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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Hoje em dia imperam ideias de positivismo, de “smiles”, de “likes”, de sorrisos. Implicitamente corre a ideia de que o importante é nos sentirmos bem.
Gostaria que reflectissemos sobre as implicações psicológicas desta mensagem implícita e explicita de obrigatoriedade de “estarmos bem”.
Naturalmente, qualquer pessoa gosta de se sentir bem. Mas esta sensação deverá ser natural, ou seja, deverá ser de acordo com os níveis de realização de cada um. Se uma pessoa se sente realizada ou sente que está no caminho certo em áreas como o eixo amoroso, profissional, familiar, de amizades e existêncial (o sentido que dá à sua vida) então é natural que se sinta bem.
A vida é dinâmica e existem sempre áreas em que sentimos maior ou menor realização. O eixo amoroso pode estar fantástico e o profissional péssimo e tal poderá não impedir que uma pessoa se sinta relativamente bem.
Mas existem situações em que o “tá-se bem” ou o “sorriso” não fazem qualquer sentido, nem têm que fazer. O problema está na dificuldade em vivenciar estas emoções. Parece que esta sociedade defensora do ultrapositivismo não deixa espaço para a partilha e a intimidade da expressão de estados de tristeza, zanga ou dor interior profunda. E esta é uma questão séria e que deverá merecer a nossa reflexão.
Quantas vezes é que só no sossego, no conforto e no segredo do nosso quarto é que somos nós, na autenticidade da nossa expressão emocional, sobretudo em períodos de dor e de ansiedade?
Muitas vezes, a censura a emoções como a tristeza ou a zanga começa desde a mais tenra infância em que estas emoções não são devidamente legitimadas e são impostos níveis de hétero-censura pelos pais e educadores. A criança aprende que não deverá estar triste ou zangada e não aprende verdadeiramente a sentir e a gerir estas emoções. Estas não aprendizagens muitas vezes têm pesados custos ao longo da vida justamente em períodos em que deveria existir a legitimidade para dizer “tá-se mal”.
A criança vai aprendendo a não gerir interiormente a tristeza e a zanga e depois é lançada numa sociedade onde a partilha da tristeza é, de certo modo, censurada…
Este é verdadeiramente um dos dramas da sociedade actual. Parece que não há espaço e compreensão para um olhar triste e vazio ou a ausência de um sorriso. Todas estas manifestações emocionais criam incómodo e embaraço e são olhadas de lado.
Se alguém se sente triste ou zangado, sorrir e fingir que está tudo bem só levará a uma maior acumulação de tensão.
Outra das consequências desta censura colectiva é o de a própria pessoa entrar em processos de relativização e de auto-ilusão perante o seu mesmo sofrimento “Se os outros dizem que está tudo bem e que eu tenho é de sorrir, então se calhar até não estou assim tão mal”.
A negação do sofrimento. O não dizer “tá-se mal”, o não ouvir as nossas emoções traz consequências…
O que acontece quando não ouvimos as nossas emoções?
Se não ouvimos as nossas emoções, então poderemos correr o risco de perpetuar ciclos de mal estar físico e psicológico. O nosso corpo começará a “guinchar” com dores de cabeça, tensão acumulada nas costas, taquicardias, úlceras, sensações de vómitos e mal-estar abdominal entre muitos outros sinais que a sabedoria do nosso corpo usa para sinalizar a gravidade da situação.
O maior erro é ignorar estes sinais e fingir que “tá-se bem!”. Por vezes devemos dizer “tá-se mal” e perceber que o “smile” interior não está disponível. É a consciência do nosso sofrimento que conduzirá à procura da mudança.
Se o seu corpo dá sinais de que “tá-se mal” ou se anda zangado, ansioso ou triste continuamente então seja verdadeiro consigo mesmo e assuma que “tá-se mal” e procure ajuda psicológica!
Vale a pena pensar nisto!
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
É comum ouvirmos falar sobre emoções positivas e negativas.
Quantas vezes cada um de nós já ouviu expressões como “o importante é estar feliz e tristezas não pagam dívidas”?
Certamente já terá ouvido e lido sobre teorias que dividem as emoções entre positivas e negativas. Dentro desta linha de raciocínio, são consideradas emoções positivas: a alegria, a felicidade, a euforia, entre outras. O polo negativo é atribuído a emoções como a tristeza, a raiva, o ódio, o rancor, o desespero, o medo, a cólera, a ira, o nojo, entre outras.
O meu desafio agora é o de pensarmos um pouco sobre esta dicotomia, ou melhor dito, esta abstração que fazemos, ao atribuir categorias de bem e de mal a estados emocionais. No fundo, dizer que uma emoção é boa e logo, positiva, ou má, e logo, negativa.
Vamos partir de algumas ideias centrais, tendo como base o ser humano.
Qualquer emoção serve um fim adaptativo.
Uma emoção funciona como uma mensagem que informa sobre como nos sentimos face a uma situação externa, factual e real ou interna, íntima, privada e interior.
Vou procurar clarificar estas ideias com um exemplo:
O João ficou triste quando se foi despedir da sua namorada, que partiu para outro país à procura de emprego.
