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Necessito realmente de mudar?

por oficinadepsicologia, em 09.07.12

Autora: Tânia da Cunha

Psicóloga Clínica

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Tânia da Cunha

Acredito no potencial inesgotável que cada ser humano possui. É através deste que todos somos capazes de evoluir favoravelmente num sentido mais positivo e de maior qualidade de vida, mas para isso é necessário ter presente que precisamos de nos nutrirmos dia após dia. Do mesmo modo que adquirimos, através de exercícios físicos e de treino, o fortalecimento dos nossos músculos, também podemos redefinir a visão que temos das pessoas, das coisas e da vida.

 

Se fizermos um balanço de todas as aquisições que fomos alcançando ao longo da vida, percebemos que estamos em constante mudança. Com treino fomos sendo capazes de fazer uma série de aprendizagens, como aprender a caminhar, a nadar, a conduzir um automóvel etc. Quando nos observamos hoje, compreendemos que não somos a mesma pessoa de ontem e certamente podemos acreditar que amanhã estaremos diferentes de hoje.

 

A aprendizagem vai sendo feita por tentativas, quase sempre pouco produtivas no início, mas aperfeiçoando em progressão constante. A título de exemplo, podemos pensar na aquisição da marcha, as quedas constantes levam a criança a tentar de novo, no sentido do seu objetivo. Depressa compreende que tem de dominar pequenas distâncias e mais tarde, quando lhe for possível, fixará objetivos mais ambiciosos, até o dia que souber correr.

 

Tomando este exemplo na vida de todos nós, podemos definir alguns princípios que suportam uma aprendizagem bem-sucedida:           

  • Agir - para aprender convém fazer tentativas.
  • Fixar objetivos pequenos e progressivos. Para aumentar as hipóteses de sucesso.
  • Esperar que nem tudo corra bem. Falhar uma tentativa pode ser muito útil se de seguida for feita uma reflexão sobre o que correu mal.
  • Repetir - para aprender bem é necessário repetir.
  • Imitar - toda a aprendizagem necessita de modelos. Enquanto adultos, podemos escolher as pessoas cujas atitudes e comportamentos gostaríamos de adotar.
  • Auto encorajar-se - algumas pessoas desesperam facilmente face ao que precisam de fazer. Outras felicitam-se pelos progressos feitos e pelo caminho já percorrido. Atreva-se a ser uma destas!

publicado às 10:49

Co-dependência: quando o amor se transforma num inferno

por oficinadepsicologia, em 14.06.12

Autora: Susanne Marie França

Psicóloga Clínica

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Susanne Marie França

“Quando a namorada do Paulo termina o relacionamento, ele ameaça que se vai suicidar. A vida sem ela não faz sentido. Tudo o que ele valoriza na vida, está relacionado com ela….Tem sido uma dedicação total…e agora, como é que ele vai viver sem ela? “

 “Cristina faz tudo para agradar ao marido. Ter a sua aprovação é fundamental. Chega a fazer coisas que não tem vontade… chega a humilhar-se….e ele é um bruto! É violento…mas depois fica tão amoroso…tão querido…e promete que vai mudar…que é a última vez…Estar com ele sempre é melhor do que estar sozinha…”


 Quantos de nós não queremos acreditar que os relacionamentos amorosos podem ser uma fonte de crescimento, partilha e uma experiência de respeito mutuo? No fundo todos nós nutrimos a esperança de encontrarmos alguém com quem nos possamos sentir valorizados/as, amados/as e acompanhados/as no percurso da vida.

Mas, para alguns, um relacionamento pode ser uma experiência autenticamente infernal!

Gostaria de abordar convosco o tema dos relacionamentos de co-depêndencia.

 

Acredita-se que o co-dependente é uma pessoa que não tem um sentido do eu bem definido, e consequentemente, não está em sintonia com as suas próprias necessidades, desejos e emoções, sentindo assim uma enorme dependência afectiva, que por sua vez vai exercer pressão nas relações, provocando ansiedade cronica, dificuldades de controlo e expressão emocional adequada e marcantes flutuações de humor. Frequente, é igualmente, a necessidade doentia inesgotável e se sentir amado/a e correspondido/a, levando à procura incessante de “provas de amor”, cujo efeito apaziguador, nunca perdura o tempo suficiente para dar descanso ao desgaste que o ritmo deste tipo de relacionamento impõe.

 

O ponto-chave subsiste no tema do controlo. Pessoas com este tipo de problema sofrem frequentemente de formas de ciúme patológico, comportamentos obsessivos, agressividade passiva, e/ou explicita. Existem autores que consideram este tipo de relacionamento como o equivalente à total perda de auto-estima e perda da capacidade de racionalização e juízo critico. Weiss & Weiss, 2001, classificam este problema na área dos comportamentos aditivos como a toxicodependência, alcoolismo e perturbações de comportamento alimentar, associando outras perturbações como as perturbações de humor (depressão), ansiedade, de personalidade e abuso de substâncias e álcool.

 

Se nos “sintonizar-mos” com pessoas co-dependentes com estes tipos de comportamentos, surge-nos na base de toda esta amálgama de sentimentos e comportamentos disfuncionais, uma “criança interior” desamparada e aterrorizada com medo do abandono e da solidão. Para o adulto co-dependente, ter que defrontar-se com o seu próprio “vazio” é de tal modo amedrontador, que recorre a todos os meios que possam levar os outros a “preencher” esta grave lacuna, transformando-se numa fonte insaciável sorvendo aprovação e amor.

