Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
O meu filho tem 23 anos e acabou de abandonar a Universidade porque já não conseguia sair de casa a tempo para chegar às aulas e sentia-se muito mal quando lá estava. Está acompanhado com um psiquiatra, a tomar medicação para a perturbação obsessivo-compulsiva, mas eu estou muito preocupada porque não o vejo a conseguir retomar uma rotina normal, apesar de estar um pouco mais calmo. O problema é que ele antes de sair de casa gasta 2 e 3 horas a verificar várias coisas, a tomar banho e a vestir-se (chega a vestir a camisola 15 vezes seguidas até sentir que a vestiu correctamente) e à noite tem de verificar várias vezes o gás, as luzes, os aquecimentos, as fichas nas tomadas, as torneiras... Com isto, acaba por se deitar muito tarde, o que ainda complica mais para conseguir ir às aulas porque, depois, não se consegue levantar horas de manhã. Por favor, digam-nos o que podemos fazer mais, além da medicação - ele está a ir-se completamente abaixo porque sempre foi muito bom aluno e, agora, corre o risco de perder um ano por faltas.
Obrigada.
I.
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
Para falar da perturbação obsessivo-compulsiva (POC), tenho de começar pelo embaraço e pelo secretismo a que as pessoas que sofrem desta disfunção se auto-impõem.
E, por isso, convém justificar-me, explicar por estar a começar de uma forma tão em desacordo com os cânones tradicionais, e tão pouco habitual…
A POC constrói-se em torno do ilógico e do bizarro. Ilógicas são as ideias de que pensar e fazer acontecer estão, de algum modo, interligados. Ilógico é pensar que se fez algo contra vontade e de que não restou memória. Bizarro é verificar 4 vezes consecutivas a mesma porta, sempre, todas as vezes que ela é fechada. Bizarro é lavar um telemóvel por medo de contaminação porque foi dita uma palavra de má sorte durante a conversa telefónica.
E, contrariamente a outros problemas de saúde mental, quem sofre de POC sabe que o que pensa e o que faz é ilógico e é bizarro. Mas não consegue parar de o pensar e de o fazer. E, por isso, fica dominada por um forte sentimento de embaraço, pela vergonha que a atira para um isolamento emocional, para uma auto-contenção vigilante, numa defesa feroz deste segredo terrível: “Eu penso e faço coisas estranhas que, se os outros souberem, vão achar que enlouqueci”.