Perante uma situação factual, existe uma mensagem que é comunicada ao João, de modo que ele percebe que a partida de Maria o faz ficar triste.
Uma situação interna poderá ser, ainda voltando ao exemplo do João: O João está em casa, sozinho. Lembra-se da partida de Maria e fica triste. A lembrança de Maria - acontecimento interno - fá-lo ficar triste.
Portanto, qualquer emoção tem, essencialmente, um carácter informativo, seja perante uma situação interna ou externa.
Voltemos a esta ideia das emoções negativas:
É portanto comum considerarmos a zanga, a tristeza, o ódio, a cólera, como emoções negativas. Mas será que verdadeiramente é assim?
O que aconteceria se, por vezes, não sentíssemos tristeza, zanga, ódio ou cólera?
Qualquer destas emoções, ditas negativas, informa sobre como nos sentimos.
É fundamental que fique claro que as emoções existem para ajudar-nos, proteger-nos e fazer superar os desafios da vida. Não há “maus da fita”.
Existem situações e deverão sempre existir que fazem com que estejamos tristes ou zangados, ou mesmo com raiva.
Voltemos ao exemplo do João: se o João fica triste porque a Maria se foi embora, então essa tristeza poderá significar que o João tem afecto por Maria e que ela é importante na sua vida.
Se o João descobre que Maria o anda a enganar, então, dará lugar à zanga. A zanga, tal como qualquer outra emoção, existe para ser considerada. Ficar zangado indica que o João se sente traído, magoado, vulgarizado, humilhado e enganado.
Se o João descobre que a Maria goza com o seu afecto e o ridiculariza, é natural que a odeie.
Se o João é raptado e torturado, é natural que sinta cólera, o que o poderá levar a encontrar a agressividade necessária para matar o criminoso em legítima defesa.
Penso que todos estamos de acordo relativamente à utilidade do aparecimento destas várias emoções nos exemplos apresentados.
Agora vamos imaginar que o João considera a tristeza, a zanga, a cólera, o ódio como emoções negativas e logo alvos do seu evitamento, e vamos imaginar alguns cenários possíveis:
Passado pouco tempo da partida de Maria, o João recebe a notícia que a sua irmã Teresa morreu. João não acede à tristeza e sem perceber como, começa a ficar súbita e “estranhamente” ansioso, zangado com a vida, perde a concentração e abusa no consumo de drogas de forma a tapar o “vazio que teimosamente se instalou”.
O João descobre que Maria o traiu, mas decide não se zangar. Como consequência, Maria poderá continuar a traí-lo e a humilhá-lo. Se o João não sentir legitimamente esta zanga também não poderá tomar decisões sobre se quer ou não continuar com a Maria.
Finalmente, vamos imaginar que o João não acede ao ódio e à cólera perante uma situação limite em que foi vítima de rapto e de agressividade física. Se o João não aceder a tais emoções poderá morrer nas mãos de um criminoso.
As emoções ditas negativas existem por algum motivo. Não são o “lado negro do ser humano”.
O mais importante é escutarmos sempre as nossas emoções e se o fizermos poderemos ter outro equilíbrio emocional.
Mas será que existem situações em que as emoções poderão ser consideradas negativas?
Existem situações em que poderão ocorrer estados de desregulação emocional. Estes estados ocorrem quando uma emoção não muda, apesar da variabilidade de contextos internos ou externos. A permanência destas emoções poderá conduzir a mal estar físico e psicológico, conferindo uma valência negativa às emoções.
Eis alguns exemplos: a tristeza recorrente e contínua, ou a zanga que parece não terminar, mesmo se o alvo da zanga possa já ter falecido. Aí sim, as emoções tornam-se negativas.
Concluindo,
o que confere uma valência negativa a uma emoção não é a emoção em si mesma, mas sim a sua estaticidade temporal, a sua continuidade e invariância, apesar da variabilidade de contextos quer internos, quer externos.
Se o João ficar sempre zangado mesmo após ter terminado a sua relação com a Maria, então essa zanga, pela sua durabilidade e ausência física própria de um contexto de manifestação, é negativa e prejudicial.
Já não é suposto estar zangado e se essa atitude assim se mantém, tal é sinal de desregulação emocional.
Se se sente continuamente invadido por uma emoção, deverá então procurar a ajuda profissional de um psicólogo clínico.
Pense nisso!
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Quando era adolescente ouvi um célebre raciocínio que desde então, de alguma forma, me acompanha e que contém uma sabedoria inquestionável. Esta frase sintetiza de uma forma engenhosa, divertida e sábia como é que os filhos percepcionam os pais à medida que vão crescendo. Vou procurar sintetizar este raciocínio.
Entre os 0 e a entrada na pré-adolescência (11-12 anos) os pais são vistos como pessoas que sabem tudo. São as fontes de conhecimento máximas.
Entre os 12 e os 15 anos - da pré-adolescência até meados da adolescência – Os pais afinal não sabem tudo!
O seu conhecimento é posto em causa. O adolescente entra na fase de se questionar sobre o seu próprio questionar, entra na fase existencial de pôr tudo em causa, sente um grande distanciamento e uma contra-dentificação com a mundivisão e o estilo de vida dos seus pais.