Paradoxalmente existe dificuldade em conseguir reconhecer e receber amor genuíno, temendo a intimidade e a partilha saudável de sentimentos e carinho.

 

Para ajudar a resumir, podemos classificar as dificuldades das pessoas com este tipo de problema em cinco componentes principais:

  • Dificuldade em gerir e reconhecer as suas próprias necessidades, desejos, emoções, vontades, etc.
  • Dificuldade em estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos afectivos.
  • Dificuldade em reconhecer e responsabilizar-se pelo próprio comportamento disfuncional.
  • Dificuldade em identificar e expressar competências de controlo emocional e comunicar assertivamente.
  • Dificuldade em valorizar-se e sentir-se merecedor/a de amor.

Todos os relacionamentos apresentam dificuldades e situações de crise. Faz parte integrante de um relacionamento saudável, abraçar a mudança e crescer dentro do próprio sistema relacional. Os relacionamentos co-dependentes trespassam por vezes o senso comum e formam ciclos de funcionamento viciados, sem rumo para aparente crescimento ou mudança.

Se por um lado não podemos viver na fantasia de que os relacionamentos amorosos são como os “contos de fadas”. Por outro, será que não merecemos viver um relacionamento que nos proporcione pequenos momentos de felicidade, em que nos esquecemos de tudo, e por preciosos momentos vivenciamos a experiencia de sermos uma princesa ou um príncipe….Numa história com um final feliz!

 

Se tem consciência de que está num relacionamento de co-dependência, por favor procure ajuda de um psicólogo ou outro profissional de saúde da sua confiança!

publicado às 13:25

A psicoterapia: primeiro "Lua de Fel", depois "Lua de Mel"

por oficinadepsicologia, em 10.06.12

Autor: António Norton

Psicólogo Clínico

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António Norton

Este é um título no mínimo polémico, mas de modo extremamente sintético resume o que significa, para mim, a experiência psicoterapêutica.

Este texto é dirigido a sí, enquanto possível cliente.

 

Quando entra pela primeira vez numa consulta de psicoterapia, expõe aquilo que considera ser o seu problema. Muitas vezes essa exposição é carregada de emoção, o que complica a clareza do conteúdo e a operacionalização do problema. Contudo, fornece valiosas e ricas informações sobre as emoções que pautam e permeiam a vivência subjectiva do seu problema trazido.

 

Muitas vezes, poderá ter a ideia que a pura e aparentemente simples exposição do seu problema é a parte mais complicada da Psicoterapia. Depois? Depois supõe que está bem entregue nas mãos de um profissional o qual lhe dará soluções para conseguir reconstruir-se e prosseguir o seu caminho. Existe a ideia que a Psicoterapia é um processo indolor em que se obtêm rapidamente soluções...

 

Lamento, mas por muito desejável e sedutora que seja esta ideia, muitas vezes, a Psicoterapia não é um processo assim tão simples, tão leve e tão rápido. Acima de tudo, não é um processo exterior a si. A Psicoterapia é, principalmente, uma viagem emocional e você é o principal viajante. E as viagens nem sempre são fáceis...

O Psicoterapeuta é um facilitador dessa viagem. É alguém que o ajuda a escolher determinados caminhos a percorrer, mas não faz a viagem por si, até porque não saberia que mundos explorar. Quem faz a viagem e quem encontra as respostas, é você.

 

E como se encontram essas respostas? Como se muda?

 

Para, de algum modo, dar algumas pistas a esta resposta, gostaria de introduzir a ideia de que

a Psicoterapia poderá ser vista como tendo 4 fases e a mudança dá-se na progressão destas mesmas fases. Então aqui ficam:

 

Incompetência Inconsciente

Incompetência Consciente

Competência Consciente

Competência Inconsciente

 

Enquanto progride ao seu ritmo, pelas duas primeiras fases eu diria que vivencia genericamente um período de “Lua de Fel”. Mais tarde explicarei esta ideia.

 

Quando passa para as restantes duas fases entramos num período de “Lua de Mel”.

 

As duas primeiras fases são difíceis e extremamente desafiantes. Muitos ficarão pelo caminho e desitirão. Nem todos estão dispostos a atravessar a “Lua de Fel”. Os que desistem, ficam decepcionados com a Psicoterapia e com as viagens emocionais que deverão fazer para encontrar as respostas que procuram.

 

Se superarem esta fase, então irão entrar na “Lua de Mel” onde se sentirão gratos por terem tido a coragem e a força interior de se deparar com os seus fantasmas.

 

Vamos então, sucintamente, falar sobre cada uma destas fases:

 

Incompetência Inconsciente: Esta é a primeira fase da psicoterapia. É a fase de onde irá partir para a sua viagem . A palavra – Incompetência - remete para a ideia de incapacidade, de falha: «Eu não consigo». Nesta fase, geralmente, tem uma visão vaga, ambígua, generalizada, pobre em pormenores do problema que o traz. A sua incompetência está ainda num plano muito inconsciente. « Passo a vida ansioso, ou deprimido, ou estou triste, ou cansado, ou sem vontade de viver, ou tenho muitos problemas». E o primeiro objectivo terapêutico é, justamente, tornar consciente a Incompetência.  

