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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
Há anos na vida em que o tempo passa... passa sem se passar nada. Um vazio de entusiasmo, de brilho e de desafios que nos entristece minuto a minuto. Os dias e as noites arrastam-se e o traço da nossa estrada esbate-se sem retorno ou conserto. Não nos apetece, não vale a pena.
Ficámos velhos por dentro e deixámos para trás aquele sorriso por quem os nossos avós se apaixonaram um dia. Perdemos cedo demais a inocência e achamos agora que sabemos demais. Desistimos de ser surpreendidos e apenas sobrevivemos, abdicámos de viver. Deixámos de regar a árvore da vida por não acreditarmos que ela voltasse a florescer...
E, num dia como outro qualquer, a magia acontece. Uma gota de chuva gélida entra-nos na alma pelo nosso corpo cansado do tal nada. Subitamente, apetece renascer quem somos, como se não houvesse um amanhã. Num piscar de olhos, um arrepio leva-nos ao frenesim de uma criança que corre, salta, se suja e brinca com tudo o que este e o outro mundo lhe dão. Porque para ela todos os minutos são curtos, deliciosamente curtos.
Brinque.
Revisite tudo o que já fez, quem amou, quem perdeu, o que conquistou.
Percorra outra vez o caminho que fez centenas de vezes para ir para a escola e descubra que, afinal, esta vida é mais e melhor do que nos convencemos.
Saboreie o seu prato preferido e acompanhe-o com a sua bebida de eleição. Tenha prazer. Volte às suas raízes, relembre a pessoa única que é e que o tempo queria apagar.
Ame.
Relembre que as pessoas podem ser amáveis, justas e sinceras sem pedir nada em troca. Que os nossos sonhos de infância eram a coisa mais bela e pura que alguma vez tivémos. E que vamos bem a tempo de lá chegar, porque a vitalidade do dia e a inspiração da noite jamais se perderam. Estiveram sempre lá, tal e qual as pessoas mais importantes da sua vida.
Sonhe.
Descobrimos até que esse passado que você e eu vivemos já não pesa. Ficámos tão leves que a liberdade que hoje sentimos nos empurra sabiamente para a felicidade. Saímos da zona de conforto que se tornou desconfortável e partimos rumo ao horizonte. É que tudo o que vivemos tornou-se uma fonte de aprendizagem que nos permite agora dar e receber como nunca, aproveitando a vida da melhor forma. A sua forma.
Liberte-se.
E como um menino que cai e se levanta com um sorriso traquina ou uma menina que colhe uma bonita flor no local mais inacessível do jardim, também você pode ultrapassar qualquer obstáculo. Abraçando-o. Sim porque naqueles tempos tudo parecia simples e puro, sem limites. Permita-se mesmo a fechar os olhos e deixar-se cair para trás em direção à existência, há sempre alguém que nos agarra. Deixe partir o medo e a culpa.
Abraçe.
Não deixe nada por dizer ou por fazer. Descanse muito mas divirta-se mais. Tire o relógio, desligue o computador e atire com o telemóvel, por breves momentos que sejam. Há sítios e pessoas que precisam de si há tanto, mas tanto, tempo. Deixe a sua marca. Viaje com a curiosidade da primeira visita de estudo. Aprenda e ensine como quando repetia a tabuada em voz alta com os seus melhores amigos. Ria-se de tudo e de nada. Declare-se à pessoa que o(a) deixa fora de si. Beije-a e dê-lhe a mão. Lembre-se do quanto ficava feliz quando o(a) convidavam para entrar num jogo ou brincadeira. Isso, convide as pessoas que o rodeiam todos os dias.
Sorria.
Repare que a mesma nuvem não passa outra vez. Acredite na mudança.
E tudo começou com uma simples gota. Uma gota de vida.
Autor: Luís Gonçalves
Psicólogo Clínico
Sempre e Nunca são palavras inflexíveis, redutoras e limitadoras da nossa vivência. Tanto em terapia como nos meus grupos de formação, elas surgem de forma quase cirúrgica e reveladora. Até mesmo em mim, reparo nelas de vez em quando! O que é facto é que têm um impacto esmagador no nosso comportamento e é isso que venho hoje falar consigo.
Se passamos por um momento particularmente difícil após o fim de uma relação, podemos pensar “nunca serei feliz” ou “as minhas relações são sempre dolorosas”, de entre muitos outros pensamentos possíveis. Estamos a generalizar de tal forma a nossa vida que construímos um padrão desligado das nossas experiências vividas no concreto. Parece que às tantas criamos uns óculos de lentes especiais: só vemos o que confirma o tal padrão, as experiências que o contradizem são evitadas e desprezadas automaticamente. Desta forma, estamos a fortalecer as nossas crenças sobre nós, os outros e sobre o mundo. Se acreditamos que nunca teremos emprego, qualquer não resposta a uma candidatura que tenhamos feito vai alimentar a crença inicial. Se acreditamos que sempre fomos preguiçosos, ignoramos os momentos em que não o fomos.
Tanto a nível individual como relacional, sempre e nunca são importantes impedimentos à mudança!
O mais negativo destes óculos é que conseguem distorcer tanto o passado como o futuro (e consequentemente, o presente): a nossa vida relacional não foi sempre horrível (mesmo uma relação complicada tem bons momentos…) e não temos qualquer prova de que nunca seremos felizes. Este tema também faz lembrar aquelas pessoas que passam na nossa vida e que têm comportamentos negativos para com quem se relacionam. Se confrontados sobre eles, referem que sempre foram assim ou que é o seu feitio. Estas não são mais do que grandes desculpas para não terem que mudar e, simultaneamente, desresponsabilizarem-se em relação aos efeitos destrutivos do seu comportamento: não sou mesmo eu que faço mal, é o meu feitio que é o responsável!