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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Susanne Marie França
Psicóloga Clínica
“Quando a namorada do Paulo termina o relacionamento, ele ameaça que se vai suicidar. A vida sem ela não faz sentido. Tudo o que ele valoriza na vida, está relacionado com ela….Tem sido uma dedicação total…e agora, como é que ele vai viver sem ela? “
“Cristina faz tudo para agradar ao marido. Ter a sua aprovação é fundamental. Chega a fazer coisas que não tem vontade… chega a humilhar-se….e ele é um bruto! É violento…mas depois fica tão amoroso…tão querido…e promete que vai mudar…que é a última vez…Estar com ele sempre é melhor do que estar sozinha…”
Quantos de nós não queremos acreditar que os relacionamentos amorosos podem ser uma fonte de crescimento, partilha e uma experiência de respeito mutuo? No fundo todos nós nutrimos a esperança de encontrarmos alguém com quem nos possamos sentir valorizados/as, amados/as e acompanhados/as no percurso da vida.
Mas, para alguns, um relacionamento pode ser uma experiência autenticamente infernal!
Gostaria de abordar convosco o tema dos relacionamentos de co-depêndencia.
Acredita-se que o co-dependente é uma pessoa que não tem um sentido do eu bem definido, e consequentemente, não está em sintonia com as suas próprias necessidades, desejos e emoções, sentindo assim uma enorme dependência afectiva, que por sua vez vai exercer pressão nas relações, provocando ansiedade cronica, dificuldades de controlo e expressão emocional adequada e marcantes flutuações de humor. Frequente, é igualmente, a necessidade doentia inesgotável e se sentir amado/a e correspondido/a, levando à procura incessante de “provas de amor”, cujo efeito apaziguador, nunca perdura o tempo suficiente para dar descanso ao desgaste que o ritmo deste tipo de relacionamento impõe.
O ponto-chave subsiste no tema do controlo. Pessoas com este tipo de problema sofrem frequentemente de formas de ciúme patológico, comportamentos obsessivos, agressividade passiva, e/ou explicita. Existem autores que consideram este tipo de relacionamento como o equivalente à total perda de auto-estima e perda da capacidade de racionalização e juízo critico. Weiss & Weiss, 2001, classificam este problema na área dos comportamentos aditivos como a toxicodependência, alcoolismo e perturbações de comportamento alimentar, associando outras perturbações como as perturbações de humor (depressão), ansiedade, de personalidade e abuso de substâncias e álcool.
Se nos “sintonizar-mos” com pessoas co-dependentes com estes tipos de comportamentos, surge-nos na base de toda esta amálgama de sentimentos e comportamentos disfuncionais, uma “criança interior” desamparada e aterrorizada com medo do abandono e da solidão. Para o adulto co-dependente, ter que defrontar-se com o seu próprio “vazio” é de tal modo amedrontador, que recorre a todos os meios que possam levar os outros a “preencher” esta grave lacuna, transformando-se numa fonte insaciável sorvendo aprovação e amor.
Paradoxalmente existe dificuldade em conseguir reconhecer e receber amor genuíno, temendo a intimidade e a partilha saudável de sentimentos e carinho.
Para ajudar a resumir, podemos classificar as dificuldades das pessoas com este tipo de problema em cinco componentes principais:
Todos os relacionamentos apresentam dificuldades e situações de crise. Faz parte integrante de um relacionamento saudável, abraçar a mudança e crescer dentro do próprio sistema relacional. Os relacionamentos co-dependentes trespassam por vezes o senso comum e formam ciclos de funcionamento viciados, sem rumo para aparente crescimento ou mudança.
Se por um lado não podemos viver na fantasia de que os relacionamentos amorosos são como os “contos de fadas”. Por outro, será que não merecemos viver um relacionamento que nos proporcione pequenos momentos de felicidade, em que nos esquecemos de tudo, e por preciosos momentos vivenciamos a experiencia de sermos uma princesa ou um príncipe….Numa história com um final feliz!
