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A ira conduzida pela insegurança

por oficinadepsicologia, em 16.04.12

Autora: Tânia da Cunha

Psicóloga Clínica

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Tânia da Cunha

Os seus sentimentos muitas vezes saltam da antipatia ao ódio? Sente-se muitas vezes ameaçado e/ou atacado? Tem dificuldade em confiar nas pessoas? É frequentemente ciumento? Sente-se em muitas situações rejeitado? Se a resposta a estas questões foi na sua maioria positiva, muito provavelmente tende a proteger-se afugentando o perigo, através da hostilidade.

 

Alguém mais sensível ao controle pode tornar-se hostil se é confrontado pela sua própria insegurança. A hostilidade pode ter um carácter defensivo, de forma a criar distância física e emocional de alguém ou de alguma situação que é percecionada como “perigosa”. A hostilidade pode assumir várias formas: pode ser passiva, agressiva, desagradável ou tão simplesmente rabugenta.

 

Podemos considerar que em algumas situações os nossos sentimentos hostis são apropriados? Sim, existem ocasiões em que a ira é uma reação apropriada. Por exemplo quando alguém nos fere, humilha, insulta ou embaraça é natural sentir ira. Quando à ira é associada a insegurança, a humilhação, o insulto ou o embaraço ganham um significado diferente – a ira agrava. Se muito depois do “confronto” ainda está a destilar hostilidade, por outras palavras se esta emoção persistir pode ser sinal de que o que está presente é a insegurança.

 

Se alguma vez encontrar uma situação em que a ira não se dissipe, é um alerta, em vez de suspeitar das falhas do outro, pense se não é a sua insegurança que o está a deixar sem controlo.

publicado às 10:10

Expressões faciais das emoções

por oficinadepsicologia, em 06.04.12

Autora: Sandra Duarte

Psicóloga Clínica

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Sandra Duarte

Numa conversa entre duas amigas:

- Ontem esqueci-me de te enviar a morada do médico – disse a Ana desiludida.

- Não te preocupes – diz a Bárbara.

- Ficaste zangada? Era importante para ti – questionou a Ana.

- Não, não fiquei. Estás desculpada amiga – disse calmamente a Bárbara.

 

Estas amigas entenderam-se sobre um simples compromisso que ambas tinham feito. Mas mesmo assim pode ter existido alguma dificuldade no reconhecimento das emoções que uma e outra estavam a demostrar. Por exemplo a zanga, que foi questionada pela amiga A. Será que a expressão facial de cada uma das amigas estava em harmonia com o conteúdo que estavam a verbalizar, o seu tom de voz e postura corporal?

Para Ellis e Singh (1998), desde bebés que os seres humanos começam a ler mensagens emocionais expressas nas faces humanas, primordialmente das suas mães. À medida que vão crescendo e transpondo as fases da vida que se apresentam, aprendem diferentes noções das emoções. Na esfera afectiva, vai-se interiorizando que o sucesso das relações interpessoais depende, em larga escala, do modo como se percepciona correctamente o efeito que a informação que se está a transmitir/comunicar tem no outro (receptor), através da observação e interpretação da expressão facial do receptor da mensagem.

 

Mas como é que se faz essa percepção? Neste exemplo de comunicação interpessoal, visualiza-se que consoante a contracção ou a extensão de um determinado músculo da configuração da face em detrimento de outro, significa que uma emoção particular está a ser expressa. Assim uma pessoa tem a capacidade de distinguir uma face triste de uma alegre ou uma zangada de uma surpreendida.

 

Sem dúvida que não é assim tão simples. Existe uma enorme variabilidade humana, pois algumas pessoas reconhecem expressões faciais de emoção melhor do que outras pessoas, ou reconhecem expressões faciais do tipo alegre melhor do que a zangada. Geralmente as pessoas conseguem interpretar correctamente as mensagens emocionais, sendo que, de acordo com Ellis e Singh (1998), a maioria reconhece correctamente emoções pelas expressões faciais do outro, em pelo menos 80% das situações em que se encontram em interacções interpessoais.

