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Tecnologia de tratamento virtual

por oficinadepsicologia, em 16.05.13

Autora: Fabiana Andrade

 

Psicóloga Clínica

 

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Fabiana Andrade

Em Montreal, especialistas do hospital Sainte-Justine associam medicina, psiquiatria e artes digitais para oferecer a crianças doentes terapias que possam acelerar a sua recuperação ou reduzir a sua angústia.

 

Através da criação de ambientes virtuais, é possível oferecer estímulos que serão úteis em situações reais. Por exemplo,  no caso de uma criança que sofreu queimaduras, colocá-la num ambiente virtual em que está dentro de um bloco de gelo virtual, poderá fazê-la sentir-se melhor. Ou ainda, acalmar a anisedade de uma criança recriando nas paredes do quarto de hospital, as imagens do seu quarto real.

 

Ao lado de um domo de aço de 18 metros de diâmetro, o "primeiro teatro por imersão do mundo", que permite projeções de 360 graus em torno do paciente-espectador, os médicos do Sainte-Justine instalaram um quarto de hospital.

 

É um "living lab", um dispositivo de pesquisa que explora as tecnologias existentes em função das necessidades expressas pelos pequenos usuários, explica Patrick Dubé, coordenador desta empresa comum.

 

Um dos instrumentos-brinquedos, propostos a crianças e jovens de 6 a 18 anos, é uma simples câmara de vídeo adaptada a um computador com duas telas, uma para a imagem em tempo real, e a outra para visualizar as gravações. Ela permite às crianças familiarizarem-se com instrumentos médicos, como a seringa.

 

Outra aplicação terapêutica para a qual os pesquisadores prevêem uma bela carreira: os avatares, personagens de desenho animado que se comunicam com as crianças através de uma tela, manipulados por um terapeuta posicionado numa outra peça. Algumas crianças, traumatizadas por uma doença ou por um acidente, muito ansiosas, têm dificuldades em comunicar-se com uma pessoa real. Um avatar é, para elas, um intermediário aceitável com quem podem retomar as relações sociais.

 

Este tipo de tecnologia é com frequência familiar às crianças e podem ser extremamente úteis para ajudá-las a socializar e superar os seus medos. "Essa disciplina tem um potencial enorme, mas estamos, ainda, numa fase de exploração", explica a Dra. Patricia Garel, do Departamento de Psiquiatria do hospital Sainte-Justine.

 

A invasão em massa nas nossas vidas de instrumentos de comunicação ou de jogos munidos de telas, pode ter um impacto muito nocivo na socialização das crianças mais frágeis que se fecham em si mesmas, diz Garel. Mas os mesmos instrumentos, bem utilizados, podem, ao contrário, favorecer sua inserção na sociedade.

publicado às 10:27

Ansiosos Anónimos

por oficinadepsicologia, em 14.11.12

Autora: Fabiana Andrade

 

Psicóloga Clínica

 

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Fabiana Andrade

Já sentiu que a sua cabeça não pára de pensar mesmo quando não lhe apetece pensar em nada?

Já reparou que seus pensamentos andam constantemente pelo passado e pelo futuro? Reparou que esses pensamentos muitas vezes começam com “e se…” e nunca têm resposta, ou têm 1000 respostas?

Sente dificuldades em tomar decisões? Em concentrar-se? Sente a cabeça constantemente cheia ou então uma “névoa”? Sente dificuldades em lembrar-se de coisas?

 

Então, bem-vindo ao clube dos Ansiosos Anónimos!

 

Muitas vezes associamos a ansiedade a sintomas como palpitações, transpiração, tremores, aperto no peito entre outros, mas a ansiedade não é apenas composta por sintomas. Muitas pessoas “aprenderam” a funcionar dentro de uma estrutura ansiosa, que caracteriza-se por uma insegurança básica, dificuldade em estar no presente e falta de poder sobre a sua própria vida.

 

Aqui fica então o relato de uma ansiosa anónima, que está “limpa” de ansiedade há três anos.

 

“ O meu nome é Maria e deixei de ser ansiosa há três anos. Não sabia que era ansiosa, simplesmente sentia dificuldades em concentrar-me, sentia que a minha vida estava estagnada, tinha muitas dificuldades em tomar decisões, principalmente aquelas que implicavam ter de me arriscar. Só conseguia decidir quando tinha certeza absoluta de estar certa ou da situação dar certo, o que era raro, obviamente.

Dei por mim a passar mais tempo na minha cabeça, a fantasiar com a vida que queria ter. Sentia como um ruído constante que não conseguia parar, dentro da minha cabeça, e por vezes era mesmo eu que não queria que ele parasse.

 

Nunca tive ataques de pânico, mas por vezes sentia sintomas de ansiedade como apertos no peito.

 

Sentia bastante medo de algumas coisas, como morrer, não ter um namorado, não casar ou ter filhos e não ser bem-sucedida no trabalho. Quando pensava nisso era horrível e nestes momentos apetecia-me fantasiar. Fantasiava comigo de braço dado ao meu marido, com um filho no colo, numa ótima casa etc.

 

Dei por mim a ter menos rendimento no trabalho, pois cada vez era mais difícil concentrar-me. Não gostava do que fazia, era comercial numa empresa telefónica, e isso não facilitava nada a concentração. No entanto, sabia que era difícil arranjar trabalho na minha área, recursos humanos, e por isso também não arriscava sair do meu trabalho.

 

O ambiente no escritório cada vez estava pior e eu sentia-me cada vez mais sem energia, ao mesmo tempo sem coragem de sair.

O meu pensamento passou a correr como um TGV! E se eu sair o que me acontece? E se eu não conseguir arranjar trabalho? E se o próximo trabalho for pior? Eu não devia estar a queixar-me, com tanta gente desempregada, sou mesmo uma ingrata!

 

Todos os dias era um custo sair da cama, e já nada me apetecia fazer. Sentia-me constantemente cansada e apática, sem forças. E foi aqui que uma amiga indicou-me a psicoterapia.