 

Incompetência Consciente: Nesta fase, percebe que os seus problemas podem ser equacionados como apresentando pensamentos disfuncionais, emoções disfuncionais e comportamentos disfuncionais. Estes três eixos (cognições/emoções/comportamentos) podem ser situados espacial e temporalmente. «Quando é que está ansioso? O que pensa nessas alturas? Como se sente? O que faz?» Todas estas perguntas feitas pelo Psicoterapeuta são fundamentais para começar a olhar para os seus fantasmas não os encarando com uma aparência disforme e vaga, mas com um contorno definido e com uma expressão identificável.

 

Esta é a fase da consciência dentro e fora da sessão. Quando falo de consciência dentro da sessão, refiro-me à ideia de vivência emocional dos conflitos inter e intrapessoais relacionados com o problema trazido. É o momento de vivenciar as emoções difíceis. É uma fase difícil, dura, perturbante, que gera dúvidas, resistências, frustrações. É uma fase em que parece que o terapeuta quer expô-lo, voluntariamente, ao sofrimento. Muitas vezes dão-se rupturas na aliança terapeutica, justamente, nesta fase. Não é de estranhar que possa ficar zangado com o seu terapeuta e, seguidamente, abandonar a viagem que se propôs fazer.

 

Também fora da sessão é uma fase de consciência, muitas vezes trazida a partir de exercícios de auto-monitorização, em que lhe é pedido para estar particularmente atento a si próprio nos momentos em que apresenta o problema que o trouxe à terapia. Muitas vezes é, inclusivamente, pedido para registar os seus pensamentos, emoções e comportamentos antes e depois da vivência da situação problemática.

 

Esta é uma fase polémica, que gera desacordo. É natural que não queira ficar ainda mais em contacto com o seu problema. Não quer prestar-lhe mais atenção. Só o quer esquecer! Mas... para enfrentar o seu problema tem de o conhecer, para o enfrentar tem de o poder ver. Esse confronto só é possível com uma consciencialização no “aqui e agora” do problema nos seus três eixos já apresentados previamente.

 

A consciencialização também traz outros desafios inesperados e frustrantes. De repente, vai aperceber-se que o seu problema é transversal a muitas áreas. Não é algo circunscrito no tempo e no espaço, mas é algo que , de algum modo, sempre o acompanhou. Dá-se uma consciencialização da transversalidade existencial do problema. Não é situacional, mas sim estrutural. Não é novo, é antigo, mas talvez anteriormente se manifestasse de forma diferente.

 

Esta consciencialização também é penosa. De repente apercebe-se que o seu problema é um novelo com muitos nós e que não basta desatar o primeiro nó. Surgem dúvidas: « Então mas como é que eu vou desfazer este novelo?» Surgem frustrações e novas zangas com o terapeuta. Estamos em pleno na Lua de Fel.

Apercebe-se que o seu problema é um reflexo da forma como aprendeu a responder para se adaptar a um determinado contexto que, de algum modo o ameaçou. Essa aprendizagem ,na altura, foi adaptativa e funcional, mas agora já não o é.

 

Competência Consciente

Entramos na terceira fase. Uma fase mais solarenga, mais optimista, de repente vê-se a “luz ao fundo do túnel”. Existem soluções, estratégias, técnicas, respostas, insights, clarificações, sorrisos e esperança. Mergulhou dentro de si próprio e agora está a começar a sentir outro alívio porque percebe que se conhece, por confrontar-se, por reencontrar-se.

Esta é a fase da experimentação de novas estratégias. As mudanças interiores são operacionalizadas em estratégias comportamentais que agora serão postas em prática. É uma fase em que se poderá sentir algo artificial por estar a experimentar novas soluções. Parece forçado, rígido, pouco natural, artificial, mas é este o caminho.

 

Competência Inconsciente

Chegamos finalmente à última fase. O treino e a automatização de novas estratégias começa a conferir um carácter de naturalidade. Surge outra confiança, a estranheza e o desconforto dão lugar à cumplicidade, identidade e conforto. Estamos na “Lua de Mel”. Se conseguiu chegar aqui então vai sentir-se confiante. Reencontrou-se! Encontrou novas estratégias para ultrapassar os seus desafios.

Encontrou novas soluções. A viagem valeu a pena e levou-o a bom porto!

Agora penso que se percebe com outra clareza a ideia da “Lua de Fel” em primeiro lugar e depois, a “Lua de Mel”.

 

Boas viagens psicoterapeuticas

publicado às 10:51

Amar sem vergonha

por oficinadepsicologia, em 24.05.12

Autora: Débora Água-Doce

Psicóloga Clínica

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Débora Água-Doce

Quando escrevi o texto “Gostar de Si”, foi com o objectivo de fornecer algum conhecimento sobre a doença oncológica da mama e as vivências da mulher com diagnostico desta doença, referentes à imagem corporal.

 

Hoje trago-vos o “Amar sem Vergonha”, que não é mais do que a relação entre a Imagem Corporal em Mulheres com Cancro da mama e a sua Sexualidade.

 

Vários estudos sobre o tema, concluem que não existem diferenças significativas entre as variáveis imagem corporal e vivências sexuais, logo, não se pode concluir que exista, de facto, uma mudança nas vivências sexuais devido à alteração da imagem corporal provocada pela mastectomia ou cirurgia conservadora.

 

O que nos levam ao encontro da teoria defendida por Ducharme et al. (1988), em que a sexualidade de um sujeito não é determinada por características e/ou capacidades físicas, o que faz com que não se deva julgar o deficiente físico como impossibilitado da pratica sexual.

