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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Pedro Diniz Rodrigues
Psicólogo Clínico
Como acha que se expressa habitualmente para os outros ?
E para si mesmo?
O sentirmo-nos mais contentes e realizados ou mais tristes, irritados e sozinhos,
está normalmente relacionado com a forma como interagimos uns com os outros e dizemos o que nos vai cá dentro. A qualidade da nossa expressão pessoal parece assumir-se como um factor determinante sobre o qual será interessante refletir.
Sugiro-lhe que se imagine nas seguintes situações:
Está numa fila para o cinema e chega uma pessoa que se mete na sua frente.
Não consegue dormir, porque o seu vizinho do lado tem música a tocar com o volume muito alto.
Um amigo seu pede-lhe emprestado o seu carro novo (que não quer emprestar) para fazer uma viagem.
Numa reunião de trabalho com toda a equipa, um dos seus colegas diz-lhe algo com que não está de acordo.
Tendo em conta a forma como cada um de nós se afirmaria nestas situações, são identificáveis 3 tipos de atitudes ou posturas que potencialmente adoptamos:
Podemos adoptar uma atitude submissa, utilizando neste caso, um volume de voz baixo, hesitante, gaguejando, com bloqueios, silêncios, não olhando diretamente nos olhos, o nosso rosto tem uma expressão forçada e o corpo está tenso. Não queremos incomodar o outro, temos medo de o magoar, preferimos sacrificar-nos abdicando do que precisamos. Sentimo-nos normalmente impotentes, culpabilizando-nos e somos pouco tolerantes connosco mesmos, por sermos demasiado críticos. Não aceitamos as nossas emoções e acabamos sentindo frustração e ressentimento.
Podemos também adoptar uma postura agressiva, que nestas situações se traduz normalmente num volume de voz alto, numa fala precipitada e pouco fluída, em que interrompemos constantemente o outro, recorremos a insultos e ameaças para fazer valer o nosso direito. Naquele momento, pensamos que só nós interessamos, achamos que “ganhamos” se o outro não expressar o seu ponto de vista. Pensamos que dessa forma não ficamos vulneráveis. Se adoptamos predominantemente esta atitude, é possível que possamos ter algumas ideias interiorizadas de que há gente “má” e que o mundo não é como gostaríamos que fosse. Acabamos por nos sentir irritados e ansiosos, sozinhos e incompreendidos.
Finalmente existe um terceiro tipo de atitude, a assertiva, que será a mais recomendável. Ao sermos assertivos, nas situações descritas falamos de forma fluída, segura, sem bloqueios, olhamos diretamente nos olhos (sem desafiar), o nosso corpo está relaxado e com uma postura confortável. Sabemos quais são os nossos direitos e os direitos dos outros. Expressamo-nos sem agressão, discordando abertamente, manifestando interesses próprios. Somos emocionalmente honestos, aceitando e manifestando as nossas emoções agradáveis ou desagradáveis. Não nos sentimos superiores nem inferiores aos outros. Com esta postura, acabamos por nos sentir mais satisfeitos nos nossos relacionamentos e de uma forma geral, mais realizados.
Se acha que adopta predominantemente o terceiro tipo de atitude (assertiva), estará no bom caminho. Se concluiu que se encaixa mais nas duas primeiras (passiva ou agressiva), reserve a si mesmo alguns momentos do seu dia, no sentido de refletir sobre o que poderá precisar para que se possa auto-afirmar sem se sentir subjugado, manipulado ou culpado, e para que não o imponha aos outros. Procure esse equilíbrio. Isso é assertividade.
Autora: Marta Porto
Psicóloga Clínica
A auto-afirmação espelha um conjunto de comportamentos emitidos por uma pessoa, num contexto interpessoal, no qual exprime os seus sentimentos, desejos e opiniões, ou ainda os seus direitos, de forma directa, firme e honesta, respeitando os sentimentos, atitudes e direitos dos outros. Assim, não tem como objectivo controlar, manipular ou punir os receptores, invocando simultaneamente uma atitude de respeito.
Existem três passos ou princípios para aplicar a assertividade, sendo que a sua prática segue sempre uma determinada ordem. No início, pode parecer muita coisa a aprender, mas a sua aquisição é semelhante à aprendizagem da Condução de Automóveis. Inicialmente, poderá ser complicado e difícil, contudo à medida que vamos praticando acaba por se tornar natural.
Passo1 Força-o a focalizar toda a sua atenção no seu interlocutor e não a usar o tempo que este usa para lhe falar em favor da sua defesa ou ataque. Ao escutar activamente, demonstra compreensão e empatia para com o outro e o seu ponto de vista, mesmo que não esteja de acordo com ele.
Passo 2 Leva-o a expressar de uma forma directa os seus pensamentos e sentimentos sem insistência e sem pedir desculpa.