 

Inicialmente não sabia o que lá ia fazer, mas consegui relatar à terapeuta o que sentia. Comecei a perceber como funciona então a estrutura ansiosa:

- Em primeiro lugar começa sobre uma base de grande insegurança. Nunca confiei em mim, nunca me senti válida ou capaz de transformar a minha vida naquilo que eu queria. No meu caso tive pais super- protetores,  tiveram-me já mais velhos e estavam constantemente com medo de tudo. Interiorizei que era frágil e que precisava dos outros para me protegerem.

A terapeuta explicou-me que nem sempre é assim, por vezes a estrutura familiar é diferente, mas no fim, o que a criança sempre aprende é que de alguma forma não é forte ou capaz.

 

Essa base de insegurança faz com que eu tenha crenças negativas sobre mim, por exemplo, não sou capaz de arranjar um emprego que goste, não sou capaz de fazer com que as coisas tenham resultado, não mereço que um homem bom goste de mim, etc.

Comecei a escrever um diário com as observações que fazia no meu corpo, na minha emoção e no meu pensamento. Cada vez que observasse o pensamento a criticar-me ou a começar com “e se”, interrompia e respirava.

 

Tomar consciência disso foi muito duro, mas foi a melhor coisa que me aconteceu. Vi que eu mesma boicotava uma série de situações pois não acreditava em mim. Eu enviava um currículo na minha área, mas nem sequer ligava para saber se o haviam recebido pois o meu pensamento dizia algo como “nem vale a pena, senão te ligaram é porque não gostaram do teu cv”. Nunca investi em passar uma imagem motivada, confiante, para as empresas que contactava pois não acreditava que iriam ter interesse em mim.

 

No que toca a relações nem se fala! Só gostava de pessoas que mostravam estar indisponíveis desde o início. Davam todas as indicações disso mas eu investia na mesma. Depois ficava de rastos a pensar, “és mesmo desinteressante, não vale a pena”.

 

Fiz com a terapeuta um exercício chamado de cadeira vazia. Em que eu falava com a voz crítica dentro de mim. Muito estranho mas muito forte! No início senti-me embaraçada, mas sem que eu desse conta, estava numa cadeira a falar com essa voz, que estava noutra cadeira. E foi claríssimo o quanto eu me criticava e deitava abaixo. Nesse exercício fui capaz de tomar clara consciência dessa voz dentro de mim e também de me zangar com ela, de exigir que ela desaparecesse pois só me atrapalhava.

 

A partir desse dia, cada vez que percebia que me estava a criticar ou boicotar, parava e respirava, outra coisa que aprendi nas sessões. Observava o que estava a acontecer no presente. Esse exercício ajudou-me a começar a calar o ruído constante na minha cabeça.

Depois de perceber que funcionava assim, entendi que meu pensamento sempre andava para trás e para a frente, tentando antecipar situações que eu pudesse controlar. Isso tudo pois estava sempre insegura!

 

Percebi que não adiantava nada tentar controlar nada e que a energia que eu gastava era para o lixo. Comecei então a estar cada vez mais no presente, fiz desporto, meditação, relaxamento, li vários livros sobre esse tema e cada vez me sentia mais forte.

Comecei a ouvir o corpo, e não só o pensamento, na hora de tomar decisões. Comecei a reparar quando estava com medo e a não confiar em mim, e quando estava simplesmente a viver o presente e a sentir amor por mim.

 

Tudo começou a ser mais fácil na minha vida e eu passei a sentir-me mais leve e positiva.

 

Iniciei uma procura feroz de emprego na minha área, com o pensamento de base: sou capaz e mereço! Sentia-me mais criativa para preparar apresentações diferentes sobre mim para cada empresa. Como me sentia focada em procurar o que gostasse de fazer, o dia-a-dia no escritório tornou-se mais leve, pois sabia que estava lá temporariamente. Passei a olhar para este trabalho como um instrumento e como uma experiência, da qual eu queria tirar o melhor proveito. Aprendi o que conseguia nesta fase, fiz o melhor que podia para sair dali de cabeça erguida e orgulho de mim, com a sensação de ter tido uma experiência válida na minha vida. Foi isso mesmo que aconteceu, até hoje ainda os visito para um café de vez em quando.

 

Passado um ano do início da minha busca, consegui um trabalho numa empresa conceituada. Comecei como estagiária e agora já estou há um ano como efetiva. Todos os dias quando acordo, olho para o meu momento presente, agradeço por tudo e comprometo-me comigo mesma a fazer o melhor para transformar o meu presente no melhor para mim.

Essa espécie de meditação diária dá-me forças e foco constante. Passei a ter espaço mental, a ter mais concentração e memória, a sentir-me mais produtiva e feliz.

 

Tudo isso dá trabalho mas é um investimento seguro em mim mesma!

 

Ainda estou solteira mas pela primeira vez na minha vida isso não me perturba ou me preocupa. Sinto-me merecedora de amor, e por isso  trato-me com amor todos os dias e todos à minha volta também. Saio, divirto-me e tenho relações afetivas importantes.

 

Olhar para a minha voz critica, conhece-la e eliminá-la, viver no presente, manter uma consciência constante do meu corpo, da minha emoção e do meu pensamento, comprometer-me comigo e responsabilizar-me pela minha vida, foram as lições que aprendi na minha terapia e foram as ferramentas para eliminar a minha ansiedade.

 

Partilho hoje com todos os ansiosos anónimos a minha experiência de sucesso, para que se quiserem, possam tirar daqui a força necessária para o vosso próprio percurso!

Boa sorte a todos,

Maria”

 

publicado às 15:18

Autora: Fabiana Andrade

 

Psicóloga Clínica

 

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Fabiana Andrade

Olá a todos!

Espero que tenham lido e gostado dos primeiros episódios dos Contos Terapêuticos.

Para quem não sabe o que são os Contos Terapêuticos, fica aqui a breve explicação deste projeto: são um apanhado de várias temáticas que surgem diariamente nos consultórios da Oficina de Psicologia. Para falar dessas temáticas, criei personagens que representam muitas pessoas com quem trabalhei ao longo dos anos. Dessa forma, espero que o leitor se possa identificar com um ou mais personagens, e assim, beneficiar das estratégias utilizadas por eles.

Boa leitura!

 

Anita estava casada com António há 5 anos. Há cerca de três anos, sofreu um aborto espontâneo, e essa experiência foi bastante perturbadora para ela.