 

Destaca-se que as dificuldades humanas no correcto reconhecimento das seis expressões faciais básicas das emoções (felicidade, medo, nojo, raiva, surpresa e tristeza), segundo as autoras podem estar associadas a problemáticas de perturbações de humor, autismo, esquizofrenia, entre outros. Neste tipo de patologias pode-se confirmar o que Shean, Bell e Cameron (2007) defendem, que a dificuldade para percepcionar correctamente expressões emocionais está relacionada, no âmbito interpessoal, com a desconfiança, a falta de relações de amizade, de intimidade ou isolamento. O facto das expressões faciais manifestadas continuadamente, serem ou não adequadas ao contexto comunicacional, verbal ou não-verbal é o factor-chave (Wolf et al, 2006).

 

Se sente esta dificuldade relacional no reconhecimento de emoções, venha saber mais sobre a criação de um vínculo relacional, a importância da interactividade de afectos entre as pessoas, a sua exteriorização pelas expressões faciais, de forma a conseguirem estabelecer esse elo de ligação.

publicado às 12:17

Autora: Filipa Cristóvão

Psicóloga Clínica

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Filipa Cristóvão

Um cliente entrou uma vez no consultório dizendo “Devia ter aí um cartaz com uma legenda sobre as emoções”. Às vezes não sabemos o que sentimos, outras vezes sabemos o que sentimos, mas não o nome a atribuir.

Que barreiras são estas que nos impedem a uma adequada identificação dos nossos estados emocionais?

 

  • As emoções são difíceis de definir – É fácil de ensinar a uma criança que uma mesa é uma mesa bastando para o efeito apontar para a mesma, sendo possível de a ver, tocar e sentir. Nem sempre é linear para cuidadores perceberem as emoções e atribuírem o devido significado, ajudando assim a criança descodificar que emoção sente.
  • Falta de léxico emocional -  Em algumas famílias e contextos não é privilegiado o natural experimentar, discutir e distinguir de emoções,  que poderia ajudar o indivíduo a descrever o que sente. Se esse vocabulário não for incentivado, os estados emocionais passam a ser designados por “sinto-me bem/mal”, empobrecendo uma discriminação sensível.
  • Confusão entre pensamentos e emoções - Muitas vezes perante a pergunta “O que está a sentir?” descrevem-se pensamentos e não emoções “Estou perdido”. Esta confusão dificulta o acesso à verdadeira emoção. Por outro lado, é frequente que as emoções se mantenham escondidas por trás de pensamentos numa tentativa de proteger da consciência das mesmas.
  • Emoções invalidadas – Nem sempre ao longo do crescimento os cuidadores valorizam devidamente as emoções. Perante uma qualquer situação vivida pela criança a mensagem transmitida é “Não há razão para estares com medo ou zangado”, quando isso era precisamente o que a criança estava a sentir. A mensagem que se aprende é que não se é o melhor juiz das suas emoções e que as mesmas devem ser reprimidas. Essa aprendizagem leva a que as emoções fiquem muitas vezes contraídas, criando stress e confusão na mente e corpo.

 

As emoções devem ser vistas de uma forma intrinsecamente natural à existência humana. Assim sendo têm um papel fundamental na construção e estruturação do self. São ainda uma forma adaptativa de processar a informação, uma vez que funcionam como “sinalizadores”, informando o sujeito que uma necessidade, valor ou objectivo pode ser importante ou alvo de ameaça em determinada situação, ajudando assim a estabelecer prioridades e tendências de acção.

 

Experimente este exercício:

Que palavras/sinónimos pode associar a medo/tristeza/zanga/alegria? Como se manifestam no seu corpo? Que imagens lhe surgem?

Comece hoje mesmo a construir o seu dicionário emocional!

publicado às 15:29

O embaraço

por oficinadepsicologia, em 01.02.12

Autor: António Norton

Psicólogo Clínico

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António Norton

 

Todos nós de uma forma ou de outra já nos sentimos embaraçados.
O Embaraço é considerado uma emoção resultante da auto-consciência social, na mesma linha da culpa, da vergonha ou do orgulho. O Embaraço acontece na relação com o outro. É uma emoção pública que resulta da sensação de exposição e arrependimento por uma acção praticada. A expectativa de uma avaliação social negativa relativamente a uma acção, pensamento ou emoção que governa o nosso comportamento está na base do embaraço (Lewis, 2008).
 
A experiência emocional do embaraço provém da sensação de falhanço no comportamento de acordo com certos padrões sociais que ameaça a ideia que os outros poderão fazer de si, bem como a forma como se irá avaliar a partir de tal comportamento.
 
