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Subtexto, dimensão que nos revela

por oficinadepsicologia, em 24.08.12

Autor: Pedro Diniz Rodrigues

Psicólogo Clínico

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Pedro Diniz Rodrigues

O subtexto ou entre-linhas como também conhecemos na linguagem de senso comum, assume-se na comunicação humana como um padrão de pensamento subjacente da mensagem a que está associado. Toda a nossa expressão (ou não expressão) contém subtexto. É portanto um aspecto importante da nossa comunicação, sobre o qual gostaria de reflectir consigo.

 

Quando interagimos, este subtexto aparece como que camuflado, pois normalmente não o vemos de forma totalmente clara. A sua mensagem é ofuscada pela mensagem principal, que o nosso interlocutor nos quer transmitir.

 

Por exemplo, se está num restaurante com um grupo de amigos e uma das pessoas com quem está a conversar lhe diz que está bem-disposta por alguma razão, o normal será interpretar o que lhe foi dito como verdade.

 

No entanto, se notar que essa pessoa está com um ar triste ou com uma postura abatida, é provável que já fique com algumas dúvidas sobre a veracidade dessa mensagem.

 

O que se pretende mostrar com este exemplo, é que o subtexto é algo que se estivermos atentos, poderemos observar, está lá na interação, e revela-nos informação adicional que enriquece a forma como interpretamos as situações.

 

De uma maneira mais ou menos evidente e por vezes repetitiva, revela-nos detalhes dessas situações, permitindo-nos ajustar melhor a essa realidade, e adequar (ou não) o nosso comportamento a um dado contexto social.

 

Se pensarmos novamente no exemplo do jantar, mas supondo agora que não conhecíamos ninguém, certamente nos será útil ter a noção de aspectos, como os melhores momentos para iniciar uma conversa ou dar uma opinião, e a receptividade ou interesse da outra pessoa em relação ao que estamos a dizer, para saber se continuamos ou não com a conversa. Esta informação é normalmente revelada pelo subtexto.

 

O valor desta linguagem implícita na nossa comunicação reside no seu elevado nível de verdade, na autenticidade da sua mensagem, na qualidade da informação que nos fornece sobre a nossa pessoa, através daqueles e sobre aqueles que interagem connosco. A importância do subtexto reside também na sua relação próxima com a auto-estima. Ao interagirmos, reflecte o que queremos e não queremos, caminhando lado a lado com as nossas emoções. A auto-estima por sua vez, está intimamente ligada às qualidades que apreciamos em nós e nos outros, bem como ao que nos faz sentir bem e ao que nos faz sentir mal.

 

O que implicitamente dizemos de nós, o modo como o dizemos, o destaque que damos a determinados aspectos da nossa personalidade em detrimento de outros, evidencia a existência de recursos internos que estão a ser mobilizados num dado sentido.

 

Simplificando, se estiver atento ao que é importante para si e para o outro, independente do tema da conversa, a interação torna-se mais satisfatória e gratificante.

 

Acha que nos apercebemos do subtexto que transmitimos aos outros?

 

Em parte sim, mas a grande maioria da informação que transmitimos não é diretamente perceptível, ou seja, só nos apercebemos quando estamos a conversar com alguém e essa pessoa nos diz por exemplo: O que se passa contigo hoje? Pareces um pouco irritado(a). Aconteceu alguma coisa? – Nessa altura reparamos por exemplo no quanto a conversa que tivemos nessa manhã com um vizinho, nos está ainda a aborrecer e a influenciar o nosso comportamento com as outras pessoas.

 

Haverão muitas formas de nos apercebermos da informação que transmitimos, mas se estivermos atentos a aspectos simples como este, passaremos a estar mais conscientes das entre-linhas da nossa comunicação e da riqueza do subtexto enquanto meio privilegiado de olharmos para nós e para o mundo.

publicado às 12:26

É possível a amizade entre homens e mulheres?

por oficinadepsicologia, em 20.08.12

Autora: Catarina Mexia

Psicóloga Clínica

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Catarina Mexia

A crença antiga e ainda muito vulgar de que a amizade entre homens e mulheres não é possível provém do tempo em que os nossos antepassados tinham tarefas perfeitamente divididas: a mulher em casa e o homem no trabalho. A única maneira de poderem estar juntos era quando queriam iniciar um romance.

 

Atualmente, no entanto, homem e mulher trabalham e praticam desporto juntos e estão envolvidos desde cedo num processo de socialização que deixa espaço para desenvolver com sucesso uma amizade próxima e com cada vez mais boas razões para o fazer.

 

O que é a amizade? Comecemos por definir o que é amizade. Trata-se de um sentimento complexo que aparece sem aviso ou premeditação. Não conhece critérios de idade, de condição social ou de origem e é um misto de confiança, abandono, sensibilidade e amor desinteressado. A questão está em saber se esta genuinidade resiste numa relação entre um homem e uma mulher. Se um conjunto de pessoas responderia sem hesitar que não, outro diria ser perfeitamente possível. A maioria, porém, iria hesitar antes de responder num ou noutro sentido.

A verdade é que a sexualidade prejudica a amizade entre homens e mulheres. Quantas vezes um homem se contenta em manter-se apenas amigo quando o que deseja é ser amante?

