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Expressão de Emoções e Necessidades em Casal

por oficinadepsicologia, em 18.11.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

 

Psicóloga Clínica

 

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Joana Fojo Ferreira

 

Amamo-nos muito mas não funciona, não nos conseguimos entender!

 

As relações íntimas de casal são uma área particularmente importante das nossas vidas, mas apesar de as desejarmos muito e de tendermos a sentir-nos incompletos, não totalmente realizados sem elas, a realidade é que gerir a relação não é fácil e mesmo havendo amor, nem sempre a relação flui; às vezes parece não funcionar.

 

O que é que acontece? Apesar de numa relação termos à partida um objectivo comum (alimentar a relação, mantê-la viva e saudável), não deixa de ser verdade que temos duas pessoas na equação, muitas vezes com registos de funcionamento diferentes, cujo contraste pode criar choque e este choque, prolongado no tempo, cria padrões de interacção desadequados com uma escalada de frustração, agressividade e/ou afastamento.

 

Quando dentro destes ciclos desadequados de interacção, as dificuldades são duas:

 

Primeiro é muitas vezes difícil para cada elemento do casal aceder ao que está a sentir. Começa-se a funcionar em modo automático, em que atacamos o outro e nos defendemos dos ataques do outro, sem conseguir parar para pensar "o que é que está a acontecer comigo, dentro de mim, o que é que eu estou a sentir que faz com que eu haja desta forma agressiva ou, pelo contrário, demasiado distanciada"?

 

Segundo é muito difícil partilhar de forma adequada o que se está a sentir e o que precisaríamos do outro, da relação, e tendemos a ser críticos e culpabilizantes do outro, apontar-lhe o dedo, crê-lo intencionalmente agressivo ou negligente, mais do que verdadeiramente expressarmos as nossas vulnerabilidades, as nossas angústias, as nossas emoções, as nossas necessidades.

 

No sentido de tentar quebrar estes ciclos e de tanto aceder como expressar emoções e necessidades em casal, sugiro o seguinte exercício[1]:

Numa folha de papel desenhe um esquema, uma tabela, em que coloca 6 colunas com os seguintes títulos sequencialmente: Situação, Reacção emocional, Reacção comportamental, Emoção de base, Necessidade geral, Necessidade específica. E comece a preencher. Como? Pense: Quando tu… (situação), eu sinto-me… (reacção emocional), e reajo… (reacção comportamental). Isto esconde o meu/a minha… (emoção de base). O que eu realmente preciso é… (necessidade geral) e portanto preciso… (necessidade específica).

 

Deixo um exemplo: Quando tu chegas tarde, eu sinto-me zangada e reajo criticando-te. Isto esconde a minha ansiedade e sentimento de rejeição. O que eu preciso realmente é sentir que sou importante para ti, e portanto preciso que tu me ligues a avisar que vais chegar mais tarde.

 

Desta forma, a nossa activação emocional tende a baixar e a receptividade do outro à nossa necessidade tende a aumentar. É como se encontrássemos aqui um ponto de equilíbrio em que conseguimos comunicar um com outro, cria-se um espaço para ouvir e ser ouvido.

 


[1] do livro Emotion-focused couples therapy: The dynamics of emotion, love, and power de Greenberg & Goldman (2008)

publicado às 20:34

Os nossos sintomas são o nosso despertador

por oficinadepsicologia, em 12.10.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Joana Fojo Ferreira

Go to the heart of danger for there you will find safety
[Vai ao coração/âmago do perigo, lá encontrarás segurança]
Provérbio Chinês

 

A experiência de desenvolver um problema psicológico como ataques de pânico, ansiedade generalizada, depressão,… é frequentemente avassaladora. Por um lado há a sensação de perda de controlo de si, por outro lado os sintomas parecem ser desprovidos de sentido e há uma incompreensão muito grande de si próprio, e muitas vezes vem a vergonha e a culpa, vergonha da vulnerabilidade que os sintomas revelam e culpa por não ter sido capaz de evitar estas manifestações e por continuar sem as perceber.

 

Se prolongado no tempo, especialmente para problemas do foro da ansiedade, além da exacerbação dos sintomas iniciais, tendem a surgir novos, mais obsessivos e compulsivos, mais distantes da raiz do problema, e a incompreensão de si próprio é cada vez maior.