Entre os 15 e os 25 anos – Os pais afinal não sabem nada de nada!
Os pais são vistos como uns caretas, desadequados e descontextualizados, completamente ultrapassados, são apelidados de “cotas” ou de “os meus velhos”. As suas opiniões são pouco tidas em consideração.
Entre os 25 e os 35 anos- Os pais afinal até sabem umas coisas!
Para muitos, esta fase corresponde à emancipação, corresponde à vida fora da casa onde sempre viveram, ao assumir responsabilidades, pagar a renda da casa, a água, a luz, é preciso fazer compras, cozinhar e então a opinião e os conhecimentos dos pais são tidos em maior consideração. Também, esta fase corresponde ao assumir da paternidade ou maternidade. Os pais, os seus conselhos e a sua experiência ganham nova importância e pertinência.
Entre os 35 e os 45- Os pais afinal até sabem bastante!
Esta é a fase em que, muitas vezes, os jovens pais se deparam com problemas de comportamento por parte dos seus filhos e em que se apercebem de quão difícil é educar... O paralelismo e a empatia pela experiência dos seus pais ganha outra dimensão.
Dos 45 em diante – Os pais afinal sabiam tudo!
Fase em que muitas vezes os pais já faleceram e em que os adultos, finalmente, se apercebem da enorme sabedoria que os seus pais encerravam.
E que tal pensar sobre a Psicologia que encerra este texto?
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Hoje em dia cada vez mais se fala em auto-estima e em problemas de auto-estima.
Numa sociedade cada vez mais competitiva, mais arrogante, mais fria e distante nunca se sentiu, como agora, a importância vital da auto-estima.
Na minha prática clínica recebo, diariamente, pacientes que dizem ter baixa auto-estima.
Mas afinal o que é a auto-estima?
Dito por palavras é algo muito simples. É simplesmente gostar de si, ter afecto e amor pela sua pessoa.
As palavras são simples, mas, efectivamente, muitas vezes não é nada fácil gostarmos de nós mesmos.
Gostaria de acrescentar outra ideia fundamental à questão da auto-estima: Ter auto-estima é, simplesmente, gostar de si porque sim, porque existe e porque é! Não é por ter um bom carro, um bom emprego, um corpo bonito ou um rosto bonito ou o que for. Para ter auto-estima, simplesmente basta sentir amor e aceitação por si. Apenas. Nem mais nem menos do que isto.
Essencialmente, não precisa de Ter, mas sim de Ser. E, para Ser, não precisa de nada, uma vez que simplesmente já o é.
Quando um bebé é desejado e nasce, é apenas um ser minúsculo cujo cabelo muitas vezes muda de cor, cujos olhos podem mudar de cor, cujo tom de pele, por vezes, também muda. Este bebé não tem um corpo pelo qual se destaca, ou um emprego, ou um carro, ou conhecimentos e não precisa de nenhum destes requisitos para ser amado. Ele simplesmente é amado porque existe e assim recebe o amor dos seus pais. E essa é talvez a maior riqueza sem preço que os pais podem dar aos seus filhos – o seu amor - simplesmente pelo facto de serem seus filhos.
Quando um bebé nasce e sente-se amado e aceite começa a amar-se a si mesmo. É nessa base de aceitação e amor que irá construir a sua identidade.
E quando este amor, normalmente dado pelos pais, não existe?
Entramos, pois, em dinâmicas condicionais de aceitação. Quando os pais apenas valorizam os êxitos, os sucessos, os objectivos cumpridos, a beleza, a inteligência então a criança vai esforçar-se sempre por agradar os pais, de modo a receber a sua atenção, reforço, afecto e amor. Aprende que, para merecer ser amado, tem de ter boas notas, ou um bom comportamento, ou ser bonito e entra numa espiral de condicionamento.
Passa a querer Ter, para sentir que pode Ser. Passa a viver a equação existencial de - para eu Ser tenho de Ter - e é um forte candidato a desenvolver problemas de auto-estima. Convém não esquecer que nem sempre é possível Ter.
Então, quando não Tem, abre feridas no seu Eu vulnerável e surgem problemas de auto-estima. Aparece um sentimento de culpa, como que uma voz interior muito crítica que diz: “Tu não mereces Ser porque não Tens.
Outro candidato a ter problemas de auto-estima é a criança que vai crescendo com pais que por mais que ela se esforce nunca é valorizada, reconhecida, aceite e amada e aí também entramos em espirais condicionais de Ter para poder Ser.
O problema da auto-estima é o problema do Ser. Para se amar a si mesmo não precisa de Ter um rosto bonito, um corpo fantástico, ser inteligente, ter um carro, uma boa casa ou o que for. Precisa simplesmente de Ser.
Pense nisto e goste de si porque, essencialmente, é!
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Gostaria de falar sobre o papel que as emoções desempenham no exercício de qualquer profissão de ajuda.
Muitas pessoas têm profissões de ajuda como a enfermagem, a psicologia, a medicina, aulixiares de acção médica, técnico superior de saúde, assistente social, técnico de integração social, etc
Qualquer pessoa que escolha este percurso profissional, tem naturalmente a vontade de ajudar, de ser útil, de dar o devido apoio a quem precisa.