De facto, é muito difícil lidar com uma proposta para mantermos apenas a amizade, até porque isso desencadeia sentimentos opostos. Tantos os homens como as mulheres podem sentir rejeição num primeiro momento, mas logo a seguir felicidade, justamente por compreenderem as vantagens de uma relação que não passa necessariamente pela cama. Quando tal acontece, já nada é como dantes. Curiosamente o inverso pode acontecer, ou seja, uma relação de amantes pode tornar-se numa relação de amigos.

 

Lidar com o desejo. O tema desejo é quase inevitável nas relações de amizade entre homens e mulheres. A questão é saber se queremos estragar ou modificar uma relação que até aí funcionou bem. Nesses momentos de particular tensão em que o desejo ganha força, a proximidade e o toque físico devem ser evitados, para que a distância permita tomar uma decisão sem comprometer a posição do outro. Como bons amigos, tal será compreendido como uma necessidade íntima a respeitar e não como um afastamento precipitado.

O contexto que uma amizade cria, e a forma pode ser partilhada no que respeita aos nossos amigos, filhos, pais e trabalho, não afasta nem permite negar a existência desta tensão sexual, mas ajuda a delimitar a intimidade de cada um. Acontece que estas amizades, tal como as que se desenvolvem entre pessoas do mesmo sexo, baseia-se na possibilidade de falar, ouvir, servir de suporte ao outro, de ser companheiro, de partilhar algo mais profundo do que uma relação sexual que provavelmente não teria futuro.

 

Que vantagens? Quando um homem e uma mulher mantêm urna relação de amizade, com frequência nos perguntamos que benefícios existem nessa relação. Será a sua função constituir um pilar afectivo baseado numa relação democrática e igualitária numa sociedade sem respostas nem certezas?

Na vida amorosa os sentimentos explodem como fogo de artifício, enquanto que na amizade são canalizados com paciência, limites e compreensão. Mas esta amizade exige renúncia e, por isso, precisa de acontecer entre dois seres emocionalmente maduros. Ao invés das amizades entre pessoas do mesmo sexo, esta beneficia de uma dualidade muito enriquecedora que se traduz em perspectivas diferentes, por vezes novas mas sempre complementares, que o outro tem sobre determinados assuntos.

Cumplicidade, estímulo intelectual e serenidade são razões que convidam a estabelecer uma relação de amizade com uma pessoa do sexo oposto. Mas por vezes essas razões podem dissimular perturbações de identidade ou revelar dificuldades de identificação em relação aos outros, uma vez que se trata de uma relação menos exigente do que o amor e que responde, na nossa época, ao medo de envolvimento.

 

Quase casais. "Ficar apenas amigos" significa menos compromissos. E estes "quase casais" são cada vez mais numerosos. Algumas ideias feministas sobre a independência das mulheres e certas tendências masculinas que privilegiam uma via individualista encorajam o seu aparecimento. Uma vez encontrado o amor desinteressado, não o devemos deixar partir. A amizade entre homens e mulheres segue o mesmo caminho da amizade entre pessoas do mesmo sexo, mas deve resistir aos caminhos da sedução e deslocar-se no sentido da conivência, confiança e suporte para poder sobreviver. Não pode ser um modelo universal a seguir, pois alimenta- se da particularidade de cada relação e responde a necessidades mais ou menos confessáveis.

Nasça antes ou depois de uma relação marcada pela sexualidade, antes ou depois de uma relação de casal, a amizade entre homens e mulheres é importante e preciosa num mundo pouco amigável e pobre em laços humanos.

publicado às 13:54

Conjugalidades - Parte 2

por oficinadepsicologia, em 13.08.12

Autora: Inês Franco Alexandre

Psicóloga Clínica

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Inês Franco Alexandre

Em terapia de casal, as crenças de cada um dos elementos sobre a relação tornam-se visíveis,  através do conteúdo do que me dizem – como quando explicitam o que desejam da relação ou o que acreditam serem os factores de (in)satisfação – e também através da forma que a relação assume, mesmo em sessão – se há um dos elementos que fala mais, se os dois têm igual espaço, se existem lutas ou competição na tomada da palavra . Através da observação destas dinâmicas vamos entendendo quando um dos elementos está, naquele momento, mais centrado na relação – no nós – e menos em si (quando, por exemplo, propõe passar mais tempo em casal ou lhe é imprescindível ter projectos a dois) enquanto o outro elemento está mais focado nos espaços de diferenciação (quando propõe mais tempo individual, fala mais sobre si e das coisas de que gosta, fala mais sobre o outro enquanto indivíduo separado de si, apreciando-lhe a individualidade). Este tipo de dinâmicas, resultante de uma diferença na perspectiva que cada um adopta sobre a relação entre o eu o tu e o “nós” (ver parte I), pode facilmente causar conflito. Quando sinto que o outro não age de acordo com o mesmo modelo que eu, surgem muitas vezes medos e inseguranças – se não está tão centrado em “nós” é porque já não gosta de mim, porque esta relação não lhe faz sentido, porque não retira prazer do tempo comum, porque não lhe basto – medos estes que também estão, na maior parte das vezes, relacionados com a nossa história individual.

