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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Marisa Gamboa
Psicóloga Clínica
“Talvez por não saber falar de cor, imaginei, talvez por não saber…” (The Gift)
Já não sei o que é viver sem ti, aliás nunca saberei…provocarei sempre a memória, imaginando-te aqui, bem perto, imaginando como seria o teu rosto, como seriam as tuas doces rugas, como te vestirias hoje…deixarias os fatos, os lenços, o cabelo arranjado? Serias mais ousada?…Ou manterias a aparência elegante, discreta e provocatoriamente sorridente! Não vou provocar mais a memória. Vou imaginar-te como foste, aliás…vou imaginar-te como morreste dentro de mim…oh, vou imaginar-te como sempre imaginei! Não posso esconder de ti, aquilo que vês, aquilo que escutas e abraças (às vezes…não percebia que eram os teus braços que me transportavam…que me agarravam…que me abraçavam). Não posso esconder de ti. Tu sabes. Tu conheces a revolta, a raiva, a tristeza, a angústia, essas, que viveram bem ca dentro. Tu sabes. Achava que não tinhas o direito de ir embora, achava que tinhas lutado pouco. Não, não podias deixar-me. A culpa… a culpa estava do teu lado! Perguntaste-me como é que eu iria viver sem ti? Como é que ia respirar? Quase que perdi a minha alma! Quase que desisti…. A dor era mais forte do aquilo que eu podia suportar. Fui devagar…não sei explicar…encontrei na dor a cura! Consegui perdoar-te! Consegui voltar a amar-te! E Hoje, trago-te comigo…e hoje sei que foste o que pudeste ser, sei que falhaste, sei que a porcaria da doença foi mais forte do que tu! Hoje dizem-me que trago o teu sorriso comigo! Hoje sinto-te…
Viver contigo!
Vamos sofrendo lutos, perdas, derrames… e parece impensável… como resistimos? Como superamos a adversidade? Como superamos a vulnerabilidade? Como continuar a viver com uma alma desfeita, descrente, devassada… como superar a morte de alguém, quando esse alguém representa tanto dentro de nós? Tão dolorosa perda pode ter significado? Podemos entendê-la ou devemos entendê-la?
O tempo que passa não faz passar!
Mas é necessário tempo para acolher a morte de alguém tão próximo dentro de nós… é necessário fazer crescer uma nova relação… uma vida, sem abraços, sem sorrisos, sem discussões, sem jantares… e tudo fica na imaginação, tudo pode voltar a acontecer na imaginação... mas não da mesma maneira.
Não há forma de substituir a perda, não há forma de reparar uma ferida para qual ainda não se encontrou qualquer medicação! Mas é reparador escrever, é reparador pensar sobre… é reparador negar a perda, é reparador aceitar a perda, é reparador gritar…
A psicoterapia pode ter um papel especial neste processo do luto!
Trabalhar a aceitação da perda emocional e física, acolher alguns sentimentos/experiências dolorosas, ajudar a promover a adaptação ao novo meio com uma nova realidade (identidade, crenças, auto-estima).
É muito difícil determinar quando termina o luto, ainda que se possa imaginar que a chave está no momento em que olho para o passado, para a história passada, para a pessoa que perdi…q uando olho com afecto e alguma serenidade.
Autor: André Viegas
Psicólogo Clínico
A intervenção no luto tem ganho territórios teóricos e práticos inquestionáveis nos últimos anos, contribuindo inegavelmente para a prestação de socorros psicológicos continuados àqueles cujas perdas parecem acarretar consequências superiores às que seriam de esperar num luto dito normativo.
Muitos que lidam de perto com pessoas que passam por perdas dolorosas, várias vezes referem sentir dificuldades de posicionamento perante tamanho sofrimento. De fato, é impossível enunciar receitas anti-dor porque, realmente, não existem. Dói quando caímos no chão, dói quando nos queimamos sem querer, dói quando torcemos um pé ou entalamos um dedo. E como um pé ou um dedo passam por uma espécie de "luto físico", até voltarem ao estado de equilíbrio fisiológico anterior, também a ferida da perda de alguém necessita de tempo, de espaço para ser amenizada. Convém, por isso, que estejamos atentos às mensagens de patologização do sofrimento porque, de facto, vivemos num tecido social anti-dor que nem sempre nos dá esse tempo e espaço natural para reorganizar todo um puzzle interno de memórias e sentimentos relativos à pessoa perdida. Quanto maior for o espaço ocupado pelo outro no nosso ser, maior será a dor da despovoação física deste mesmo outro. Para aqueles que são próximos de pessoas que passaram por algum tipo de perda, existem formas simples de ajudar.
