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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Francisco de Soure
Psicólogo Clínico
Se formos à rua de papel e caneta na mão e perguntarmos a cada transeunte com o qual nos cruzemos qual a emoção que mais o perturba ou lhe é mais desagradável, quase seguramente a culpa figurará entre as respostas mais frequentes. A combinação de vergonha, zanga connosco próprios, medo de sermos castigados e desilusão que sentimos é um cocktail poderosíssimo que, invariavelmente, deixa um amargo sabor na boca.
Na verdade, sentir culpa é como sentir uma onda de reprovação de nós próprios, que vai muito além do reconhecimento de que somos responsáveis por um desfecho desagradável. Quando nos responsabilizamos, aceitamos que o nosso comportamento precisa de ser melhorado, e reorientamo-nos de forma a ir de encontro a essa melhoria.
A culpa assume a forma de um conjunto de afirmações gerais a respeito de nós mesmos – “és sempre a mesma coisa”; “vai ser tudo horrível, e a culpa é toda tua”; “és inaceitável” – que acaba por ser muito pouco específico e orientado para comportamentos concretos, resultando apenas num mal estar que não convida a crescimento. Curiosamente, a maioria de nós diria, intuitivamente, que a culpa serve precisamente para prevenir mau comportamento futuro.
Na verdade, a experiência vai demonstrando algo diferente. A culpa está para a aprendizagem como o pânico está para uma resposta imediata de fuga: são respostas tão exageradas que perdem por inteiro a sua eficácia.
Se é verdade que o medo despoleta um conjunto de reacções no nosso corpo que podem assegurar as condições motoras para escapar a uma situação de risco, o pânico tende a paralisar ou gerar descontrolo. Da mesma forma, se a responsabilização conduz a uma atitude proactiva de mudança, a culpa tende a gerar tanta aversão à ideia de voltar a sentir o que sentimos que procuramos a todo o custo o confronto com a situação.
Assim, quando voltarmos a deparar-nos com essa mesma situação, as respostas que teremos serão as que já tínhamos… e resultaram em consequências que nos deixaram a sentir culpados! Pesado, não é?
Já no berço da Psicologia como a conhecemos, Sigmund Freud apontava o excesso de culpabilidade como um dos principais contribuintes para o aparecimento de sintomas depressivos. E, na maioria das pessoas deprimidas, a culpa parece ser um dos mais evidentes factores depressogéneos. De tal forma que o DSM-IV-TR, um dos principais manuais de diagnóstico psiquiátrico, elenca a percepção excessiva de culpabilidade como um dos sinais a considerar ao fazer o diagnóstico.
Se, no plano teórico e da observação clínica, associar a presença de culpa ao aparecimento de depressão fazia sentido, um estudo recente da Universidade de Manchester veio dar tremenda força a estas ideias.
A equipa de investigação de Roland Zahn conseguiu, através de técnicas avançadas de ressonância magnética, demonstrar diferenças significativas entre o padrão de activação cerebral de pessoas deprimidas e não deprimidas. Quando era pedido aos participantes do estudo que pensassem em comportamentos socialmente reprováveis, as diferenças eram notórias. Os participantes com um historial de depressão mostravam uma activação incongruente da região temporal anterior do cérebro – onde está armazenada a informação sobre comportamento socialmente aceitável – e da região subgenual do cérebro – a região caracteristicamente associada a sentimentos de culpa.
Esta alteração contribuirá para que se sintam culpadas de forma excessiva, contribuindo drasticamente para os sintomas.
Deixamos-lhe a questão: dá por si regularmente a sentir-se culpado/a? É frequente ouvir as pessoas dizer-lhe que é duro demais consigo?
Autor: Francisco de Soure
Psicólogo Clínico
Num artigo anterior, tive a oportunidade de ilustrar a utilidade da zanga enquanto emoção promotora da qualidade de vida, e protectora dos nossos limites individuais. Vimos a forma como a sua repressão e expressão excessiva (e, por vezes, como uma implica a outra) podem trazer-nos dissabores, assim como os claros benefícios que podem advir da sua expressão adequada.
Neste artigo, vamos poder olhar para as consequências a longo prazo da expressão desadequada de zanga para a nossa saúde mental. Tomemos como ponto de partida uma consideração fundamental que foi referida no anterior artigo: a zanga é a emoção que nos permite estabelecer limites, desempenhando um papel fundamental na regulação das nossas relações com os outros.