 

Alguns casais dizem-me, com alguma surpresa, que a relação entre eles é diferente na sala de terapia do que quando estão sozinhos, ainda que discutindo os mesmos assuntos. Falam-me da importância de um árbitro, que tem como função a mediação entre eles. Talvez tenham razão, porque julgo que um dos factores de sucesso da terapia seja a maior consciência dos casais de que podem e sabem fazer diferente, e que o poderão fazer também sem a presença de um terceiro elemento. No entanto, não me coloco no papel de um árbitro, porque não considero que seja minha função a de impor regras e faltas. Perguntei-me então várias vezes o que faria com que os casais conseguissem discutir, na minha presença, de uma forma que lhes trouxesse menos sofrimento. Julgo que uma das razões será o facto de, apesar de não ser neutra relativamente aos temas que me trazem (desengane-se quem imaginar que a neutralidade é uma possibilidade para algum ser humano, ainda que terapeuta), permanecer sempre disponível para conhecê-los, individualmente. Ou seja, tendo a adoptar uma postura de curiosidade e compreensão em relação a estas três entidades – os dois “eus” e o “nós” – dando espaço a cada um deles e tendo em atenção os modelos relacionais que cada um dos elementos terá como base, quais as suas crenças, o que acreditam dar-lhes significado à vida e à relação. Isto permitirá que os casais redescubram que diferentes perspectivas não implicam que o outro não nos valida ou não gosta de nós, mas simplesmente que isso resulta de uma forma diferente de olharem para si e para a relação naquele momento das suas vidas, o que por sua vez depende em grande medida da história individual de cada um. E, claro, poderão também descobrir que o modelo do outro não se coaduna com as suas necessidades e crenças fundamentais sobre o que querem para si e para a relação.

 

A minha presença parece então permitir que cada um dos elementos entenda que é possível que as duas perspectivas coexistam, porque eu mesma entendo que as duas podem coexistir, sem que uma invalide a outra. Para isso, tento manter uma postura de abertura e curiosidade, dando-me espaço para ouvir e compreender cada uma das pessoas. Tento por um lado colocar-me no lugar do outro, e por outro lado entender como é que a perspectiva de cada uma das pessoas me faz sentir, enquanto indivíduo. Este exercício dá-me alguma flexibilidade que me permite compreender as duas perspectivas. Por último, tento colocar mais questões e fazer menos afirmações.

 

Para os casais torna-se difícil, é claro, fazer este tipo de exercício, sobretudo em alturas de conflito, quando os medos e as inseguranças emergem. Ao longo do tempo fui também entendendo que, para haver este movimento de abertura e compreensão de parte a parte, que implica descentrarmo-nos e entendermos que as nossas reacções imediatas são grande parte das vezes causadas por inseguranças nossas, seria importante ter sempre presente o amor que temos pelo outro e que ele tem por nós. Por mais banal que pareça, este é o grande reservatório de energia para lidar com o conflito e que permite aos casais não colocar uma grossa armadura quando discutem. Para que esse amor esteja presente, torna-se imprescindível promover o conhecimento mútuo, estimulando a curiosidade sobre a pessoa que temos ao lado, perguntando-lhe sobre si, sobre os momentos mais importantes da sua vida, os seus sonhos, projectos, ambições, princípios de vida. Não menos essencial, será lembrarmo-nos do que nos apaixonou no outro, nos momentos bonitos da nossa história comum. Centramo-nos com frequência no que corre menos bem na nossa relação, e esquecemo-nos de relembrar e de manter o que gostamos tanto nela. E por último, não posso deixar de mencionar a necessidade de nos focarmos nos detalhes – nos bilhetes, nas mensagens, nos abraços inesperados, nos sorrisos, nas surpresas. O essencial pode estar contido num detalhe.

publicado às 10:15

Conjugalidades - Parte 1

por oficinadepsicologia, em 12.08.12

Autora: Inês Franco Alexandre

Psicóloga Clínica

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Inês Franco Alexandre

Num casal, existem três elementos: o eu, o tu e o nós (Caillé, 1991). Existem duas pessoas, cada uma com a sua história de vida, os seus sonhos e projectos, as suas alegrias e os seus fracassos, os seus medos e fantasmas, a sua forma própria de olhar para o mundo, e uma entidade relacional, também com uma história e uma identidade própria. Em consonância com esta ideia, existirá então um espaço próprio para estas três entidades: um espaço de diferenciação de cada uma das pessoas – do eu e do tu - e um espaço de comunhão – do nós – que resulta da intersecção dos outros dois.

 

A conjugação destes três elementos e dos respectivos espaços nem sempre é fácil. Num casal existem, por vezes, perspectivas diferentes entre as duas pessoas sobre os espaços que a diferenciação e a comunhão devem ocupar. Isto acontece, por exemplo, quando uma das pessoas julga que o nós deverá ocupar muito espaço e exigir naturalmente disponibilidade e energia de cada um, e a outra pessoa imagina que deve existir mais espaço individual e menos de casal. Nestes casos, existe uma dificuldade na conjugação das duas perspectivas sobre o casal. É a diferença de perspectivas, e não o facto de haver uma mais válida do que a outra, que cria o conflito.