Muitas vezes não há de facto um sentido directo e claro para a sintomatologia, o que ela faz é sinalizar uma vulnerabilidade, como um despertador com alarme em crescendo, que se não é desligado ao início vai tocando com um volume cada vez mais alto até ser ouvido e atendido.

 

A mensagem dos sintomas é “go to the heart of danger, [vai ao âmago do perigo], não fujas, olha, procura, percebe; para te libertares”.

O despertador/sintoma é só um sinalizador que vai tocando mais forte à medida que a insegurança aumenta, que o medo aumenta, sempre a pedir “não fujas, olha, fica”.

 

Tomarmos consciência das nossas vulnerabilidades, dos pontos em que somos particularmente sensíveis, assusta, mexe com o nosso medo do descontrolo, da falta de poder sobre nós próprios, sem percebermos que tanto menos poder temos quanto mais ignoramos/negamos as nossas vulnerabilidades; quanto mais eu as conheço, compreendo e aceito, mais controlo tenho na realidade, porque mais sei com o que posso contar e posso mobilizar recursos para reparar ou apaziguar o problema de base, a essência.

 

Este é o trabalho que procuramos fazer em psicoterapia, traduzir sintomas (sinais, despertadores) em vulnerabilidades, em necessidades por satisfazer, em assuntos inacabados a processar e resolver, porque por doloroso que seja tomar consciência de aspectos sensíveis de nós, da nossa história, e percebermos as implicações que eles têm na nossa vida, no nosso funcionamento, é um trabalho fulcral, é o desligar o despertador e levantar da cama, é o retomar as rédeas, o controlo, é mobilizar para resolver.

publicado às 14:25

Sobre a felicidade

por oficinadepsicologia, em 04.09.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Joana Fojo Ferreira

Para ser absolutamente honesta tenho que partilhar que não sei se sei escrever sobre isto, é tão subjectivo, tão abstracto, e com potencial para seguir tantos caminhos, que me assusto sempre face à perspectiva de ser demasiado reducionista. Decidi contudo arriscar e partilhar uma das várias possibilidades de olhar para isto da felicidade.

 

A primeira questão que me surgiu foi O que é que significa ser feliz?


A primeira resposta foi Não faça a mais pequena ideia. Depois, talvez fruto da frustração, questionei-me Será que é relevante? Será que existe tal coisa? Mas como qualquer uma destas respostas deixava o meu intento de escrever sobre a felicidade cair por terra, a brincar com as palavras da própria questão pensei E se o significado de ser feliz for precisamente viver com significado, com sentido?


Não sei como é que isto vos soa, para mim confesso integrou muito bem tudo o que me apela para felicidade.

Ser feliz é viver com sentido, de forma coerente com o que a cada momento se sente, se precisa. É dar significado às coisas e viver de acordo com o significado que têm para nós.

 

Sorrir quando apetece chorar não faz sentido e não traz felicidade. Só dar quando se precisa também receber pesa, não faz sentido, não traz felicidade. Estar próximo dos outros quando se precisa mesmo é estar só não faz sentido, não traz felicidade…

 

Ser feliz é sorrir, ou mesmo gargalhar, quando dá vontade. Mas é também chorar quando as lágrimas pedem para sair. Ser feliz é dar quando se pode e se deseja. Mas é também receber quando se precisa. Ser feliz é estar próximo quando se precisa de proximidade. E é afastar-se quando se precisa de isolamento. Ser feliz é abrirmo-nos ao mundo quando tanto nós como o mundo estão disponíveis. E é recolhermo-nos em nós próprios quando precisamos de um tempo para nós, de introspecção.

 

Para ser feliz não há uma receita porque a felicidade não é um produto final. Ser feliz é um processo, de simplesmente ser como se é, estar onde se está, como se precisa ser e estar a cada momento, sem nos cobrarmos por isso.

publicado às 12:05

Equilibradamente em desequilíbrio

por oficinadepsicologia, em 23.08.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Sometimes to lose balance is part of living a balanced life

 

Joana Fojo Ferreira

Quando pensamos no que é que queremos para a nossa vida, do que é que precisamos para a nossa saúde mental, cada vez mais reconhecemos que precisamos é de equilíbrio, em contraponto a uma busca utópica de um estado permanente de felicidade e bem-estar.

Apesar deste reconhecimento, velhos hábitos são difíceis de deixar, e o risco é desejarmos sim equilíbrio, mas deturparmos o conceito e rigidificarmo-nos numa postura de não nos permitirmos nem grandes desânimos nem grandes entusiasmos, contentarmo-nos com o mediano, como se equilíbrio fosse sinónimo de meio-termo, nem muito nem pouco, assim-assim.