Imaginemos uma situação em que se prepara para dar uma palestra e subitamente arrota de uma forma escandalosa. Imediatamente, sentirá embaraço e tal embaraço estará devidamente relacionado com a sua preocupação em relação à avaliação negativa que os outros poderão fazer de si e à própria imagem que fará de si próprio.
 
Geralmente, o embaraço resulta de comportamentos acidentais que o levam a sentir-se mal consigo próprio, mesmo quando não houve qualquer intenção de violar os padrões sociais vigentes.
De acordo com a investigação, a maior parte das situações de embaraço resultam de tropeçar, entornar bebidas, rasgar as calças, expor pensamentos ou sentimentos privados, flatulência acidental, arrotar, receber atenção indesejada, esquecer o nome de outras pessoas ( (Keltner & Buswell, 1996; Miller, 1992; Miller & Tangney, 1994; Saltier, 1966). Não é preciso muito tempo para cada um de nós se lembre de uma situação embaraçante.
 
Quando estamos embaraçados geralmente apresentamos sinais caracteristícos tais como: Baixar o olhar, apresentar um sorriso nervoso, ou um sorriso amarelo, virar a cabeça para o lado, tocar na cara, corar (Keltner, 1997, Keltner and Buswell, 1997).
 
O embaraço também está relacionado com a pessoa corar. As pessoas coram quando um estimulo emocional leva as glândulas a libertar a hormona adrenalina no corpo. A Adrenalina tem um efeito no sistema nervoso, que leva os vasos capilares a transportar o sangue para as extremidades da pele, fazendo a pessoa corar. O que é interessante é que perante a sensação de ameaça social os receptores venosos no pescoço e nas bochechas dilatam (Drummond, 1997). A sensação de exposição social poderá ser ameaçadora e gerar insegurança e receio de não aceitação e integração social.
 
É interessante que em situações especificas e em circunstâncias sociais, comportamentos, à partida embaraçantes podem ser percepcionados com diversão e humor, como por exemplo, arrotar na presença de um amigo próximo ou parceiro amoroso. Mas se tal comportamento fosse feito na presença de um estranho ou de alguém com algum estatuto social, tal como um possível empregador, chefe, professor ou futura sogra então a sensação de embaraço seria muito mais intensa.
 
O contexto social e a expectativa de aceitação são elementos essênciais para a eventual expressão não verbal do embaraço.
O embaraço é uma resposta emocional adaptativa perante a percepção de não integração/aceitação social.
 
Curiosamente, as situações de embaraço não são apenas aquelas em que existe a percepção de ameaça social. Poderão ser situações em que somos expostos a algo de positivo, meritório, engrandecedor. O que implica sempre é uma exposição. Podemos ficar perfeitamente embaraçados perante a experiência do elogio, da promoção laboral na presença de outras testemnhas e colegas de trabalho 
 
Então qual é a utilidade do embaraço se nos coloca numa posição desconfortável?
 
Evolutivamente, o embaraço surgiu para manter a ordem social (Miller, 2007).
 
As investigações demonstraram que as pessoas que apresentam sinais de embaraço perante as suas testemunhas têm maior probabilidade de gerar empatia nos outros, de ser perdoadas e alvos de confiança. (Keltner e Anderson, 2000)
 
Portanto o embaraço é algo positivo mesmo quando sentimos desconforto com tal experiência. 
 
Existem situações em que o embaraço é semelhante à sensação de vergonha. Alguns investigadores defendem que o embaraço é uma forma menos intensa de vergonha, relacionada com a auto-avaliação negativa (Lewis, 2010; Tompkins, 1963). Apesar de poder existir alguma relação entre ambas as emoções a verdade é que as expressões faciais e o comportamento não-verbal de ambas são distintas, o que as separa como emoções distintas (Lewis 2010).
 
O que fazer perante uma experiência de embaraço? Talvez seja importante rever mentalmente esta experiência por uma processo de visualização guiada e imaginar que as testemunhas ficaram tão embaraçadas e preocupadas quanto o actor do embaraço. Geralmente esta descentração ajudar a relativizar o impacto que a experiência poderá ter tido nos outros. Muitas vezes tendemos a exagerar o impacto social das nossas acções (Gilovich, Medvec, & Savitsky, 2000).
 
Lembre-se também que não é os seus erros, nem as suas acções. Os seus erros podem-no ajudar a crescer e a evitar novas situações semelhantes.
 