 

As perspectivas ou modelos que criamos sobre as relações dependem de muitos factores: da sociedade em que estamos inseridos, que dita quais as regras de funcionamento numa relação (um relacionamento com sucesso no mundo ocidental e no mundo oriental terá, com alguma certeza, contornos diferentes); dos modelos que tomamos como referência de sucesso - pais, avós, familiares, amigos – que nos levam a tender a perspectivar as relações da mesma forma; dos modelos que tomamos como referência de insucesso - pais, avós, familiares, amigos - e que nos fazem ter medo de repetir outras histórias e nos levam a comportar-nos de forma inversa.

 

Estes modelos de relação são muitas vezes inconscientes, e consistem em crenças que vamos construindo sobre como devem ser as relações para que tenham sucesso, funcionando como um guião de actuação. Como este guião é, na maior parte das vezes, inconsciente, o que sentimos, os comportamentos que adoptamos e a forma como reagimos aos comportamentos do outro também são, muitas vezes, automáticos. Ou seja, não temos consciência de que sentimos e agimos com base nesses modelos. Mais ainda, temos tendência a confirmar os nossos modelos, através do mecanismo de atenção selectiva, o que quer dizer que nos focamos nos sinais, internos e externos, que nos dizem que o nosso modelo está certo. E porquê?

 

Todos nós precisamos de crenças sobre as quais assentamos o nosso comportamento. Por exemplo, acreditamos que num mundo justo não devemos roubar, o que faz com que não roubemos. Estas crenças são-nos essenciais, porque são elas que nos permitem explicarmos, a nós e aos outros, o nosso comportamento, uma necessidade presente em todos os seres humanos e que parece estar relacionada com a questão da confiança: confiamos mais em quem sabe explicar melhor o seu comportamento, porque poderemos prever com maior confiança qual o comportamento que irá adoptar em circunstâncias semelhantes.

 

Do mesmo modo, acreditamos que para sermos felizes num relacionamento deve haver respeito, simpatia, amor, paixão, cordialidade, que devemos reservar mais ou menos tempo para o casal, mais ou menos tempo para cada uma das pessoas, devemos dar-nos com amigos ou não, sermos mais ou menos fechados, etc. E, uma crença que creio fundamental, acreditamos que é mais ou menos fácil conjugarmos quem somos, a nossa individualidade, com a criação do nós.

 

Construímos então teorias: sobre nós, sobre o outro e sobre as relações. Tendo como base algumas crenças, tendemos a comportar-nos de acordo com estas, e tendemos também a confirmá-las e reconfirmá-las. Por exemplo, se acredito que o outro gosta de mim, tenderei a procurar sinais que mo confirmem – o meu companheiro diz-me muitas vezes que gosta de mim, está alegre quando está comigo, envia-me mensagens carinhosas a meio do dia – e a desvalorizar sinais do contrário – não agiu como de costume, anda mal disposto há muito tempo, não faz o que lhe peço o que quer dizer que não me ouve.

 

Sendo incontornável termos crenças, não é incontornável que elas se mantenham as mesmas a vida inteira, e sobretudo que não as possamos flexibilizar. Ao longo do tempo os nossos modelos de actuação tornam-se rígidos, como se fossemos engrossando as paredes da nossa sala e se tornasse cada vez mais difícil comunicar entre compartimentos.

 

Num casal, os modelos individuais podem funcionar em determinado momento da vida, sendo fácil a conjugação de perspectivas, e não funcionar noutras, sendo necessária alguma mudança ou flexibilização. As diferentes etapas do ciclo de vida do casal, o crescimento individual, os acontecimentos por que vão passando, são elementos que vão obrigando, naturalmente, cada uma das pessoas a rever os seus modelos e o casal a mudar o seu funcionamento. Por exemplo, é provável que a conjugação dos espaços individuais numa fase inicial de paixão não seja semelhante à que acontece quando nasce um filho. Como conjugar, então, a influência de tudo isto na forma como cada uma das pessoas se vai construindo e reconstruindo, na forma como olha para o mundo e para a relação, mantendo um relacionamento satisfatório?

 

Nestes momentos de alguma crise, torna-se essencial transformá-la numa oportunidade de crescimento a dois. Muitos dos casais que acompanho em terapia e que ultrapassam períodos mais difíceis relatam como muito importante a sensação do esforço ter valido a pena, no sentido de fortalecimento da relação. Na parte II deste texto abordarei alguns dos aspectos que considero relevantes na gestão conjugal destes períodos.

publicado às 13:52

Mentiras privadas

por oficinadepsicologia, em 27.05.12

Catarina Mexia

Psicóloga Clínica

Coordenadora de equipa

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Catarina Mexia

Na infância fomos educados para dizer a verdade e foi-nos ensinado que ser honesto compensa. Contudo, à medida que crescemos, damo-nos conta de que a verdade pode ser muito cruel e poucos relacionamentos poderiam sobreviver à realidade de uma honestidade brutal. Para evitar magoar outros, aprendemos a utilidade das "mentiras piedosas". Por outro lado, as mentiras que construímos apenas em nosso benefício podem magoar e são frequentemente utilizadas apenas para evitar o castigo.