Passo 3 É essencial, a fim de que possa indicar de modo claro, consistente com o objectivo, qual a acção e/ou resultado que deseja sem hesitações ou insistência.
Assim, a atitude de auto-afirmação, permite-lhe estar à vontade na relação face-a-face, controlar a situação, negociar na base de objectivos preciosos e claramente fixados, procurando compromissos realistas. Lembre-se sempre do seguinte: em caso de desacordo, é fundamental negociar mais na base do interesse mútuo do que na ameaça.
A Passividade: um comportamento ineficaz
Uma atitude passiva implica medo de se envolver, o que pressupõe submissão e uma tendência a evitar o conflito, o que espelha uma atitude de fuga na presença de contrariedades. Assim, a passividade caminha lado a lado com a permissão de que as outras pessoas o tratem, aos seus pensamentos e sentimentos, como eles quiserem, sem que você se defenda. Significa fazer o que os outros querem que faça, independentemente dos seus desejos.
Os comportamentos característicos da passividade são os seguintes:
1- Mostrar acordo em relação a assuntos que não lhe interessam
2- Não conseguir pedir um favor
3- Evitar contacto visual
4- Apresentar um padrão de discurso hesitante
5- Apresentar postura corporal tensa e movimentos corporais desajustados ou ansiosos
6- Falta de confiança
O comportamento passivo produz irritação, aborrecimento e pena por parte dos outros receptores, estabelecendo-se um padrão em que os outros abusam constantemente. O problema é evitado, os seus legítimos direitos são postos de lado, deixando que a zanga e ressentimento cresçam dentro de si.
Neste sentido, perante uma situação em que se depara com a necessidade de fazer face às reacções dos outros, quando deles necessita, ou quer emitir o seu desacordo (situações diárias, com os amigos, familiares ou no trabalho), a passividade não traz resultados satisfatórios, nem assegura relações agradáveis com os outros, ao passo que afirmar-se tranquilamente traz-lhe mais possibilidades de resultados positivos nos seus relacionamentos.
Autora: Catarina de Castro Lopes
Psicóloga Clínica
“Eu não concordo com este projecto. Eu quero dizer que não o vou fazer mas quando tenho oportunidade de falar com o meu chefe há qualquer coisa que me bloqueia. Não consigo. Já tentei várias vezes.”
Identifica-se com este testemunho? Tem dificuldade em dizer “não”? Aceita os pedidos que lhe fazem mesmo que não concorde com eles? Aceita trabalho que já não tem capacidade para realizar? É difícil para si recusar convites? Os seus “sims” têm repercussões negativas na sua vida pessoal e profissional?
Ter medo de dizer “não” é relativamente comum pois em algumas circunstâncias sabemos que as consequências desse “não” podem suscitar reacções desagradáveis. Para algumas pessoas o “não” é sentido como uma agressão ao outro e para evitar conflitos preferem dizer “sim” mas será que não vão entrar em conflito consigo mesmas? Aceitam tudo, mesmo que não concordem, até que de repente, por impulso têm uma reacção explosiva o que pode levar a consequências imprevisíveis. Isto acontece porque na hora de dizer “não” fantasiam varias reacções negativas de quem vai receber a recusa. Sentem medo do desagrado que podem causar e antecipam a culpa, rejeição, abandono e angustia. São exactamente este tipo de pensamentos que enfraquecem a capacidade de dizer “não”.
Recusar ou negar algo de uma forma serena, clara, justificada e coerente facilita que o interlocutor perceba a sua posição.
Vejamos, numa situação profissional, por exemplo, uma pessoa que tem dificuldade em dizer “não” pode acumular tarefas, aceitando tudo o que lhe propõem mas por não conseguir cumprir os prazos acaba por desiludir o seu chefe. Aceitou a tarefa por medo de ser acusado ser mau profissional ou desiludir o seu superior mas acabou por acontecer precisamente o temido. Assim, muitas vezes surge a sensação de injustiça “Eu dei tanto de mim esforcei-me tanto e não me valorizam”. Pois é, parece que não é vantajoso aceitar mais do que as nossas possibilidades ou mesmo ir contra valores e crenças nossas para agradar os outros.
Numa época de crise financeira estas questões podem agravar-se uma vez que existe uma tendência por parte das empresas em reduzir o numero de empregados e de cargos, logo o trabalho será distribuído por menos funcionários. Por outro lado, está mais presente nas pessoas a possibilidade de ser despedido o que agudiza o medo.
Se bloqueia na hora de dizer “não” a alguém, tente perceber que pensamentos e emoções surgem e que o impedem de expressar aquilo que quer. Não deixe arrastar a situação por mais tempo. Um dia “a bomba” rebenta e as consequências podem ser bastantes piores.
Procure ajuda de terapia para o ajudar a perceber a origem e as causas desses bloqueios e treinar comportamento assertivo.