Se tem consciência de que está num relacionamento de co-dependência, por favor procure ajuda de um psicólogo ou outro profissional de saúde da sua confiança!
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Os affairs são um tema presente nas relações de hoje e são experiências emocionalmente dolorosas para todos os envolvidos.
Qualquer traição tem um impacto profundo pois cruza temas como o amor e a rejeição, e se a traição é sexual o impacto emocional é normalmente mais avassalador.
É importante reter que diferentes tipos de affairs têm normalmente associados diferentes significados. Não espelham de forma tão linear as respostas às perguntas normalmente colocadas: “o que é que ele/ela tem a mais do que eu?”; “significa que já não gostas de mim?”. Pode ser difícil compreender estes quebra- cabeças, mas os affairs não são normalmente uma questão de sexo e não têm normalmente a ver com o facto de se gostar ou não do/a companheiro/a.
Os affairs comunicam o sofrimento e o desconforto. São então uma forma de se “falar” acerca do sofrimento pelo qual se está a passar ou pelo sofrimento que se está a passar na relação ou casamento.
Em determinados tipos de relações que os casais têm como lema “não se discutir é sinal de uma relação feliz”, as tantas coisas acumuladas por refletir ou discordar podem falar pelo affair.
Nas relações em que ambos receiam a vulnerabilidade, levantam-se altas barreiras à intimidade e o affair torna-se então mais um escudo protetor.
Nas relações em que um dos elementos se privou de alimentar o seu espaço individual e que sentiu que se sacrificou em demasia pela relação, o affair fala por fim desta necessidade às vezes não conhecida pelo próprio.
Há relações também em que o affair é apenas um veículo para se terminar o casamento e não a razão pela qual ele acaba, distraindo no entanto o casal das verdadeiras questões emergentes.
Os affairs são puzzles difíceis de entender mas é importante deixar a mensagem de que por vezes com a coragem de os descortinar, estes funcionaram em muitos casais como catalisadores para se reconstruir e encontrar uma relação muito mais satisfatória do que a conhecida antes do affair, pois foi utilizado como a oportunidade de se conhecer, trabalhar e dissolver os dilemas a ele associados.
Fonte: Brown, E. M (2001) Um guia para sobreviver às repercussões da infidelidade
...ou quando os príncipes e princesas são, afinal, simples seres humanos...
Autora: Isabel Policarpo
Psicóloga Clínica
O casamento começa quase sempre como uma idealização do outro. Ela olha para ele e acredita que ele a fará feliz, que a completa, que tomará conta dela e que as vossas crianças serão lindas e inteligentes. Ele por seu lado, olha para os seus olhos convidativos e vê um universo cheio de promessa e desejo. Tudo parece perfeito e acreditamos que vamos viver o “e foram felizes para sempre”. Sonhamos com o grande dia e planeamo-lo com um imenso detalhe. Mas apesar de toda a pompa e circunstância, o casamento envolve riscos, porque a idealização inerente ao amor romântico e à paixão pode levar a uma armadilha onde nos podemos sentir verdadeiros escravos.
Frequentemente esquecemo-nos que o casamento é como quando compramos uma casa pela primeira vez. Escolhida a casa temos que tratar dela, decora-la, mantê-la, pagá-la, para não falar já nos vizinhos e nas fastidiosas reuniões de condomínio e todo um conjunto de outras coisas decorrentes de termos algo nosso.
É aqui que o verdadeiro trabalho do amor começa e acontece. Mas é também aqui, que começa o confronto com a realidade e é muito fácil o casal envolver-se rapidamente em espirais de ressentimento mútuo. "Porque é que eu deveria fazer alguma coisa por ele quando ele só pensa em si mesmo?". “Agora estás sempre a criticar-me” . ”Senão gostas, vai-te embora” . “Senão gritasses tanto, teria vindo para casa mais cedo”. O ressentimento é o veneno do amor.