 

A generalidade das pessoas considera-se honesta, nomeadamente de acordo com os ditames da sociedade. Mas o que a sociedade considera honestidade e o que é a verdade são duas coisas completamente diferentes. Temos sido sistematicamente ensinados na nossa cultura a tornar a mentira uma parte das nossas vidas. Fazemo-lo com tanta frequência que nem nos damos conta disso.

 

Se honestidade é "dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade", a versão politicamente aceite é "Dizer a verdade, e somente parte da verdade, na medida em que nos serve e ninguém se sente magoado". E este é o raciocínio presente nas consistentes e persistentes mentiras piedosas, que dizemos aos outros todos os dias.

 

Parece-nos perfeitamente plausível esconder a verdade ou parte dela se julgamos que esta vai magoar os sentimentos de alguém, iniciar um conflito, deixar mal o outro ou fazer-nos parecer mal.

 

Porque mentimos?

Mentimos porque nem sempre podemos dizer toda a verdade. Porque precisamos que as pessoas gostem de nós, nos amem e nos aceitem. Quando não se trata de uma situação patológica ou de um distúrbio de personalidade, as razões mais frequentes por detrás de uma mentira podem ter como objectivos combater o medo de ser rejeitado, considerado ridículo ou indesejável; não perder o controlo da situação, o que na realidade não passa de uma ilusão já que ninguém tem o controlo de nada a não ser dos seus comportamentos com que responde ás situações; esconder aspectos da nossa maneira de ser que consideramos intoleráveis e, finalmente, combater a insegurança e a vulnerabilidade através de uma falsa imagem. Ironicamente se não dissermos a verdade e construirmos estes "falsos eus" as pessoas não conseguem gostar de nós! Logo, a única forma de sermos realmente amados, realmente aceites, é mostrando quem somos com verdade. Só dando-nos realmente a conhecer, é possível aos outros aceitar quem realmente somos. Se usamos uma máscara, uma realidade construída de quem nós somos, o outro só poderá amar, aceitar e relacionar- se com a máscara. E então sentimo-nos mais sozinhos do que nunca e, até mesmo, ressentidos com os outros por uma armadilha criada a nós mesmos.

 

Efeitos perversos.

As mentiras interferem nas nossas relações, sejam elas amorosas, de amizade ou profissionais.

Uma relação saudável baseia- se principalmente na confiança. Sem ela, não existe a tranquilidade necessária para que a relação se aprofunde e desenvolva. É muito difícil manter um relacionamento amoroso quando um dos parceiros perde a confiança no outro, conseguir uma promoção quando o patrão percebe que utilizamos sis­tematicamente as "desculpas de mau pagador" para justificarmos os nossos atos menos meritórios ou, ainda, ajudar os nossos filhos a crescer saudavelmente quando são sistematicamente confrontados com a "invenção da realidade" mostrando-lhes que é normal não assumirmos a responsabilidade plena dos nossos atos e pensamentos. E uma vez mais não estamos a falar de outras que não as mentiras piedosas.

 

A mentira tem efeitos perversos numa relação, que muitas vezes fica irremediavelmente afectada ou necessita de ajuda profissional para ser reciclada. Aqui fica um breve enunciado destes efeitos perversos:

Decepção — "afinal ele não é quem eu pensava!", "preciso de saber se posso confiar", "Será todo o nosso relacionamento uma mentira?"

 

Desconfiança — Este é um dos efeitos mais devastadores e mais difíceis de reconquistar numa relação, qualquer que seja a sua natureza, e mesmo quando estamos dispostos a lutar pelo relacionamento torna- se um dos objectivos mais desgastantes e difíceis de alcançar.

 

Desrespeito — Ao mentirmos tiramos ao outro a oportunidade de escolha, desrespeitamo-lo como ser inteligente autónomo, que necessita de agir de acordo com a sua interpretação do mundo.

 

Desinteresse — é uma das marcas que vai afectar mais o estilo de envolvimento na relação. O medo de voltar a ser enganado leva-nos investir cada vez menos e a afastar- nos dentro da relação.

 

Ruptura — Ironicamente,  muitas vezes foi o medo da ruptura que nos levou a utilizar as mentiras piedosas em primeiro lugar.

 

Mentir ou não mentir?

Em última análise a decisão será sempre individual, pesando os prós e os contras da situação que está em jogo.

Seja qual for a opção há que atender às necessidades mais básicas por detrás de uma pergunta ou afirmação.

Imaginemos que você está ao telefone com a sua melhor amiga que detesta o seu atual marido. Este por sua vez está desejoso de saber com quem você está ao telefone mas não ousa perguntar. Se você disser "A Ana manda cumprimentos" estaremos a usar uma mentira piedosa. Assim, respondemos a uma necessidade que reconhecemos, damos a informação desejada e evitamos uma situação em que a mentira é melhor que a ver­dade de saber que a Ana o detesta ou ignora.

 

Se estão na iminência de sair e a sua companheira lhe pergunta como lhe fica o vestido, a resposta poderá ser "muito bem, estás linda". A oportunidade do momento e a necessidade de se sentir confiante, segura e apreciada justifica uma resposta como esta, mesmo se isso não corresponder exatamente à nossa apreciação pessoal ou gostássemos que o vestido fosse outro. Respeitar as necessidades básicas de segurança e aceitação foi mais importante do que ser brutalmente honesto, quem sabe egoísta, dizendo "o vermelho ficaria muito melhor".

