeira vez. Escolhida a casa temos que tratar dela, decora-la, mantê-la, pagá-la, para não falar já nos vizinhos e nas fastidiosas reuniões de condomínio e todo um conjunto de outras coisas decorrentes de termos algo nosso.
É aqui que o verdadeiro trabalho do amor começa e acontece. Mas é também aqui, que começa o confronto com a realidade e é muito fácil o casal envolver-se rapidamente em espirais de ressentimento mútuo. "Porque é que eu deveria fazer alguma coisa por ele quando ele só pensa em si mesmo?". “Agora estás sempre a criticar-me” . ”Senão gostas, vai-te embora” . “Senão gritasses tanto, teria vindo para casa mais cedo”. O ressentimento é o veneno do amor.
E para alguns o casamento termina aqui. Para outros é tempo de aceitar a perda de um casamento baseado em mútuas fantasias infantis, mas desistir e abandonar o sonho não é fácil. O ressentimento tem de ceder lugar ao “deixar para trás”, sentimos-nos apertados e angustiados, afinal doí sempre quando temos de deixar algo para trás. Mas lenta e seguramente, é possível substitui-lo por um novo projecto, por uma parceria produtiva e necessária - o amor entre dois adultos.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
O casamento ou a conjugalidade é um marco precioso nas nossas vidas. É sabido que é difícil manter o “barco do amor” em velocidade cruzeiro e todos sabemos também que por vezes a viagem contempla águas turbulentas ou agitadas.
No entanto, se lhe parece que de forma permanente não se sente feliz na sua relação, os dados a seguir podem ajudá-lo a motivar-se a investir a uma “inspecção” à mecânica do seu antigo “barco do amor”.
Gottman, J., estudou 650 casais e seguiu o percurso dos seus casamentos por mais de 14 anos e revela que um casamento infeliz pode aumentar as probabilidades de ficar doente em cerca de 35% e mesmo diminuir a vida em 4 anos.
As probabilidades são melhor percebidas se atendermos ao facto de que as pessoas casadas que vivem infelizes experimentam um stress físico e emocional crónico com maior frequência o que pode determinar, por exemplo, tensão arterial elevada, doença cardíaca, ansiedade, depressão, abuso de substâncias e violência.
Num outro estudo conduzido pelo autor, dados significativos dizem-nos que nos casais infelizes com filhos os pais não são os únicos que sofrem, as crianças dos casais onde habita a hostilidade revelaram também níveis crónicos de hormonas de stress comparadas com as outras crianças estudadas. Estas crianças foram seguidas até idade de 15 anos e verificou-se que sofriam mais frequentemente de depressão, conflituosidade, rejeição pelos pares, problemas de comportamento, nomeadamente heteroagressividade, baixo rendimento escolar e mesmo insucesso escolar.
Desta forma fica claro que as consequências de, pelos filhos se manter um casamento onde a hostilidade é a regra, demonstram ser demasiado sérias e pesadas.
Gottman, revela-nos um achado valioso do decorrer da sua investigação: de que a maioria dos casais que mantiveram casamentos felizes, evidenciaram um casamento emocionalmente inteligente. Estes casais demonstraram ter atingido uma dinâmica que impede que os pensamentos e sentimentos negativos acerca um do outro se sobreponham aos positivos. Desta forma quanto mais um casal for emocionalmente inteligente mais é capaz de compreender, honrar e respeitar-se mutuamente e ao seu casamento. Segundo, o autor e felizmente para todos “os barcos do amor” que estão ancorados à espera de uma melhor maré, a inteligência emocional é uma capacidade que segundo o autor, pode ser ensinada a um casal. Com motivação, persistência e amizade conjugal poderá deixar-se navegar novamente em velocidade cruzeiro, e em marés tranquilas.
Fonte: Gameiro, J. (2007) Entre Marido e Mulher…Terapia de Casal, trilhos editora
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
A perpetuação de ciclos disfuncionais
Todos nós vivemos em interacção com outras pessoas e muito do nosso bem-estar e da nossa satisfação interior provém das relações que estabelecemos com as outras pessoas.
As nossas interacções começam desde os primeiros momentos de vinculação. Desde as primeiras experiências de prazer oral e de negação desse e de outros prazeres, que vamos aprendendo a interagir com as pessoas que nos rodeiam.
Primeiramente com as figuras máximas de vinculação, ou seja, geralmente os nossos pais, depois com os familiares e amigos dos pais, quer crianças, quer adultos e mais tarde com as crianças da pré-primária, primária e por aí fora. Nascemos e crescemos em relação.
Podemos ter desde sempre relações funcionais, em que aprendemos o que esperar das nossas figuras de vinculação e vamos crescendo e explorando o meio-ambiente, sabendo que temos um porto seguro, que são os nossos pais. Quando assim é falamos de uma vinculação segura.
Mas, também podemos ter desde os primeiros estádios de vida relações disfuncionais, em que vemos os nossos pais ansiosos ou altamente angústiados ou cheios de tristeza e desenvolvemos uma vinculação insegura em que não sabemos como lidar com as figuras de vinculação, pois não sabemos se poderão estar ansiosas ou deprimidas e se poderão estar ou não receptivas às nossas necessidades.