 

Não estava ativamente a tentar engravidar na altura, e a notícia da gravidez apanhou-a de surpresa. Nunca tinha olhado para si mesma como uma mulher fértil, pois já tinha relações desprotegidas com o marido desde sempre, sem nunca ter engravidado.

 

Sentiu-se feliz e surpresa com a notícia, para de seguida, na primeira ecografia, perceber que a gravidez não era viável. Ficaram ambos devastados, mas concordaram que não se deixariam abater e que passariam a tentar ter um bebé de uma forma mais consciente e ativa.

Anita, feliz por saber que poderia engravidar, deu início a uma serie de exames, e os resultados, tanto dela, como os de António, estavam dentro do esperado. Fisicamente, não havia nenhum impedimento para engravidarem.

 

Apesar de ter 36 anos, o seu médico foi bastante encorajador e incentivou-os a começarem a tentar, divertindo-se ao longo do processo.

Começaram a contabilizar os dias férteis e iniciaram o processo a que ela, hoje, chama de calvário. Refere que, nessa altura estavam felizes, como no início de uma viagem que tem tudo para ser fabulosa.

 

Passaram meses, e um após outro, o período insistia em aparecer normalmente, não dando sinal nenhum de que suas preces seriam atendidas.

 

Foram ao médico, e foi-lhes dito que teriam aqui de tomar uma decisão. Visto não haver problema nenhum, poderiam continuar a tentar, ou dar início a um tratamento de fertilização. Nessa altura, acharam que ainda seria cedo para tomar essa “estrada”, que sabiam ser violenta, quer física, quer financeira, quer emocionalmente.

 

Tiraram umas férias e decidiram não pensar mais no assunto, na esperança de relaxarem e deixarem que as coisas acontecessem tranquila e naturalmente.

 

Um ano se passou e Anita teve um primeiro longo atraso do período. Ficou muito agitada e feliz com a possibilidade da tão desejada gravidez. No dia de fazer o seu teste, 5º dia de atraso, teve uma hemorragia e aí Anita cedeu.

 

Começou um processo de depressão onde a conheço, e cujas queixas já ouvi de muitas mulheres na mesma situação:

. Culpa – “o que está de errado comigo? O que fiz de errado? É o que bebo, o que como? É porque fumo? É porque trabalho demais? Sou velha demais?”

. Porque não eu? – “a cada mulher grávida que vejo, sinto-me mal, sinto-me inferior, pequena, menos mulher, todas as minhas amigas conseguem e eu não”

. Dizem-me que se eu parar de pensar nisso, talvez aconteça - “como faço para deixar de querer ou de pensar em algo que é o que mais quero?”

 

Anita entrou numa espiral de confusão, culpabilização, que a deixou imensamente triste, sentindo-se uma mulher diferente, incompleta. Por consequência, este estado afastou-a do marido,  deixou-a fisicamente doente, o que a fez culpar-se ainda mais, entrando num ciclo negativo.

Quando chegou ao consultório já punha em causa o desejo de ser mãe, o casamento e a si mesma enquanto mulher.

 

Fizemos um longo trabalho que incluiu:

EMDR (http://oficinadepsicologia.com/emdr) – abordámos a situação anterior do aborto espontâneo e percebemos o quanto ela tinha sido traumática, deixando medos e tensões que não são produtivos no processo.

Também utilizámos o EMDR para aceder a situações muito precoces na sua vida, onde ela tinha interiorizado crenças negativas erradas sobre si mesma, como por exemplo, “há algo de errado comigo”.

 

Durante as sessões percebemos o significado que “ser mãe” tinha para ela, e qual seria a forma de se ver como “não mãe”.

Reforçámos a sua auto estima, flexibilizámos a sua relação consigo mesma, trazendo assim, a estrutura e estabilidade que estavam a faltar para gerir uma situação tão intensa como a tentativa de engravidar.

 

António também pôde aproximar-se e puderam em conjunto partilhar como estava a ser a experiência de um e de outro nessa situação.

Anita pôde, a partir daqui, encontrar ferramentas para dar início ao processo de tratamento especializado de fertilidade.

Está nesse processo, e anda na rua de cabeça erguida, mesmo que passe por uma mulher grávida. Já não se sente inferior e pode ficar feliz pela experiência de outra pessoa. Foca positivamente no seu próprio processo, tomando todos os dias decisões construtivas para si mesma.

 

A questão da fertilidade afeta milhares de mulheres por todo o mundo, criando nelas um enorme sofrimento, sensação de desconexão e solidão. Afeta física e emocionalmente essas mulheres, piorando a sua qualidade de vida e a das suas relações, o que por sua vez, dificulta ainda mais o processo de engravidar.

 

Se está nessa situação, peça ajuda e saiba que tudo tem solução!

publicado às 13:41

Autora: Fabiana Andrade

 

Psicóloga Clínica

 

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Fabiana Andrade

Olá a todos!

 

Espero que tenham lido e gostado dos primeiros episódios dos Contos Terapêuticos.

Para quem não sabe o que são os Contos Terapêuticos, fica aqui a breve explicação desse projeto: são um apanhado de várias temáticas que surgem diariamente nos consultórios da Oficina de Psicologia. Para falar dessas temáticas, criei personagens que representam muitas pessoas com quem trabalhei ao longo dos anos. Dessa forma, espero que o leitor se possa identificar com um ou mais personagens, e assim, beneficiar das estratégias utilizadas por eles.

Boa leitura!

 

Maria – E quando o filho não é meu?

Maria tem 35 anos, e aos 30 tornou-se uma madrasta. Nunca pensou em estar casada com alguém que já tivesse filhos, e por isso mesmo, nunca deu muita importância ao assunto.

 

Já tinha tido amigos e amigas em situações semelhantes. Uns com boas experiências e outros nem por isso, e sempre disse, que se pudesse escolher, gostaria de estar com alguém que não tivesse filhos.

 

Conheceu Paulo e como que numa brincadeira do destino, apaixonou-se. E logo por um homem que tinha um filho de 7 anos!

Maria, que nunca tinha tido um convívio próximo com crianças, não sabia como agir.

 

Enquanto namorou Paulo manteve uma relação relativamente distante com João, seu filho. Faziam programas a três, mas para Maria, o convívio só com Paulo era de facto mais gratificante.