Ao inicio, é natural surgir alguma ansiedade própria da inexperiência, do amadorismo e da insegurança de dar os primeiros passos, mas, à medida que o tempo passa essa ansiedade dá lugar à certeza e ao conforto, a uma sensação de mestria face à profissão que se desempenha.
Ou seja, normalmente, esta ansiedade é passageira, transitória, e apenas tem a função de nos relembrar da nossa inexperiência e da necessidade de estar muito atento a eventuais erros que se possam cometer.
As pessoas que os profissionais de saúde recebem e ajudam, à partida não conduzirão ao aparecimento de emoções que perturbem o desempenho equilibrado e regulado da profissão em questão.
Mas existem casos em que a situação não apresenta esta linearidade, equilíbrio e previsibilidade. Quando existem laços emocionais entre o profissional de ajuda e a pessoa a quem vai ajudar, tudo poderá tornar-se muito mais complicado.
Vou procurar ser um pouco mais explícito, e, para tal, vou servir-me de um exemplo fictício. Sublinho o seu carácter de fictício.
Vamos imaginar um médico, um reputado cirugião, daqueles de topo, especialista entre os especialistas, mestre da sua arte de operar. Vamos agora imaginar que este médico recebe como paciente o seu pai que sempre amou e respeitou. O seu pai precisa urgentemente de ser submetido a uma operação de elevado nível de rigor, precisão e saber. Vamos então imaginar que o cirurgião se disponibiliza para ajudar este paciente que é nada mais nada menos que o seu próprio pai.
Esta é a grande oportunidade de este médico provar ao seu pai – pessoa que sempre duvidou do filho e da sua mestria – que está enganado. A operação começa e o cirurgião procura ser exemplar, mas passado cerca de uma hora uma estranha ansiedade apodera-se deste experiente homem e provoca um tremer contínuo das suas mãos que acaba por inviabilizar o tão aguardado sucesso da operação.
Como resultado o pai acaba por falecer. O cirurgião sente-se absolutamente culpado, passa a ter ataques de pânico, e acaba com um esgotamento nervoso que o conduz à Psicoterapia.
Eu utlizei este exemplo extremo do médico, mas verdadeiramente podemos encontrar esta sobreposição de papeis entre o papel profissional e o papel relacional, seja o de filho, filha, pai, mãe, e.etc. em várias situações profissionais da vida.
Eu quero alertar para a perigosidade e a delicadeza de tais situações.
A profissão de cuidador será desempenhada de uma forma equilibrada quando a única relação que estabelecemos com a pessoa a quem damos o nosso contributo é estritamente profissional.
Quando existem laços entre um cuidador e um paciente que não passam apenas e só pelo vínculo profissional, então as nossas emoções podem, realmente, pregar partidas, que poderão ter mais ou menos gravidade, e maior ou menor impacto. O exemplo que eu dei é um extremo, mas não é mera ficção, pode mesmo acontecer!
Em qualquer segundo da nossa vida além de respirarmos, estamos a sentir emoções, sejam elas mais ou menos intensas.
Quando estamos com qualquer pessoa estamos sempre a sentir emoções. Se temos uma forte ligação emocional com esta pessoa, então a nossa intensidade emocional será mais vincada e presente.
Se existem emoções não resolvidas de zanga, tristeza, raiva, revolta, ódio, rancor, vergonha, culpa para com alguém e se esse alguém é o sujeito da nossa intervenção profissional então é natural e até algo previsível que estas emoções atrapalhem e condicionem todo o desempenho profissional.
É natural que este médico cirurgião sinta culpa pela morte do seu pai, mas mais importante ainda é perceber que a situação a que foi sujeito tinha um alto grau de condicionamento emocional e que existiam várias emoções que estavam claramente por resolver ( convém, por exemplo, não esquecer que este pai não acreditava no seu filho) o que, naturalmente impediu o desempenho exemplar que este médico havia previsto.
Nunca se esqueça que as emoções são algo que o vai acompanhar toda a sua vida e quando as emoções não são devidamente resolvidas, trabalhadas, processadas então elas terão um papel na relação que vai estabelecer com as pessoas com quem directa ou indirectamente experimentou estas emoções.
Vale a pena pensar nisto!
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Como sair da depressão? Se ajudar o outro ajuda-se a si!
Quando falamos de depressão falamos de uma estado de lassidão, de falta de energia anímica, de motivação, falta de vontade de lutar e de enfrentar os desafios que a vida, continuamente, coloca.
Falamos de uma anulação do investimento que a pessoa faz sobre si mesma. De algum modo, deixamos de acreditar em nós mesmos.
Quando penso em depressão, surge-me a ideia de subnutrição de afecto e de encurralamento. Alguém deprimido, é alguém que sente que chegou ao "fim da linha" e que não existe nem nunca existirá uma saída.
Gostaria de reflectir sobre a ideia de subnutrição de afecto. Quando estamos deprimidos sentimos uma carência de afecto. É como se estivéssemos fechados sobre nós próprios. É como se nada tivéssemos para dar e como se as outras pessoas à nossa volta não existissem. Estamos, pois, afundados num poço escuro.