Para todos nós, existe um conjunto de necessidades psicológicas básicas que necessitam ser supridas de forma a assegurar a nossa saúde mental. A segurança, afecto, suporte emocional, autonomia e lazer são apenas algumas destas necessidades. Quando estas necessidades não estão satisfeitas, surgem dificuldades, muitas delas configurando quadros de perturbação psicológica. Por exemplo, a maioria das pessoas que sofrem de ansiedade não têm a sua necessidade de segurança satisfeita. Vivem com uma sensação profunda (e, muitas vezes, não reconhecida) de vulnerabilidade. Seja uma vulnerabilidade física (aprendida, por exemplo, ao longo de anos de agressões físicas às mãos de figuras de cuidado, ou de sofrimento físico causado pela negligência das mesmas), seja uma vulnerabilidade emocional ou social (aprendidas com experiências de humilhação ou abuso emocional), esta resulta uma constante quase subentendida na sua experiência de estar vivos. Esta vulnerabilidade sentida origina uma expectativa permanente de risco pessoal, que resulta num estado ansioso. Com expressões tão diversas, entenda-se, como a perturbação de pânico – na qual expressamos um medo desadequado da possibilidade de sofrer repentinamente perigo de vida ou de descontrolo total – ou a ansiedade social – a expectativa permanente de sermos avaliados muito negativamente pelos outros, com consequências catastróficas. É através da expressão das emoções que regulamos as nossas relações com os outros de forma a garantir a satisfação destas necessidades – por exemplo, num contexto adequado, a expressão adequada de medo por parte de uma criança conduz a que os seus pais procurem protegê-la. O exercício continuado destas emoções permite-nos criar uma expectativa de que, caso expressemos as nossas emoções de uma forma adequada, as nossas necessidades serão satisfeitas como resposta. Quando isto não acontece, o quadro torna-se muito diferente.
No caso particular da zanga, temos duas situações. Quem aprende desde cedo que só uma expressão constantemente intensa e agressiva da zanga consegue estabelecer os limites, tende a generalizar esta expressão agressiva em todas as situações nas quais sente que os seus limites estão a ser infringidos. Todos conhecemos alguém assim. Aquela pessoa que reage agressivamente de forma inesperada sempre que lhe é feito um pedido, ou reage constantemente com agressividade a brincadeiras que pretendemos ser inofensivas. Ou aquela pessoa que dá sempre feedback aos outros com “sete pedras na mão”. O contrário também conhecemos, seguramente. A pessoa que parece aceder a todos os pedidos e exigências sem argumentação. A pessoa que fica sem reacção quando confrontada, e parece acatar docilmente afrontas e insultos. Muitas vezes, a pessoa que parece explodir quando menos esperamos…
Imaginemos, por um momento, o efeito destas situações a longo prazo para ambos os estilos de expressão de zanga. A primeira, seguramente, sentir-se-á frequentemente distante dos outros. A sua zanga será reciprocada com zanga, pelo que será provável que sinta também que os outros levam sempre a mal quando estabelece limites. Sentirá que os seus limites não são respeitados, já que quando os estabelece estas tentativas são sempre correspondidas com mais agressão. Como se nunca fosse verdadeiramente aceite e respeitada. Já a segunda estará regularmente a privar-se de necessidades como tempo pessoal, o livre uso de recursos pessoais como a energia, o dinheiro, ou o seu espaço físico. A vida pode tornar-se muito pouco gratificante para quem parece estar sempre disposto a abdicar. Com o tempo, a repetição destas formas de abuso poderá resultar numa crença como: “eu tenho o que mereço. Se tenho muito pouco, deve ser porque mereço muito pouco”, ou “se os outros gostam de mim, tratar-me-ão bem. Se me tratam mal, deve ser porque não há grandes motivos para gostar”. Qualquer um destes cenários pinta um quadro de crónica insatisfação. Necessidades como a aceitação social, autonomia pessoal, privacidade, ou lazer poderão ser das mais afectadas.
Qualquer um de nós conhecerá seguramente alguém que já viveu uma depressão. Quem escutou o seu sofrimento, reconhecerá seguramente muitas destas privações como parte das queixas que quem está deprimido elenca: sentir que não é apreciado pelos outros; sentir que nada vale a pena porque os outros nunca o permitirão/respeitarão; sentir que o seu valor pessoal é diminuto; sentir-se encurralado por circunstâncias nas quais os outros parecem nunca estar disponíveis para ir de encontro às suas necessidades. Não pretendo, de modo algum, advogar que a expressão desadequada de zanga é a causadora exclusiva de aparecimento de sintomas de depressão. Tal alegação teria tanto de redutora como de absurda. No entanto, parece-me inegável que a dificuldade na expressão da zanga se pode constituir como um potentíssimo ingrediente no seu desenvolvimento.