Barni e Mondin (1997) sublinham, a pertinência da manutenção da vida sexual das mulheres mastectomizadas no combate à imagem de doença e debilidade. Os referidos autores, constataram no seu estudo que é indispensável que as mulheres submetidas a amputação da mama, e que têm parceiro sexual, discutam com este os seus problemas desta índole. Do mesmo modo, partilhamos do ponto de vista de Payne et al. (1996), Barni e Mondin (1997), Baptista (1999) e Oliveira (2000), que consideram ser extremamente importante o facto de que as mulheres com cancro da mama, assim como outros doentes do foro oncológico, mantenham a actividade sexual sempre que possível, pois esta contribui para a conservação da saúde residual da doente, melhorando a adaptação à doença.

 

Posto isto, a explicação para uma não mudança no relacionamento conjugal devido à alteração da imagem corporal provocada pela mastectomia ou cirurgia conservadora, certamente estará relacionada com a qualidade do relacionamento sexual existente entre o casal antes da doença. Estes resultados corroboram a teoria de Pádua (2006), que defende que a qualidade do relacionamento sexual existente entre o casal será responsável não só pelo alcance e a manutenção da estabilidade emocional da mulher, mas também pelo retorno do interesse sexual numa fase mais calma da doença. Assim, após a cirurgia e com a estabilidade da doença, o casal volta a interessar-se pela vida sexual e começa a preocupar-se com o relacionamento sexual de ambos. Procuram maior intimidade, trocas de carícias, prazer e novas formas de adaptação às condições actuais da mulher a fim de tornar o relacionamento sexual mais agradável, confortável e prazeroso.

 

Sabemos que tem aumentado o número de investigações na área da oncologia, todavia a prioridade tem sido dada a estudos genéticos e biológicos sobre o aparecimento, controlo e tratamento da doença. Contudo, o orgânico não se deve separar do psíquico. A par do sofrimento físico surge o sofrimento psicológico.

 

Sobretudo em mulheres que realizam uma mastectomia, a intervenção psicológica parece tornar-se indispensável. Ajudar a mulher a lidar com as alterações corporais, a desenvolver estratégias de coping que lhe permitam encarar as mudanças na sua aparência, informando-a que a sua feminilidade continua a existir são algumas das formas como um psicólogo pode intervir.

 

O tratamento físico é fundamental, porém o psíquico igualmente o é. A saúde é uma relação de equilíbrio entre o corpo e a mente, com um certo nível de comunicação e conhecimento entre o externo e o interno. Saber o que se passa com o físico e com os motivos psíquicos relacionados a esse físico doente e a forma de conduzirmos a cura (Conte, 2003).

 

Com relação também, às Vivências Sexuais, o acompanhamento psicológico da doente e do seu companheiro torna-se fundamental ao bem-estar e à qualidade de vida de mulheres com cancro de mama. O parceiro da doente é, em grande parte dos casos, a pessoa com maior contacto directo com a doente. Ouvir, compreender e ajudar o casal a enfrentar esta nova e indesejável situação ajudará ambos os cônjuges a se reajustarem a uma série de novos papéis e funções e proporcionará uma melhor comunicação entre ambos.

 

A adaptação na vivência do cancro da mama é vista como um processo de ajustamento que envolve uma interacção entre as características do cancro e o seu tratamento, bem como avaliações cognitivas, experiências vivenciadas, esforços de coping (Osowiecki & Compas, 1999) e o respectivo suporte social.

publicado às 10:04

Gostar de si

por oficinadepsicologia, em 23.05.12

Autora: Débora Água-Doce

Psicóloga Clínica

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Débora Água-Doce

Com base em estudos sobre a Doença do Cancro da mama, percebemos que o número de novos diagnósticos por ano tem aumentado significativamente, o que me levou, sendo também mulher, a trazer-lhe algo sobre esse tema. Vou falar-lhe sobre a Imagem Corporal em Mulheres com Cancro da Mama.

 

O cancro da mama é uma das patologias que abala a estrutura física e psico-social da mulher, ao mesmo tempo que, desencadeia emoções, sentimentos e comportamentos que as deixam fragilizadas, após a confirmação de doença grave, quase sempre associada a morte. A mulher vive inicialmente em permanente ansiedade, medo e desespero, necessitando frequentemente de um espaço/tempo para poder reflectir sobre o fato de estar doente, mesmo sabendo que terá um futuro incerto e repleto de sentimentos de medo, angústia, dor e sofrimento.

A mama é considerada um símbolo da sexualidade, o que nos leva a pensar que qualquer patologia que ameace este órgão leva a uma perda de auto-estima, conduzindo a sentimentos de inferioridade e rejeição.

 

Foram inúmeras as autoras e autores que escreveram acerca da natureza simbólica dos seios. Efectivamente, os significados atribuídos aos seios estão interligados com os valores sociais e culturais. Yalon (1997) sublinha que, independentemente da óptica sócio-cultutal, a importância atribuída aos seios, ao longo dos tempos, tem sido predominantemente masculina. Os seios são considerados, sobretudo pelos homens, como sinal erótico vital numa manifestação amorosa. Representam também a beleza feminina. É inegável, portanto, que as qualidades estéticas e eróticas do seio assumem uma importância relevante na sociedade actual.

De acordo com vários autores o conceito de imagem corporal é impossível de definir claramente. Metodologicamente, e de acordo com Hopwood et al. (2001), não existe, hoje em dia, qualquer consenso face à definição de perturbação da mesma. Não há ainda uma teoria unitária que congregue todas as abordagens existentes. Cash e Pruzinsky (1990) são da opinião que é um conceito extremamente ambíguo.