E para alguns o casamento termina aqui. Para outros é tempo de aceitar a perda de um casamento baseado em mútuas fantasias infantis, mas desistir e abandonar o sonho não é fácil. O ressentimento tem de ceder lugar ao “deixar para trás”, sentimos-nos apertados e angustiados, afinal doí sempre quando temos de deixar algo para trás. Mas lenta e seguramente, é possível substitui-lo por um novo projecto, por uma parceria produtiva e necessária - o amor entre dois adultos.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
O casamento ou a conjugalidade é um marco precioso nas nossas vidas. É sabido que é difícil manter o “barco do amor” em velocidade cruzeiro e todos sabemos também que por vezes a viagem contempla águas turbulentas ou agitadas.
No entanto, se lhe parece que de forma permanente não se sente feliz na sua relação, os dados a seguir podem ajudá-lo a motivar-se a investir a uma “inspecção” à mecânica do seu antigo “barco do amor”.
Gottman, J., estudou 650 casais e seguiu o percurso dos seus casamentos por mais de 14 anos e revela que um casamento infeliz pode aumentar as probabilidades de ficar doente em cerca de 35% e mesmo diminuir a vida em 4 anos.
As probabilidades são melhor percebidas se atendermos ao facto de que as pessoas casadas que vivem infelizes experimentam um stress físico e emocional crónico com maior frequência o que pode determinar, por exemplo, tensão arterial elevada, doença cardíaca, ansiedade, depressão, abuso de substâncias e violência.
Num outro estudo conduzido pelo autor, dados significativos dizem-nos que nos casais infelizes com filhos os pais não são os únicos que sofrem, as crianças dos casais onde habita a hostilidade revelaram também níveis crónicos de hormonas de stress comparadas com as outras crianças estudadas. Estas crianças foram seguidas até idade de 15 anos e verificou-se que sofriam mais frequentemente de depressão, conflituosidade, rejeição pelos pares, problemas de comportamento, nomeadamente heteroagressividade, baixo rendimento escolar e mesmo insucesso escolar.
Desta forma fica claro que as consequências de, pelos filhos se manter um casamento onde a hostilidade é a regra, demonstram ser demasiado sérias e pesadas.
Gottman, revela-nos um achado valioso do decorrer da sua investigação: de que a maioria dos casais que mantiveram casamentos felizes, evidenciaram um casamento emocionalmente inteligente. Estes casais demonstraram ter atingido uma dinâmica que impede que os pensamentos e sentimentos negativos acerca um do outro se sobreponham aos positivos. Desta forma quanto mais um casal for emocionalmente inteligente mais é capaz de compreender, honrar e respeitar-se mutuamente e ao seu casamento. Segundo, o autor e felizmente para todos “os barcos do amor” que estão ancorados à espera de uma melhor maré, a inteligência emocional é uma capacidade que segundo o autor, pode ser ensinada a um casal. Com motivação, persistência e amizade conjugal poderá deixar-se navegar novamente em velocidade cruzeiro, e em marés tranquilas.
Fonte: Gameiro, J. (2007) Entre Marido e Mulher…Terapia de Casal, trilhos editora
Catarina Mexia
Psicóloga Clínica
Coordenadora de equipa
Na infância fomos educados para dizer a verdade e foi-nos ensinado que ser honesto compensa. Contudo, à medida que crescemos, damo-nos conta de que a verdade pode ser muito cruel e poucos relacionamentos poderiam sobreviver à realidade de uma honestidade brutal. Para evitar magoar outros, aprendemos a utilidade das "mentiras piedosas". Por outro lado, as mentiras que construímos apenas em nosso benefício podem magoar e são frequentemente utilizadas apenas para evitar o castigo.