Ao longo dos anos, a prática clínica tem-me posto em contacto com dezenas de pessoas com sintomatologia depressiva. Estaria a mentir se as dificuldades no estabelecimento de limites não fossem algo relatado pela vastíssima maioria destas pessoas. Num recente grupo de Depressão, como é regular realizar na Oficina de Psicologia, 6 dos 7 membros do grupo tinham nesta dificuldade o principal motivos das situações que precipitaram a sua situação. Da esposa que não conseguia que o marido regulasse as invasões de privacidade dos seus sogros, à mulher de meia-idade que não conseguia demonstrar aos seus filhos e amigos que determinados pedidos excediam a sua capacidade de lhes dar satisfação sem se sacrificar, o resultado era muito semelhante. Todas estas pessoas sentiam as transgressões que sofriam como o resultado da falta de valor pessoal, ou de afecto daqueles de quem gostavam
Deixo-lhe um convite: reflicta sobre a forma como estabelece limites. Sobre a forma como se posiciona face às suas necessidades e dos outros. O que quer partilhar connosco?
Autor: Francisco de Soure
Psicólogo Clínico
A evolução abençoou-nos, Homem, com uma capacidade fantástica. Algo que assegurou a continuidade da nossa espécie, que nos permitiu sobreviver. Não falo do polegar oponível, da linguagem, nem tão pouco da capacidade de simbolizar pensamentos complexos. Falo de algo muitíssimo mais elementar, que partilhamos com tantos outros mamíferos: a capacidade de sentir e expressar emoções. Cada uma delas tem uma função específica, que permite assegurar a satisfação das nossas necessidades e assegurar o funcionamento dos grupos que nos permitiram sobreviver. A alegria permite-nos fortalecer laços, o afecto assegura que somos cuidados e permanecemos unidos. Por razões que não discutirei aqui, no entanto, parece que algumas destas emoções passaram a ser consideradas por nós como negativas. Talvez por não serem tão agradáveis de experienciar, emoções como o medo, a tristeza ou a zanga foram rotuladas desta forma e são algo que tendemos a evitar. Na verdade, serão tão ou mais importantes que as que chamamos positivas.
Para efeitos deste texto, e como resposta a vários pedidos, focar-me-ei na zanga. Esta parece ser a que mais reprovamos no contacto uns com os outros. Se vemos alguém zangar-se, quase todos tendemos a prontamente intervir no sentido de aquietar a situação. Diria mesmo mais: é muitíssimo frequente ver confundidas a zanga com o ódio e a violência. Como consequência muitos de nós somos ensinados a reprimir a expressão da emoção. A acreditar que seremos punidos se nos zangarmos, que perderemos o afecto dos outros, que seremos vistos como tendo uma personalidade difícil, ou mau feitio. É lamentável que assim seja. A zanga é uma emoção muitíssimo útil! É a zanga que nos permite estabelecer limites. Imaginemos os nossos antepassados, homens das cavernas, reunidos em torno de uma fogueira. Imaginemos que um elemento deste grupo tenta apoderar-se do quinhão de carne pertencente ao seu antepassado directo que ali se encontra. No meio selvagem, na ausência de uma estrutura social que o protegesse, a carne que tinha conseguido assegurar poderia representar a diferença entre a vida e a morte: a energia e proteínas que dela obtivesse poderia ser o que determinaria a sua capacidade de escapar a um predador ou elemento de um grupo rival, a sua capacidade de resistir ao frio ou a um ferimento. Na verdade, o momento em que desse por si a ser privado da sua carne poderia determinar a sua morte muito em breve. Apanhado desprevenido, a ausência de reacção permitiria que o ladrão o dominasse fisicamente, ou escapasse rapidamente. A situação exigiria a contracção de músculos e disponibilidade energética imediatas que lhe permitissem dominar o seu adversário. Que emoção lhe parece produzir este efeito no nosso corpo? Qual a emoção que geralmente associamos à contracção forte da musculatura e à predisposição para a luta física?
Pois é, caro leitor, é a zanga. Sem zanga, tornar-se-ia francamente mais provável que este seu antepassado se visse privado da sua carne e, quem sabe, da sua vida. Estranho imaginar que entre as centenas de milhares de acontecimentos mais ou menos determinados pelo acaso que resultaram no seu nascimento, muitos deles terão tido a resolução necessária à sua existência graças à adequada expressão de zanga no momento certo, não é? Tomemos este como um exemplo extremado pela simplicidade do meio no qual o observamos. Na verdade, a nossa sociedade revestiu-se de camadas sucessivas de complexidade e sofisticação. Esta sofisticação, felizmente, resultou num estado de coisas no qual serão raras as situações no nosso contexto social (embora não seja o caso em muitos países, infelizmente) nas quais nos vejamos a servir-nos da expressão física da zanga para assegurar a nossa sobrevivência. Mas as manifestações adequadamente mais sofisticadas de zanga continuam a ser absolutamente necessárias para determinar a nossa sobrevivência em planos diferentes: social, económico, profissional, familiar. Perguntar-se-á, e bem, a que manifestações mais adequadas me refiro. Imagine-se no contexto do seu emprego. Um colega dirige-se a si e diz-lhe que, por uma qualquer razão que imediatamente descarta como desculpa esfarrapada, vai ter que sair mais cedo. A implicação desta saída precoce é que, de forma a cumprir um prazo num projecto comum, terá que ficar até mais tarde no trabalho.