 

Sem perceber, começou a sentir alguma tensão, cada vez que João estava presente e essa tensão era traduzida em rigidez física, sentia-se extremamente cansada depois destes programas. Sentia-se ainda impaciente e irritada. Nunca tratou mal o João nem partilhou esse desconforto com Paulo.

 

Maria e Paulo decidiram casar após um ano de namoro, sem que o assunto “João” fosse abordado.

Após o casamento, o João passou para um regime partilhado entre Paulo e a mãe. Passou a estar 15 dias na casa do pai e de Maria, e 15 dias em casa da mãe.

 

Essa mudança mudou a vida de Maria e de Paulo, e é nesse momento que decide procurar ajuda.

 

Maria faz as seguintes observações:

- Sinto-me constantemente tensa e cansada nos 15 dias que temos o João

- Gosto muito do miúdo e sinto-me culpada por não querer a sua presença

- Sinto que minha casa é invadida e o meu espaço perturbado

- Não posso falar nada disso ao Paulo pois ele ficaria extremamente zangado e magoado

- Não sei qual deverá ser o meu papel na vida do João. Por vezes parece que devo intervir, noutras, a minha intervenção é mal recebida pelo Paulo que me diz “eu é que sou o pai dele”, deixando-me extremamente magoada

 

Nestas observações, estão resumidas muitas das queixas que ouço no consultório, por parte de padrastos e madrastas.

Parece existir uma sensação de viver num “limbo”. Um cliente meu dizia outro dia, “não sou pai nem mãe, mas também não sou um desconhecido, por vezes sinto-me necessário e noutras sou descartado”.

 

Também é frequente surgir a sensação de culpa, por estarmos a falar de algo “sagrado”, uma criança, o filho da pessoa que amo.

Essa culpa não permite uma comunicação fluída e honesta com o parceiro, gerando medos e tensões que se refletem de seguida na relação do casal e na relação com as próprias crianças.

 

Existem casos extremos em que os conflitos atingem proporções tão graves, que a relação chega a terminar por incapacidade dos dois adultos falarem livre e honestamente sobre o assunto, encontrando um terreno comum.

 

Outro tema referido por madrastas e padrastos, é a sensação de invasão de espaço e de “estou a levar com uma situação que não é minha, e não escolhi”.

É importante lembrar que a escolha de estar com alguém, não é uma escolha apenas daquilo que gostamos nesta pessoa. A relação é a aceitação de um todo, que é o outro. E essa escolha deve ser consciente e pacífica. Quanto mais eu for responsável pela minha escolha, mais me tranquilizo com os prós e contras da mesma.

 

De todas as histórias que fui recolhendo, inspirando-me na Maria, acabei por criar algumas dicas gerais para transformar madrastas em “boasdrastas” (sem esquecermos dos padrastos!).

 

Depois de utilizar todas essas dicas, Maria tem hoje uma relação extremamente gratificante com o João, sendo uma adulta de referência na vida do rapaz. Encontrou também em Paulo o parceiro ideal para essa experiência, ajudando-o a ser melhor pai, e ele, ajudando-a a ser uma “otimadrasta”, como João a chama.

 

Hoje já têm um filho em conjunto, e sentem-se bastante realizados com essa família moderna.

 

DICAS:

- defina com o/a parceiro/a quais são as expectativas e limites do papel de madrasta/padrasto

- conheça a criança com uma atitude aberta e curiosa. Está perante uma pessoa única que também está a viver uma situação potencialmente perturbadora. Faça perguntas e procure conhecer como é a sua experiência

- estabeleça um diálogo constante consigo mesmo, observando os seus pensamentos, o seu corpo e as suas emoções, dentro da sua experiência enquanto madrasta/padrasto

- livre-se de culpa e passe a aceitar as suas zonas de conforto e de desconforto. É preciso encontrar um local onde as suas necessidades, as da criança e as do seu/sua parceiro/a, sejam respeitadas

- fale abertamente com o seu companheiro sobre o assunto, utilizando linguagem clara, focando nos seus próprios sentimentos e numa solução comum

- converse abertamente e frequentemente com o/a parceiro/a numa lógica de partilha de informação sobre os diferentes papéis, o ser pai ou mãe e o ser madrasta ou padrasto. Cada um pode ter muito para dizer sobre o seu próprio papel, e essa conversa permite que cada um se possa colocar mais facilmente na pele do outro

 

A experiência de ser padrasto ou madrasta, somos nós que criamos. Ela pode ser a pior situação da sua vida, com potencial para acabar com a sua relação, como pode ser a experiência mais gratificante e enriquecedora de sempre.

 

Se precisar de nós, estamos aqui para o ajudar a viver a situação de forma plena e feliz!

 

 

publicado às 17:46

Laranja perfeita ou laranja podre?

por oficinadepsicologia, em 14.10.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Na época do secundário tive a sorte de ter um professor de filosofia que me inspirou para sempre. Na altura, muitos dos conceitos trazidos por ele não foram imediatamente absorvidos por mim, mas foram suficientemente marcantes para que eu continuasse a pensar sobre eles anos mais tarde, até que seus significados ficassem claros.


Uma vez chegou à aula e colocou sobre a mesa duas laranjas. Uma madura, linda, redonda, e a outra cheia de bolor, com as naturais irregularidades de uma laranja que passou o prazo de ser consumida. Olhou para nós e perguntou: Qual dessas laranjas é perfeita para vocês?
Olhamos e respondemos: a madura!


E ele, com seu olhar sempre inquieto e desafiador, disse, “as duas!”.
Disse, “se pensarmos na essência das coisas, antes de as julgarmos, vamos perceber que muitas das nossas ideias de perfeição são desconstruídas. A laranja madura é perfeita enquanto laranja madura, que está nessa fase da sua existência, pronta para ser consumida. A segunda, é perfeita também, se pensarmos na essência do que é ser uma laranja podre, ou seja, uma laranja que está nessa fase da sua existência, e que não foi consumida antes”. Tudo depende daquilo que esperarmos desse mesmo tudo.