Exemplos:
1. No início, a pessoa que vivencia a perda pode precisar de ajuda nas decisões mais simples. Pode apreciar a ajuda prática (ajuda em burocracias, preparação de refeições...).
2. Ser sensível às diferenças culturais e religiosas e procurar informação sobre costumes, rituais e práticas de modo a apoiar a pessoa (legitimar o que a pessoa está a sentir).
3. Dar a conhecer à pessoa que se está preparado para aceitar aquilo que a pessoa quiser partilhar connosco: as suas lágrimas, memórias, a sua raiva. Não brincar com a pessoa. Um ouvinte apoiante é o que elas precisam.
4. Ajudar a pessoa a perceber as formas de coping (de lidar) com a perda de modo a que elas possam entender aquilo que se passa com elas.
Fases de coping no luto
Fase 1: Encarar a perda como algo real
As pessoas tendem a oscilar entre a negação e a aceitação. A aceitação pode ser mais difícil em situações como o divórcio em que existe a possibilidade da pessoa regressar. É um período frequentemente descrito como "irreal" e em que a pessoa que vivencia a perda se sente desligada de tudo e esmagada pelo sofrimento.
Fase 2: Vivenciar a dor do desconsolo/sofrimento
Esta tarefa está associada com um tempo de sentimentos extremos misturados. Para a maioria das pessoas, os sentimentos regressam rapidamente após a perda e podem sentir dor física intensa, frequentemente descrita como estando no cerne do estômago ou à volta do coração. Isto é frequentemente acompanhado por uma saudade intensa e procura da pessoa. Visitar locais associados a essa pessoa, chamar o seu nome e chorar fazem parte da saudade. A pessoa pode também sentir que está a “enlouquecer” com a intensidade da emoção. Com a aceitação da perda pode vir a raiva - pela pessoa que morreu, raiva consigo próprio, podendo ainda sentir-se tensa e irritável, ou vivenciar sentimentos de ansiedade e culpa.
Fase 3: Ajustar-se à vida sem a pessoa
Antes da pessoa que vivencia a perda ser capaz de começar a adaptar-se, entra num período alternado com a segunda fase, em que tudo parece vazio e supérfluo. Tem falta de interesse por tudo e por vezes deseja morrer. Eventualmente, a pessoa começa a descobrir novos modos de coping, novos padrões e objectivos de vida. Isto é visível em comportamentos que mostram que estão preparadas para prosseguir em frente, como tirar férias, redecorar o apartamento, alterar a aparência física, ter um novo passatempo.
Fase 4: Aceitar a perda
Quando a pessoa aceita a perda, está mais disponível para fazer novas relações, aceitar novos desafios. O passado e os entes queridos são ainda lembrados e estimados pela pessoa mas estes sentimentos já não a impedem de apreciar a vida quando os sente.
Relativamente ao acompanhamento psicológico, em alguns casos ele pode justificar-se, sobretudo quando uma fase de luto está comprometida. O objetivo geral é pois identificar e facilitar o superar de obstáculos que impedem o completar das fases normais de luto. Especificamente, e paralelamente às várias fases de adaptação psicológica envolvidas num processo de luto, os objectivos passam por aumentar a realidade da perda, quando esta é negada, ajudar a pessoa a lidar com afetos latentes e expressos, ajudar a pessoa a superar vários impedimentos ao reajustamento após a perda e promover gradualmente novos investimentos.
Autora: Ana Crespim
Psicóloga Clínica
Pois é… muitos são os problemas, as pequenas contrariedades do quotidiano, das quais nos queixamos com alguma regularidade. Mas praticamente todas elas acabam por se resolver. Bem ou mal, tudo acaba por seguir o seu rumo. Mas é mais difícil sentir isto perante algo que nos transcende e para a qual não temos forma de resolução: a morte.
