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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Filipa Jardim Silva
Psicóloga Clínica
A ingestão de água pode mudar a forma como comemos. Pelo menos, esta é a conclusão de uma investigação publicada no Jornal Científico Appetite e dirigida por Bettina Cornwell da Universidade de Oregon e por Anna McAlister da Universidade Michigan State. Estes resultados vêm reforçar outros trabalhos feitos anteriormente e indicações nutricionais persistentemente dadas nos últimos anos.
O artigo apresenta dois estudos distintos. Um envolveu uma amostra de 60 jovens adultos americanos, com idades entre os 19 e os 23 anos e debruçou-se acerca do papel das conjugações entre bebida e comida. O segundo estudo foi feito com 75 crianças americanas de idade pré-escolar (3 a 5 anos) e visou determinar o papel das bebidas no consumo de vegetais.
Os participantes mais velhos, podendo escolher, elegeram a combinação de refrigerantes acompanhados por comidas mais calóricas e salgadas em detrimento de legumes. Na experiência feita com as crianças, observou-se que estas comeram mais vegetais crus (cenouras e pimentos vermelhos) quando servidos com água do que quando acompanhados por uma bebida adocicada. Estes resultados evidenciam a influência da escolha da bebida servida à refeição na seleção e quantidade de alimentos ingeridos.
Segundo a professora Cornwell, as nossas preferências de paladar são fortemente influenciadas pela exposição repetida a determinadas comidas e bebidas. Desde uma idade precoce as crianças habituam-se a associar bebidas doces e calóricas a comida salgada e gordurosa. Por exemplo: quando se come batatas fritas com um hamburger o acompanhamento tende a ser um refrigerante, mas se pensarmos numa bebida a acompanhar sopa talvez surja água. Percebe-se como a escolha da bebida tende a influenciar a seleção da comida, o que exalta o impacto das decisões feitas pelas famílias à hora da refeição bem como a urgência em sensibilizar cantinas escolares e mesmo restaurantes.
Torna-se, assim, claro que existem inúmeros ganhos em fazer acompanhar as refeições apenas por água, com vista a permitir que o paladar se diversifique em pleno e não se habitue à intensidade de alimentos açucarados ou salgados, fixando-se nessas escolhas em detrimento de outras mais saudáveis. Esta simples mudança na alimentação diária pode ter um impacto significativo no combate ao problema crescente da obesidade, tanto em crianças como em adultos. Mudanças pequenas e consistentes como esta tornam-se fundamentais quando nos recordamos que a Organização Mundial de Saúde designa a obesidade de “epidemia do século XXI” e de que o custo indireto total da obesidade em Portugal, no ano de 2002, foi estimado em cerca de 200 milhões de euros (Pereira & Mateus, 2003). Quando hoje for preparar as suas refeições lembre-se: disponibilize apenas água para si e para as suas crianças. Reduzirá nas despesas ao final do mês e ganhará em saúde!
Autora: Joana Florindo
Psicóloga Clínica
Poderá não reconhecer a expressão, mas certamente já ouviu falar dela, em português designamo-la de “Crises de Voracidade Alimentar” ou “Ingestão Compulsiva”.
Ocorrendo nas perturbações alimentares Bulimia Nervosa e Ingestão Compulsiva, traduz-se num comer excessivo e descontrolado de uma quantidade de alimentos considerada exagerada pela maioria das pessoas, que só termina quando um intenso mal-estar ou exaustão física extrema são atingidos. Distingue-se dos episódios de comer desmedido que todos tendemos a conhecer, particularmente quando em reuniões familiares ou convívios entre amigos, pela elevada quantidade de alimentos ingeridos, num reduzido espaço de tempo e a um ritmo acelerado, e pela sensação de falta de controlo sobre o que está a acontecer.
Embora seja ainda necessário, do ponto de vista científico, percorrer um longo caminho de investigação que nos permita conhecer com maior rigor e clareza o que acontece num episódio de voracidade alimentar, uma vez que a maioria das descrições que dispomos nos são dadas por quem os vivenciou, e estando essas descrições à partida abraçadas pela experiência emocional de cada um, poderemos realçar algumas características comummente referidas na prática clínica, associadas a estes episódios:
Sentimentos – Se inicialmente parece existir alguma sensação de prazer ou saciedade, sendo possível desfrutar do sabor e da textura dos alimentos, rapidamente emergem sensações desagradáveis e de falta de controlo, e surgem sentimentos de angústia, vergonha ou culpa. A repulsa sobre o comportamento que se está a ter é também uma sensação comum, que tende a intensificar-se por não se ser capaz de parar de comer.