Como sair deste buraco? Como encontrar alguma luz?
As nossas emoções são o principal responsável pela forma como percepcionamos a realidade que nos rodeia. Quando nos sentimos tristes e desamparados, fechados sobre nós mesmos, é natural que vejamos a nossa vida como um lugar cinzento onde não apetece estar, viver, sentir, ser.
Estamos desvitalizados, murchos e sem vida...
O que é preciso? O que fazer?
Na minha opinião de Psicólogo Clínico algo de extrema importância para a resolução do quadro negro que apresento é o contacto humano, o toque humano, o sentir que o outro nos quer bem e nos valoriza. Se estivermos abertos ao outro poderemos reciclar-nos emocionalmente. A espontaneidade de alguém que vive e está noutro "comprimento de onda" poderá ser um tónico para abalar a nossa rigidez depressiva. O rir, o brincar, a espontaneidade, a partilha que outro ser humano nos pode proporcionar poderá abalar e contribuir enormemente para colorir o nosso mundo interno.
Com isto quero dizer que é muito importante conviver! Estar com outras pessoas. O isolamento na depressão agrava o quadro. A nossa ruminação depressiva apodera-se de nós, vivemos totalmente encerrados e cada vez o nosso mundo fica mais negro.
Mas mais importante que o convívio é a partilha de significativas experiências no contacto humano. Se estamos deprimidos muitas vezes saímos e procuramos conviver mas, como estamos “negros”, as nossas interacções e partilhas redundam em futilidade e superficialidade. Se nos encontramos simplesmente por encontrar e se não damos nada de nós, é natural que o outro se torne aversivo.
O que é importante é ter experiências de contacto humano, ricas! Muito ricas!
E com esta ideia gostaria de introduzir a importância de nos sentirmos úteis! De podermos ajudar o próximo! Poder e conseguir ajudar outra pessoa, é algo extremamente valioso. Se sentirmos que alguém estima e reconhece esta ajuda, a nossa auto-estima começará a modificar-se!
Se agradecerem a nossa ajuda com uma palavra, com um olhar ou com um gesto, a nossa auto-estima muda!
O importante é ajudar!
E por vezes, para ajudar nem é preciso falar muito. Quando estamos muito deprimidos não desejamos falar. Tudo nos cansa. Então, podemos simplesmente ajudar com gestos ou com acções.
E como podemos ajudar?
Eu proponho acções de voluntariado, de humanismo, de partilha, de dar e receber!
Existem inúmeras acções de voluntariado espalhadas pelo país.
Vou deixar aqui uma lista delas:
http://www.fundacaoeugeniodealmeida.pt/banco-voluntariado/areas.asp
Esta é apenas uma de inúmeras listas de voluntariado que existem.
Quando você ajuda outro ser humano, também se ajuda a si mesmo.
Quando você faz bem a outra pessoa, também faz bem a si mesmo.
O amor que dá ao outro, é o amor que dá a si.
E quando se sentir nutrido afectivamente começará a ver o mundo de outra forma. O negro e o cinzento deixarão de ser as cores dominantes do seu mundo interior. Vai sentir-se melhor! Acredite!
Vai conhecer pessoas sem segundas intenções que estão na onda de ajudar e que vão transmitir-lhe energia positiva.
Mudando o outro, muda-se a si mesmo.
Pense nisto.
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Existem pessoas que são extraordinários ouvintes! Ouvem qualquer um, sem ansiedade, com calma, com disponibilidade emocional, com afecto, com interesse. E não são psicólogos! Existem pessoas que, verdadeiramente, transmitem a sensação de que estão atentas ao que falamos e transmitimos.
Mesmo assim, alguns destes excelentes ouvintes não chegam a criar relações fortes de amizade.
Mas porquê? O que é que lhes falta? Ouvem tanto! Estão lá sempre!
É que ouvir não basta. Uma relação de amizade saudável vive da reciprocidade, da partilha, da troca de experiências, testemunhos, vivências. Uma relação de amizade não vive de monólogos em que se criam relações de cuidador.
Eu gostaria de reflectir sobre esta dinâmica relacional entre uma pessoa que está continuamente no papel de ouvinte e não é psicólogo!
Sublinho esta ideia de se ser um bom ouvinte e não se ser psicólogo.
Um psicólogo é uma pessoa que está disponível para ouvir uma outra, é alguém que apresenta uma enorme disponibilidade para estar com outro ser humano. Não é suposto um psicólogo falar sobre si mas antes estar disponível para o outro. E neste sentido não estamos a falar de uma relação de amizade, mas sim de cuidador.
Voltemos às relações ditas de amizade em que existe uma rigidez no papel de ouvinte...
Se alguém faz da sua relação com o outro uma dinâmica em que apenas ouve, então essa relação é desequilibrada. Não há reciprocidade e existe uma polaridade disfuncional.
O que faz uma pessoa ser, continuamente, ouvinte? Quando alguém se coloca no papel de ouvinte está disponível para o outro e sente-se valorizado por estar a ajudar. Quanto mais é reforçado e elogiado pela sua qualidade de bom ouvinte, mais tenderá a procurar esse espaço relacional no contacto com outro. Passa a criar relações de intimidade valiosas. De certo modo, começa a conhecer muito bem as pessoas que vai ouvindo.