Muitas vezes é frequente que este tema nunca tenha ocupado muito tempo do nosso espaço mental… Até aquele dia fatídico em que nos bate à porta e leva alguém que fazia parte da nossa vida.
Na publicação anterior, expus um pequeno trecho que pretendia retratar os pensamentos e emoções que muitas vezes invadem quem está de luto. Levantei também algumas questões… Será que têm resposta? Várias respostas? Certos e errados? É um tema extremamente delicado. E aqui, como em tudo, as variáveis individuas e o contexto, acabam por deitar por terra algumas teorias ou a possibilidade de dizer “é assim”… Não existe regra. Existe sim a perceção pessoal e a avaliação do clínico. Cada caso é um caso.
Então o que pode ser dito? Variáveis individuais? Contexto? Quando falo em variáveis individuais, falo essencialmente de algumas caraterísticas da personalidade de quem está de luto: se tem traços de dependência emocional, se a figura perdida era alguém com quem estabelecia um vínculo desta natureza. Obviamente que não sentimos várias perdas da mesma maneira. A relação que tínhamos, processos de identificação, a história em comum e os hábitos e rotinas que detínhamos com a pessoa que partiu, têm muito a dizer em matéria de luto. Se foi alguém com quem tínhamos uma forte vinculação, laços estreitos, que nos serviu de modelo, com quem nos identificávamos, com quem passamos bons e maus momentos, com a força relacional que isso provoca e que, ainda por cima, fazia parte das nossas rotinas diárias (ex.: telefonema sensivelmente àquela hora do dia; jantar naquele restaurante todas as quintas-feiras; pedir a opinião perante certas decisões; partilhar as pequenas-grandes vitórias de cada dia; entre outros), naturalmente que a dor, o sentimento de vazio e a dificuldade de enfrentar o dia-a-dia serão mais marcados.
Em termos de contexto, a existência ou não de uma rede de suporte social, o poder contar com uma figura segura, que nos sirva de suporte para expressar o turbilhão que vai dentro de nós, pode de facto fazer a diferença.
Mas como muito existe para falar sobre este tema, não me vou ficar por este texto. Bem, por mais que tente, nunca ficará tudo dito… Mas eis algumas questões que ainda me proponho a responder:
“O que me espera”? “Como “digerir” isto”? “Devo procurar ajuda”?
Fique atento à minha próxima publicação, em que vou tentar dar resposta a estas e outras questões que se levantam perante o que mais tememos: a morte de alguém querido.
Autora: Ana Crespim
Psicóloga Clínica
“Não pude deixar de ganhar raiva ao sol… Por que é que ele continua a erguer-se todos os dias se já não estás? Odeio os rios… porque continuam a correr quando já não podes andar? Não quero ouvir o canto dos pássaros… porque é que o fazem quando tu já não podes falar? Mas sobretudo, odeio-me a mim mesma! Odeio-me porque estou viva e tu não, porque não te disse aquilo que sentia, partindo do princípio que teria ainda muito tempo para o fazer… mas estava errada… por vezes até, odeio-te a ti, porque partiste sem avisar, sem olhar para trás e deixaste-me aqui sozinha, obrigada a continuar, quando não o quero, não o desejo… O mundo ficou mais pobre no dia em que partiste… e eu… fiquei incompleta, pois enterrei contigo um bocado de mim”.
Anónimo
Quando perdemos alguém, ficamos de luto para o mundo, tudo perde o sentido, a piada. Não é só a pessoa que faleceu que parte, toda a nossa alegria, força e vontade de viver, muitas vezes, parecem ter partindo com ela.
Familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos, chegam-se a nós, sobretudo durante aqueles dias que medeiam entre o falecimento e o dia que se segue ao funeral. Parece que nem temos espaço para respirar… Não nos deixam… As frases que proferem, repletas de boa vontade, são todas retiradas do mesmo manual e vão todas bater ao mesmo ponto: “Tens que ser forte”; “Tens que continuar… ele(a) não iria gostar de te ver assim”. E quase que sentimos não dever chorar, como se nos retirassem esse direito ao associá-lo à fraqueza, afinal “tens que ser forte”. Numa situação de luto, patológico não é chorar e deprimir. Patológico é agir como se nada fosse e adiar o sofrimento: “agora não, penso nisto depois”. Já viu o que acontece quando chove? As ruas ficam mais limpas, as árvores parecem brilhar, as flores ganham vitalidade. Quando choramos, acontece algo parecido, só que dentro de nós. As lágrimas, tal como a chuva, têm o poder de “limpar”, não o que nos rodeia, mas a nossa alma. São uma forma de descarregar, não as nuvens, mas a nossa dor, a nossa tristeza.
É esperado, e até saudável, deprimir perante uma perda. Mas seguem-se os dias mais difíceis. Contrariamente ao que por vezes pensamos, os piores momentos, nem sempre são os da notícia da morte, do velório e do funeral. São os tempos que se seguem, em que somos forçados a constatar na realidade de cada dia, que aquela pessoa que tanto amamos já não está ali connosco, que já não podemos partilhar com ela as nossas vitórias, alegrias, tristezas e até as pequenas banalidades do quotidiano. É também aquela altura em que já não nos encontramos rodeados de tanta gente… e agora? O que faz com que algumas pessoas superem estes momentos com mais facilidade do que outras? Porque é que algumas parecem ficar “agarradas” a quem partiu sem conseguir seguir em frente?
Na próxima publicação, vou procurar abordar estas questões, explorando variáveis como as caraterísticas individuas e o contexto.
Autora: Cristiana Santos
Psicóloga Clínica
Morrer é algo assustador para a maioria de nós seres humanos. A ideia de que é o fim, de que a perda é irreversível, e a sensação de ausência de controlo sobre seja o que for que concerne à morte, angustia-nos… a todos!
Então como podemos viver em paz com a ideia da morte?
Proponho que comecemos por simplesmente viver. Se eu for ao cinema e passar o filme todo a pensar como vai acabar, perderei toda a emoção da trama. O mesmo se passa na nossa vida. Se ficarmos centrados na sua parte final, então não a saboreamos. Como podemos sentir falta de algo que não experienciamos? Temos de trazer a nossa mente consciente para o momento presente, aquele em que estamos e sobre o qual temos a responsabilidade de fazer o melhor possível. Experienciar a vida é preparar a morte em paz.
Mas como podemos lidar com a perda daqueles que nos são mais queridos?
A resposta a esta questão não é a fórmula mágica que me vai permitir passar pela experiência sem dor, mas uma simples verdade: aceitando e sentindo.
A experiência de perda só traz dor quando as emoções que nos ligam são positivas. Nunca sentirei a falta de alguém que me fez infeliz. Apenas sentirei a dor da perda daqueles que foram significativos para mim. Então, quando não mais vir essa pessoa, claro que irei sofrer. Claro que ficarei angustiada. Mas ainda bem que assim é! Significa que esse alguém foi importante para mim e a sua ausência é sentida. Tentarei, o melhor que puder, sentir essa dor e aceitá-la. Tal como aceitarei quando a dor começar a diminuir e lentamente me deixar. Sim, porque por mais intensa que seja essa dor, ela irá sempre diminuir. Porque é assim mesmo com tudo na vida: um início, um meio e um fim.
E quando deixar de doer significa que esqueci a pessoa?
A diminuição da dor não é sinónimo de esquecimento ou de menos amor pela pessoa ausente. Significa que a ferida está a cicatrizar e que estaremos em condições de celebrar e manter na nossa mente as memórias positivas daquele/a com quem partilhamos uma parte de nós. Pois para me lembrar de alguém importante, não preciso do sofrimento.
Assim, uma chave para lidar com a morte é através de um trabalho no sentido da aceitação da sua inevitabilidade, e do constante foco no momento presente.