Velocidade de ingestão – Num ritmo acelerado e num curto intervalo de tempo são mecanicamente ingeridas grandes quantidades de comida. De acordo com os resultados de um estudo efectuado por um grupo de investigadores da Universidade de Columbia, Estados Unidos da América, as mulheres que sofrem de Bulimia apresentam uma velocidade de ingestão alimentar duas vezes superior à das mulheres que não têm qualquer perturbação alimentar: 81,5 calorias por minuto e 38,4 calorias por minuto, respectivamente.
Agitação – São bastante comuns os relatos de rebuliços e deambulações desassossegadas que antecedem e acompanham os episódios de voracidade alimentar. De uma forma quase desesperada, é sentido um intenso desejo por comida que incita forçosamente à sua procura e ingestão. Quando os alimentos à disposição são escassos, ou inexistentes, é possível que estas pessoas se desloquem propositadamente a supermercados ou lojas de conveniência para adquirirem os alimentos desejados.
Secretismo – A intensa vergonha que tipicamente acompanha estes comportamentos, leva a que eles sejam na sua grande maioria praticados às escondidas, longe dos olhares e críticas dos outros, acontecendo quando se encontram sós, ou sob estratégias como as de levar a comida para locais seguros, como o quarto, onde à partida não serão descobertas.
Sensação de consciência alterada – Surge por vezes em consulta o relato de um comportamento involuntário e mecânico, sentido como se não fosse consciente. Instala-se um estado de “piloto automático” em que a consciência sobre o comportamento está momentaneamente desligada. Muitas vezes, as pessoas relatam que isto acontece porque acompanham o episódio de voracidade alimentar com distracções como ver televisão ou ouvir música num volume elevado, distanciando-se à partida do que estão a fazer.
Perda de controlo – Assume-se como uma das características centrais das crises de voracidade alimentar, mas parece variar de pessoa para pessoa. Enquanto umas referem sentir esta sensação ainda antes de começarem a comer, outras expressam senti-la a aumentar gradualmente à medida que vão comendo mais e mais, e outras ainda, referem que ela surge subitamente, quando se dão conta da quantidade excessiva de comida ingerida. Contudo, em qualquer dos casos, a sensação é a de que não se consegue parar de comer, nem controlar o quê e o quanto se come.
Cada caso é um caso, e deve-se sempre considerar a experiência individual de cada um. Não hesite em procurar ajuda especializada, de forma a avaliar cuidadosamente o seu caso, e, se necessário, poder actuar o mais precocemente possível no seu problema.
Para saber mais sobre Perturbações do Comportamento Alimentar, consulte a nossa página: http://oficinadepsicologia.com/corpo/peso/comportamento-alimentar
Autora: Joana Florindo
Psicóloga Clínica
Nos dias de hoje, a anorexia, a bulimia, e particularmente a ingestão compulsiva, assumem-se como realidades cada vez mais frequentes e assustadoramente próximas. Parece ser cada vez mais provável, conhecermos alguém que sofre de uma destas perturbações alimentares, podendo mesmo, tratar-se de um dos nossos familiares ou amigos.
Contudo, nem sempre é fácil reconhecermos tais problemas em quem nos rodeia, quer devido à sua expressão tipicamente silenciosa e envergonhada, quer devido ao nosso desconhecimento dos seus indícios, e, na maioria das vezes, acabam por ser detectados ou evidenciados em estados mais avançados, quando a saúde física e emocional já se encontram muito comprometidas.
Sabemos que uma sociedade informada é uma sociedade mais atenta e consciente, com maior poder de prevenção e intervenção, e porque nos encontramos perante perturbações que acarretam graves consequências de saúde, muitas vezes irreversíveis, e em que em alguns casos podem mesmo conduzir à morte, conhecer e identificar os seus sinais de alerta, revela-se de extrema importância, permitindo uma resposta ao problema mais rápida e precoce, e tendencialmente mais eficaz.
Nesse sentido, encontram-se de seguida alguns dos sinais de alerta mais comummente associados a estas perturbações, mas quero salientar, desde já, que embora se revelem úteis indicadores, não se podem assumir, por si só, como garantias de diagnóstico de uma perturbação do comportamento alimentar:
Sim? Talvez não… Muito vulgarizada, a medida de Índice de Massa Corporal (IMC) está a ser colocada em causa, como determinante de necessidade de emagrecimento. De facto, foi desenvolvida uma escala, recentemente, a Edmonton Obesity Staging System (EOSS), desenvolvida pela Universidade de Alberta, e que leva em conta vários indicadores abrangentes a todo o funcionamento do indivíduo e que representa uma tentativa de identificar quem, de facto, beneficiará de uma perda de peso. Esta escala, permite uma classificação em 5 fases baseada na gravidade e abrangência de problemas médicos e psicológicos, além da análise do peso, proporções e IMC.