Mas aqui coloco uma questão: Quem se coloca no papel de ouvinte conhece o outro, mas até que ponto o outro, conhece o ouvinte? Até que ponto o ouvinte não esconde a sua intimidade, as suas idiossincrasias, as suas necessidades pessoais, o seu mundo interno, ao colocar-se neste papel?
Ouvir é bom, mas também é bom que alguém nos ouça! Muitas vezes as pessoas que nas dinâmicas de amizade assumem o papel rígido de ouvintes têm medo de se expor, de revelar a sua pessoa. Simplesmente, quanto menos se expuserem também menos se darão a conhecer e a relação ficará cada vez mais desequilibrada.
Existe tempo para ouvir e tempo para ser ouvido! As relações de amizade criam-se com a partilha dos mundos de cada um, com a troca, a reciprocidade. Eu dou de mim e tu dás de ti. Tu conheces-me e eu conheço-te.
Se houver esta partilha, então haverá um espaço relacional, de conhecimento e poder
-se-à estabelecer uma relação de amizade.
Se notar que apenas ouve e tem alguma rigidez na defesa deste papel – o do ouvinte – então, pense sobre o que o faz ser assim e quais as vantagens e desvantagens da sua atitude.
É bom ouvir, mas também é bom sermos ouvidos!
Pense nisto!
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Todos os dias somos assaltados por milhares de pensamentos, de ideias, de planos, de sonhos, de fantasias. O nosso cérebro não para e produz continuamente ideias.
Algumas delas podem ser verdadeiramente valiosas!
Não se esqueça que o mundo progride, muda, evolui através de ideias, de sonhos, de projectos.
O que faz com as ideias que surgem?
A partir do momento em que as ideias chegam à sua consciência, entra a sua escolha intencional e a sua responsabilidade perante as ideias que o visitam.
As ideias vão e vêm, sempre céleres, apressadas, rápidas, efémeras e voláteis. É você que as pode agarrar! É você que as pode transformar, concretizar! Dar corpo e forma! Fazê-las sair do plano mental para o plano real!
É comum haver uma ligação estreita, eu diria mesmo directa, entre a ideia de Inspiração e a ideia de criação artística. Quase como, se apenas a Arte pudesse estar ligada à inspiração e vice-versa. Eu gostaria de desafiar esta ideia e dizer que todos os dias somos invadidos pela inspiração. Eu entendo a inspiração como o aparecimento de ideias de natureza criativa.
E todos nós seres humanos somos seres de ideias e, como tal, criativos e alvos para receber a inspiração.
Por falar em inspiração, gostaria de falar sobre a relação íntima e muito particular que Ravel tinha com a Inspiração. Ravel foi um extraordinário músico, compositor de peças belíssimas. Um dia perguntaram-lhe de onde vinha a sua inspiração. Ravel disse que não sabia, mas que todas as manhãs se sentava na sua secretária e, portanto, se ela quisesse aparecer saberia onde o poderia encontrar!
Nós não temos de ficar à espera da inspiração sentados com um bloco de notas. O que proponho é que mal a inspiração surja tenha um bloco, um gravador ou outro aparelho que lhe permita registar a sua ideia.
Não perca as suas ideias! Elas podem ser valiosas!
Tome nota das suas ideias e organize-as por tópicos. Releia as suas ideias e sempre que surgir uma ideia relacionada com um tópico remeta-a para esse espaço temático!
Verá que quanto mais fizer isto, mais ideias surgirão. Como dizia Picasso:
"Uma ideia é um ponto de partida e nada mais. Logo que se começa a elaborá-la, é transformada pelo pensamento."
Lembre-se que do caos veio a ordem! No caos está a ordem! Uma ideia pode parecer desconexa, aleatória, mas verá que esconde dentro dela um mundo de outras ideias que se unirão para construir um todo coerente. Isto se quiser investir nessa ideia em particular.
Você é o infinito! Não se esqueça disso!
Quando a inspiração aparecer, agarre-a e tome nota das ideias que o invadem!
Boa inspiração e boas ideias
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Vivemos na sociedade do “Zapping”, do “fast-food”, do “fast” de tudo e mais alguma coisa. Uma sociedade virada para o imediatismo, para a contínua mudança minuto a minuto, segundo a segundo, momento a momento. Somos todos apanhados numa onda vórtica que nos suga, nos consome e, por vezes, nem nos deixa respirar, tal é o nível avassalador com que se impõe.
Vivemos numa sociedade onde existem mil escolhas, mil propostas, mil ofertas. E tantas coisas parecem interessantes, apelativas, dignas do nosso interesse…
Toda esta variedade contínua, difusa e assertivamente presente coloca-nos escolhas e dilemas. A condição humana é a condição da escolha. Estamos sempre condenados a escolher. Cada segundo que vivemos é também cada segundo que escolhemos. E é importante escolher bem, com convicção, confiança, intenção e consciência.
A escolha é uma condição inevitável ainda que existam muitas escolhas possíveis. O perigo desta imensa variedade é a possibilidade de cada um de nós se perder.