Naturalmente, com todas as implicações que daqui decorrem: vai chegar mais cansado a casa, ter menos tempo de lazer e repouso, ter problemas com a sua família, e ficar naturalmente frustrado e menos disponível para trabalhar e manter boas relações com os outros colegas no dia seguinte. Imagine as consequências da repetição ao longo dos anos de situações destas. Consegue imaginar o impacto que pode ter na sua saúde (física e mental)? Consegue imaginar que efeito pode ter nas suas relações? O resultado na sua carreira profissional? Posto assim, parece-me evidente tratar-se de facto de uma questão de sobrevivência! Muitos mais exemplos podemos conceber: o familiar que regularmente abusa da sua boa vontade e recursos para os seus próprios objectivos, sem qualquer reciprocidade; o indivíduo que se atravessa à sua frente na fila das Finanças, forçando-o a perder tempo e paciência; o “amigo” que se aproveita dos seus contactos para passar à sua frente numa oportunidade profissional.
Contextos muito diferentes, com graus de complexidade muito diferentes do que deparava o seu antepassado, mas com um processo semelhante: a transgressão dos limites pessoais do indivíduo, com claro prejuízo para si. Nenhuma destas situações seria bem resolvida com agressão física, isso parece ser evidente! De facto, se decidisse esmurrar qualquer uma destas pessoas as consequências para si poderiam ser bem mais negativas do que as provenientes da inacção, com o resultado óbvio de que tudo o que perderia se continuaria a perder, com agravantes sociais e, quem sabe, legais. A sofisticação das situações, bem como os limites que a sociedade em si impõe, requerem mais engenho e auto-controlo na expressão da zanga. Um não redondo aplicado no momento certo não é senão a aplicação controlada e calculada de zanga. Uma calma chamada de atenção, suficientemente clara e cortante para que o outro perceba que errou sem sentir ter margem para ripostar de forma agressiva, coloca o outro no seu lugar de uma forma que nos assegura que não existe abuso, nem represália. Deixar clara a nossa insatisfação sem agredir o outro é uma forma sublime de expressar zanga, e uma ferramenta inexcedível para a sobrevivência do Homem moderno. Na verdade, é aquilo a que comumente se chama assertividade, uma palavra bem badalada nos tempos que correm.
É, também, uma disciplina. A nossa capacidade para conter a zanga é um recipiente com lotação limitada. De cada vez que “dobramos a língua”, zangamo-nos de qualquer forma, sofremos as consequências, e ainda nos zangamos connosco. Não nos esquecemos da afronta. Acumulamos zangas caladas, depositamos ressentimento. Até ao dia em que a panela de pressão não aguenta mais, e rebentamos de forma desadequada. Nessa altura, explodimos a zanga, queimando tudo à nossa volta. Potencialmente, ferindo relações importantes, prejudicando a nossa imagem, e deixando-nos ainda mais convictos da inconveniência e inutilidade da nossa zanga. Por isso, usemos a zanga como qualquer ferramenta que requer disciplina: de forma consistente, imediata, e regular. Se não a deixarmos acumular, seguramente ser-nos á útil!
Será que nos consegue deixar um testemunho de situações em que utilizou, ou viu utilizar, esta ferramenta com sucesso?
E-mail recebido
"Caros Oficina de Psicologia
Gostaria de ter alguma atenção da vossa parte se possivel, para o meu caso que tenho esperança conseguir alguma coisa perto da cura.
Acho que fazem um excelente trabalho, porque é importante alertar,informar, para que as pessoas tenham mais conhecimento sobre as doenças do foro mental.
E conseguir fazer campanhas como se fazem em outros paises, para prevenir este sofrimento atroz que causam estas doenças.
Chamo-me Maria e sou apenas mais uma pessoa que faz parte dos 22% neste momento o numero que existe para estas doenças reacionadas com o foro mental, (como sabem) estas doenças a que chamam silenciosas, depressão,bipolaridade,borderline, etc... Deixo aqui o meu testemunho pessoal.
Tenho depressão á 10 anos, não chegou de mansinho,nem lentamente, chegou de um dia para o outro abruptamente, numa altura
de enorme stress profissional. Lutei com todas as minhas forças para a combater. (psiquiatras,psicologos,ginástica,caminhadas,socializar, sair de casa todos os dias) Mas apesar de tudo.VENCEU-ME!