A generalidade das pessoas considera-se honesta, nomeadamente de acordo com os ditames da sociedade. Mas o que a sociedade considera honestidade e o que é a verdade são duas coisas completamente diferentes. Temos sido sistematicamente ensinados na nossa cultura a tornar a mentira uma parte das nossas vidas. Fazemo-lo com tanta frequência que nem nos damos conta disso.
Se honestidade é "dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade", a versão politicamente aceite é "Dizer a verdade, e somente parte da verdade, na medida em que nos serve e ninguém se sente magoado". E este é o raciocínio presente nas consistentes e persistentes mentiras piedosas, que dizemos aos outros todos os dias.
Parece-nos perfeitamente plausível esconder a verdade ou parte dela se julgamos que esta vai magoar os sentimentos de alguém, iniciar um conflito, deixar mal o outro ou fazer-nos parecer mal.
Porque mentimos?
Mentimos porque nem sempre podemos dizer toda a verdade. Porque precisamos que as pessoas gostem de nós, nos amem e nos aceitem. Quando não se trata de uma situação patológica ou de um distúrbio de personalidade, as razões mais frequentes por detrás de uma mentira podem ter como objectivos combater o medo de ser rejeitado, considerado ridículo ou indesejável; não perder o controlo da situação, o que na realidade não passa de uma ilusão já que ninguém tem o controlo de nada a não ser dos seus comportamentos com que responde ás situações; esconder aspectos da nossa maneira de ser que consideramos intoleráveis e, finalmente, combater a insegurança e a vulnerabilidade através de uma falsa imagem. Ironicamente se não dissermos a verdade e construirmos estes "falsos eus" as pessoas não conseguem gostar de nós! Logo, a única forma de sermos realmente amados, realmente aceites, é mostrando quem somos com verdade. Só dando-nos realmente a conhecer, é possível aos outros aceitar quem realmente somos. Se usamos uma máscara, uma realidade construída de quem nós somos, o outro só poderá amar, aceitar e relacionar- se com a máscara. E então sentimo-nos mais sozinhos do que nunca e, até mesmo, ressentidos com os outros por uma armadilha criada a nós mesmos.
Efeitos perversos.
As mentiras interferem nas nossas relações, sejam elas amorosas, de amizade ou profissionais.
Uma relação saudável baseia- se principalmente na confiança. Sem ela, não existe a tranquilidade necessária para que a relação se aprofunde e desenvolva. É muito difícil manter um relacionamento amoroso quando um dos parceiros perde a confiança no outro, conseguir uma promoção quando o patrão percebe que utilizamos sistematicamente as "desculpas de mau pagador" para justificarmos os nossos atos menos meritórios ou, ainda, ajudar os nossos filhos a crescer saudavelmente quando são sistematicamente confrontados com a "invenção da realidade" mostrando-lhes que é normal não assumirmos a responsabilidade plena dos nossos atos e pensamentos. E uma vez mais não estamos a falar de outras que não as mentiras piedosas.
A mentira tem efeitos perversos numa relação, que muitas vezes fica irremediavelmente afectada ou necessita de ajuda profissional para ser reciclada. Aqui fica um breve enunciado destes efeitos perversos:
Decepção — "afinal ele não é quem eu pensava!", "preciso de saber se posso confiar", "Será todo o nosso relacionamento uma mentira?"
Desconfiança — Este é um dos efeitos mais devastadores e mais difíceis de reconquistar numa relação, qualquer que seja a sua natureza, e mesmo quando estamos dispostos a lutar pelo relacionamento torna- se um dos objectivos mais desgastantes e difíceis de alcançar.
Desrespeito — Ao mentirmos tiramos ao outro a oportunidade de escolha, desrespeitamo-lo como ser inteligente autónomo, que necessita de agir de acordo com a sua interpretação do mundo.
Desinteresse — é uma das marcas que vai afectar mais o estilo de envolvimento na relação. O medo de voltar a ser enganado leva-nos investir cada vez menos e a afastar- nos dentro da relação.
Ruptura — Ironicamente, muitas vezes foi o medo da ruptura que nos levou a utilizar as mentiras piedosas em primeiro lugar.