Podemos ainda ter relações altamente disfuncionais, em que vemos os nossos pais como figuras ameaçadoras para nós que tanto nos batem, como nos dão amor, de uma forma aparentemente incompreensível para nós.
Estes estilos de vinculação, estes padrões de vinculação criam-se e desenvolvem-se desde tenra idade, e de uma forma ou de outra, tendem a se perpetuar, pois as nossas emoções, como resposta aos comportamentos das nossas figuras de vinculação ficaram condicionadas de uma determinada forma.
Cada pessoa é um mundo único e traz consigo as várias memórias de vinculação que viveu, sejam elas verbais ou pré-verbais. Traz condicionamentos, traz respostas emocionais adaptativas que a levaram a se comportar de uma determinada forma em determinadas situações primárias, ou seja que remontam aos primeiros estádios de vinculação.
Cada pessoa traz essa herança que viveu durante a formação do seu estilo de vinculação e quando parte para uma relação traz consigo essa herança. Traz o seu estilo de vinculação.
É importante perceber que quando falamos de respostas emocionais adaptativas a estilos de vinculação, estamos a falar de algo muito anterior à palavra escrita ou falada. Estamos no domínio do pré-verbal. São memórias muito antigas e que se desenvolveram para nos proteger. Aprendemos como reagir perante determinadas figuras com determinados estilos de vinculação.
Uma vez que aprendemos a lidar com determinados estilos vamos ter tendência para, ao longo da nossa vida procurar pessoas que correspondam ao mesmo estilo de vinculação. Quando falamos de estilos de vinculação não seguros então vamos ter tendência a procurar pessoas não seguras.
E obviamente surgirá uma pergunta completamente legítima: Porquê? Diz o leitor: “Devíamos era fugir a sete pés de pessoas que vão lidar connosco como lidaram os nossos pais”.
Compreendo perfeitamente o seu espanto, mas a questão é que por muito desconfortável que possa ser a interacção com figuras de vinculação inseguras a verdade é que algures no nosso passado remoto aprendemos, de alguma forma, a lidar com estas figuras e, portanto, de algum modo, o nosso organismo vai procurar o que lhe é confortável e conhecido.
Mas a verdade racional é que é muito dificil ter uma relação amorosa satisfatória quando existe insegurança, quando não conseguimos confiar, quando não nos conseguimos entregar, quando temos ciúmes patológicos, quando sentimos raiva quando o nosso companheiro quer fazer amor connosco, quando o nosso corpo se fecha e não responde sexualmente e.t.c.
Todos nós queremos relações em que possamos amar e ser amados, numa palavra em que possamos dar e sentir segurança.
O que é que acontece quando duas pessoas não se entendem numa relação amorosa? Podem ficar juntas ou se separar. Se ficam juntas podem pensar:
“O amor vai ultrapassar todas as barreiras e vamos ficar bem”
Se ficam separadas podem pensar:
“Vou sofrer muito, mas o tempo tudo cura e eu vou ficar bem e encontrar a pessoa certa para mim”.
Ambas as ideias podem ser perigosas.
E porquê? Porque sem psicoterapia as pessoas vão ter tendência a repetir os mesmos padrões de vinculação. E por muito amor que tenham uma pela outra vão manter o seu analfabetismo na capacidade de se relacionarem uma com a outra. Sem psicoterapia é como se continuassem com vendas nos olhos a chocar contra as paredes e contra o parceiro, sem realmente o ver, porque não se conseguem ver a sí próprias.
Sem psicoterapia dificilmente vão quebrar os automatismos que trazem e que disparam perante determinada expressão facial, determinada expressão emocional, determinado gesto ou inflexão de voz. Não basta amar. O amor dificilmente será suficiente.
A segunda ideia também é perigosa. A pessoa até pode acabar a relação disfuncional, mas normalmente acaba por repetir o padrão que traz consigo, mas, desta vez, com outra pessoa, que normalmente apresenta o mesmo padrão de vinculação que a anterior e o sofrimento vai apenas repetir-se.
Muitas vezes as pessoas surgem em psicoterapia depois de terem repetido vezes sem conta estes padrões e terem tido relações disfuncionais.
Eu penso que infelizmente existem muitas relações interpessoais disfuncionais e felizmente existe a Psicoterapia para procurar dar resposta e ajudar a pessoa a ter auto-conhecimento da sua forma de interagir e dos seus ciclos interpessoais disfuncionais.
É mesmo importante que a Psicoterapia seja cada vez mais vista com seriedade e com urgência perante a sua mais valia na forma de ajudar pessoas que perpetuam ciclos interpessoais disfuncionais.
Pense nisto! Às vezes nem o tempo nem o amor chegam! É preciso algo mais!