Todos os dias recebo clientes com ideias construídas de perfeição, por exemplo, a Marina que tem 25 anos e está ansiosa pois não se sente realizada no trabalho onde está, o Carlos, que está ansioso pois está muito insatisfeito com a sua relação, esperava que após 6 meses de namoro as coisas estivessem mais estáveis, ou a Rebeca que terminou seu casamento de 17 anos e esperava que passados 6 meses do divórcio ela estivesse mais feliz.


Estes são bons exemplos de pessoas que não são capazes de olhar para a situação ou fase em que estão e antes de fazerem um julgamento, questionarem, qual é a essência dessa fase?


No caso da Marina, que está no 1º emprego da sua vida, que tem 25 anos, a essência dessa fase profissional não é a estabilidade e sim a construção. Ela está na “laranja podre”. Olhando para a fase como aquilo que ela é realmente, uma fase de investimento, pouco retorno, aprendizagem, etc, podemos aceitá-la como sendo uma “laranja podre” e assim, tirarmos o proveito dessa situação em vez de ficarmos ansiosos a desejar que ela seja algo que não é, uma “laranja madura”.


O Carlos, gostaria que a sua relação fosse mais estável, sente que está em constante ajuste com a namorada e descreve a sua relação como sendo “de altos e baixos”. Gosta da namorada e não quer desistir, ao mesmo tempo que deseja que essa fase seja diferente. Ao analisarmos a essência de 6 meses de namoro com a sua namorada, observamos que é uma fase onde realmente os ajustes são necessários, onde se estão a conhecer, a perceber seus projetos, seus limites. Isso cria por vezes alguma instabilidade. Ao deixar de desejar que a sua relação seja nesse momento aquilo que não é, Carlos foi capaz de retirar da instabilidade de relação, a informação necessária para a construir mais forte e bem estruturada.


A Rebeca chega ao consultório muito triste e com algumas crises de pânico. Afirma que não entende o que se passa com ela, visto que “já me separei há 6 meses!”. Pergunto se ela considera que 6 meses é muito tempo e ela me diz que sim! Quando analisamos a essência de 6 meses de separação, após um casamento de 17 anos, Rebeca percebeu que essa fase é caracterizada por períodos de profunda tristeza, outros de leveza e alívio, por vários tipos de pensamentos e por uma sensação de perda. Também se sente instável e com altos e baixos emocionais. Essa é a sua “laranja podre”. Ao parar de tentar que essa fase seja o que não é, Rebeca sente-se mais leve e menos ansiosa, sem ataques de pânico.
Temos a tendência a julgarmos e a querermos terminar e afastar emoções que doem, pensamentos que são duros, e quando o fazemos, estamos a desrespeitar a essência de determinadas fases caracterizadas por essas emoções e pensamentos. Eles podem ser duros ou dolorosos, mas na maioria das vezes não são maus e trazem informações valiosas para nós.


Aceitar a essência das situações, das emoções, faz-nos mais livres, menos ansiosos e por consequência, mais capazes de tirar a informação e o proveito dessas mesmas situações e emoções.


Comece então por fazer uma lista de situações que o angustiam e depois questione-se sobre a sua essência. Perceba se grande parte da angústia não virá exatamente do facto de não estar a aceitar que a situação seja o que é.
Muitos clientes perguntam, mas se eu aceitar, isso não me fará passivo perante a situação?
Ao contrário. A aceitação é feita no presente, liberta-nos da ansiedade e dá-nos maior consciência e clareza, por consequência, maior espaço e liberdade para deixar a situação fluir e para resolvê-la com mais sucesso.

publicado às 17:32

Penso, logo existo?

por oficinadepsicologia, em 30.09.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Alguma vez viu documentários sobre animais? Será que já viu nestes documentários situações como as seguintes?

- um animal chega perto de uma planta, sente que a planta é uma ameaça, “algo lhe diz” para não comer a planta. No entanto ele hesita e come a planta mesmo assim.

- um animal mesmo sem ver ou ouvir nada, “pressente” a presença de um predador. No entanto, ele hesita, e como não vê nada decide ficar ali mesmo assim.

- um animal “pressente” perigo, mas para confiar no seu instinto precisa confirmar que o perigo está mesmo lá, e enquanto não tem essa confirmação, não dá ouvidos ao seu instinto

- “algo diz” ao animal que ele deve migrar para Sul em determinada altura do ano. No entanto, como ele nunca lá foi e não sabe o que o espera, decide não ir.

 

Já viu? Não!

 

O que vemos nestes documentários, ou mesmo no dia a dia, para quem contacta diariamente com animais, não é nada disso!

Vemos que o animal, INSTINTIVAMENTE percebeu que a planta era venenosa e não a comeu. Não precisou testar, não duvidou, não hesitou.

Vemos o animal que pressente o predador e foge, sem hesitar, sem duvidar.

Vemos o animal, que nunca migrou para Sul, pois este é o seu 1º ano de vida, que sem hesitar viaja em busca de terras mais quentes.

Essas expressões, “pressente”, “algo me diz”, referem-se ao nosso instinto, à nossa intuição.

No mundo animal temos milhares de exemplos de que o instinto leva à VIDA! O instinto guia, protege.

 

E o nosso mundo é animal? Sim!

 

E não só. É animal, instintivo, e também é racional. Ou seja, não só temos uma ferramenta vital, como temos duas!

E o que fazemos com elas? Usamos uma (a razão, ou racionalidade, ou pensamento), para matar a outra! Achamos que uma é melhor do que a outra, valorizamos uma em detrimento da outra em vez de as usar como ferramentas complementares.

 

Recebo diariamente pessoas no consultório, cujos problemas vêm de uma origem: a redução da vida ao plano racional e consequente perda de uma bússola/guia fundamental: o instinto/corpo – emoção.

Assim, surgem pessoas com problemas de indecisão, estagnação, insegurança, ansiedade, falta de auto estima e auto confiança.

Pessoas que se desligaram da dimensão do corpo, dos instintos e emoções, e que tentam viver apenas com a dimensão racional. Fazem planos, criam expectativas, tentam dar ordem à tudo em prol de uma pseudo segurança.

Quando é mencionado que a segurança não está aí, e si m nelas mesmas e na utilização mais abrangente de todas as suas ferramentas, a primeira reação é de medo e desconfiança.

 

Aquelas que decidem arriscar e explorar a sua dimensão afetiva e instintiva, são aquelas que encontram uma mudança valiosa: a passagem de um modo de estar reduzido a outro modo pleno e completo. E é neste modo de estar que a vida acontece, que tudo se desbloqueia.