Autora: Joana Fojo Ferreira
Psicóloga Clínica
Conhece o termo assertividade? Tem certeza que tem uma noção correcta do seu significado? Passo a esclarecer.
De uma forma simples, assertividade é a capacidade social de afirmar os próprios direitos não violando, ao mesmo tempo, os direitos dos outros. Tenho contudo a sensação que uma amostra significativa de pessoas apreendeu bem a parte da afirmação dos direitos do próprio, mas como que apagou o lado que contempla o respeito pelos direitos dos outros, e portanto associa assertividade a uma postura egoísta e arrogante, chegando a comentar “sou demasiado assertivo e isso causa-me problemas”.
O que é afinal a assertividade?
Eu gosto de a colocar num contínuo entre os polos da passividade e da agressividade. Se delinearmos uma linha com a passividade num extremo e a agressividade no outro, o comportamento assertivo passeia-se por esta linha, por vezes aproxima-se mais de um extremo, por vezes mais do outro, mas nunca chega a atingir nenhum dos polos, nem fica indefinidamente na mesma posição.
O que é que justifica a mudança de posição na linha?
A situação.
A assertividade envolve expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira directa, clara, honesta e apropriada ao contexto. Ou seja, num contexto tranquilo, sem grandes ameaças à minha identidade, aos meus direitos, o comportamento adequado (assertivo) aproxima-se mais do polo da passividade, numa postura receptiva, de permissão da proximidade do outro, com as defesas em baixo; num contexto hostil, em que os meus direitos são ameaçados e a minha identidade é desrespeitada, o comportamento adequado (igualmente assertivo porque de acordo com a situação) aproxima-se mais do polo da agressividade, em que as minhas defesas estão alerta e coloco limites à proximidade do outro no sentido de me proteger.
Mas voltemos ao comentário “sou demasiado assertivo e isso causa-me problemas”. O que é que isto pode significar? Das duas uma, ou não estou a ser assertivo, numa postura de defender os meus direitos mas já de uma forma agressiva por não estar a contemplar os direitos do outro, ou estou perante um outro particularmente frágil, que se sente atacado sem o ser e que responde de volta atacando.
Um terceiro cenário, para o qual peço especial atenção, é uma combinação dos dois, em que o outro se sente atacado não o sendo, eu me ressinto do ataque dele em resposta, e respondo eu atacando também. Neste jogo de lutas não se preocupe em perceber quem começou, assuma a coragem de lhe por um ponto final, protege-se a si e ao outro, aí então está a ser assertivo.
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
Dizemo-nos de brandos costumes, mas logo outros nos recordam Aljubarrota e assassinatos vários. Reclamamos por não reclamar, mas há quem nos lembre que as contestações recentes de outros povos andam a perder eficácia, logo não será por brandura mas talvez sabedoria. Os estrangeiros acham-nos “so very nice”, mas não nos ensaiamos nada em por na ordem qualquer um de fora que tente ter privilégios territoriais. Contradições à parte, parece seguro pensarmos nos portugueses como um povo algo acomodatício e suave. Infelizmente, do outro lado desta delicadeza simpática, reside a passividade: axandramo-nos* com facilidade, pelo menos a título individual.
E, se bem que de um ponto de vista social, a agressividade - sua contraparte pendular – possa ser mais preocupante, quanto mais não seja, porque pode resultar em prejuízo de terceiros, a passividade representa uma janela de oportunidades perdidas. A ela associam-se verbos pouco recomendáveis, do ponto de vista de saúde mental - recear, encolher, calar, penalizar-se – e efeitos em áreas que não se querem a descoberto – auto-estima, auto-confiança, satisfação pessoal, sucesso.
Por isso, se a passividade nos faz mal, axandramo-nos* porquê?
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
“E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.”
Vergílio Ferreira
Dizer não parece tão fácil mas é terrivelmente difícil, principalmente quando falamos de pessoas próximas. O que me diz disto? Gostava então que pensasse nas suas relações mais significativas e fizesse um apanhado das situações em que sentiu que as pessoas estavam a abusar de si e, no entanto, aceitou mais uma solicitação ou crítica. E logo a seguir sentiu, eventualmente, uma grande culpa por, mais uma vez, ter dito que sim. E como nunca lhes diz não, acabam por fazer sempre o mesmo. É que se dissermos sempre que sim aos pedidos dos outros, eles deixam de reparar em nós e passamos a fazer parte da mobília! Dizer um não sustentado e assertivo relembra-os de que estamos ali também e que temos vontades e opiniões próprias. São incontáveis os exemplos em que aprender a dizer não levou à melhoria clara do bem-estar do cliente, através de várias técnicas que usamos em psicoterapia.
É que cada vez que diz “sim” sem lhe apetecer está a dizer “não” a si mesmo! Como resultado, a sua auto-estima vem por aí abaixo e as suas necessidades ficam sem resposta. A boa notícia é que vai bem a tempo de inverter a tendência!