Mentir ou não mentir?
Em última análise a decisão será sempre individual, pesando os prós e os contras da situação que está em jogo.
Seja qual for a opção há que atender às necessidades mais básicas por detrás de uma pergunta ou afirmação.
Imaginemos que você está ao telefone com a sua melhor amiga que detesta o seu atual marido. Este por sua vez está desejoso de saber com quem você está ao telefone mas não ousa perguntar. Se você disser "A Ana manda cumprimentos" estaremos a usar uma mentira piedosa. Assim, respondemos a uma necessidade que reconhecemos, damos a informação desejada e evitamos uma situação em que a mentira é melhor que a verdade de saber que a Ana o detesta ou ignora.
Se estão na iminência de sair e a sua companheira lhe pergunta como lhe fica o vestido, a resposta poderá ser "muito bem, estás linda". A oportunidade do momento e a necessidade de se sentir confiante, segura e apreciada justifica uma resposta como esta, mesmo se isso não corresponder exatamente à nossa apreciação pessoal ou gostássemos que o vestido fosse outro. Respeitar as necessidades básicas de segurança e aceitação foi mais importante do que ser brutalmente honesto, quem sabe egoísta, dizendo "o vermelho ficaria muito melhor".
Por sua vez há que atender à seriedade do problema que está a ser abordado na situação em relação à qual não expressamos a nossa verdadeira opinião utilizando a mentira piedosa.
Mentir acerca da satisfação sexual não é uma boa ideia pois estará a comprometer a resolução daquilo que, com o tempo, pode tornar- se num grande problema. Mais vale escolher o momento e falar com o seu parceiro sobre formas de explorar outras alternativas mais satisfatórias para ambos.
Afirmar com toda a facilidade "tudo bem" quando somos questionados por alguém que gosta de nós e que percebe claramente que não está nada bem, também pode ser uma armadilha perigosa. Você sente-se péssimo(a) e embora não seja nada com o seu companheiro(a) ele já percebeu. Você não tem vontade de falar sobre o assunto enquanto não refletir melhor sobre o que se passou, mas também não é capaz de lho dizer desta maneira. O que pode acontecer é que este tipo de mentira sem importância poderá converter-se num drama de grandes dimensões. O seu companheiro(a) pensará que se trata de algo que tem a ver com ele ou com a vossa relação, que você tem segredos que não quer partilhar e não confia o suficiente para o ter como seu confidente. Será melhor dizer claramente qualquer coisa como "estou preocupada, mas não é nada contigo, e agora gostaria de refletir melhor sobre o assunto. Até lá não me apetece falar sobre isso. Mais logo, talvez".
Finalmente, o povo diz que "se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo", e a sabedoria popular dá que pensar como queremos construir a nossa relação com os outros.
Autora: Inês Franco Alexandre
Psicóloga Clínica
Muitos dos pedidos em terapia de casal, mesmo que não sejam revelados desta forma no início da terapia, estão relacionados com dificuldades na intimidade, sendo a perda ou diminuição do desejo de um dos parceiros uma das queixas mais frequentes.
Existe a crença social que a paixão inicial não se prolonga ao longo do tempo: “antes fazíamos amor todos os dias e o desejo era recíproco. Mas claro, tudo isso diminui quando acordamos a falar sobre o que fazer para o jantar.”
E será, de facto, necessariamente assim? A estabilidade na relação inibe o desejo?
Muitos terapeutas, perante este tipo de queixas, incita os casais a passarem mais tempo juntos, a ter tempo de qualidade só do casal. Se é verdade que a vida quotidiana retira, muitas vezes, disponibilidade para passar tempo a sós com o outro, também é verdade que essa dificuldade também existia, na maior parte das vezes, no início do relacionamento. Então o que mudou? Será esta estratégia terapêutica realmente adequada?