 

Clarifiquemos então a ideia de equilíbrio:

Equilíbrio é um “estado” dinâmico de compensação de forças em que, quando puxo para um lado, activo em consequência uma força contrária que puxa para o outro, no sentido de não permitir a queda ou a destruição. Equilíbrio não é portanto um estado estático mas implica um movimento oscilatório entre polos opostos, sempre com duas forças contrárias e compensatórias a puxar. Equilíbrio não é uma coisa que se adquire mas um processo que se vive.

 

Paradoxal que possa parecer, estar em equilíbrio implica portanto estar disponível para o perder aqui e ali.

Neste sentido, talvez a pergunta-chave não seja como é que me equilibro mas como é que me disponibilizo para me desequilibrar.

E disponibilizo-me para me desequilibrar quando me permito sentir o que estou a sentir, seja agradável ou doloroso, quando arrisco experimentar coisas novas, diferentes, quando me permito depender momentaneamente dos outros quando preciso de colo e afastar-me momentaneamente quando preciso de dar os meus passos sozinho… Quando confio que posso dar qualquer passo porque sei que tenho a capacidade de analisar os erros, de analisar o risco, e confio que quando necessário consigo mobilizar recursos num sentido compensatório e recuperar o equilíbrio ou transformá-lo num equilíbrio diferente, mais adequado às novas necessidades ou exigências.

 

Preciso confiar que consigo estar próximo da queda sem cair. Preciso disponibilizar-me para o desequilíbrio para viver equilibradamente.

Não esqueça: não se atinge o equilíbrio, vive-se equilibradamente em desequilíbrio.

publicado às 09:31

Diagnósticos, para que vos quero?

por oficinadepsicologia, em 11.08.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Mais importante do que aquilo que tem é aquilo que é

António Branco Vasco

 

Joana Fojo Ferreira

 

Habitualmente, num registo médico mais tradicional, quando temos um problema de saúde procuramos um diagnóstico que nos ajude a identificar o problema e nos oriente para o tratamento adequado. O problema, apesar de afectar o paciente, é visto como exterior a ele e o tratamento é dirigido ao problema e não à pessoa.

 

Num registo psicológico as coisas são um bocadinho diferentes, não deixa de fazer sentido procurar “diagnósticos”, mas são tendencialmente diferentes dos a que estamos habituados num registo médico; num registo psicológico muitas vezes parte do problema está relacionado com a nossa forma de ser e estar na vida, estamos portanto muito mais implicados nele, não é simplesmente algo exterior a nós do qual facilmente e recorrendo a meios exteriores nos possamos livrar, e consequentemente a intervenção é dirigida menos ao problema mais visível (os sintomas) e mais à pessoa que o manifesta.

 

Enquanto muitas vezes num registo médico a ênfase é dada à identificação dos sintomas e o tratamento é a eles dirigido, apesar de progressivamente se contemplarem hábitos e estilos de vida do paciente, num registo psicológico, mais importante do que o sintoma que a pessoa tem é aquilo que a pessoa é, ou seja, o sintoma não é o problema mas o reflexo do problema e é na pessoa em si que podemos identificar tanto o problema como a solução. Num diagnóstico psicológico, além da identificação dos sintomas, entram então factores como o modo de funcionamento da pessoa, a sua história de vida e de desenvolvimento com realce para memórias marcantes ou por intensidade ou por frequência, e situações presentes que possam ter despoletado o problema ou tê-lo intensificado.

 

Habituados que estamos ao registo médico mais tradicional, é frequentemente difícil sair dele e, por um lado, reconhecer a necessidade de identificar e trabalhar os factores psicológicos que estão a intervir na manifestação do problema e, por outro, reconhecer progressos, que muitas vezes começam a surgir antes do sintoma que o trouxe a terapia desaparecer.

 

Dada a preponderância da pessoa sobre o sintoma, o trabalho psicoterapêutico passa muito por reconhecer de que forma é que a maneira como vivo a minha vida, fruto do que a minha história incutiu ou determinou, e influenciada pelas minhas circunstâncias actuais de vida, contribuiu para o surgimento ou exacerbação da sintomatologia. Esta consciência permite progressivamente abrir mão de velhos hábitos, questionar “heranças psicológicas” que nos foram incutidas como necessárias mas que nos apercebemos que no presente de nada nos servem e contribuem mais para o problema do que para a solução, e reconhecer necessidades fundamentais que precisamos procurar satisfazer para nos sentirmos bem connosco e com a nossa vida.