Por sua vez há que atender à seriedade do problema que está a ser abordado na situação em relação à qual não expressamos a nossa verdadeira opinião utilizando a mentira piedosa.

 

Mentir acerca da satisfação sexual não é uma boa ideia pois estará a comprometer a resolução daquilo que, com o tempo, pode tornar- se num grande problema. Mais vale escolher o momento e falar com o seu parceiro sobre formas de explorar outras alternativas mais satisfatórias para ambos.

 

Afirmar com toda a facilidade "tudo bem" quando somos questionados por alguém que gosta de nós e que percebe claramente que não está nada bem, também pode ser uma armadilha perigosa. Você sente-se péssimo(a) e embora não seja nada com o seu companheiro(a) ele já percebeu. Você não tem vontade de falar sobre o assunto enquanto não refletir melhor sobre o que se passou, mas também não é capaz de lho dizer desta maneira. O que pode acontecer é que este tipo de mentira sem importância poderá converter-se num drama de grandes dimensões. O seu companheiro(a) pensará que se trata de algo que tem a ver com ele ou com a vossa relação, que você tem segredos que não quer partilhar e não confia o suficiente para o ter como seu confidente. Será melhor dizer claramente qualquer coisa como "estou preocupada, mas não é nada contigo, e agora gostaria de refletir melhor sobre o assunto. Até lá não me apetece falar sobre isso. Mais logo, talvez".

 

Finalmente, o povo diz que "se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo", e a sabedoria popular dá que pensar como queremos construir a nossa rela­ção com os outros.

publicado às 12:10

Desconstruindo a rejeição

por oficinadepsicologia, em 27.04.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Quem é que nunca se sentiu rejeitado? Abandonado? Aposto que a maioria já experienciou a rejeição ou ainda vai experienciar!

Hoje numa sessão, a minha cliente referia como se sentia rejeitada pelo namorado que saiu da relação que tinha com ela.

A medida que ela falava, parecia que ficava cada vez mais pequena e que ele, na minha fantasia, ficava cada vez maior. Com o poder de a “deixar”.

 

Comecei a pensar sobre a noção de rejeição, algo que está presente em nós desde sempre. Percebi que cada vez que alguém se sente abandonado, excluído, posto de parte por outra ou outras pessoas, automaticamente surge no pensamento a ideia:”fui rejeitado”, e a sensação de rejeição que traz tristeza, falta de energia, falta de apetite entre outras manifestações desconfortáveis.

 

Mergulhando nas incontáveis histórias de rejeição que já ouvi, encontro vários indícios prévios de que a relação não estava bem, que a sintonia já não existia e entendemos que na verdade, a tal “rejeição” não passou apenas de um culminar de várias situações. Muitas vezes pergunto à pessoa “rejeitada” se ela mesma gostaria de continuar na relação e muitas vezes a resposta que ouço é algo como: “não sei”, “já tinha pensado em terminar”, “não sei se ainda gosto dele/a”. Ou seja, estamos na verdade perante uma situação de “desencontro” emocional ENTRE duas pessoas onde uma delas toma uma decisão de sair. E não numa situação onde um forte, que já não ama, decide abandonar o outro, frágil, que ainda ama muito.

 

Então surgem as questões: O que leva um a sair e não o outro? O que leva então, a pessoa que não decide sair, a sentir-se rejeitada? Amo alguém que não me ama?

Perante essas dúvidas, sentei-me diante das minhas notas e fui pesquisar o que acontecia nas histórias dessas pessoas. Encontrei algumas respostas que me permitem generalizar algumas explicações.

 

Olhando para a pessoa que sai da relação, percebi que a decisão muitas vezes foi precipitada e favorecida por uma série de factores que se encontravam presentes no momento:

Ex: ganhavam mais; estavam mais realizados no trabalho; tinham uma rede mais sólida de suporte; tinham conhecido alguém por quem se interessavam; tinham casa própria ou a casa alugada estava em nome dele/a.

 

Quero dizer com isso que, na maioria das vezes, aquilo que facilita a que uma determinada pessoa tome a decisão de sair de uma relação, são um determinado conjunto de factores que se encontram presentes no momento que favorecem uma sensação de maior segurança.

Por exemplo, num casal que se separa, como é o caso da minha cliente, a relação já sofria com a falta de comunicação, de carinho, de sintonia. Mas, num determinado momento, o namorado, que se encontrava numa condição profissional favorável, viu-se numa posição propícia a tomada de decisão.

 

Muitas vezes essa tomada de decisão confunde-se (na mente do “rejeitado”) com ausência de afecto – “ele/ela, não gosta mais de mim.

Chegamos então à segunda questão, o que leva a pessoa que não decide a sentir-se rejeitada? Para responder a essa questão fui buscar na história dessas pessoas, a origem do sentimento de rejeição, tentando dessa forma, entender como começou a experiência, quais eram as suas características e os seus gatilhos.