A especialista Esther Perel fala-nos de duas necessidades básicas no ser humano, e do aparente confronto entre elas: a necessidade de segurança, estabilidade, confiança no outro e a necessidade de novidade, mudança, mistério.
A estabilidade decorre do facto de eu conhecer o outro: como reage perante as situações, quais os seus valores fundamentais, do que gosta, quais os seus limites, que projectos tem. Isto permite-me inferir sobre a forma como vai reagir no futuro, e permite-me confiar e sentir-me seguro. O desejo de novidade tem que ver com uma necessidade intrínseca (e não apenas humana) de exploração, de curiosidade perante o mundo. No entanto, este desejo do desconhecido causa-nos ansiedade. Quem já observou um gato a explorar um objecto novo pode notar como os seus olhos brilham e como simultaneamente os seus movimentos denunciam o seu medo. Nas relações humanas, esta necessidade de exploração estará também relacionada com o desejo: apaixono-me pelo mistério que é o outro. Em resumo: precisamos de ter confiança e de diminuir a nossa ansiedade, mas também de mistério, que nos dá vida mas que aumenta a nossa ansiedade.
Nos tempos actuais, este confronto parece estar mais presente. Vivemos um clima de ansiedade geral: não sabemos se temos trabalho, se este se manterá, até quando nos manteremos no mesmo lugar, se temos de emigrar, se teremos dinheiro suficiente para pagar as contas. O mundo muda a mil à hora e perguntamo-nos se o conseguiremos acompanhar. E quem melhor do que o nosso companheiro para exercermos a nossa necessidade de controlo sobre o mundo? Esse que nós conhecemos tão bem, a quem reconhecemos o que quer só pelo olhar, que reage de forma tão previsível?
Existirá solução? Como manter o desejo numa relação segura?
Talvez a(s) solução(ões) passe por entendermos, em primeiro lugar, que as duas necessidades não são opostas, se expressas de uma forma flexível e essencialmente realista. É verdade que a confiança no outro é imprescindível para estabelecermos vínculos seguros e saudáveis, inclusivamente para podermos explorar a nossa sexualidade com confiança. Mas será realista assumir que conhecemos, de facto, o outro? Que sabemos o que pensa, o que sente, como sente, como irá reagir, anulando-lhe dessa forma a sua complexidade que tanto nos apaixona? Será realista assumirmos que já não há nada a descobrir, e por isso nada a conquistar? Desejar é querer para nós, ainda que saibamos que isso nunca irá acontecer na totalidade. Porque no fundo, bem lá no fundo, existe a certeza de que o outro nos escapa na sua liberdade, na sua individualidade. A certeza pela segurança não só é ilusória como pode matar a admiração, uma das grandes componentes da paixão e do desejo.
Não existirá uma solução, mas várias soluções diferentes para cada casal. Como terapeuta, tento fazer o contrário do que acontece com a maioria destes casais: mantenho-me curiosa e atenta a quem está à minha frente, tentando nunca perder a capacidade de me surpreender com as pessoas. Emociono-me (de verdade!) com cada nova descoberta, com cada mudança adquirida. E isso não me impede (antes pelo contrário) de estabelecer uma relação de grande confiança com quem comigo se cruza no consultório. Isso fá-los acreditar na verdade: que vale a pena descobri-los.
E como terapeuta, desafio cada elemento dos casais a quem a rotina parece ter feito perder o desejo: a flexibilizar um pouco os seus limites de segurança e a arriscar-se a olhar para o outro como único e fascinante.
Autor: Gustavo Pedrosa
Psicólogo Clínico
Nas famílias actuais, o stress laboral (relativo ao emprego) é um factor de particular importância. Um cônjuge apoiante, é sem dúvida um elemento de grande estabilidade no casal, mas, e quando ambos os cônjuges estão expostos a este stress?
O stress laboral tem impacto em todo o sistema familiar, resultando numa das principais causas de divórcios. No actual contexto social, com ambos os cônjuges empregados e submetidos a uma elevada exigência laboral, é importante perceber o efeito desse factor no sistema familiar.