 

Pode parecer estranho, mas são estas conquistas que permitem de facto que no final da linha os sintomas que apresentávamos já não tenham problemas para sinalizar e que gradualmente, quase sem nos darmos conta, deixem de estar presentes ou ter um impacto tão forte nas nossas vidas.

 

No que a problemas de foro psicológico diz respeito, não procure a solução no sintoma, procure-a em si. Cuide de si!

publicado às 14:20

Ui, é psicossomático!

por oficinadepsicologia, em 03.08.12

Auora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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“Isso é psicossomático, é da tua cabeça”

 

Joana Fojo Ferreira

Com o maior reconhecimento de que a nossa saúde é afectada não só por factores biológicos mas muito também por factores psicológicos e sociais, o termo psicossomático tem vindo cada vez mais a fazer parte do nosso vocabulário habitual. Apesar da mais valia do reconhecimento destes factores adicionais, preocupa-me a forma como por vezes o termo psicossomático é utilizado e os mitos que lhe estão associados. A frase em itálico no início do texto é exemplo disso.

 

Mas comecemos por definir o termo:

Dizer de uma manifestação de doença ou mal-estar que é psicossomático significa que na origem do problema, além de possíveis causas ou influências biológicas, estão também causas psicológicas e/ou sociais. O termo psicossomático não pretende portanto negar ou desvalorizar o sintoma físico mas integrá-lo/contextualizá-lo na história ou fase de vida da pessoa e dirigir a intervenção para o reconhecimento dos factores psicológicos e/ou sociais que poderão ter contribuído para despoletar o problema e que o poderão estar a manter.

 

Pensemos então na frase em itálico: “Isso é psicossomático, é da tua cabeça”. Colocada desta forma, a frase desvaloriza o sintoma e culpabiliza a pessoa que o manifesta; a ideia de “é da tua cabeça” implica que o problema não existe, é uma invenção mental que a pessoa criou. A consequência é a pessoa sentir-se humilhada, incompreendida, incompetente e profundamente sozinha na resolução do problema. O que começou por ser uma tentativa de apaziguamento: “isso não é nada, não tens nenhum problema físico”, torna-se na realidade mais angustiante para a pessoa, que se vê com sintomas que ninguém parece saber justificar e a ter que lidar com um sofrimento que os outros parecem minimizar.

 

É de facto importante desmistificarmos a ideia de que psicossomático significa que não existe. Os sintomas que a pessoa apresenta, mesmo que não tenham à partida justificação biológica para se estarem a manifestar, são reais, têm implicações reais na vida das pessoas, causam sofrimento real e não surgiram do nada; se não há causas físicas que por si só justifiquem o problema, existem no entanto causas psicológicas e/ou sociais que precisam ser desvendadas e trabalhadas para que deixem de se manifestar fisicamente de forma tão exacerbada.

 

Perante uma crise de pânico, por exemplo, os sintomas de falta de ar, taquicardia, sensação de desmaio estão de facto lá; se não significam problemas de coração ou do sistema respiratório, podem sinalizar contudo uma situação de vida que está a ser dolorosa e não está a ser processada, ou uma história de vida com situações passadas mal resolvidas que entretanto começaram a pesar demasiado, ou a necessidade de tomar decisões importantes e estar a ser demasiado difícil escolher, entre outos. São factores psicológicos mas são reais, existem e é importante cada vez mais reconhecermos que não temos um corpo e uma mente independentes mas que eles se influenciam mutuamente, que a nossa mente está integrada no nosso corpo e que por isso, além de lhe sentir a influência, também o influencia a ele.

 

Com isto mais claro, que perante manifestações físicas de problemas psicológicos, possamos cada vez menos dizer “isso é psicossomático, é da tua cabeça”, e cada vez mais reconhecer que “é psicossomático, portanto vamos procurar e resolver os factores psicológicos que estão a intervir”.

publicado às 11:49

Sobre a compaixão

por oficinadepsicologia, em 04.07.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Joana Fojo Ferreira

 

Na minha prática clínica tenho-me apercebido como para muitos a compaixão é um sentimento tido como menos nobre, especialmente quando trabalho com os meus clientes no sentido de os ajudar a desenvolver compaixão pelas suas próprias vulnerabilidades, por aquilo que tendem a ver como os seus defeitos. E de facto este desafecto pela compaixão deixa-me sempre a pensar.