Autora: Filipa Cristóvão
Psicóloga Clínica
Contrariamente ao que se acredita, parece que o amor romântico pode durar e levar a relações cada vez mais felizes. O romance não tem de resfriar nas relações duradouras e evoluir para uma relação do tipo amizade companheira. É o que diz um estudo de Bianca P. Acevedo, da Universidade de Califórnia, publicado na of Review of General Psychology
Tipicamente, as pessoas confundem o amor romântico com o amor possessivo. Contudo, o amor romântico tem a mesma intensidade, envolvimento e química sexual que o amor apaixonado, mas não inclui a componente obsessiva. O amor apaixonado ou obsessivo inclui sentimentos de incerteza e ansiedade. Esse tipo de amor dirige as relações breves, mas não as relações de longa duração.
O estudo revela que aqueles que reportaram um maior amor romântico estavam mais satisfeitos tanto em relações breves como duradouras. O amor companheiro estava apenas moderadamente associado com a satisfação nas relações breves e longas. Por último, os sujeitos que reportaram maior presença de amor apaixonado nas suas relações estavam mais satisfeitos nas relações breves do que nas duradouras.
Os casais que reportaram maior satisfação nas suas relações também reportaram estarem mais felizes e com maior auto-estima.
Sentir que o parceiro “está lá para si” contribui para uma boa relação e facilita os sentimentos de amor romântico. Por outro lado, sentimentos de insegurança estão relacionados com menor satisfação e podem contribuir para o conflito na relação, podendo levar ao desenvolvimento do amor obsessivo.
Esta descoberta pode mudar as expectativas das pessoas sobre o que pretendem em relações duradouras. O amor companheiro, que é visto por muitos casais como a natural progressão de uma relação bem-sucedida, pode não ser a única opção de vivência dos afectos numa relação. Assim, mesmo os casais que já estejam juntos por um longo tempo podem focar os seus objectivos em recuperar o romance sabendo que é possível de atingir, embora com algum investimento, e que esse empenho poderá ter como retorno maior satisfação realização.
Acevedo, B. (2009)"Does a Long-Term Relationship Kill Romantic Love?" Review of General Psychology, Vol. 13, No. 1.
Public Affairs. (2009, March 19). "Romance Can Last In Long-Term Relationships Contrary To Widely Held Beliefs." Medical
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
No programa da RTP2 Onda-Curta passaram uma curta-metragem intitulada “Tout le monde dit je t’aime” (Toda a gente diz amo-te) que reflecte de uma forma muito interessante sobre o significado do amor aos 16 anos.
E fui ficando a questionar-me: O que é isto do amor? Como é que se lida com o “amo-te”?
O giro da curta é que mostra duas adolescentes com perspectivas muito diferentes do “amo-te”: uma que acredita que a expressão tem significado e é forte, a apaixonada, que vive ela própria este sentimento; e a descrente, a quem nunca o disseram, e que defende que “amo-te” é como uma palavra mágica – não significa nada, toda a gente o diz, e ainda por cima tem a particularidade de encurralar, afinal de contas o que é que se responde a um “amo-te” que não seja “eu também”? E depois quando é que se pára? Temos que dizer “amo-te” para sempre?
Como é que se sabe que se ama? Quando é que faz sentido dizê-lo? Há um tempo mínimo antes do qual é parvoíce? E se se espera demais?
Não tenho resposta a estas questões. O que tenho é a imagem destas duas adolescentes a seguirem direcções opostas e a gritarem “Eu amo-te” uma à outra, à medida que se afastavam, com um sorriso, um prazer que transbordava por todo o corpo.
E a realidade é que parece que, mais do que um pensamento, e estejamos nós a dizê-lo ou a recebê-lo, “amo-te” é um sentimento que percorre todo o nosso corpo com um misto de aperto e de euforia. “Amo-te” lê-se no corpo mais do que na mente. E é de facto mágico, como dizia a descrente, mas um mágico diferente, tão mágico que alguns o tememos, muitos o desacreditamos, mas todos nos deliciamos quando o recebemos daqueles que também nós amamos.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Com frequência são revelados em consultório os sentimentos de desilusão e frustração que se abatem sobre os casais de famílias reconstituídas. Este é um sinal de alerta significativo, já que as estatísticas indicam que a taxa de separação é maior nestas famílias comparativamente com as famílias tradicionais, deixando-nos de sobreaviso para o risco acrescido de ruptura das famílias reconstituídas.
É então importante apelar à “saúde” e preservação das famílias reconstituídas alertando os membros do casal de que as tarefas que têm a seu cargo são diferentes das famílias tradicionais e que envolvem uma maior complexidade e maturidade emocional.
É importante dizer também a estes casais que estas tarefas poderão ser desempenhadas com naturalidade e satisfação mas que é importante conhecer as diferenças, singularidades e os desafios que as mesmas comportam, para que possam ser satisfatoriamente superadas.
Tem-se verificado com frequência uma pressa em (re)casar ou em unir as duas famílias, por parte dos dois cônjuges, o que não é senão prejudicial à nova constituição. Veja-se, com naturalidade conta-se nas famílias reconstituídas com a presença de filhos, pelo que naturalmente o casal será muito solicitado no seu papel parental.