Estávamos em Setembro de 2001,deixei de trabalhar em finais de Novembro e obviamente piorei, mas decidi lutar com todas as forças que tinha, eram dias muito dificeis acompanhados com medicações erradas e com muitos sintomas dificeis de aguentar, fui ficando cada vez mais debilitada e em Junho a alternativa foi ir para casa dos pais, para não estar sozinha. A minha filha que era muito pequena ficou com o pai e o meu sofrimento é indescritivel. Foi um dos momentos mais dificeis de aguentar.
Fiquei quase 2 anos sem sair de casa ao cuidado dos meus pais,sem conseguir sequer aproximar-me da porta de entrada, devido ao sindrome
que desenvolvi.
Consegui recuperar e comecei a trabalhar num negócio de familia, e surgiu-me também uma oportunidade para os fins de semana que aceitei de imediato,porque queria recuperar a minha vida e o tempo perdido. Dessa oportunidade surgiu a possibilidade de fazer parte desse negócio,aceitei também julgando assim ser mais fácil chegar ao meu objectivo.
O meu marido quis o divórcio. Estava divorciada e perdi a custódia da minha filha.
Investi todo o dinheiro que tinha, força, trabalho e esperança em detrimento da minha saude. E convenci a minha filha que o pouco tempo que tinha para ela seria para podermos ter uma casa, uma nova vida,que tinhamos que começar do inicio.
PERDI! O dinheiro e a saude que tinha conseguido recuperar.
Fiquei mais uma vez 1 ano em casa e desta vez muito mais doente, em alguns dias perdia a locomoção em outros a fala, deixei de comer, dai a ser internada foi apenas um passo. O internamento foi dos momentos também muito dificeis pelos quais passei.
Recuperei-me, mas não consegui voltar a trabalhar durante 4 anos.
Em Fevereiro recomeçei um trabalho que me surgiu e agarrei-o com todas as minhas forças, agora estou de baixa porque me mandaram para casa.
Voltaram as crises de ansiedade,o choro consecutivo,o estado de deprimida mas não se pode trabalhar assim disseram-me, foi apenas o que me disseram.
Fiz um esforço enorme para não deixar de ir trabalhar,para não desistir. Não foi suficiente!
Nestes dias que tenho estado em casa não melhorei, sinto-me no limite,naquele limite em que ou consigo continuar ou vou desistir de viver.
E tenho alertado quem está á minha volta.
Ninguem ouviu! E tentei suicidar-me. Não por não querer viver,mas porque não conseguia aguentar mais a dor.(os deprimidos não querem morrer,querem não sentir mais o sofrimento diario da doença).
Esta semana recebi a carta em como o meu contrato não seria renovado,porque extinguiram o meu posto de trabalho.
Este é um pequeno resumo da minha história ao longo destes anos e é também um apelo, porque estamos a atravessar uma época muito dificil e irão aparecer mais casos e é preciso que as entidades patronais percebam que os deprimidos ficam piores em casa,mesmo muitas vezes querendo lá ficar. E é preciso alertar e esclarecer as pessoas que esta é uma doença dificil,com dor, e em que os que estão mais próximos sofrem muito também.
E fazer saber às pessoas que de profissionais com sucesso,tornamo-nos pessoas com muitas sequelas e limitações, não por preguiça,nem por não querermos,mas porque esta terrivel doença nos obriga.
Atentamente
Maria"
E-mail recebido
"Boa tarde,
Tenho um filho com 14 anos que tem muito medo de cães. Neste momento está a ficar cada vez mais limitado e até isolado nas sua rotina, não vai a casa de ninguém que tenha um cão , não vai ao parque da cidade porque tem medo de encontrar um cão.
Gostava de saber como posso ajudar o meu filho a ultrapassar este medo.
Obg,
P"
E-mail recebido
"Desculpe incomodar, mas estou precisando de ajuda. Vamos começar pelas apresentações: Meu nome é A, tenho 38 anos e uma filhota de 5 anos. Estou casada a 11 anos, com mais 4 de namoro.
Neste momento vivo o meu luto da separação e em conflito constante. Há 1 ano que que vasculho dentro de mim o desejo que até então tinha por meu marido, mas nada encontro. Há um ano que vivo fechada numa “jaula” que eu mesma criei. Não consigo, simplesmente dizer: Acabou. Quero o divórcio.
Não há ninguém extra conjugal, apenas ruiu/despareceu o sentimento. Precisei deste ano para me testar e impor limites à minha certeza, mas esta é uma decisão que todos os dias ganha mais consistência em mim. Mas não tenho coragem para dizer a meu marido. Não é tanto pelo medo que tenho de poder vir a ser julgada como insensível, mas apenas porque não tenho coragem. Não sei como fazer…o que dizer.