Ao falarmos de Imagem Corporal, existe uma relação que devemos considerar, que é a que se estabelece entre a sociedade de consumo e o corpo. A construção social da beleza (um primeiro passo para o sofrimento).

Com base na literatura depreende-se que o conceito de imagem corporal envolve preocupações, pensamentos e sentimentos que cada pessoa possui acerca do seu corpo e da sua experiência corporal. Numa síntese acerca das concepções de vários teóricos relativamente à imagem corporal infere-se que esta não se restringe a questões de ordem estética e/ou de aparência física. Sublinham que é influenciada também pela idade, etnicidade, função e aptidões corporais, força, sensações corporais, personalidade, sexualidade, estado saúde/doença. Outros factores que se articulam com todos os referidos anteriormente são o conjunto de experiências vividas e a realidade sócio-cultural (Cash e Pruzinsky, 1990; Fallon, 1990; Brendin, 1999).

Gostaria que ficassem com a ideia de que a imagem corporal é um constructo decorrente de diferentes dimensões da experiência corporal.

 

É de igual forma importante, fazer uma abordagem mais aproximada da componente conceito de imagem corporal que se preocupa particularmente com a visão mental do self físico, ou seja, com as percepções relacionadas com a própria aparência física e estado de saúde.

Segundo Price (1999) citado por Romanek et al. (2005), a imagem corporal é conceptualizada como uma imagem mental do corpo e pode envolver diversas dimensões, tais como: a percepção que pessoa tem do seu próprio corpo; a forma como pensa sobre o seu próprio corpo; a forma como pessoa apresenta o seu próprio corpo aos outros; a satisfação face à sua aparência.

Hopwood (1993) refere que nos trabalhos em que o método de entrevista era utilizado verificou a abordagem de aspectos como a satisfação em relação à cicatriz, o impacto do linfedema, o grau em que a mulher oculta a cicatriz em relação ao parceiro, o grau em que esta recusa despir-se na frente do mesmo, a atitude e consciência relativamente à aparência física, o sentimento de deformidade, a vergonha, a atractividade sexual e a mudança da importância do seio para a mulher.

Descreve ainda que as principais ideias mais comummente abordados pelas mulheres são: a insatisfação com a aparência (vestida), a perda de feminilidade, a recusa em ver-se despida, o sentimento de menor atractividade sexual, a consciência em relação à aparência e a insatisfação com a cicatriz e com a prótese.

 

Estes factos poderão explicar, em parte, que a procura do aperfeiçoamento da própria imagem, assim como a conservação da sua integridade, são importantes elementos de motivação. Tal como Pitanguy (1992) afirma, a imagem corporal é um importante elemento dentro do complicado funcionamento de formação da identidade pessoal.

 

É importante promover o “Gostar de Si”.

Mas como é que isso se faz quando tudo parece tão difícil?

Brevemente, abordarei esse tema. Espere por mim, aqui…

publicado às 10:00

Desejo OU segurança? Desejo E segurança!

por oficinadepsicologia, em 19.05.12

Autora: Inês Franco Alexandre

Psicóloga Clínica

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Inês Franco Alexandre

Muitos dos pedidos em terapia de casal, mesmo que não sejam revelados desta forma no início da terapia, estão relacionados com dificuldades na intimidade, sendo a perda ou diminuição do desejo de um dos parceiros uma das queixas mais frequentes.

 

Existe a crença social que a paixão inicial não se prolonga ao longo do tempo: “antes fazíamos amor todos os dias e o desejo era recíproco. Mas claro, tudo isso diminui quando acordamos a falar sobre o que fazer para o jantar.”

E será, de facto, necessariamente assim? A estabilidade na relação inibe o desejo?

 

Muitos terapeutas, perante este tipo de queixas, incita os casais a passarem mais tempo juntos, a ter tempo de qualidade só do casal. Se é verdade que a vida quotidiana retira, muitas vezes, disponibilidade para passar tempo a sós com o outro, também é verdade que essa dificuldade também existia, na maior parte das vezes, no início do relacionamento. Então o que mudou? Será esta estratégia terapêutica realmente adequada?

 

A especialista Esther Perel fala-nos de duas necessidades básicas no ser humano, e do aparente confronto entre elas: a necessidade de segurança, estabilidade, confiança no outro e a necessidade de novidade, mudança, mistério.

 

 A estabilidade decorre do facto de eu conhecer o outro: como reage perante as situações, quais os seus valores fundamentais, do que gosta, quais os seus limites, que projectos tem. Isto permite-me inferir sobre a forma como vai reagir no futuro, e permite-me confiar e sentir-me seguro. O desejo de novidade tem que ver com uma necessidade intrínseca (e não apenas humana) de exploração, de curiosidade perante o mundo. No entanto, este desejo do desconhecido causa-nos ansiedade. Quem já observou um gato a explorar um objecto novo pode notar como os seus olhos brilham e como simultaneamente os seus movimentos denunciam o seu medo. Nas relações humanas, esta necessidade de exploração estará também relacionada com o desejo: apaixono-me pelo mistério que é o outro. Em resumo: precisamos de ter confiança e de diminuir a nossa ansiedade, mas também de mistério, que nos dá vida mas que aumenta a nossa ansiedade.