O bem estar resultante de cônjuges apoiantes pode ser perceptível na vivencia familiar e, também, no emprego. Num estudo conduzido por Wayne Hochwarter, da Universidade Estadual da Flórida - College of Business, foi possível verificar a importância do apoio do cônjuge, independentemente do tipo de emprego e da sua exigência laboral.
No estudo identificou-se que os casais que relataram altos níveis de stress, mas com um apoio conjugal forte, em comparação com casais com elevado stress, sem esse apoio, demonstraram os seguintes benefícios no sistema familiar:
Também ao nível laboral foi possível identificar os seguintes benefícios:
A incapacidade de criar um suporte conjugal para lidar com o stress laboral resulta num retorno ao local de trabalho com uma agitação ainda maior. Esse apoio, deverá ser criado por ambos os cônjuges, para que algumas tentativas de apoio não possam sair frustradas, piorando a situação.
Foram identificados alguns dos factores que distinguem o apoio favorável, do apoio desfavorável. O apoio favorável tem um impacto profundo e de longa duração, com várias características, que incluíam:
Quando ambos estão stressados do trabalho, devem manter-se os recursos mentais e emocionais necessários para ajudar o cônjuge. Nos casais bem sucedidos, os cônjuges conseguem lidar com o seu próprio stress, e quase sempre mantêm de reserva um fornecimento de suporte, para ser aproveitado em dias particularmente exigentes.
Os homens e as mulheres diferem nos comportamentos de apoio preferidos. Em geral, as esposas apreciam ser ajudadas nas tarefas domésticas; sentirem-se apreciadas, e receber manifestações de carinho e afecto. Os maridos, por sua vez, são mais propensos a responder positivamente às ofertas de ajuda, e a sentirem-se apreciados e necessários. No entanto, ambos apreciam a ajuda do cônjuge em conseguir algum tempo afastado do trabalho e dos problemas familiares, para simplesmente descansar e recarregar baterias.
Em qualquer relação, quando o stress está presente tem o potencial de unir ou de separar as pessoas. O estudo referido demonstra esta informação no que respeita ao stress laboral. É também evidente o papel fundamental da comunicação e da confiança entre os cônjuges, de forma a criarem uma base de relacionamento mais estável.
Hochwarter, W. (2012) “In Sickness and in Health: Importance of Supportive Spouses in Coping With Work-Related Stress“.
Autora: Filipa Cristóvão
Psicóloga Clínica
Contrariamente ao que se acredita, parece que o amor romântico pode durar e levar a relações cada vez mais felizes. O romance não tem de resfriar nas relações duradouras e evoluir para uma relação do tipo amizade companheira. É o que diz um estudo de Bianca P. Acevedo, da Universidade de Califórnia, publicado na of Review of General Psychology
Tipicamente, as pessoas confundem o amor romântico com o amor possessivo. Contudo, o amor romântico tem a mesma intensidade, envolvimento e química sexual que o amor apaixonado, mas não inclui a componente obsessiva. O amor apaixonado ou obsessivo inclui sentimentos de incerteza e ansiedade. Esse tipo de amor dirige as relações breves, mas não as relações de longa duração.
O estudo revela que aqueles que reportaram um maior amor romântico estavam mais satisfeitos tanto em relações breves como duradouras. O amor companheiro estava apenas moderadamente associado com a satisfação nas relações breves e longas. Por último, os sujeitos que reportaram maior presença de amor apaixonado nas suas relações estavam mais satisfeitos nas relações breves do que nas duradouras.
Os casais que reportaram maior satisfação nas suas relações também reportaram estarem mais felizes e com maior auto-estima.
Sentir que o parceiro “está lá para si” contribui para uma boa relação e facilita os sentimentos de amor romântico. Por outro lado, sentimentos de insegurança estão relacionados com menor satisfação e podem contribuir para o conflito na relação, podendo levar ao desenvolvimento do amor obsessivo.