A expressão do embaraço promove a empatia dos outros, portanto se se encontrar numa situação assim aceite-a e não a dissimule.
 
"Não faça uma tempestade num copo de água"
 
António Norton
 
Referencias:

Gilovich, T.; Medvec, V.; & Savitsky, K. (2000). The spotlight effect in social judgment: An egocentric bias in estimates of the salience of one's own actions and appearance. Journal of Personality and Social Psychology, 78(2), 211-222.
Keltner, D., & Buswell, B. (1997) Embarrassment: Its Distinct Form and Appeasement Functions. Psychological Bulletin, 122:3, 250-270.
Keltner, D., & Buswell, B. (1996). Evidence for the distinctness of embarrassment, shame, and guilt: A study of recalled antecedents and facial expressions of emotion. Cognition and Emotion, 10, 155-171.
Keltner, D. & Anderson, C. (2000). Saving face for Darwin: The functions and uses of embarrassment. Current directions in psychological science, 9:6, 187-192.
Lewis, M. (2010). Self-conscious emotions: Embarrassment, pride, shame, and guilt. In M. Lewis & J. M. Haviland (Eds.), Handbook of emotions (pp. 742-756). New York: Guilford Press.

publicado às 10:11

Os processos afectivos e a aprendizagem

por oficinadepsicologia, em 13.12.11

Autora: Débora Água-Doce

Psicóloga Clínica

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Débora Água-Doce

Esta reflexão pretende discutir a problemática da relação entre a vida cognitiva e afectiva, remetendo para a importância dos processos afectivos na educação. Os afectos (emoções e estados de espírito) têm sido entendidos como “cognições”, como entidades delineadas por processos cognitivos, como parte integrante das cognições ou como entidades independentes das cognições. Estas distintas abordagens têm implicações na forma como se entende o impacto dos afectos no modo como pensamos e nos comportamos.

 

Afecto é o atributo psíquico que dá valor e representação à realidade. Os afectos valorizam tudo aquilo que está fora de nós, como os factos e os acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjectivas), tal como os nossos medos, os nossos conflitos e anseios. Valoriza também os factos e acontecimentos do nosso passado e as nossas perspectivas em relação ao futuro. Existem diversos factores e acontecimentos que fazem alterar a forma como percepcionamos a realidade e os afectos podem ter uma representação negativa da própria pessoa. Para entender a afectividade é necessário compreender antes alguns elementos do mundo psíquico: as representações, as vivências e os sentimentos.

 

Durante toda a nossa vida, os factos ou acontecimentos vividos por nós são as experiências de vida e passam a fazer parte da nossa consciência. Dos factos e acontecimentos teremos lembranças e sentimentos, assim como também teremos lembranças desses sentimentos, portanto, lembrar-nos-emos não apenas das nossas experiências de vida mas também se elas foram agradáveis ou não, aprazíveis ou não. Os processos cognitivos são interpretações, não representações da realidade. São condicionados por factores importantes e apresentam uma sequência evolutiva geral, na medida em que, primeiro são os processos de observação sensorial e, em seguida, os processos de representação e do pensamento a adquirir a eficiência funcional. Dão-se em forma sensorial, racional e emocional. Os conhecimentos do indivíduo originados por seu intermédio organizam-se de modo selectivo.

 

 

 

publicado às 13:06

Perturbações emocionais e vulnerabilidade

por oficinadepsicologia, em 09.12.11

Autora: Tânia da Cunha

Psicóloga Clínica

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Tânia da Cunha

Estudos demonstram que a depressão e os estados de ansiedade constituem as duas principais perturbações baseadas nas emoções, afectando cada um cerca de um quinto das pessoas nas sociedades industrializadas ocidentais em qualquer altura das suas vidas.

Estas perturbações emocionais são geralmente causadas da mesma maneira que as emoções negativas, por acontecimentos graves. Mas as perturbações emocionais não são só emoções intensas ou duradouras. Para ficarem deprimidas geralmente as pessoas também têm de ser vulneráveis.

 

É amplamente aceite que os episódios de depressão são usualmente iniciados por qualquer evento grave na vida ou dificuldade. No entanto, nem todos os que experienciam sérias adversidades sofrem de depressão ou estados de ansiedade. O que tornará então uma pessoa mais vulnerável que outra?

 

Vários estudos apontam factores de vulnerabilidade para o aparecimento das perturbações emocionais como: a experiência precoce, a auto-estima, o pensamento baseado na apreciação, o apoio social ou até mesmo os efeitos genéticos.