 

Nos tempos actuais, este confronto parece estar mais presente. Vivemos um clima de ansiedade geral: não sabemos se temos trabalho, se este se manterá, até quando nos manteremos no mesmo lugar, se temos de emigrar, se teremos dinheiro suficiente para pagar as contas. O mundo muda a mil à hora e perguntamo-nos se o conseguiremos acompanhar. E quem melhor do que o nosso companheiro para exercermos a nossa necessidade de controlo sobre o mundo? Esse que nós conhecemos tão bem, a quem reconhecemos o que quer só pelo olhar, que reage de forma tão previsível?

 

Existirá solução? Como manter o desejo numa relação segura?

Talvez a(s) solução(ões) passe por entendermos, em primeiro lugar, que as duas necessidades não são opostas, se expressas de uma forma flexível e essencialmente realista. É verdade que a confiança no outro é imprescindível para estabelecermos vínculos seguros e saudáveis, inclusivamente para podermos explorar a nossa sexualidade com confiança. Mas será realista assumir que conhecemos, de facto, o outro? Que sabemos o que pensa, o que sente, como sente, como irá reagir, anulando-lhe dessa forma a sua complexidade que tanto nos apaixona? Será realista assumirmos que já não há nada a descobrir, e por isso nada a conquistar? Desejar é querer para nós, ainda que saibamos que isso nunca irá acontecer na totalidade. Porque no fundo, bem lá no fundo, existe a certeza de que o outro nos escapa na sua liberdade, na sua individualidade. A certeza pela segurança não só é ilusória como pode matar a admiração, uma das grandes componentes da paixão e do desejo.

Não existirá uma solução, mas várias soluções diferentes para cada casal. Como terapeuta, tento fazer o contrário do que acontece com a maioria destes casais: mantenho-me curiosa e atenta a quem está à minha frente, tentando nunca perder a capacidade de me surpreender com as pessoas. Emociono-me (de verdade!) com cada nova descoberta, com cada mudança adquirida. E isso não me impede (antes pelo contrário) de estabelecer uma relação de grande confiança com quem comigo se cruza no consultório. Isso fá-los acreditar na verdade: que vale a pena descobri-los.

 

E como terapeuta, desafio cada elemento dos casais a quem a rotina parece ter feito perder o desejo: a flexibilizar um pouco os seus limites de segurança e a arriscar-se a olhar para o outro como único e fascinante.

publicado às 09:25

Bussola da decisão, precisa-se!

por oficinadepsicologia, em 17.05.12

Autora: Filipa Jardim Silva

Psicóloga Clínica

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Filipa Jardim Silva

Uma das temáticas recorrentes em consulta de psicoterapia é a tomada de decisão. Um processo sentido por muitos como complexo e por vezes angustiante que nos coloca de frente com o que somos, o que temos sido e o que gostaríamos de ser; do outro lado, temos diversos fatores como: os outros (aqueles que serão afetados pela nossa decisão, os que tentam manifestar a sua perspetiva, os que influenciam pelo papel que têm na nossa vida), o tempo de que dispomos para decidir e os riscos inerentes.

 

A tomada de decisão pode ser analisada à semelhança dos processos mentais e resulta numa seleção de um curso de ação entre os vários cenários alternativos. Todo o processo decisório produz uma escolha final. Existem inúmeros modelos para o processo de tomada de decisão. O Professor Universitário Francisco Araújo Santos, partindo do pensamento de Max Weber, propôs um modelo segundo o qual explica que as nossas evidências externas são percebidas através de um “filtro” de crenças; a par dessas crenças os desejos individuais alteram as próprias evidências de acordo com as expectativas de cada um. As evidências filtradas e modificadas por estes dois sub-sistemas desencadeiam então uma seleção de alternativas, que servirão de base para a tomada de decisão e consequente ação.

 

Frequentemente damos por nós a tender para a impulsividade de tomar uma decisão sem uma reflexão antecipada; planear, de algum modo, uma decisão permite decidir de uma forma mais inteligente e confortável, sobretudo porque criamos a oportunidade de nos sintonizar connosco mesmos, utilizando os nossos estados emocionais e corporais como auxiliadores de decisão a par das análises mais cognitivas e racionais. Mas os tempos de contemplação e análise têm validade, e a partir de um determinado ponto ótimo de reflexão/ introspeção perdemos balanço no emaranhado de prós e contras, de “se’s” e “mas”, de opiniões A’s e B’s e simplesmente caímos na inação, na incapacidade de nos mobilizarmos rumo ao movimento e à mudança. Será importante nos recordar de que não existem decisões perfeitas nem será possível termos a certeza absoluta das nossas resoluções; as certezas serão sempre relativas face à informação disponível no momento presente. Cabe-nos, por isso, a nós tornar as nossas decisões o mais acertadas possíveis mantendo-nos firmes no caminho escolhido e investindo nele sem desperdiçar recursos a olhar para trás ou demasiado para a frente, a pensar no que poderia ter sido mas não é ou no que ainda pode ser. A vida acontece no momento presente e é essencial que seja nele que se concentrem os nossos principais recursos.

publicado às 17:04

Saiba mais sobre Pânico e Agorafobia em http://oficinadepsicologia.com/sobre-ansiedade/panico-e-agorafobia

 