Autora: Ana Beirão
Psicóloga Clínica
Há quem diga que a única certeza na vida é a morte, vista como o fim de um percurso natural. É sem dúvida uma certeza apesar de ser uma verdade que a maior parte de nós custa a aceitar, principalmente quando a pessoa que se perde é muito importante. Desde sempre que o Homem tem tentado lidar com a ideia da morte, na mitologia grega, por exemplo, a alma do defunto era levada, em segurança pelo barqueiro Caronte, através dos pântanos do Aqueronte para a margem do Rio dos Mortos. Como parte do ritual funerário, os familiares da pessoa falecida, colocavam na sua língua uma moeda de forma a pagar o transporte para o outro lado do rio. Havia a necessidade de sentir que o falecido era protegido e que poderia depois descansar.
Tratava-se a pessoa que falecera com o cuidado necessário, mas e os que ficaram? Como é que se tratam aqueles que ainda vivem e que sofrem com uma perda. A maneira como enfrentamos a morte e o luto é influenciada pela sociedade em que vivemos, pela religião e cultura, assim como pelas nossas percepções pessoais. Todos vivemos separações e perdas mas o luto é um processo pessoal de cada um, tendo em conta a importância da pessoa que se perde, a maneira como olhamos e lidamos com essa perda e o modo como nos adaptamos a essa ausência. O luto é visto como um conjunto de reacções diante de uma perda significativa que provocará alterações na vida da pessoa, como na actividade do quotidiano, na segurança, no contacto, na percepção do futuro, no relacionamento com os outros. O processo de luto prolonga-se no tempo, é individual, mesmo quando se trata de uma perda em contexto familiar, e implica reajustar a vida. Pode desenvolver-se de uma maneira normal ou patológica (por exemplo, quando o luto é negado durante muito tempo). Se o processo for normal, este toma o seu próprio ritmo, evoluindo naturalmente, com uma duração aproximada de seis meses a um ano. As reacções passam pela falta de vontade para viver o dia-a-dia, grande desinteresse pelo mundo exterior, sentimento de incapacidade de voltar a amar de novo, dificuldade em desenvolver toda e qualquer actividade que não esteja associada à memória de quem se perdeu. Os sentimentos são diversos e podem passar pela tristeza profunda, angústia, descrença, raiva, sentimento de culpa, depressão, ansiedade, recriminação, fadiga mental, confusão, a sensação que a pessoa que se perdeu continua presente, entre outros.
O luto passa por um ciclo que se divide em três fases complexas, que nem sempre são evidentes: a Fase da Crise, a Fase da Desorganização e a Fase da Organização.
Na primeira fase a pessoa tenta processar o choque da notícia, que vai depender da morte ter sido esperada ou súbita. As expressões emocionais podem ser intensas e por vezes inclui-se uma negação emocional, rejeitando o que é dito. Os sentimentos passam por insegurança, desejo de vingança, raiva, culpa. Na segunda fase, é se invadido por um sentimento de vazio e desorientação, como que se a vida perdesse o sentido. Aqui manifesta-se o desespero, a inquietação, as insónias, as preocupações e a saudade do outro. Na terceira fase, começa-se a processar a aceitação da perda definitiva e o equilíbrio físico e psicológico começa a surgir. O recordar já não é doloroso, a pessoa perdida é incluída na nossa memória e história de vida e a perda ultrapassada.
O luto pode ser muito doloroso e apresenta uma série de mudanças psicológicas e psicossociais, alterando os comportamentos e padrões normais de funcionamento. Se sentir que este é um processo difícil de superar sozinho ou a situação que enfrenta é mais complexa do aqui relatada, então peça um aconselhamento especializado e partilhe a sua dor e preocupações. Poderá sair deste processo com uma maior confiança em si e uma maior aptidão para lidar com novas situações de luto.
Autora: Fabiana Andrade
Psicóloga Clínica
O luto faz parte da nossa jornada pela vida e qualquer um de nós passa por esta experiência em determinada altura.
Pessoas que vivem esta situação, não “superam” ou “esquecem” a sua perda e sim, aprendem a aceitar que ela aconteceu e aprendem a viver com isso. Tornam-se capazes de visitar as memórias da pessoa querida, do que partilharam juntos e podem encontrar um significado para esta viagem conjunta. Quanto mais positivo for este significado, mais saudável será o processo de luto.
Enquanto as memórias da pessoa querida permanecem, vão sendo gradualmente equilibradas com as memórias da vida da própria pessoa.