Pode me ajudar, aconselhar?"
Autor: Francisco de Soure
Psicólogo Clínico
“Não sei o que se passa comigo. Acho que estou deprimido, não percebo o que se passa. Só sei que odeio estar assim!”
Era assim o discurso do Ricardo quando o conheci. Quando veio procurar ajuda, o Ricardo dizia-se deprimido. Sentia um aperto no peito, uma falta de ânimo e de energia e tinha dificuldade em dormir e em comer. Confessou-me que estava assim há duas semanas. Uma exploração de o que poderia estar a provocar este aparente estado de depressão revelou que o Ricardo tinha perdido o avô exactamente há 2 semanas. Que o Ricardo estava em baixo, não havia dúvida. O que parecia escapar-lhe era a definição de o que era este estar em baixo. O Ricardo estava triste. Pura e simplesmente triste. O que, pensando bem nisso, é o que é esperado que aconteça quando perdemos alguém de quem gostamos. Aquilo que parecia ser mais difícil para o Ricardo era reconhecer e aceitar esta emoção. O Ricardo rejeitava-a, via-a como um estado intruso, indesejado. Como se o desconforto da tristeza fosse sinónimo de que algo não estava bem. Nesta altura, o Ricardo ainda não estava deprimido. Estava profundamente triste, mas a força que investia a manter esta tristeza longe de si era surpreendente. E, ao não viver esta tristeza, ao não a deixar correr em lágrimas, estava a mantê-la presa dentro de si. O que o Ricardo não sabia era que as emoções são como a água. Se as deixarmos correr, podem limpar-nos, matar-nos a sede, levar-nos para a frente. No caso do Ricardo, chorar a tristeza dele permitir-lhe-ia procurar apoio, libertar a dor, criar espaço dentro de si para aquelas saudades boas que nos aquecem por dentro quando nos lembramos de alguém de que gostamos muito mas já não está cá. Ora, quando as emoções estagnam, apodrecem e transformam-se em algo que nos fere. A dor engaiolada dentro de nós não nos deixa libertar da sensação de perda e vazio, não nos autoriza a procurar outras pessoas. Quase como se, deixando correr a tristeza e andando em frente, fôssemos trair quem perdemos. E a energia que mantermo-nos assim nos consome deixa-nos absolutamente exaustos.
Felizmente, o Ricardo procurou ajuda a tempo. Deixou a tristeza correr. Chorou pelo avô e, no seu íntimo, despediu-se dele. Libertou-se da mágoa e criou espaço para se lembrar do avô com ternura, e transportar essa ternura para os filhos dele. Felizmente, o Ricardo não chegou a deprimir. Infelizmente, muitos de nós não nos damos conta do que está a acontecer, e acabamos por cair no poço da depressão. Se ao ler estas palavras se revê nesta descrição, não perca tempo. Não se permita deprimir, nem tão pouco se permita manter-se deprimido se for isso que está a sentir. Procure ajuda. O Grupo Terapêutico de Tratamento da Depressão inicia-se dia 26 de Setembro, às 19h, na Oficina de Psicologia, com uma duração de 12 sessões, com uma periodicidade semanal e um custo de apenas 25€ por sessão.
E-mail recebido
"Boa tarde,
Acabo de ler o artigo "Algo diferente na realização de objectivos" de Irina António e o mesmo deu-me coragem para vos escrever sobre algo que me atormenta e não sei como resolver.
Actualmente encontro-me a viver uma fase da minha vida muito complicada. Uma fase de grande indefinição, de insegurança e até revolta comigo mesma, pois sei que antes não era assim. Sei o que não quero mas não sei o quero. Actualmente não me sinto realizada profissionalmente e quero muito mudar de actividade mas não consigo pensar em nada como alternativa. Se hoje acordo e quero ser médica, amanhã posso acordar e afinal sentir que quero ser produtora de moda. Isto leva a que nunca saia do mesmo sítio causando-me muita ansiedade, e vá vendo o tempo e a vida a passar à espera de um milagre.
Será isto o quê? Falta de identidade ou autoconhecimento? Bloqueios emocionais? stress pós-traumático?
O que me aconselham? Existe alguma terapia para estes casos? Preciso urgentemente de me redescobrir e ver o caminho que devo seguir.