 

Encontrei nos diferentes relatos muitas respostas comuns, tais como:

- quando me sinto rejeitado sinto-me fraco/pequeno/impotente/sem força

- a primeira vez que me senti rejeitado foi na infância, pelos: pais, irmãos, amigos

- quando me sinto rejeitado sinto que o amor me foi retirado/que não mereço ser amado

- ele/ela é melhor do que eu/não vou encontrar ninguém tão bom

 

Olhando para essas respostas, o que vemos? Em primeiro lugar vemos uma confusão entre a decisão do outro de sair da relação, com a noção de amor retirado ou não merecido, esta liga-se com a crença errada de que o outro é melhor do que eu.

Estas noções estão na base da sensação de rejeição e colocam a pessoa num lugar desnivelado da relação com o outro, isso não permite o desenvolvimento saudável da relação.

 

Se a pessoa à partida não está com a sua auto estima num “sítio” saudável, se tem crenças negativas erradas sobre si mesmo, isso não permite que ela esteja numa relação de uma forma feliz e saudável. Essa pessoa sente que o outro está lá a cumprir uma função, sente que precisa do outro. Assim, tem de se esforçar para que o outro não se vá embora. A relação perde a leveza, a espontaneidade e a incondicionalidade.

Observamos que as primeiras sensações de rejeição começam na infância onde de facto existe a sensação do outro ser mais forte/maior, e por isso pode nos deixar. No entanto, fico com a sensação de que trazemos essa mesma sensação para a nossa vida adulta, onde ela já não deveria existir, dando lugar a uma simetria onde não há um forte e um frágil, e sim dois iguais em processe e em movimento constante.

Ao responder a terceira questão, “amo quem não me ama?”, provavelmente chegaremos à raiz do problema! Será que amar alguém que não me ama é possível?

 

As pessoas saudáveis amam-se a si próprias e aos outros incondicionalmente, aceitam-se como são, verificando suas forças e suas fragilidades, adaptando-as ao contexto, de uma forma construtiva. Essas pessoas, perante uma decisão do outro de sair da relação, observam que a decisão teve a ver com o processo do outro, não pondo em causa a si próprias. Não confundem o afecto, que é intocável, com o processo de cada um. Ao mesmo tempo, amam o outro e querem o seu bem, respeitando assim o seu próprio processo.

 

Assim, seria impossível ser saudável e continuar a amar alguém e a querer estar com alguém, que toma uma decisão no sentido contrário.

Ao desembrulharmos o afecto da decisão do outro, entendemos que quando alguém sai da minha vida, isso não diz nada sobre mim e sim sobre o percurso e o timing do outro. A rejeição deixa de ser um conceito que existe no nosso vocabulário e passamos a falar em desencontro.

Também interiorizamos o respeito pelo processo do outro e pelo nosso próprio processo. Se eu me amo, só fará sentido estar com alguém que também quer estar comigo, qualquer outra coisa será inaceitável.

 

Trabalhar no sentido de uma auto-estima forte e saudável, vai ajudar-nos também, a interpretar de uma forma construtiva os desencontros naturais que ocorrem sempre na vida de cada um, em vez de usá-los para nos diminuir ou maltratar.

publicado às 10:05

Perda ou transformação?

por oficinadepsicologia, em 14.12.11

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Joana Fojo Ferreira

Na minha prática clínica tenho-me deparado com uma grande dificuldade dos meus clientes em expressarem desacordo, mágoa, ressentimento, ou agirem de formas contrárias àquilo que sentem que são as expectativas ou desejos de outros significativos.

 

Ao explorar o que é que receiam que aconteça se se expressarem de forma congruente com o que estão a sentir, surge frequentemente o medo de perder o outro, que o outro não suporte a crítica ou o desacordo e que haja uma ruptura na relação.

 

Um trabalho útil com estes clientes é treinar a assertividade, explorando formas de nos afirmarmos perante estes outros significativos de uma forma cuidadosa que melindre o outro o menos possível; mas a realidade é que estes clientes não deixam de ter algum fundamento no seu receio, frequentemente os primeiros movimentos de auto-afirmação são de facto mal recebidos do outro lado.

 

A reflexão que vos venho propor é até que ponto é que esta reacção menos positiva do outro implica necessariamente perda ou, pelo contrário, potencia transformação da relação.

 

Não sejamos utópicos, se introduzo uma dinâmica nova na relação (por exemplo expressar mágoa por a minha opinião não ter sido levada em conta numa decisão com implicações para os dois), não posso esperar que o outro mantenha a mesma postura, ele terá que digerir a novidade e precisaremos os dois de um período de ajustamento à nova dinâmica, ou de um período de negociação de uma terceira dinâmica, construída em conjunto, que responda de forma mais equilibrada às necessidades de ambos. Ou seja, preciso dar espaço ao outro para que ele me devolva o ponto de vista dele sobre a situação que desencadeou o problema, como é que ele lida com esta mudança no sistema que eu estou a propor, e que condições é que ele precisaria ter satisfeitas para conseguir de forma mais tranquila responder à minha necessidade (por exemplo, o outro poderia devolver que não se tinha apercebido que eu tinha uma opinião diferente, mas que de facto era importante para ele que eu estivesse confortável com a decisão e precisaria por isso que eu passasse a expressar as minhas opiniões com mais clareza para ele perceber que há ali uma opinião contrária que precisa ser levada em conta).