Ver estes saltos de fé acontecerem à minha frente me emociona.

Ver a cor a aparecer, a voz a mudar, os olhos a brilharem, os sorrisos nos rostos e uma energia renovada, é o melhor presente da minha profissão.

 

Assim, fica aqui uma recomendação para a vida: voltem a falar com os vossos animais interiores, eles são uma parte valiosa da vossa existência. Desçam das  cabeças e habitem todo o vosso corpo.

E se sentirem que precisam de ajuda neste processo, estamos cá para isso!

publicado às 08:36

Contos terapêuticos: Ep 2: A História do Afonso

por oficinadepsicologia, em 14.07.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Olá a todos!

Espero que tenham lido e gostado do primeiro episódio dos Contos Terapêuticos.

Para quem não leu o primeiro artigo, fica aqui a breve explicação desse projeto: os Contos Terapêuticos são um apanhado de várias temáticas que surgem diariamente nos consultórios da Oficina de Psicologia. Para falar dessas temáticas, criei personagens que representam muitas pessoas com quem trabalhei ao longo dos anos. Dessa forma, espero que o leitor se possa identificar com um ou mais personagens, e assim, beneficiar das estratégias utilizadas por eles.

Boa leitura!

 

Afonso tem 35 anos e chega ao consultório com queixas de ataques de pânico e fobias a lugares fechados.

É um homem inteligente, bem-sucedido profissionalmente, solteiro. Passa-me uma energia de tristeza, apesar de não existirem manifestações óbvias dessa emoção.

 

Ao longo das sessões começo a observar que Afonso tem crises de pânico em momentos específicos, mas vive também constantemente num estado de medo, tensão e antecipação.

Exemplos de situações descritas nas sessões:

- cada vez que tenho uma situação de maior pressão no trabalho, a minha cabeça começa a fazer a antecipação de vários cenários possíveis, fico muito ansioso e não consigo decidir qual a melhor solução

- sinto-me constantemente em piloto automático, já não sei o que me dá prazer; sinto-me preso, comprei uma casa e um carro mas não me sinto feliz, trabalho e ganho bem mas não gosto do que faço

 

Comecemos então com o primeiro exemplo. Afonso descreve que em situações onde se sente pressionado, o seu pensamento começa a divagar em direcção ao futuro, criando cenários possíveis.

 

Esse funcionamento é descrito muitas vezes por clientes que sofrem de ansiedade. Como antecipam vários cenários que não estão a acontecer, ficam muito indecisos e desligados da realidade, do que está de facto a acontecer.

 

Com o Afonso, trabalhamos com Meditação Mindfulness, que é exatamente a observação do que está a acontecer na realidade, quer ao nível do seu pensamento, como na sua emoção e no seu corpo.

 

Assim, sempre que se sentia numa situação de pressão fazia o seguinte exercício: parar, respirar algumas vezes profundamente e em vez de criar cenários possíveis, perguntar a si mesmo, “o que está a acontecer agora?”. Observava o corpo, o pensamento e a emoção e desses três canais, retirava a informação suficiente para tomar uma decisão.

 

Fazendo muitas vezes esse exercício, Afonso percebeu que a antecipação de cenários tinha na base uma grande insegurança nas suas próprias capacidades. Queria prever todas as possíveis situações para se sentir mais seguro. Quando ao ouvir as suas próprias pistas, no presente, se deu conta de que tinha nele a capacidade de decidir, as antecipações ficaram cada vez menos presentes.

 

Quanto ao segundo exemplo, o que eu sentia nas sessões com ele, era um desligamento, como se Afonso não tivesse acesso às suas emoções e por isso, elas não estavam a ser ferramentas necessárias para que ele pudesse fazer mudanças em sua vida.

Depois de perceber que era isso que estava a acontecer consigo, começamos a trabalhar numa lógica de transformar esse modo de ser.

Ao fazermos exercícios de visualização, relaxamento e meditação, fomos capazes de aceder às emoções de Afonso.

A primeira que apareceu foi a zanga. Começamos a falar com a parte de si que estava zangada, Afonso fechou os olhos, respirou e começou a imaginar um diálogo entre ele e a sua parte zangada:

Eu – Afonso, se essa zanga que surgiu pudesse falar, o que diria?

Afonso – diria que quer sair desse sítio, que está farta, que não gosta dessa vida!

De seguida, ao ter consciência da mensagem que estava a passar a si mesmo, Afonso sentiu tristeza.

Eu – e essa tristeza, o que diria?

Afonso – diria que não aguenta mais, parece que eu estou a servir à minha vida e não a minha vida a servir à mim. Não sei como sair disso, sinto-me preso.

Eu – Afonso, se pudesse dizer algo à essa parte de si que está triste, o que diria?

Afonso – vais conseguir, calma, estou aqui e vou te ajudar. Tu és forte..

Eu – além de força, que outros recursos tem?

Afonso – inteligência, sensibilidade, motivação..

 

Depois desse diálogo, Afonso não só sentiu uma série de emoções que estavam bloqueadas e que são uma mais-valia na orientação que pode dar à sua vida, mas também compreendeu que estava completamente “surdo” para si mesmo.

 

Que não “ouvia” quais são as capacidades que tem para gerir a sua vida e isso, o deixava constantemente inseguro. Como estava sempre inseguro, tentava ir buscar fora de si mesmo garantias de que tudo iria correr bem. Como recursos externos nunca nos dão garantias de nada, ele vivia num constante estado de insegurança e ansiedade, passando a estar preso num comportamento de “servir à vida”.

Ao conectar-se consigo mesmo, com as suas emoções e ferramentas, ele passou a gerir a sua vida de acordo com a sua felicidade, vivendo no presente e deixando que suas capacidades surgissem à cada novo desafio ou obstáculo.

 

Deixou de se sentir preso ao mundo que ele mesmo criava e que era apenas ilusoriamente seguro. Abdicou desse controle irreal e passou a ter o único controlo real, aquele que é possível a cada momento, que é controlo que temos sobre nós mesmos, sobre o que queremos ser e como queremos viver. O incontrolável já está resolvido à partida!