Gratos cumprimentos,
MJ"
Excerto de “A mão aberta e o punho fechado”, de Francisco de Soure, in “Casos&Casos”, 1ª edição da revista de casos clínicos da Oficina de Psicologia, à venda em http://oficinadepsicologia.com/loja/shop/casos-casos/
“(…)O primeiro laço que estabelecemos é o primeiro grande momento de aprendizagem. A ligação que se estabelece entre mãe e bebé inicia o bebé na sua aprendizagem a respeito do que são as interacções humanas, o que podemos esperar das pessoas e do seu papel na satisfação das nossas necessidades. A este laço os autores chamam vinculação. Quando a vinculação se estabelece de forma segura, a mãe está atenta aos pedidos do bebé, às suas necessidades, e dá-lhes respostas adequadas. Uma mãe que estabelece com o bebé uma vinculação segura reage de forma adequada às exigências do bebé, sabendo quando as satisfazer, quando respeitar os limites do bebé, e como ajudá-lo a aprender a acalmar-se dando o exemplo da sua própria calma e segurança. Quando o bebé tem um temperamento fácil, e a mãe se sente segura e tranquila no seu papel, este processo decorre de forma natural e fluida. Quando isto acontece, o bebé começa a aprender como e quando é adequado manifestar as suas necessidades, aprende a acalmar-se face ao seu próprio desconforto, aprende de maneira quase instintiva que quando não se conseguir acalmar a si mesmo poderá sempre contar com a mãe. No entanto, nem sempre isto acontece. Por vezes os bebés não nascem com um temperamento fácil, e também muitas vezes as mães podem sentir-se atemorizadas pelo seu papel, estar excessivamente preocupadas com a criança, ou demasiado atentas às suas próprias necessidades e medos. Quando isto acontece, é possível que a vinculação se estabeleça de uma forma insegura. Laços de vinculação inseguros caracterizar-se-ão por comportamentos de ausência de resposta adequada por parte da mãe: ou ficarem demasiado ansiosas quando o bebé chora, ou ignorá-lo, ou mesmo perder a calma e tornar-se agressivas (de forma recorrente, não apenas episódica!); podem ignorar a sua vontade de estar sós ou em paz e invadir os seus limites; podem ficar elas próprias demasiado aflitas com a aflição do bebé e pensarem apenas na sua imagem de si mesmas enquanto mãe, deixando de estar de facto atentas a ele e ao que precisa naquele momento. Quando se verifica um cenário destes, a aprendizagem do bebé é a de que as suas figuras cuidadoras poderão ser invasivas, ausentes ou hostis ao cuidar de si. Não lhe permitindo gerar expectativas consistentes a respeito do cuidado que poderá receber, ou expectativas de cuidados consistentemente negligentes ou desadequados. Claro está, nesta fase da vida todas estas aprendizagens estão muito aquém de ideias claras como aquelas que pensamos e geramos em adultos. Tudo isto antecede em muito as palavras, e expressa-se em termos de activação ao nível do nosso cérebro. Quando o bebé é sistematicamente ignorado e só recebe cuidado quando a sua expressão de aflição atinge níveis muito elevados, por exemplo, o cérebro poderá aprender que só activando em excesso assegurará a satisfação das suas necessidades e se reporá o equilíbrio interno.
À medida que crescemos, esta aprendizagem torna-se mais sofisticada. Ainda antes de sabermos falar, começamos a aprender através de mecanismos de recompensa muito simples: se fazemos A e recebemos B, sempre que quisermos B fazemos A. De igual modo, se sempre que C incomodar e nos retirarem o incómodo por fazermos D, faremos D sempre que sentirmos o incómodo de C. De modo inverso, se formos punidos sempre que fizermos E, pois claro, a nossa tendência será para evitar fazer E. Através destes mecanismos muito simples vamos acrescentando informação a respeito daquilo que podemos esperar do mundo em que vivemos, e dos outros que nos rodeiam. Se, sempre que uma criança chorar, lhe derem um doce, é certo que sabemos o que fará quando quiser um doce... De igual forma, estes mecanismos podem servir para aprendizagens distorcidas e com resultados prejudiciais, como quando uma criança aprende que se chorar por se magoar será castigada em vez de acarinhada.
Estas aprendizagens passam-se para além da dimensão do pensamento. Processam-se, também, ao nível das emoções e da satisfação das nossas necessidades mais essenciais ao nível da emoção: de protecção, de autonomia, de prazer, etc. Ao longo da vida, a informação organiza-se na nossa memória através de processos de semelhança e diferença, em que toda a informação se encontra ligada de uma maneira ou outra. À forma como esta informação se organiza em memória muitos autores chamam de esquemas. Estes esquemas são como que agregados de informação: contêm nomes, imagens mentais, associações entre as unidades de informação, assim como expectativas, tendências de comportamento e as correspondentes emocionais da informação que contêm. Quando nos deparamos com qualquer objecto, pessoa ou situação, o cérebro encarrega-se de ir buscar toda a informação a respeito dela ou o que mais semelhante conheça, e torna-a disponível para nós, tal e qual um computador em que corremos uma pesquisa. Estes esquemas são extremamente úteis! Permitem-nos tomar decisões sem desperdiçar tempo a analisar cada aspecto da situação: imagine o que seria ter que reflectir aprofundadamente cada vez que tivesse que dar um aperto de mão ou comprar um pacote de leite! Da mesma forma, são estes esquemas que nos ajudam a navegar e descodificar o complexo labirinto das nossas interacções sociais. Mais, permitem-nos seleccionar entre o nosso repertório emocional que expressão é adequada no momento. As emoções são muito mais que coisas que apenas sentimos. As nossas emoções informam-nos a respeito do comportamento que devemos exibir, mesmo a um nível biológico.