No que diz respeito à experiência precoce, considera-se que a vulnerabilidade da negligência precoce pode enviesar a percepção que temos de nós próprios, como não merecedores de amor e cuidado. 

 

Relativamente à auto-estima, existem evidências científicas que pensar negativamente acerca de nós mesmos parece estar envolvido em casos sérios de depressão, bem como em casos menos sérios de fracasso nalguma tarefa.

 

As relações próximas têm um enorme efeito sobre o facto de as pessoas desenvolverem ou não uma depressão em resposta às adversidades. Parece que ter um relacionamento íntimo actua como um amortecedor. Neste sentido, o apoio social produz um pequeno efeito por si mesmo, mas amortece o impacto dos acontecimentos negativos e das dificuldades da vida quando estes ocorrem.

 

Quanto à influência dos efeitos genéticos, estudos sugerem que podemos herdar tendências que aumentem o risco de depressão e de ansiedade.

 

Ainda assim, se identificou alguns destes factores de vulnerabilidade, não desespere:

  • Não subvalorize as pequenas coisas. Aprender de novo a sentir prazer é uma forma de terapia;
  • Não queira exigir de si próprio tarefas exageradas;
  • Evite o isolamento social;
  • Não adie a procura de um apoio profissional.

publicado às 10:17

Culpa ou responsabilidade?

por oficinadepsicologia, em 09.09.11

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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“Sei que foi culpa minha, não lhe dei atenção estes anos todos, é natural que ela tenha se apaixonado por outra pessoa”;

 “O meu pai está sempre zangado, todos os dias, a culpa é minha pois sou uma fonte de preocupações”;

“Ele disse que precisava de outras experiências, que estava numa fase pouco disponível, isso parece-me mentira, sei que a culpa é minha, já não é a primeira vez que alguém me deixa”;

“Ele diz que sou uma má mãe, acho que tem razão, a culpa é minha do meu filho fazer tantas birras”;

“As agressões são constantes, a culpa é minha de o deixar tão zangado”;

“Se eu estivesse lá o acidente não teria acontecido, a culpa é minha!”

Estas frases parecem-lhe familiares? Para mim sim, pois são referidas diariamente no consultório por pessoas que assumem a culpa de tudo na sua vida.

Há pelo menos duas impressões imediatas que saltam à vista nestes exemplos. Uma implícita: a presença única do EU. Repararam que tudo passa a ser sobre a própria pessoa quando ela se assume culpada de algo?

Eu, eu, eu, como se elas tivessem todo o poder de controlar tudo e todos e fosse tudo sempre sobre si, o outro praticamente não existe na relação, nada é sobre o percurso do outro, tudo vem parar sempre na noção de que aquilo que aconteceu se deve antes de mais a alguma característica ou acção da própria pessoa. A questão é que elas não se sentem grandes e nem percebem que este mecanismo tem muito de omnipotência. Continuam a sentir-se as pessoas mais pequenas do mundo. Oscilam entre a própria culpa ou então são vítimas e a culpa é do outro, mas em qualquer um dos casos sentem-se sempre fracos e sem poder de mudar a situação.

A segunda impressão, esta mais óbvia, é mesmo a noção de culpa. É sobre esta noção que hoje decidi “viajar” um pouco, pois noto a sua capacidade limitadora e estagnante. Observo diariamente que pessoas “culpadas” não fazem uma interpretação de si mesmas, dos outros e das situações de uma forma saudável.

Quando exploro com estes clientes o que é da sua responsabilidade e o que é dos outros, sentem-se muito desconfortáveis e utilizam a palavra CULPA. Muitas vezes acreditam que culpa e responsabilidade são sinónimos, mas na verdade não são!

Na culpa o que surge é essencialmente um sentimento depreciativo de si mesmo que deriva de uma crítica acusatória, já a responsabilidade é uma habilidade, uma capacidade de responder e agir perante algo. Com ela, surge a noção de liberdade e força para lidar com circunstâncias que criamos ou ajudamos a criar. A culpa nos tira força e nos deixa numa posição de vítima de nós mesmos. Ela pede punição e dor, mas não oferece criatividade para reparar o que ficou mal resolvido.