 

Com o trabalho de transformar um funcionamento ansioso, num outro que vive no presente, e com a conexão com as próprias emoções, Afonso conseguiu criar os recursos necessários para gerir a sua vida. Decidiu mudar e sair do trabalho que não lhe preenchia, para abrir seu próprio negócio. Protegeu-se de medos e pensamentos negativos que boicotavam seus sonhos e focou-se nas suas capacidades e recursos. Hoje é um homem mais feliz!

publicado às 10:03

Contos terapêuticos: Ep1 - História da Eduarda

por oficinadepsicologia, em 10.07.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Ao pensar no que escrever para o meu próximo artigo, percebi que estava a ficar aborrecida com o meu formato tradicional de escrita.

Surgiu-me então a ideia de iniciar o que chamei de Contos Terapêuticos.

 

Observei muitas e muitas histórias de clientes, vi que muitas delas apresentam temáticas semelhantes. Essa semelhança estende-se também por histórias que observo mesmo fora do consultório, no meu próprio dia a dia e das pessoas que me rodeiam.

 

Assim, para cada temática decidi criar um personagem. Nesse personagem, represento características de várias pessoas e num breve conto exponho uma situação em que o personagem utiliza as suas características e o seu modo de estar para resolver situações do dia a dia. Além disso, conto ainda como, com a psicoterapia, ele foi capaz de superar seus obstáculos.

Com esse formato, espero que cada um dos leitores possa identificar-se com um ou mais personagens, e assim, encontrar inspiração nas estratégias utilizadas por eles.

 

Abordaremos temas como a solidão e dificuldades de relacionamento, estado de medo/ansiedade, comunicação com os filhos, comunicação com os pais, sexualidade, traumas, depressão, obesidade entre outros.

 

Como o projeto é contínuo, sempre que as histórias que ouço me inspirarem e remeterem a uma temática específica, transponho para o papel e partilho com todos os leitores.

 

Hoje decidi começar pela temática da Comunicação entre Casais!

Assim, surge-nos a Eduarda.

 

Eduarda é casada, tem dois filhos, e pede ajuda pois está a ter problemas no seu casamento com Carlos.

 

 

publicado às 12:24

Desconstruindo a rejeição

por oficinadepsicologia, em 27.04.12

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Fabiana Andrade

Quem é que nunca se sentiu rejeitado? Abandonado? Aposto que a maioria já experienciou a rejeição ou ainda vai experienciar!

Hoje numa sessão, a minha cliente referia como se sentia rejeitada pelo namorado que saiu da relação que tinha com ela.

A medida que ela falava, parecia que ficava cada vez mais pequena e que ele, na minha fantasia, ficava cada vez maior. Com o poder de a “deixar”.

 

Comecei a pensar sobre a noção de rejeição, algo que está presente em nós desde sempre. Percebi que cada vez que alguém se sente abandonado, excluído, posto de parte por outra ou outras pessoas, automaticamente surge no pensamento a ideia:”fui rejeitado”, e a sensação de rejeição que traz tristeza, falta de energia, falta de apetite entre outras manifestações desconfortáveis.

 

Mergulhando nas incontáveis histórias de rejeição que já ouvi, encontro vários indícios prévios de que a relação não estava bem, que a sintonia já não existia e entendemos que na verdade, a tal “rejeição” não passou apenas de um culminar de várias situações. Muitas vezes pergunto à pessoa “rejeitada” se ela mesma gostaria de continuar na relação e muitas vezes a resposta que ouço é algo como: “não sei”, “já tinha pensado em terminar”, “não sei se ainda gosto dele/a”. Ou seja, estamos na verdade perante uma situação de “desencontro” emocional ENTRE duas pessoas onde uma delas toma uma decisão de sair. E não numa situação onde um forte, que já não ama, decide abandonar o outro, frágil, que ainda ama muito.

 

Então surgem as questões: O que leva um a sair e não o outro? O que leva então, a pessoa que não decide sair, a sentir-se rejeitada? Amo alguém que não me ama?

Perante essas dúvidas, sentei-me diante das minhas notas e fui pesquisar o que acontecia nas histórias dessas pessoas. Encontrei algumas respostas que me permitem generalizar algumas explicações.

 

Olhando para a pessoa que sai da relação, percebi que a decisão muitas vezes foi precipitada e favorecida por uma série de factores que se encontravam presentes no momento:

Ex: ganhavam mais; estavam mais realizados no trabalho; tinham uma rede mais sólida de suporte; tinham conhecido alguém por quem se interessavam; tinham casa própria ou a casa alugada estava em nome dele/a.

 

Quero dizer com isso que, na maioria das vezes, aquilo que facilita a que uma determinada pessoa tome a decisão de sair de uma relação, são um determinado conjunto de factores que se encontram presentes no momento que favorecem uma sensação de maior segurança.

Por exemplo, num casal que se separa, como é o caso da minha cliente, a relação já sofria com a falta de comunicação, de carinho, de sintonia. Mas, num determinado momento, o namorado, que se encontrava numa condição profissional favorável, viu-se numa posição propícia a tomada de decisão.

 

Muitas vezes essa tomada de decisão confunde-se (na mente do “rejeitado”) com ausência de afecto – “ele/ela, não gosta mais de mim.

Chegamos então à segunda questão, o que leva a pessoa que não decide a sentir-se rejeitada? Para responder a essa questão fui buscar na história dessas pessoas, a origem do sentimento de rejeição, tentando dessa forma, entender como começou a experiência, quais eram as suas características e os seus gatilhos.

 

Encontrei nos diferentes relatos muitas respostas comuns, tais como:

- quando me sinto rejeitado sinto-me fraco/pequeno/impotente/sem força

- a primeira vez que me senti rejeitado foi na infância, pelos: pais, irmãos, amigos

- quando me sinto rejeitado sinto que o amor me foi retirado/que não mereço ser amado

- ele/ela é melhor do que eu/não vou encontrar ninguém tão bom

 

Olhando para essas respostas, o que vemos? Em primeiro lugar vemos uma confusão entre a decisão do outro de sair da relação, com a noção de amor retirado ou não merecido, esta liga-se com a crença errada de que o outro é melhor do que eu.