Existem diferentes teorias sobre as fases do luto. Esta definição não nos diz que todas as pessoas passam por todas as fases, nem pela mesma ordem, mas ajudam-nos a entender o que a pessoa poderá estar a sentir:
1. Negação e o Isolamento: defesas temporárias contra a dor psíquica diante da perda. Há uma sensação de entorpecimento, de descrença. Podem surgir verbalizações como “estou bem”, e a pessoa pode continuar a agir como se nada tivesse acontecido, mantendo-se muitas vezes em movimento constante.
A intensidade e duração dessas defesas dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a Negação e o Isolamento não persistem por muito tempo.
Email recebido
Começo por vos dar os parabéns pelo v/ blogue e pelo website da Oficina da Psicologia, é um trabalho absolutamente fantástico.
E agora estou aqui a olhar para este e-mail e estou a pensar se devo ou não continuar para o tema que, na realidade, me levou a procurar o termo “psicoterapia” no Google e que, por sua vez, me conduziu a vocês.
Sabem, eu sou uma daquelas pessoas que acha que não precisa da ajuda de ninguém, que consegue fazer tudo sozinha. Pior do que isto só mesmo a sensação de que tenho de fazer tudo sozinha. Não há alternativa. Eu só percebi que se calhar estou a precisar de ajuda profissional quando há uma semana e meia atrás reagi mal a uma mudança no meu local de trabalho (foi só de um sitio para o outro). Reagi mal ao ponto de começar a entrar num ataque de pânico e quase agredir os meus colegas.
Sim, eu acho que sei quais são os sintomas de um ataque de pânico porque – até hoje - creio que já tive dois, um dos quais acabei por desmaiar e como tal não me lembro de grande coisa e o outro foi num banco onde tinha ido depositar dinheiro. Apesar de no caso episódio em que acabei por desmaiar eu saber que a origem pode ter estado numa discussão, no episódio do banco não aconteceu nada. Estava apenas na fila à espera de ser atendida, só que de repente comecei a achar que o banco estava muito cheio (que não estava), estava tudo muito apertado, não me deixavam respirar, comecei a transpirar, a ficar com as mãos geladas, a tremer, a ver pontinhos a piscar (tal como se estivesse estado a olhar para sol) e a partir daí tive de sair a correr daquele lugar e ainda tive de empurrar algumas pessoas pelo caminho. No mais recente episódio consegui sair já depois entrar na hiperventilação mas antes de começar a ver os pontinhos a piscar. Isto costuma acontecer-me em locais onde estão muitas pessoas juntas, mas não costuma acontecer-me frequentemente nem com uma intensidade elevada. Normalmente não ultrapassa o nível do desconforto.
O problema é que de há 12 meses para cá as sensações de estar encurralada, de não estar segura (nem em casa, nem no emprego) e de não confiar em ninguém têm vindo a crescer e eu não consigo contê-las. Talvez estejam relacionadas com o facto de ter perdido o bebé e o meu melhor amigo na mesma altura, não sei, mas não é um assunto sobre o qual goste de conversar. Às vezes tento relacionar isto com outra situação de perda que me afectou consideravelmente (para ver se consigo encontrar pontos de ligação que me permitam racionalizar o assunto), mas é pior a emenda que o soneto dado que dessa vez além de ter entrado numa crise de ansiedade, tive uma perturbação alimentar na qual perdi bastante peso. E se agora ficaram curiosos para saber se desta primeira vez fui acompanhada em termos psicológicos, a resposta é não. Em termos médicos sim, em termos psicológicos não. Mas reconheço que se calhar devia ter sido. Há 12 meses atrás, com a perda do bebé, ainda fui a uma consulta (o Hospital de Santa Maria disponibilizou o serviço), mas depois acabei por não ir a mais nenhuma porque o espaço entre consultas é tão grande que nunca mais me lembrei. Além disso, achei que até estava a lidar bem com toda a situação e podiam haver pessoas que precisavam mais do que eu (ou talvez seja uma boa desculpa que me faz sentir mais nobre).
Pois é, se calhar não era má ideia marcar uma consulta pois não?
Olhem, não sei o que vos diga. Não sei. Apenas gostava de não andar stressada, preocupada e triste todos os dias.
Adorei a vossa iniciativa.