(…)
Quando as aprendizagens que fazemos são adequadas, os esquemas contêm informação realista e útil. Quando, pelo contrário, as aprendizagens que fazemos são disfuncionais, nomeadamente quando crescemos em contextos violentos ou simplesmente maltratantes, podemos desenvolver expectativas forte e irrealisticamente negativas acerca dos outros e de nós próprios. Da mesma forma, aprendemos a expressar emoção de forma desadequada, com consequências adversas. Por exemplo, se aprendermos que não podemos ou devemos expressar tristeza, é frequente que manifestemos zanga em seu lugar. Quando isso acontece, não só não recebemos o conforto de que necessitamos, como corremos o risco de ser agredidos em resposta. Dessa forma, não só não vemos a nossa dor aligeirada, como a vemos ainda agravada. Face a tudo isto, há que ter em conta que a nossa memória é um “órgão” extremamente fluido. Perante uma qualquer situação, o nosso cérebro regista essa informação nas suas componentes cognitivas e emocionais, e integra-a de forma harmoniosa no resto da informação, fazendo as devidas ligações e associações. No entanto, até este processo pode sofrer perturbações. Quando a situação em que nos encontramos é uma situação extremamente violenta ou carregada de medo ou dor, ou quando nos encontramos repetidamente em situações de mau trato, esta informação pode sofrer erros no seu processamento. É possível que se criem “nódulos” de informação carregada negativamente. No futuro, qualquer informação negativa que partilhe características com estes nódulos ser-lhes-á associada, aumentando a sua força para atrair mais informação. Da mesma forma, os estímulos no mundo real que se assemelhem à informação contida no nódulo activarão de imediato este nódulo e levarão a acções que se lhe adequem.
(…)
Estes nódulos configuram algo que se tornou um termo corriqueiro: Trauma.
Seja através de esquemas que contêm expectativas fortemente negativas e irrealistas face ao mundo, os outros e nós próprios, seja através de trauma, a violência na infância determina muito daquele que será o nosso comportamento em adultos. A forma como estas estruturas se consolidam e nos afectam na idade adulta será algo que a história do Rui nos permitirá compreender melhor e ver na prática.
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E-mail recebido
"Olá,
Deambulando e tentanto encontrar alguma resposta para o meu "problema" encontrei o vosso site, mas tenho já consciência que vou precisar de algo mais.
Tenho 34 anos. Elevada auto-estima. Rapariga sem complexos, formada, a trabalhar, casada e sem problemas de saúde.
Sempre tive variações de humor, mais ou menos perceptíveis a terceiros, mas sempre "saudáveis". A típica bi-polar, mais polar do que bi, mas nada que mereça grande reparo.
Aos 23 sofri um grande desgosto com a morte de um namorado num acidente de automóvel, que me fez passar por um luto terrível, na altura com a ajuda de SOCIAN, receitado por psiquiatras.
Entretanto fui mãe e tenho uma filhinha linda de 4 anos. A luz da minha vida.
Tive um pós parto meio complicado a nível profissional, com dissolução de sociedade e que na altura me fez ir abaixo. Não sei se recuperei.
Os pensamentos surgem-me há coisa de 1 ano, 2 no máximo e começaram a ser mesmo insuportáveis, porque não os consigo fazer passar, nem tão pouco livrar-me deles e sinto-me culpada. Têm ocupado a minha cabeça, qual visita chata, que aparece sem ser convidada e provoca estragos imensos.
Antes ocupavem só um bocadinho, e eu achava que era normal, depois começaram a ser bastante presentes, e até os sonhos ocuparam.
Então passo a explicar:
Eu passo o tempo a pensar na morte da minha filha. Já imaginei imensas situações, acidentes, afogamentos, coisas horríveis, o funeral, o velório, como seria se ela não estivesse, enfim todo um horror e uma panóplia de porcarias miseráveis que não entendo a origem nem o porquê de me acontecerem.
Ás tantas começo a achar que são premonições, entro em agonia, não consigo parar de pensar e é uma catadupa de filmes mórbidos... um pesadelo.
Preciso livrar-me disto, vocês poderão ajudar-me a perceber o que se passa comigo?
Obrigada.
V"