Os grupos psicoterapêuticos na Oficina de Psicologia agregam pessoas que sofrem de uma mesma perturbação. Dado que utilizamos um modelo estruturado nos grupos de intervenção psicoterapêutica, ou seja, um número pré-definido de sessões, previamente organizadas em torno de material e exercícios relevantes, estes tornam-se muito eficazes e permitem, num curto espaço de tempo, lidar com a sintomatologia mais representativa das perturbações a serem trabalhadas. O contexto de pequenos grupos (de 6 a 12 pessoas) tem vantagens muito específicas, das quais destacamos:

Não sou o único – momentos de partilha com alguém que sofre da mesma problemática, tem um efeito terapêutico significativo. De alguma forma, e a um nível profundo, é um grande passo para a normalização daquilo que sentimos e somos e para a aceitação de nós próprios;

Aceleração da mudança – técnicas de intervenção específica à problemática apresentada;

Perspectivas múltiplas – várias pessoas a observar uma mesma realidade podem obter uma riqueza de perspetivas e ângulos, impossível de conseguir em outro contexto - o que viabiliza a rapidez dos processos de reequilíbrio pessoal.

Espelhos – quem nos rodeia pode constituir-se como um espelho de nós mesmos, reflectindo a nossa imagem e expondo a nossa forma de lidar com a vida e connosco próprios. Num grupo de psicoterapia esta reflexão é incentivada num contexto seguro e terapêutico, com o objetivo de nos conduzir a opções mais úteis e geradoras de satisfação pessoal.

Custos – A psicoterapia de grupo resulta inevitavelmente mais económica.

 

É já no dia 15 de Maio que vamos dar início a mais uma edição do Grupo Terapêutico para a Perturbação de Pânico. Se sofre desta patologia, junte-se a nós numa caminhada conjunta por uma vida sem pânico. Esperamos por si!

 

Terapeuta responsável: Ana Crespim

Data: 15 de Maio

Hora: 20h00

Local: Avenida de Paris, nº4, 5º andar

Preço: 20€

publicado às 11:55

Ser psicoterapeuta é...

por oficinadepsicologia, em 28.04.12

Autor: Luís Gonçalves

Psicólogo Clínico

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Luis Gonçalves

Sentir. Sentir muito. Às vezes até demasiado. Etimologicamente, é curar pela mente. É tentar fazer um caminho a dois, superando qualquer obstáculo. É conduzir e ser conduzido. É arregaçar as mangas e transformar o que impede no que ajuda. É caminhar num sentido e, de repente, fazer o inverso ou descobrir outro completamente novo. É não agredir quando se é agredido. É amar incondicionalmente. É ter tanto de forte como de frágil e viver bem com isso. É destruir para construir. É fazer eco do que o cliente sente sem se ter medo dos efeitos secundários. É fazer de espelho para que ele veja o que pensa, sente e faz. É saber ouvir e saber concertar. É abdicar da descrença para acreditar na luz. É partilhar as trevas e não fazer disso uma tragédia. É acreditar, como Pessoa, que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

 

É aprender a cuidar de si próprio para melhor cuidar de quem nos procura. É sorrir ou chorar em segundos. É dar a mão. É fazer do consultório um espaço seguro, sagrado e protegido. É viver bem com o silêncio. É ser-se observador e, simultaneamente, participante. É, simplesmente, estar-se sem se estar de saída.

É aceitar um abraço de agradecimento ou fragilidade. É dar um abraço que salve uma vida ou simbolize mais um caso que termina. É ler, pesquisar mas também esquecer uma parte (e assim ser-se humano, unicamente pessoa). É viajar, explorar, conhecer, arriscar e cair. É tocar qualquer forma artística que nos enriqueça e aumente a nossa visão de vida. É estar longe do espaço terapêutico o tempo suficiente para recuperar o fôlego. É não ter medo da morte. É aceitá-la como a forma perfeita de dar brilho à vida.

 

É ter dúvidas. É ter fracassos. É pegar no pouco que sobrou e fazer disso um melhor profissional. É revisitar a vida pessoal e encontrar algo útil para quem está à nossa frente (ou para nós próprios). É abdicar de barreiras, máscaras ou referenciais teóricos. É descobrir a chave para quem procura a sua própria fechadura. É ser-se único, arrojado e genuíno. É não ter medo de se ter medo.

 

É assumir a responsabilidade de se ser um modelo, uma referência e uma fonte de afeto para tanta gente incrível (para muitos, a primeira que alguma vez tiveram). É saber pedir ajuda e compreender quem a pede. É chegar ao fim de mais um dia de trabalho e respirar fundo. É sentir no corpo e na alma o desgaste do que é ter-se dado e recebido tanto durante imenso tempo. É olhar pela janela e contemplar a beleza da lua. É ganhar balanço. É também sorrir porque amanhã é outro dia.

 

Ser-se psicoterapeuta é uma profissão que nos muda, nos marca e nos transforma (também). E foi uma parte desse brilho que hoje quis partilhar consigo!

publicado às 10:23

Armadilhas mentais

por oficinadepsicologia, em 09.04.12

Autora: Filipa Cristóvão

Psicóloga Clínica

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Filipa Cristóvão

Muitas vezes somos apanhados em armadilhas mentais que tendem a aumentar o stress e a dor. São estilos de pensamento, hábitos mentais comuns que aprisionam, dão a sensação de se estar encurralado, condicionam o humor e prejudicam o bem-estar.

A capacidade de reconhecer essas “armadilhas” permite que não se caia tão facilmente nelas, contribuindo para uma perspectiva mais clara dos acontecimentos, com alterações nos níveis de stress, satisfação, e a forma como se vê a vida.