Desta forma, se estiver inserido num dos estádios mais baixos da escala, e apesar de excesso de peso, a melhor indicação para si poderá não ser uma dieta, mas sim “apenas” a opção por um estilo de vida mais saudável, do ponto de vista de nutrição e exercício físico.
Autora: Filipa Jardim da Silva
Psicóloga Clínica
Quantos de nós já devorámos um pacote de bolachas enquanto aguardamos por um telefonema importante, parámos na pastelaria a caminho de casa em busca de consolo por um dia mau ou oferecemos a caixa de biscoitos favoritos para animar a sobrinha triste? A comida conforta, e este efeito reconfortante está presente em quase todas as fases da vida ou culturas. A fome começa então a surgir quando determinada situação se apresenta e o que comanda o comportamento de ingestão alimentar são as emoções e não as necessidades nutricionais.
Este tipo de padrões alimentares enquadra-se dentro da designada fome emocional, a chamada fome sem fome, uma fome que não tem ligação com a sustentação da vida, que não surge por sinais fisiológicos (fome real), pelo contrário ignora-os, e que se relaciona fortemente a factores psicológicos podendo constituir uma estratégia para lidar com o cansaço e stress, uma forma de ataque ao próprio corpo ou um mecanismo de compensação face a emoções negativas.
O problema principal advém da repetição destes episódios de ingestão alimentar, sendo que o prazer e bem-estar associado aos alimentos aquando da ingestão inicial, rapidamente dá lugar a sentimentos de culpa, perda de controlo e arrependimento, tendendo a repetir-se o mesmo padrão numa situação futura de tristeza e ansiedade, iniciando-se assim um ciclo vicioso de crises de gula.
Autora: Filipa Jardim da Silva
Psicóloga Clínica
Apesar de se ouvir falar menos, o Binge Eating constitui, tal como a bulimia e a anorexia nervosa, uma doença do comportamento alimentar. Este distúrbio é caracterizado por episódios de ingestão descontrolada de comida, pelo menos 2 dias por semanas durante pelo menos 6 meses, e consequente aumento de peso. Na maioria das vezes, a grande ingestão de comida não significa que a pessoa sinta fome, mas sim uma vontade incontrolável e inexplicável de comer, à qual tende a seguir-se sentimentos de culpa e vergonha, o que leva a que muitos destes episódios aconteçam quando a pessoa está sozinha. A voracidade alimentar assemelha-se à bulimia no que respeita à elevada ingestão de alimentos mas, ao contrário desta, não é provocado o vómito nem é feito qualquer tipo de comportamento compensatório do excesso alimentar.
De um modo geral, as pessoas com crises de voracidade alimentar sentem-se fora de controlo, perdidas num ciclo vicioso de ingestão alimentar excessiva, sentimentos de culpa e arrependimento, restrição alimentar/ dieta e nova ingestão alimentar voraz.
O problema da compulsão alimentar tem muitas vezes origem na infância aquando da formação dos hábitos alimentares, em que a comida pode ser associada a compensação, amor, conforto ou a uma forma de ultrapassar o stress e conflitos emocionais. O excesso de peso serve igualmente de escudo, sobretudo quando se tratam de vítimas de abuso sexual, constituindo uma estratégia de desinvestimento no corpo com vista a tornarem-se menos atraentes e a manterem os outros à distância.
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
Ter um índice de massa corporal superior a 30 representa um aumento de risco de depressão entre 50% a 150%. Por isso, é importante avaliar se existem critérios de diagnóstico de depressão em pessoas que iniciam planos para emagrecer.
Ao serem estudados dois formatos de intervenção em grupo, no qual num grupo apenas se trabalhavam os temas de perda de peso e no outro se trabalhavam esses mesmos temas e os aspectos de depressão, verificou-se que, nos primeiros 6 meses de intervenção, as pessoas com maior redução de sintomas depressivos eram as que conseguiam perder mais peso (5 kgs, em média).
Por isso, se pertence aos (estimados) 60% da população portuguesa com peso a mais e está a pensar fazer algo para melhorar a sua forma física, verifique se tem sintomas depressivos – clique para ler sobre sintomas de depressão. Se for esse o caso, compensa iniciar simultaneamente um acompanhamento psicoterapêutico para tratar a depressão. Não só perde peso mais rapidamente, no curto prazo, como volta a sentir-se bem e a usufruir a vida em pleno.
Com base em Health Behavior News Service, part of the Center for Advancing Health (2010, December 27). Treating women’s depression might help them lose weight.
Autora: Joana Florindo
Psicóloga Clínica
Temos vindo a assistir, nos últimos tempos, a um crescente interesse social sobre a problemática da obesidade. A especial atenção que a comunicação social lhe tem dado, através de artigos, reportagens e programas de televisão, tem contribuído para uma mais ampla consciencialização desta realidade, bem como das suas consequências.