Cada um de nós tem a sua agenda escrita ou apenas mantida no nosso próprio segredo. Quando falo de agenda, falo de ideias, pensamentos, coisas que queremos concretizar, planos, e.t.c.
Durante o dia, reunimos ideias e estratégias para implementar quando chegarmos a casa. Eu também por mim falo.
E o que acontece quando finalmente chegamos a casa? Basta ligarmos a televisão e somos invadidos por milhares de canais, alguns altamente apelativos que por vezes são mesmo sedutores, ao ponto de nos fazer esquecer todas as ideias que tínhamos reunido.
Depois existe a Internet , o Youtube, o Facebook e verdadeiramente podemos passar horas a consumir, desenfreadamente, ideias de outros, momentos de outros, sonhos de outros, vídeos, fotografias, discursos, e.t.c.
E nós? Onde ficamos nós? Onde fica você? Onde fico eu?
O risco de tanta, tanta, tanta informação é ficarmos dissolvidos no meio deste caos aparentemente ordenado.
A nível psicológico a ambivalência gerada pela indecisão da escolha gera uma sensação de divisão: estamos em todo o lado, mas não estamos, verdadeiramente, em parte alguma! Estamos perdidos no meio de todas as escolhas. Ficamos divididos, quebrados e alienados.
Qual a solução?
Gostava de propor uma ideia:
Quando chegar a sua casa, antes de se embrenhar nos mundos vórticos dos multimédia, gostaria que pegasse numa folha de papel, numa caneta e que mergulhasse na complexidade imensa da sua pessoa. Então, comece a escrever as várias ideias que teve durante o dia. Isole-se de tudo e fique apenas e só consigo mesmo. Verá que é algo tão simples, mas ao inicio difícil. Escreva as suas ideias.
Estas ideias poderão ser escritas sob a forma de tópicos simples. Poderá escrever coisas que gostaria de fazer, ou coisas que tem de fazer.
Estas ideias podem estar ordenadas por temas que, naturalmente, irão variar de pessoa para pessoa.
Vou dar um exemplo:
Carro:
Casa:
Familia:
Amigos:
Música:
Poderá dividir todas as suas ideias em listas de deveres, de sonhos, de projectos, e.t.c.
Quanto maior o nível de organização, mais promoverá também a sua organização interior.
Verá que se experimentar esta ideia tão simples sentirá outro controlo e outra consciência da sua pessoa. Fará o que quer fazer, sentirá que tem mais tempo e naturalmente também poderá desfrutar dos apetecidos meios audiovisuais.
Pense nisto!
Autor: António Norton
Psicólogo Clínico
Este é um título no mínimo polémico, mas de modo extremamente sintético resume o que significa, para mim, a experiência psicoterapêutica.
Este texto é dirigido a sí, enquanto possível cliente.
Quando entra pela primeira vez numa consulta de psicoterapia, expõe aquilo que considera ser o seu problema. Muitas vezes essa exposição é carregada de emoção, o que complica a clareza do conteúdo e a operacionalização do problema. Contudo, fornece valiosas e ricas informações sobre as emoções que pautam e permeiam a vivência subjectiva do seu problema trazido.
Muitas vezes, poderá ter a ideia que a pura e aparentemente simples exposição do seu problema é a parte mais complicada da Psicoterapia. Depois? Depois supõe que está bem entregue nas mãos de um profissional o qual lhe dará soluções para conseguir reconstruir-se e prosseguir o seu caminho. Existe a ideia que a Psicoterapia é um processo indolor em que se obtêm rapidamente soluções...
Lamento, mas por muito desejável e sedutora que seja esta ideia, muitas vezes, a Psicoterapia não é um processo assim tão simples, tão leve e tão rápido. Acima de tudo, não é um processo exterior a si. A Psicoterapia é, principalmente, uma viagem emocional e você é o principal viajante. E as viagens nem sempre são fáceis...
O Psicoterapeuta é um facilitador dessa viagem. É alguém que o ajuda a escolher determinados caminhos a percorrer, mas não faz a viagem por si, até porque não saberia que mundos explorar. Quem faz a viagem e quem encontra as respostas, é você.
E como se encontram essas respostas? Como se muda?
Para, de algum modo, dar algumas pistas a esta resposta, gostaria de introduzir a ideia de que
a Psicoterapia poderá ser vista como tendo 4 fases e a mudança dá-se na progressão destas mesmas fases. Então aqui ficam:
Incompetência Inconsciente
Incompetência Consciente
Competência Consciente
Competência Inconsciente
Enquanto progride ao seu ritmo, pelas duas primeiras fases eu diria que vivencia genericamente um período de “Lua de Fel”. Mais tarde explicarei esta ideia.
Quando passa para as restantes duas fases entramos num período de “Lua de Mel”.
As duas primeiras fases são difíceis e extremamente desafiantes. Muitos ficarão pelo caminho e desitirão. Nem todos estão dispostos a atravessar a “Lua de Fel”. Os que desistem, ficam decepcionados com a Psicoterapia e com as viagens emocionais que deverão fazer para encontrar as respostas que procuram.
Se superarem esta fase, então irão entrar na “Lua de Mel” onde se sentirão gratos por terem tido a coragem e a força interior de se deparar com os seus fantasmas.