Vejamos algumas:

  • Catastrofização -Vou para o exame, vou ter uma branca, vou começar a transpirar, os outros vão notar que estou esquisito, vão gozar comigo, aquilo vai correr tudo mal e no final até chumbo o ano”. Trata-se de um estilo de pensamento que perante situações difíceis espera o desastre e automaticamente espera o pior cenário.
  • Filtro mental- “Tive uma apresentação onde todos fizeram bons comentários, mas houve um colega que disse que não escolhi bem o tipo de letra. Foi um desastre a minha prestação”. Neste caso, as experiências positivas não são valorizadas e há uma hipervalorização das negativas. Contribui para estados depressivos e ansiosos, uma vez que se pega num detalhe negativo e se foca toda atenção nele. EX: “Estou a conseguir marcar mais golos mas ainda faço muitos erros”. Esse “mas” desconta o positivo e dá poder ao negativo. Experimente substituir o mas por “e”, e sinta a diferença.
  • Personalização e Culpa- ”O meu filho teve má nota a matemática, é uma prova em como sou uma má mãe”. Considerar-se responsável por uma situação que não está inteiramente debaixo do seu controlo leva a sentimentos de culpa, vergonha e sensação de incapacidade.

“O meu casamento não funciona e toda a culpa é do meu marido”. Por outro lado, culpar os outros ou as circunstâncias pelos seus problemas leva a sensações de impotência, pois é mais difícil mudar os outros ou o exterior. Para além disso, o relacionamento com os outros piora, pois ninguém gosta de se sentir culpado e perante uma acusação, o mais certo é que a mesma volte ao ponto de partida…Se considerar que a solução esta fora de si entra em frustração e reduz o poder para provocar mudança.

  • Tudo ou nada“Tenho de fazer um trabalho perfeito ou não vale a pena”. “Falhei uma pergunta, foi uma tragédia”. “Estou de dieta, hoje comi um bolo, nunca vou conseguir emagrecer”. Trata-se de olhar para as coisas em absoluto, em preto e branco. Se a situação não é perfeita, então é um total desastre.

 

  • Hipergeneralização – “A carta chegou atrasada. É sempre assim os carteiros estão sempre a fazer-me isto”. Com este estilo de pensamento, perante um evento único negativo tende-se a considerá-lo um padrão de desastre ao usar a palavra “sempre” ou “nunca”.
  • Saltar para conclusões - “ O chefe está a olhar para mim, deve-me odiar”- Este exemplo envolve um processo de ”leitura da mente” pois a pessoa convence-se que sabe o que os outros estão a pensar, sentir e porque agem como agem, sem qualquer evidência.

Noutras situações pode-se usar um processo de “adivinhação” onde arbitrariamente prevê que as coisas vão correr mal - “Vou estragar tudo, quando chegar à entrevista vou ficar paralisado, não conseguirei pensar em nada para dizer”.

  • Magnificação ou minimização- “Eu hoje não fiz nada”- Neste caso exagera-se na importância dos problemas ou dificuldades e/ou reduz-se a importância inapropriadamente das conquistas ou qualidades, como se usasse umas lentes enviesadas

 

  • Raciocínio Emocional- Raciocinar a partir do que se sente assumindo que as emoções negativas reflectem a realidade Ex: Eu sinto-me um idiota eu devo mesmo ser um idiota”, “tenho medo de andar em aviões. Então é perigoso voar”.
  • Dever- “Após um ano de aulas, eu não devia cometer erros a tocar guitarra”. Os “devo” ou “tenho de” incorporam uma lista de regras inquebráveis, rígidas para si próprio e para os outros. Se quebrar as regras para si próprio, a culpa emerge porque não se viveu de acordo com as expectativas. Este padrão mental pode levar a culpa, zanga e ansiedade.

Muitas pessoas tentam motivar-se com “devos” e não “devos” como se fossem delinquentes que têm de ser punidos antes que façam qualquer coisa errada. “Eu não devia comer esse gelado”. Contudo, tipicamente não funciona porque esses “devos” e “não devos” trazem sensações de rebeldia accionando impulsos para fazer o contrário.

Por outro lado, se são os outros a quebrar as regras surge zanga e ressentimento “Ela não devia ser teimosa”

  • Rotulagem - “Eu sou uma falha” (em vez de: “Eu fiz um erro”).Neste caso, existe uma identificação com os resultados, e uma confusão entre o que se é, e o que se faz. Essas abstracções levam a zanga, ansiedade, frustração e baixa auto-estima.

Por outro lado, também se pode rotular outros. Quando alguém faz algo, rotula-se de e depois pensa-se que o problema da pessoa é o seu carácter em vez de ver que é o seu pensamento ou comportamento. Ao ver a situação como completamente má as sensações de hostilidade e impotência sobre a situação aumentam, deixando pouco espaço para a comunicação construtiva.

 

Agora que conhece algumas das típicas armadilhas. Faça um pequeno exercício. Em quantas destas armadilhas já se viu enredado? Permaneça consciente dos estilos de pensamento que o bloqueiam. Desta forma aumenta a oportunidade para escolher olhar para uma situação com outras lentes, ou olhar para os pensamentos como apenas simples acontecimentos, e não como factos per se. Ao ganhar este conhecimento de como a sua mente funciona, pode controlá-la melhor, ao invés de ser dominado por ela.

 

Vamos experimentar?

publicado às 17:30


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