Estas noções estão na base da sensação de rejeição e colocam a pessoa num lugar desnivelado da relação com o outro, isso não permite o desenvolvimento saudável da relação.

 

Se a pessoa à partida não está com a sua auto estima num “sítio” saudável, se tem crenças negativas erradas sobre si mesmo, isso não permite que ela esteja numa relação de uma forma feliz e saudável. Essa pessoa sente que o outro está lá a cumprir uma função, sente que precisa do outro. Assim, tem de se esforçar para que o outro não se vá embora. A relação perde a leveza, a espontaneidade e a incondicionalidade.

Observamos que as primeiras sensações de rejeição começam na infância onde de facto existe a sensação do outro ser mais forte/maior, e por isso pode nos deixar. No entanto, fico com a sensação de que trazemos essa mesma sensação para a nossa vida adulta, onde ela já não deveria existir, dando lugar a uma simetria onde não há um forte e um frágil, e sim dois iguais em processe e em movimento constante.

Ao responder a terceira questão, “amo quem não me ama?”, provavelmente chegaremos à raiz do problema! Será que amar alguém que não me ama é possível?

 

As pessoas saudáveis amam-se a si próprias e aos outros incondicionalmente, aceitam-se como são, verificando suas forças e suas fragilidades, adaptando-as ao contexto, de uma forma construtiva. Essas pessoas, perante uma decisão do outro de sair da relação, observam que a decisão teve a ver com o processo do outro, não pondo em causa a si próprias. Não confundem o afecto, que é intocável, com o processo de cada um. Ao mesmo tempo, amam o outro e querem o seu bem, respeitando assim o seu próprio processo.

 

Assim, seria impossível ser saudável e continuar a amar alguém e a querer estar com alguém, que toma uma decisão no sentido contrário.

Ao desembrulharmos o afecto da decisão do outro, entendemos que quando alguém sai da minha vida, isso não diz nada sobre mim e sim sobre o percurso e o timing do outro. A rejeição deixa de ser um conceito que existe no nosso vocabulário e passamos a falar em desencontro.

Também interiorizamos o respeito pelo processo do outro e pelo nosso próprio processo. Se eu me amo, só fará sentido estar com alguém que também quer estar comigo, qualquer outra coisa será inaceitável.

 

Trabalhar no sentido de uma auto-estima forte e saudável, vai ajudar-nos também, a interpretar de uma forma construtiva os desencontros naturais que ocorrem sempre na vida de cada um, em vez de usá-los para nos diminuir ou maltratar.

publicado às 10:05

Estado de amor ou estado de medo?

por oficinadepsicologia, em 23.03.12
Fabiana Andrade

Autora: Fabiana Andrade

Psicóloga Clínica

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Cada vez mais dou por mim a identificar nas pessoas que me procuram, ou mesmo em amigos próximos, dois tipos de Estado. Chamo-lhe estado pois estamos a falar de um nível estrutural de ser e de viver.

 

O Estado de Amor ou o Estado de Medo.

 

Veja se isso lhe parece familiar?

Ana está infeliz no seu trabalho, todos os dias acorda sem vontade de ir trabalhar. Está num sítio com o qual não se identifica e o trabalho em si não a realiza. No entanto, não questiona sair. Seus pensamentos são: “O país está em crise; e se eu saio e não consigo trabalhar em outra coisa; eu devia era estar agradecida de ter esse trabalho”. E assim por diante, numa lista infindável de boicotes à sua felicidade e à sua capacidade.

 

Quando falamos sobre o seu sonho: trabalhar ao ar livre, viver no campo. Ela o vê como inatingível.

Pedro está infeliz na sua relação. Todos os dias se sente preso, sem energia, triste. No entanto, não questiona sair pois têm uma casa juntos, o país está em crise e essa não é a melhor altura para vender a casa. “E se eu fico sozinho?”, “E se nunca mais conheço ninguém interessante?”.

Quando falamos no seu sonho: viver fora de Lisboa, sair dessa relação, estar feliz. Ele também o vê como inatingível.

 

Essas histórias parecem familiares? A mim sim! Todos os dias trabalho com pessoas que estão infelizes no seu contexto actual mas ao mesmo tempo não conseguem sair dele pois se sentem COM MEDO. Com medo de não serem capazes de fazer transformações felizes, com medo de não atingirem resultados, com medo e com medo disso e daquilo. Esse estado de medo faz com que elas não tomem as rédeas da sua vida e fiquem presas em situações ou pessoas que trazem uma falsa sensação de segurança.

 

Aquilo que está na raiz desse estado de medo é uma desconexão precoce das suas capacidades. De alguma forma essas pessoas perderam a fé em si mesmas, nos seus recursos e nas suas capacidades, e assim, entregam a sua segurança à algo externo. O problema é que essas fontes externas não trazem segurança e sim sensação de prisão, estagnação.

 

Em oposição a este estado de medo, temos o Estado de Amor, que é exactamente o oposto. As pessoas nesse estado trazem em si mesmas (e sabem disso), os recursos, as ferramentas e as capacidades para gerir e resolver tudo em sua vida. Essa real segurança permite liberdade, permite que elas possam fazer mudanças, arriscar em direcção à sua felicidade sem sentir  medo paralisante.

 

Todos nós podemos deixar de estar e de viver em estado de medo e passar a viver em estado de amor se assim o quisermos. A psicoterapia é uma ferramenta nesse sentido. Permite à pessoa conhecer-se melhor, aceitar-se tal como é, entrando em contacto com as suas capacidades.

Permite também fazermos uma distinção do que são as nossas capacidades reais e do que são crenças negativas que interiorizamos sobre nós mesmos, ao longo dos anos e que servem de boicote à nossa felicidade.

 

É um trabalho cujo objectivo final é esse mesmo, voltar à conectar o indivíduo com o seu estado de amor, por si mesmo, pelos outros e pelo mundo, acabando com os “e se” e com “porque eu não faço, ou não sou”. Passamos então a funcionar num estado de permanente observação, consciência, concentração, foco, acesso à todas as nossas capacidades e dimensões de nós mesmos, com total aceitação.

 

É por isso que me sinto todos os dias feliz por fazer o que faço. Assim, tenho a oportunidade de observar e participar dessa fantástica viagem do indivíduo ao encontro de si mesmo.

publicado às 10:47


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