Esta descoberta pode mudar as expectativas das pessoas sobre o que pretendem em relações duradouras. O amor companheiro, que é visto por muitos casais como a natural progressão de uma relação bem-sucedida, pode não ser a única opção de vivência dos afectos numa relação. Assim, mesmo os casais que já estejam juntos por um longo tempo podem focar os seus objectivos em recuperar o romance sabendo que é possível de atingir, embora com algum investimento, e que esse empenho poderá ter como retorno maior satisfação realização.
Acevedo, B. (2009)"Does a Long-Term Relationship Kill Romantic Love?" Review of General Psychology, Vol. 13, No. 1.
Public Affairs. (2009, March 19). "Romance Can Last In Long-Term Relationships Contrary To Widely Held Beliefs." Medical
Autora: Filipa Jardim da Silva
Psicóloga Clínica
A maior parte das pessoas descreve a sua vida A.B. e D.B., ou seja, antes do bebé e depois do bebé. O nascimento de um filho é um marco de mudança, descrito por muitos com um misto de nostalgia pelos tempos anteriores de maior disponibilidade, aceitação das novas rotinas, realização pela concretização do papel parental, satisfação pela nova etapa familiar.
Independentemente das especificidades de cada relação conjugal, a chegada do primeiro filho é provavelmente a maior mudança da vida de um casal. Tudo muda em relativamente pouco tempo e em alguns casos as bases da relação são afectadas pelas alterações que se impõem. O maior desafio prende-se, em muitas situações, em lidar com as mudanças emocionais que resultam deste acontecimento, que nem sempre são equivalentes no homem e na mulher nem passíveis de serem previsíveis. Para além das alterações hormonais na mulher que ocorrem ao longo da gravidez e depois do parto, responsáveis por alguma labilidade emocional com a qual nem sempre é fácil lidar, há mudanças que surgem aquando da adopção do papel parental. O amor que um pai e uma mãe experienciam imediatamente após o nascimento do seu primeiro filho é de tal modo intenso e avassalador que origina frequentemente interrogações que até à data nunca haviam surgido.
É normal que os membros do casal atravessem uma fase que oscila entre o embevecimento com o seu bebé e a sensação de anulação, o que reforça a importância que cada um faça um esforço para que a ligação não se perca. A mudança requer adaptação, e consequentemente tempo e tolerância. A comparação com outros casais revela-se inútil e desgastante pelo que é importante aceitar que não há famílias perfeitas, nem super-homens ou mulheres. Cada caso é único e as necessidades de cada membro de cada casal devem ser claramente partilhadas para que a comunicação seja eficaz e o projecto de construção de uma família feliz posso continuar.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Com frequência são revelados em consultório os sentimentos de desilusão e frustração que se abatem sobre os casais de famílias reconstituídas. Este é um sinal de alerta significativo, já que as estatísticas indicam que a taxa de separação é maior nestas famílias comparativamente com as famílias tradicionais, deixando-nos de sobreaviso para o risco acrescido de ruptura das famílias reconstituídas.
É então importante apelar à “saúde” e preservação das famílias reconstituídas alertando os membros do casal de que as tarefas que têm a seu cargo são diferentes das famílias tradicionais e que envolvem uma maior complexidade e maturidade emocional.
É importante dizer também a estes casais que estas tarefas poderão ser desempenhadas com naturalidade e satisfação mas que é importante conhecer as diferenças, singularidades e os desafios que as mesmas comportam, para que possam ser satisfatoriamente superadas.
Tem-se verificado com frequência uma pressa em (re)casar ou em unir as duas famílias, por parte dos dois cônjuges, o que não é senão prejudicial à nova constituição. Veja-se, com naturalidade conta-se nas famílias reconstituídas com a presença de filhos, pelo que naturalmente o casal será muito solicitado no seu papel parental.