 

O que é que causa esta antipatia pela compaixão? Como é que a compaixão se tornou algo aversivo, a rejeitar?

E surgiu-me… será pelo que a compaixão sinaliza?

 

A compaixão sinaliza fragilidades, dificuldades, aspectos em que se é mais vulnerável, e que são muitas vezes os aspectos que queremos esconder de nós próprios. Sentir compaixão pelas nossas fragilidades implica assumi-las, e quando ao longo do nosso desenvolvimento não nos foi dado espaço, permissão, compreensão pelos nossos erros, pelas nossas falhas, pelas nossas sensibilidades, aprendemos que elas são algo a combater e não a abraçar e acarinhar.

 

E ficamos num conflito interno, por um lado é duro e exigente o discurso aprendido de “tens que ser sempre forte, não podes falhar, tens que dar sempre o teu melhor, superar as tuas capacidades”, por outro ele está tão enraizado que é difícil abrir espaço para de facto acarinhar os nossos lados mais frágeis, dar-nos colo nos momentos mais difíceis, saber dizer “isto é o que eu consigo fazer neste momento, tendo em conta o contexto e a minha própria história, e eu não tenho que me criticar por isso, pelo contrário, este é um aspecto tão sensível para mim, que me custa tanto, que eu preciso mesmo é de aceitação, compreensão, compaixão”.

 

É de facto impressionante como muitas vezes somos nós próprios os nossos maiores críticos, e como nesta crítica, nesta dificuldade em aceitarmos que erramos, que temos aspectos em que somos mais frágeis, acabamos por nos impedir de aceitar o colo, a compaixão que poderia ser reparadora. Porque se olharmos para trás, para a nossa história, percebemos que a compaixão das pessoas significativas da nossa vida durante o nosso crescimento foi precisamente o que nos faltou e que nos trouxe a esta hipercrítica com os nossos “defeitos”.

 

Criticamo-nos geralmente porque achamos que essa é a forma de nos incentivarmos a mudar e tememos que ao sentir compaixão nos resignemos. O que não percebemos é que ao combater a compaixão e insistir na crítica, estamos na realidade a lutar contra o antídoto, o remédio curativo que poderia de facto potenciar mudança. Porque aceitação não é sinónimo de resignação, e só na medida em que aceito onde estou e o que consigo é que abro espaço psicológico para crescer, para me desfocar do que não sou capaz, reconhecer aquilo em que sou bom e potenciar a mudança a partir daí.

 

Poderá não ser fácil, a crítica às vezes é muito forte, mas experimente sentir compaixão pelos seus lados mais frágeis, aceitar as suas vulnerabilidades, verdadeiramente, sabendo que de início pode ser difícil, mas é na realidade o remédio reparador.

publicado às 14:34

Se fosse uma casa, que paredes teria?

por oficinadepsicologia, em 17.06.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

Psicóloga Clínica

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Joana Fojo Ferreira

Sobre a nossa postura perante a vida

 

Venho propor-lhe um exercício:

Feche os olhos, entre em contacto com o seu corpo e imagine-o como se fosse uma casa. E pense nas paredes desta sua casa. Como é que são as minhas paredes, o interior das minhas paredes? E partindo do princípio que existem de facto paredes e estão de pé, são tipo compactas, consistentes, perfeitamente alinhadas e uniformes, perfeitamente unidas, sem espaços vazios; ou são mais desalinhadas, com alguns espaços por preencher, com um aspecto mais débil, menos consistente?

Já identificou o seu tipo de parede? Então pense agora, e independentemente da parede que tem, que tipo de parede é que queria ter? Qual é a melhor parede?

Já se decidiu? Então vamos lá ver. Podíamos fazer um exercício de pensar quão próximo ou quão afastado está da sua parede ideal, mas não é esse o exercício que proponho aqui. Desta vez vamos mesmo tentar perceber qual a melhor parede para nós.

A primeira opção é a parede mais sólida mas também mais rígida; a segunda opção é a parede menos consistente mas mais flexível.