Muitos autores sugerem que o conceito de culpa como um sentimento auto punitivo surge com a Bíblia. Sabemos que segundo o livro sagrado, Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança mas não lhe concedeu o discernimento do bem e do mal, capacidade que só Deus possuía.

No entanto, o homem ambicionando ser igual a Deus, conhecedor do bem e do mal, desobedeceu ao seu criador comendo do fruto que lhe tinha sido proibido. Após comerem do fruto proibido o homem e a mulher tomam consciência da sua condição imperfeita e do sentimento de culpa pelo seu acto. É portanto, deste episódio que nasce a culpa e a necessidade de um castigo como forma de expiação da mesma culpa.

A palavra Culpa vem do Latim culpa e designa não só uma falta para com a lei, seja ela religiosa ou civil, mas também a consciência dessa falta por quem a cometeu. Assim, o conceito de culpa serve há anos para punirmos quem transgride leis e normas, serve para a organização da sociedade. Está presente no âmbito jurídico e penal, no âmbito social e surge sempre que alguém se desvia da norma.

No entanto, quando saímos da dimensão social e passamos para a dimensão individual, a culpa torna-se redutora, estagnante, na medida em que retira liberdade e força da pessoa para resolver a situação. Leva a sentimentos de auto-punição que cada vez mais danificam a auto-estima, impossibilitando uma vida feliz e saudável.

Juntamente com a noção de culpa, aparece a noção de que não se pode errar. No entanto, sabemos que a aprendizagem, a evolução, vem do erro e da lição que aprendemos com este erro. A culpa impede uma interpretação construtiva do erro, impossibilitando o desenvolvimento.

A culpa é o sentimento de não ser digno, de ser mau e traz remorso e censura. É um movimento de raiva virado contra o próprio que muitas vezes só diminui com a punição. Por vezes, a punição nunca é suficiente para reduzir a sensação de culpa e a pessoa vive num ciclo constante de depreciação própria.

Características comuns em quem sente culpa:

- Preocupação excessiva com a opinião dos outros;
- Desconforto quando recebe prendas ou elogios. Não se consideram dignos;
- Raiva reprimida;
- Dificuldade em assumir responsabilidade pelos próprios actos;
- Sentimento de rejeição e vitimização, não se sentem suficientemente fortes;
- Atreitos à doenças, ou acidentes frequentes
- Dificuldade em expressar os reais sentimentos e em dizer não;
- Necessidade em agradar;
- Agem para os outros e não para si mesmos

Consequências da culpa:

- Auto-punição;
- Medo;
- Sofrimento;
- Remorso;
- Estagnação;
- Doença;
- Tristeza/depressão;
- Submissão;
- Prisão emocional;
- Solidão;
- Dificuldade em impor limites, dizer não;
- Fuga através do álcool, drogas;
- Compulsão alimentar;
- Conflitos internos e nas relações ;
- Dificuldade em sentir prazer;
- Destruição da auto-estima e amor-próprio

Então o que fazer se identificarmos em nós mesmos esta tendência?

Em primeiro lugar entender que culpa é diferente de responsabilidade. A culpa pressupõe um vilão e uma vítima, a responsabilidade é partilhada entre dois iguais. Assim, nos relacionamentos, há sempre responsabilidades dos dois lados, observe qual é a sua e lembre-se de entender qual é do outro.

Lembre-se que nem tudo é sobre si. Você não tem poder sobre a decisão dos outros, elas devem-se ao processo do outro e não ao seu, não tem poder de impedir catástrofes, doenças e acidentes, tem apenas poder de decidir sobre a sua própria vida e buscar caminhos para a sua felicidade. Com certeza eles não passam por continuar a sentir-se culpado de tudo!

Responsabilidade é força, é liberdade para modificar o que não está bem, com o foco no futuro. É assumir e aprender com as consequências dos nossos erros e olhar para eles como oportunidades de aprendizagem. É uma postura adulta e saudável perante a vida.

O processo terapêutico é entre outras coisas, o processo que permite a consciência da responsabilidade. Permite a mudança de um padrão de culpa para outro mais consciente, saudável e livre. Está a espera de quê para começar?

publicado às 09:28

As emoções do desemprego

por oficinadepsicologia, em 04.06.11

Autora: Helena Gomes

Psicóloga Clínica

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Helena Gomes

Ouvimos diariamente declarações como “o desemprego está a crescer até níveis inquietantes”, “mais de 600 mil desempregados em 2011”, “a crise económica traz consigo uma crise social”, “ o aumento do desemprego tem um carácter explosivo”. O desemprego é uma das piores consequências da situação económica em que nos encontramos.