 

E pensarão: “mas comigo isto não funciona assim, o outro não vai reagir tão bem”. Talvez tenham razão, é provável que a primeira reacção seja de defesa e de desagrado pelo comentário, mas lá está o tal período de ajustamento e de negociação, em que o treino de assertividade referido inicialmente tem um papel importante no mantermo-nos afirmativos das nossas necessidades e direitos por um lado, e ao mesmo tempo abertos a perceber o ponto de vista do outro, que elementos é que estão a dificultar a compreensão da mensagem de ambos os lados, e como é que podemos atingir um equilíbrio entre aquilo de que cada um não abre mão e no que estamos disponíveis para ceder.

publicado às 10:37

Final de casamento

por oficinadepsicologia, em 12.10.11

E-mail recebido

 

 

"Desculpe incomodar, mas estou precisando de ajuda. Vamos começar pelas apresentações: Meu nome é A, tenho 38 anos e uma filhota de 5 anos. Estou casada a 11 anos, com mais 4 de namoro.

Neste momento vivo o meu luto da separação e em conflito constante. Há 1 ano que que vasculho dentro de mim o desejo que até então tinha por meu marido, mas nada encontro. Há um ano que vivo fechada numa “jaula” que eu mesma criei. Não consigo, simplesmente dizer: Acabou. Quero o divórcio.

Não há ninguém extra conjugal, apenas ruiu/despareceu o sentimento. Precisei deste ano para me testar e impor limites à minha certeza, mas esta é uma decisão que todos os dias ganha mais consistência em mim. Mas não tenho coragem para dizer a meu marido. Não é tanto pelo medo que tenho de poder vir a ser julgada como insensível, mas apenas porque não tenho coragem. Não sei como fazer…o que dizer.

Pode me ajudar, aconselhar?"

 

 

 

publicado às 16:45

O valor da mentira

por oficinadepsicologia, em 02.10.11

Autora: Helena Gomes

Psicóloga Clínica

www.oficinadepsicologia.com

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Somos diariamente bombardeados com mentiras e enganos, mas o que leva uma sociedade em que este comportamento é reprovado a recorrer tão frequentemente a ele? Em que Mentir ou não mentir, é a questão, ou melhor a acção! Provavelmente está a pensar “mentiras, não suporto!” ou então, “se for por uma boa causa, porque não?”, ou ainda “quem nunca disse uma mentirinha?!”. Na realidade em 20% a 35% das interacções sociais as pessoas mentem. Mentir/ enganar é um processo psicológico pelo qual um indivíduo deliberadamente tenta convencer outra pessoa a aceitar como verdade o que sabe ser falso, para ganhar algum tipo de benefício ou para evitar perdas. Deste modo, algumas mentiras podem ser egoístas, mas também podem ter um papel fundamental em interacções sociais adequadas.

 

Mas, o que o motiva a mentir? Alguns estudos indicam que as motivações podem ser centradas em si ou nos outros. As mentiras centradas em si são instrumentais para ganho próprio e podem ocorrer para promover a identidade, evitar a desaprovação ou castigo, ou adquirir recursos materiais (“Sim esse carro é meu, não devo nada ao banco”, “Foi ele que partiu o candeeiro mãe”). Por outro lado, as mentiras centradas no outro, têm o intuito de beneficiar outro indivíduo, e ocorrem comummente em relacionamentos próximos e são usadas ​​para proteger os sentimentos dos outros, aumentar a auto-estima do outro, ou preservar a harmonia interpessoal (“Sim, esse vestido fica-te muito bem”, “Estiveste fantástico, nunca comi arroz tão bom”).

 

Dado que a mentira é uma faceta da vida quotidiana, a capacidade de discriminar entre verdade e mentira torna-se adaptativo. Inclusive muitos pesquisadores em psicologia do desenvolvimento têm considerado mentir como uma parte essencial do desenvolvimento psicológico. E como desde sempre o ser humano quis perceber quando estava a ser enganado e como o perceber, há uma série de sinais não-verbais associados à mentira que são cada vez mais fonte de estudo e interesse, tais como as mudanças subtis de expressão, postura corporal, mas as características da voz, nomeadamente a entoação da voz fornecem as pistas mais autênticas. E porquê? Porque a voz é menos passível de auto-regulação.

 

Alguns dados curiosos que ocorrem normalmente quando as Pessoas mentem:

  • Fornecem menos detalhes contextuais;
  • Parecem preocupados e menos presentes na conversa;
  • Controlam conscientemente o seu comportamento numa tentativa de evitar a detecção e gerir as impressões que transmitem aos outros;
  • A mentira pensada ocorre normalmente depois de períodos de latência mais longos entre a questão e a resposta, porque o indivíduo primeiro decide se é a verdade ou a mentira o mais benéfico, e segundo, porque a mentira deve ser construída e de uma forma convincente;
  • A mentira rápida ocorre tipicamente depois de períodos de latência mais curtos entre a questão e a resposta, pois devido à ansiedade de parecer honesto, responde-se mais rapidamente; 
  • As mulheres são mais propensas a mentir sobre os outros, principalmente sobre outras mulheres;
  • Os homens tendem a mentir sobre si próprios;

 

Deixamos-lhe um excerto de como seria um anúncio publicitário sem mentira, retirado do filme “A invenção da mentira”, e diga-nos, neste caso, o que prefere ouvir? J

publicado às 08:49


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