Quando as condições exteriores se mantém constantes/intactas, a parede mais rígida é a que parece funcionar melhor, mantém a casa de pé e com imponência, segura de si; o problema é quando as condições se alteram, quando um sismo abala as nossas vidas; aí a parede rígida, sem espaço para ajustes, parte na sua estrutura e a casa cai; já a parede mais flexível abana, acompanha o movimento do abalo, adapta-se, reajusta-se, e mantém-se de pé.

Questione-se então outra vez, qual a melhor parede para a minha casa?

E nesta escolha, reflicta para o que é que quer estar preparado, para uma vida estável, sem percalços, ao sol; ou para uma vida em que possa saborear o sol mesmo em dias de vento.

publicado às 12:22

Sobre os riscos de não escolher

por oficinadepsicologia, em 09.06.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

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Joana Fojo Ferreira

Grande parte dos impasses com que nos deparamos na vida têm a ver com a dificuldade em fazer escolhas. É difícil tomar a decisão de escolher um lado, percebendo que isso pode implicar perder o que o outro lado nos poderia dar.

O que muitas vezes não contemplamos é o que perdemos neste impasse, como ficamos presos num ciclo em que, se poderíamos sentir que assim pelo menos não perdemos nenhum lado, a realidade é que também não ganhamos nenhum.

Porque também há riscos em “não escolher”, aqui vos deixo uma história citada no livro Deixa-me que te conte de Jorge Bucay:

 

Era uma vez um centauro que, como todos os centauros, era metade homem, metade cavalo.

Uma tarde, enquanto passeava pelo prado, sentiu fome.

“Que hei-de comer?”, pensou. “Um hambúrguer ou um fardo de alfafa? Um fardo de alfafa ou um hambúrguer?”

E como não conseguiu decidir-se, ficou sem comer.

Caiu a noite e o centauro quis dormir.

“Onde hei-de dormir?”, pensou. “No estábulo ou num hotel? Num hotel ou num estábulo?”

E como não conseguiu decidir-se, não dormiu.

Sem comer e sem dormir, o centauro ficou doente.

“Quem hei-de chamar?”, pensou. “Um médico ou um veterinário? Um veterinário ou um médico?”

Doente e sem conseguir decidir-se sobre quem chamar, o centauro morreu.

As pessoas da aldeia aproximaram-se do cadáver e ficaram cheias de pena.

– Temos de enterrá-lo – disseram. – Mas onde? No cemitério da aldeia ou no campo? No campo ou no cemitério da aldeia?

E como não conseguiram decidir-se, chamaram a autora do livro que, como não conseguiu decidir por eles, ressuscitou o centauro.

E serafim, serafim, esta história não tem fim.

publicado às 15:59

Sobre a liberdade

por oficinadepsicologia, em 25.04.12

Autora: Joana Fojo Ferreira

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"A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência."

Ghandi

 

Joana Fojo Ferreira

 

Neste Dia da Liberdade deixo-vos esta reflexão.

Sente-se livre, ou sente-se preso? E se se sente preso, como é que se está a impedir de se sentir livre?

Talvez esta última questão pareça dura, certamente muitos factores exteriores a nós dificultam que nos sintamos livres, mas não deixamos de ser nós em última análise que nos mantemos aprisionados ou nos mobilizamos para nos libertarmos.

 

Eu sou livre quando vejo desafios onde outros, presos, vêm impossibilidades.

Eu sou livre quando aceito as minhas emoções, mesmo que sejam de tristeza, zanga, medo, e vejo nelas possibilidades de crescimento, enquanto outros, presos, só vêm amarras e dor.

Eu sou livre quando assumo o compromisso de respeitar as minhas necessidades e a responsabilidade de mobilizar recursos para cuidar de mim, enquanto outros, presos, continuam à espera que a liberdade venha de fora e não de dentro.

Eu sou livre quando reconheço que sou eu o agente activo das minhas próprias escolhas, enquanto outros, presos, nem percebem que é já uma escolha não escolher.

Eu sou livre quando me responsabilizo por mudar o que não gosto em mim, enquanto outros, presos, paralisam no culpar-se pelo “mau” que são ou o “mal” que fizeram.

Eu sou livre quando ajo no meu quotidiano em congruência com o que sou, onde outros, presos, agem de acordo com o que julgam que os outros desejam.

 

Neste Dia da Liberdade, liberte-se, acredite mais em si, cuide-se melhor.

 

[algumas das ideias foram inspiradas nos objectivos estratégicos do Meta-modelo de Complementaridade Paradigmática (Conceição & Vasco, 2008)]

publicado às 17:22


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