Vamos então, sucintamente, falar sobre cada uma destas fases:
Incompetência Inconsciente: Esta é a primeira fase da psicoterapia. É a fase de onde irá partir para a sua viagem . A palavra – Incompetência - remete para a ideia de incapacidade, de falha: «Eu não consigo». Nesta fase, geralmente, tem uma visão vaga, ambígua, generalizada, pobre em pormenores do problema que o traz. A sua incompetência está ainda num plano muito inconsciente. « Passo a vida ansioso, ou deprimido, ou estou triste, ou cansado, ou sem vontade de viver, ou tenho muitos problemas». E o primeiro objectivo terapêutico é, justamente, tornar consciente a Incompetência.
Incompetência Consciente: Nesta fase, percebe que os seus problemas podem ser equacionados como apresentando pensamentos disfuncionais, emoções disfuncionais e comportamentos disfuncionais. Estes três eixos (cognições/emoções/comportamentos) podem ser situados espacial e temporalmente. «Quando é que está ansioso? O que pensa nessas alturas? Como se sente? O que faz?» Todas estas perguntas feitas pelo Psicoterapeuta são fundamentais para começar a olhar para os seus fantasmas não os encarando com uma aparência disforme e vaga, mas com um contorno definido e com uma expressão identificável.
Esta é a fase da consciência dentro e fora da sessão. Quando falo de consciência dentro da sessão, refiro-me à ideia de vivência emocional dos conflitos inter e intrapessoais relacionados com o problema trazido. É o momento de vivenciar as emoções difíceis. É uma fase difícil, dura, perturbante, que gera dúvidas, resistências, frustrações. É uma fase em que parece que o terapeuta quer expô-lo, voluntariamente, ao sofrimento. Muitas vezes dão-se rupturas na aliança terapeutica, justamente, nesta fase. Não é de estranhar que possa ficar zangado com o seu terapeuta e, seguidamente, abandonar a viagem que se propôs fazer.
Também fora da sessão é uma fase de consciência, muitas vezes trazida a partir de exercícios de auto-monitorização, em que lhe é pedido para estar particularmente atento a si próprio nos momentos em que apresenta o problema que o trouxe à terapia. Muitas vezes é, inclusivamente, pedido para registar os seus pensamentos, emoções e comportamentos antes e depois da vivência da situação problemática.
Esta é uma fase polémica, que gera desacordo. É natural que não queira ficar ainda mais em contacto com o seu problema. Não quer prestar-lhe mais atenção. Só o quer esquecer! Mas... para enfrentar o seu problema tem de o conhecer, para o enfrentar tem de o poder ver. Esse confronto só é possível com uma consciencialização no “aqui e agora” do problema nos seus três eixos já apresentados previamente.
A consciencialização também traz outros desafios inesperados e frustrantes. De repente, vai aperceber-se que o seu problema é transversal a muitas áreas. Não é algo circunscrito no tempo e no espaço, mas é algo que , de algum modo, sempre o acompanhou. Dá-se uma consciencialização da transversalidade existencial do problema. Não é situacional, mas sim estrutural. Não é novo, é antigo, mas talvez anteriormente se manifestasse de forma diferente.
Esta consciencialização também é penosa. De repente apercebe-se que o seu problema é um novelo com muitos nós e que não basta desatar o primeiro nó. Surgem dúvidas: « Então mas como é que eu vou desfazer este novelo?» Surgem frustrações e novas zangas com o terapeuta. Estamos em pleno na Lua de Fel.
Apercebe-se que o seu problema é um reflexo da forma como aprendeu a responder para se adaptar a um determinado contexto que, de algum modo o ameaçou. Essa aprendizagem ,na altura, foi adaptativa e funcional, mas agora já não o é.
Competência Consciente
Entramos na terceira fase. Uma fase mais solarenga, mais optimista, de repente vê-se a “luz ao fundo do túnel”. Existem soluções, estratégias, técnicas, respostas, insights, clarificações, sorrisos e esperança. Mergulhou dentro de si próprio e agora está a começar a sentir outro alívio porque percebe que se conhece, por confrontar-se, por reencontrar-se.
Esta é a fase da experimentação de novas estratégias. As mudanças interiores são operacionalizadas em estratégias comportamentais que agora serão postas em prática. É uma fase em que se poderá sentir algo artificial por estar a experimentar novas soluções. Parece forçado, rígido, pouco natural, artificial, mas é este o caminho.
Competência Inconsciente
Chegamos finalmente à última fase. O treino e a automatização de novas estratégias começa a conferir um carácter de naturalidade. Surge outra confiança, a estranheza e o desconforto dão lugar à cumplicidade, identidade e conforto. Estamos na “Lua de Mel”. Se conseguiu chegar aqui então vai sentir-se confiante. Reencontrou-se! Encontrou novas estratégias para ultrapassar os seus desafios.
Encontrou novas soluções. A viagem valeu a pena e levou-o a bom porto!
Agora penso que se percebe com outra clareza a ideia da “Lua de Fel” em primeiro lugar e depois, a “Lua de Mel”.
Boas viagens psicoterapeuticas