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A culpa é da culpa

por oficinadepsicologia, em 27.10.12

Autor: Francisco de Soure

 

Psicólogo Clínico

 

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Francisco de Soure

Se formos à rua de papel e caneta na mão e perguntarmos a cada transeunte com o qual nos cruzemos qual a emoção que mais o perturba ou lhe é mais desagradável, quase seguramente a culpa figurará entre as respostas mais frequentes. A combinação de vergonha, zanga connosco próprios, medo de sermos castigados e desilusão que sentimos é um cocktail poderosíssimo que, invariavelmente, deixa um amargo sabor na boca.

 

Na verdade, sentir culpa é como sentir uma onda de reprovação de nós próprios, que vai muito além do reconhecimento de que somos responsáveis por um desfecho desagradável. Quando nos responsabilizamos, aceitamos que o nosso comportamento precisa de ser melhorado, e reorientamo-nos de forma a ir de encontro a essa melhoria.

 

A culpa assume a forma de um conjunto de afirmações gerais a respeito de nós mesmos – “és sempre a mesma coisa”; “vai ser tudo horrível, e a culpa é toda tua”; “és inaceitável” – que acaba por ser muito pouco específico e orientado para comportamentos concretos, resultando apenas num mal estar que não convida a crescimento. Curiosamente, a maioria de nós diria, intuitivamente, que a culpa serve precisamente para prevenir mau comportamento futuro.

 

Na verdade, a experiência vai demonstrando algo diferente. A culpa está para a aprendizagem como o pânico está para uma resposta imediata de fuga: são respostas tão exageradas que perdem por inteiro a sua eficácia.

 

Se é verdade que o medo despoleta um conjunto de reacções no nosso corpo que podem assegurar as condições motoras para escapar a uma situação de risco, o pânico tende a paralisar ou gerar descontrolo. Da mesma forma, se a responsabilização conduz a uma atitude proactiva de mudança, a culpa tende a gerar tanta aversão à ideia de voltar a sentir o que sentimos que procuramos a todo o custo o confronto com a situação.

 

Assim, quando voltarmos a deparar-nos com essa mesma situação, as respostas que teremos serão as que já tínhamos… e resultaram em consequências que nos deixaram a sentir culpados! Pesado, não é?

 

Já no berço da Psicologia como a conhecemos, Sigmund Freud apontava o excesso de culpabilidade como um dos principais contribuintes para o aparecimento de sintomas depressivos. E, na maioria das pessoas deprimidas, a culpa parece ser um dos mais evidentes factores depressogéneos. De tal forma que o DSM-IV-TR, um dos principais manuais de diagnóstico psiquiátrico, elenca a percepção excessiva de culpabilidade como um dos sinais a considerar ao fazer o diagnóstico.

 

Se, no plano teórico e da observação clínica, associar a presença de culpa ao aparecimento de depressão fazia sentido, um estudo recente da Universidade de Manchester veio dar tremenda força a estas ideias.

 

A equipa de investigação de Roland Zahn conseguiu, através de técnicas avançadas de ressonância magnética, demonstrar diferenças significativas entre o padrão de activação cerebral de pessoas deprimidas e não deprimidas. Quando era pedido aos participantes do estudo que pensassem em comportamentos socialmente reprováveis, as diferenças eram notórias. Os participantes com um historial de depressão mostravam uma activação incongruente da região temporal anterior do cérebro – onde está armazenada a informação sobre comportamento socialmente aceitável – e da região subgenual do cérebro – a região caracteristicamente associada a sentimentos de culpa.

Esta alteração contribuirá para que se sintam culpadas de forma excessiva, contribuindo drasticamente para os sintomas.

 

Deixamos-lhe a questão: dá por si regularmente a sentir-se culpado/a? É frequente ouvir as pessoas dizer-lhe que é duro demais consigo?

publicado às 19:42


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