A Obesidade assume-se como um dos maiores problemas de saúde das sociedades ocidentais, devido à sua elevada taxa de prevalência, e é reconhecida mundialmente como um problema de saúde pública, que transporta graves problemas de saúde física, psicológica e social.
Sabemos que resulta de uma diversidade de factores, que se manifestam de forma diferente de pessoa para pessoa, e que vão desde a genética, a factores sociais e culturais, passando por factores comportamentais, como o consumo alimentar hipercalórico e o sedentarismo. Mas, convém realçar, que existem ainda variados aspectos psicológicos e emocionais que afectam este consumo alimentar, potenciando um maior aumento de peso.
Isto tende a acontecer quando a ingestão alimentar se apresenta como a resposta habitual a intensos sentimentos de tristeza, inquietação ou zanga, que parecem impossíveis de gerir. Quando a comida é percebida como a “melhor amiga” , que pode estar sempre presente, no confronto com situações particularmente difíceis, vão-se estabelecendo fortes relações de dependência. Estas, quando prolongadas no tempo, em muito favorecem o crescente aumento de peso.
Este movimento de procura de apaziguamento emocional imediato, que à primeira vista parece ser uma estratégia reconfortante e eficaz, é também bastante desadequada do ponto de vista do funcionamento emocional, impedindo a vivência, a expressão e a regulação natural dos sentimentos e emoções.
Nesse sentido, a intervenção da Psicologia nesta área, mais do que trabalhar a implementação e manutenção de hábitos alimentares saudáveis e de prática de actividade física, e incidir ao nível do controlo dos impulsos, promove um amplo trabalho de expressão emocional.
Autora: Joana Florindo
Psicóloga Clínica
As dietas tendem a apresentar-se como uma resposta milagrosa para um emagrecimento rápido e muito desejado. Especialmente as mais rígidas e restritivas, que prometem uma redução de peso extraordinária e surpreendente, num reduzido período de tempo.
Contudo, bem sabemos que quanto mais rígidas e exigentes forem essas dietas, maior a privação alimentar que tendem a provocar, e maior a probabilidade de desencadearem, mais cedo ou mais tarde, as tão temidas e indesejáveis “crises de voracidade alimentar. Estas “crises”, acabam não só por deitar toda a dieta por água abaixo, como também todo o esforço que até então foi sendo suportado, para seguir um plano alimentar tão rígido. E é assim comum, a pessoa ver-se novamente envolvida nos seus velhos hábitos alimentares, desregulados e descuidados, e recuperar também todo o peso que até então tinha perdido.
Mas, ingressar numa nova dieta, possivelmente mais exigente que a anterior, é muitas vezes a resposta seguinte, e sem se dar conta, dá entrada em infindáveis ciclos de dieta que se vão traduzindo em constantes oscilações de peso, promovendo o tão conhecido “efeito iô-iô”.
O acompanhamento psicológico nas situações de regime alimentar é crítico para a manutenção dos estados motivacionais que suportam o esforço e para a regulação de emoções que desregulam a coerência necessária, quando se visa a mudança de um estilo de vida alimentar que possa perdurar no tempo.
Autora: Inês Afonso Marques
Psicóloga Clínica
O impacto que as experiências de trauma na infância podem ter na saúde mental do adulto é algo relativamente bem estudado e, globalmente, bem compreendido. Menos óbvio é o impacto que essas experiências precoces de trauma, como o abuso, a negligência, o alcoolismo dos pais, ou os padrões familiares disfuncionais, podem ter a saúde física do adulto.
Um estudo epidemiológico longitudinal, estudo ACE (Adverse Childhood Experiences) tem demonstrado a correlação surpreendente entre os maus-tratos na infância e as doenças na idade adulta e mesmo a morte prematura. A história do nascimento deste estudo epidemiológico é curiosa, tendo o mote para o seu surgimento ocorrido, quase por “acidente”, na sequência de um programa de controlo de peso, cujos resultados nalgumas mulheres suscitaram diversas questões.
Jan revelava óptimos resultados, tendo perdido uma enorme percentagem de peso ao longo de um ano de programa. De repente, algo surpreendeu os investigadores. No espaço de três semanas, Jan engordou cerca de 25% do peso que tinha perdido até àquele momento. Como seria possível encontrar, pela manhã, a cozinha completamente desarrumada, com pratos e talheres sujos, frascos e caixas de comida abertos? Não havendo explicação fisiológica, e morando ela sozinha, o que teria provocado estes ataques nocturnos de devoração, precisamente naquele momento de uma tão grande conquista na sua vida?