 

Esta situação social resulta numa vulnerabilidade e instabilidade não só de carácter financeiro, como igualmente psicológico. Como consequência, deparamo-nos com sucessivas situações de empregos ocasionais, e de precárias condições laborais, de segregação de grupos com condicionantes específicas, como a idade, de um sucessivo estar de “corda ao pescoço” vivido também por aqueles que têm os seus empregos em risco. Viver no desemprego implica não ter dinheiro, que implica não pagar as contas, que implica na diminuição de algumas actividades, na perda de noção de estruturação do seu tempo e do contacto social, aumento do sentimento de não se estar a ser útil na sociedade e, por sua vez, de esta os estar a abandonar. Que papel tenho na sociedade, e o que o futuro me reserva, quando vou conseguir ter a minha casa, o que o futuro reserva aos meus filhos/ netos, são questões e inseguranças recorrentes.

 

               

publicado às 21:36

Expressar sentimentos

por oficinadepsicologia, em 17.04.11

Autora: Tânia da Cunha

Psicóloga Clínica

 

 

Tânia da Cunha

 

 

Se tem dificuldade em expressar os seus sentimentos poderão ser-lhe úteis as seguintes sugestões:

 

  • Habituar-se a formar frases que comecem por: “quero...”, “gosto...”, “não gosto...”, “sinto-me...”, etc.
  • Não deixe passar situações confusas sem as esclarecer. Se alguma coisa o desconsiderou, espantou ou desassossegou, peça de imediato um esclarecimento. 
  • Tente apurar o significado ou os sentimentos subjacentes aos comentários dos outros: “Sentiste que eu te estava a criticar quando disse...?”
  • Como alternativa a perder a cabeça durante uma discussão, não se esqueça da seguinte fórmula: “Estou aborrecido porque... Gostaria que...”
  • Prefira a utilização de frases que sirvam de reforço ao outro. Se alguma coisa o agradou, fá-lo saber; se aprecia alguém, tente manifestá-lo.
  • Uma expressão correcta dos seus próprios sentimentos deve incluir: as suas necessidades, os seus desejos, os seus direitos e como as diversas situações o afectam.
  • Para uma expressão assertiva dos seus sentimentos não deve incluir demasiadas censuras, desejo de magoar e auto-compaixão. Estas mascaram os sentimentos e fazem com que a outra pessoa o compreenda mal.

 

publicado às 14:20

Oh, culpa! Até nunca!

por oficinadepsicologia, em 15.02.11

Autor: Luis Gonçalves

Psicólogo Clínico

 

Terminei mais um dia de trabalho com a sensação de que o cansaço era superado pelo bem estar que penso ter ajudado a construir nos meus clientes. No entanto, havia aqui qualquer coisa que me deixava desconfortável. Parei então para pensar e, principalmente, sentir...

 

De forma espontânea, emergiu a palavra culpa. E todas as vezes que os meus clientes a referiram naquele dia. E sendo esta uma emoção tão intensa, apeteceu-me escrever-lhe sobre ela. Não que ela mereça atenção mas você sim e bem!

 

 

Pergunto-lhe agora: já se sentiu culpado(a) por alguma situação? Ou então, já sentiu culpa por não estar a sentir culpa após um evento? Ou ainda, já o fizeram sentir culpado por algo que tenha realizado (ou não realizado)? Acredito que tenha respondido afirmativamente a pelo menos uma das questões. A culpa está de tal forma enraizada na nossa cultura que é quase impossível fugir-lhe, parece até que faz parte de nós! Não o vou cansar com as origens desse facto, prefiro focar-me na sua solução.

 

 

A questão é que mesmo que tenhamos feito algo “negativo” perante nós e/ou perante outros, fizémos o melhor possível naquele momento. Não teve os melhores resultados mas agora é tão fácil constatá-lo. Faz lembrar uma aposta desportiva na vitória de um dado clube de futebol. Apostamos no clube que julgamos constribuir, em maior escala, para os nossos ganhos. Depois de sabermos o resultado final, é tão fácil sentir culpa por termos apostado naquele clube e não no outro. É também possível sentir culpa por, simplesmente, termos apostado um cêntimo que fosse.

 

 

 

 

publicado às 09:59


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  65. D