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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Marta Gonçalves Porto
Psicóloga Clínica
Hoje gostaria de relembrar a história de Robinson Crusoe. Quem não se recorda da história de um dos grandes heróis da literatura inglesa? Um homem que aquando de uma intensa tempestade, ficou naufragado e sozinho numa ilha que durante algum tempo pensou estar deserta.
Torna-se fundamental, então, reflectir sobre o que permitiu a sobrevivência deste homem, tendo em consideração prévia que apenas poderá ter sido um método digno de um herói.
Crusoe ao deparar-se com a sua situação potencialmente trágica e sentindo-se com pouca esperança de um dia vir a ser salvo, decidiu, apesar das circunstâncias, reagir à adversidade. Foi exactamente esta decisão que promoveu a sua sobrevivência.
Ao concluir que nenhuma situação poderia ser tão catastrófica que leve um homem a perder definitivamente a esperança, mudou a forma como estava a encarar as suas circunstâncias. Neste sentido, ao não se entregar a um compreensível desespero que colocaria a sua vida em risco, optou por acentuar conscientemente o lado positivo da sua realidade, elegendo uma nova perspectiva.
Esta nova perspectiva foi automaticamente acompanhada de uma mudança ao nível das suas cognições, isto é, dos seus pensamentos: “Fui parar a uma ilha solitária” – “Mas ainda estou vivo e não me afoguei, como todos os meus camaradas”; “Fiquei isolado, entre todos os seres humanos fui eu o escolhido para sofrer estas privações” – “Mas também, entre toda a tripulação, fui o escolhido para escapar à morte”; “Nem sequer tenho roupa para me cobrir” – “Mas estou numa região quente, onde quase nunca precisaria de usar roupa, mesmo que a tivesse.”
Neste momento, admito que tudo o que foi supracitado pode ser fácil demais para ser verdade. Não obstante, torna-se fundamental referir que esta mudança ao nível das cognições se encontra na base de uma das Terapias mais eficazes no tratamento das perturbações mentais e do comportamento, ou seja, a Terapia Cognitiva preconizada por Aaron Beck.
Por último, gostaria de partilhar o seguinte prisma, influenciado pelo Método de Robinson: Todos nós podemos ser heróis das nossas vidas, alterando a perspectiva da nossa realidade.
Autora: Marta Gonçalves Porto
Psicóloga Clínica
A ansiedade pode ser definida como um estado emocional em que a pessoa se sente de forma desagradável, alarmada e tensa, na expectativa de que qualquer coisa desagradável e indefinida lhe vai acontecer. O indivíduo sente-se inseguro e indefeso perante uma ameaça que não consegue identificar. Por outras palavras, é um estado de alarme e medo relativamente a algo que é percepcionado como perigoso.
Assim, a ansiedade resulta de uma antecipação do futuro, impedindo o sujeito de experienciar o presente.
A inquietação psíquica característica dos estados ansiosos é acompanhada por uma inquietação motora (tiques ansiosos) e sintomas físicos (taquicardia, palpitações, dificuldade respiratória, tremores, sudação, náuseas e vómitos, entre outros).
Quando estamos a abordar a temática da ansiedade, podemos verificar a existência de duas formas deste estado emocional: ansiedade normal e ansiedade patológica. A primeira, que é uma resposta natural à percepção de ameaça, encontra-se associada a acontecimentos e é explicável em função do estímulo que a desencadeia. Outra das características da ansiedade normal prende-se com o seu carácter reactivo e esporádico, não acarretando repercussões na eficiência cognitiva e no funcionamento corporal. Possui uma função mobilizadora e adaptativa que permite criar estratégias de resposta perante os problemas. Neste sentido, podemos dizer que a ansiedade normal não requer tratamento, dada a sua natureza lógica e cronológica.
Já no que se refere à ansiedade patológica deparamo-nos com uma desproporção intensa entre o estado emocional do sujeito e a importância do acontecimento, ou, então, com uma resposta sem relação com estímulos externos, sendo persistente e repetitiva. A ansiedade patológica, contrariamente à ansiedade normal, afecta a eficiência cognitiva (diminuição no rendimento da memória, atenção e pensamento), faz reviver situações passadas também vividas como ameaçadores na altura e acarreta repercussões corporais significativas.
Tendo em consideração as diversas repercussões desorganizadores do mundo interno e relacional do sujeito, a ansiedade patológica requer tratamento psicoterapêutico, sendo que quanto mais precoce for a intervenção, menos consequências negativas provocará na vida do indivíduo.
Autora: Marta Gonçalves Porto
Psicóloga Clínica
Os fenómenos de condução agressiva e road rage (raiva na estrada) aumentam exponencialmente o risco de colisão e a pertinência da abordagem destes temas prende-se com a elevada quantidade de acidentes graves de viação que resultam em ferimentos graves e vítimas mortais.
Segundo Leon James, psicólogo norte-americano especializado nas componentes cognitiva e comportamental relacionadas com os fenómenos supracitados, as pessoas tornam-se automática e potencialmente mais agressivas pelo facto de se sentarem ao volante de um automóvel, devido à incapacidade de resistir à provocação e ao desejo de retaliação. Segundo o autor, as pessoas canalizam as suas frustrações para o trânsito, abordando os outros condutores como se fossem apenas automóveis e não como seres humanos, colocando-se em primeiro lugar. Neste sentido, o condutor percepciona a sua viagem tendo em consideração apenas os seus desejos e necessidades, não respeitando os interesses de cada um dos utentes que circulam e que se encontram igualmente a fazer a sua própria viagem.
Diane Nahl, colaboradora de James, acrescenta que a raiva e o descontrolo emocional estão relacionados com a ideia de morte, sendo que na condução existe um número muito elevado de estímulos que nos remetem inconscientemente para o perigo de vida. Este factor, aliado à procura de excitação, impaciência, aborrecimento, hostilidade e/ou pressa, contribui para o despoletar de um comportamento agressivo e uma abordagem baseada na raiva no que diz respeito à condução.
Em Portugal, deparamo-nos com uma intensa escassez de estudos neste âmbito. De acordo com Mário Horta, director do Departamento de Prevenção Rodoviária Portuguesa, a frustração pode contribuir para que o sujeito se veja a si próprio como parte do veículo, fazendo com que o indivíduo tenha uma falsa sensação de poder e até de omnipotência.
Nesta perspectiva, a falsa percepção de controlo por parte dos condutores agressivos dificulta o reconhecimento dos seus erros, diminuindo a probabilidade de adopção de uma condução mais defensiva, contribuindo para a perpetuação da agressividade ao volante.
Quando um condutor impede, por exemplo, a passagem a outro, despoleta na pessoa a quem foi negada a passagem, a evidência da sua impotência, sendo que a ilusão de controlo é desvanecida, dando lugar ao aparecimento da agressividade como resultado dessa frustração.
É importante referir que o anonimato e a atribuição a causas exteriores (trânsito congestionado, reacções de outros condutores) contribuem para que o condutor agressivo se sinta confortável para assumir determinados comportamentos em que relega o outro para segundo lugar, podendo colocar a sua vida e a do outro em causa.
A influência social contribui igualmente para a reprodução de comportamentos agressivos na estrada, uma vez que o efeito cumulativo de situações diárias caracterizadas pela hostilidade e a sensação de impunidade, promovem uma cultura de desrespeito nas estradas.
Após uma revisão teórica da condução agressiva, torna-se fulcral referir o que podemos fazer na prática para transformar os comportamentos agressivos na estrada em comportamentos que espelhem uma condução defensiva, promotores de um viagem segura e serena.
Assim, antes de iniciar a condução, é importante estar ciente de que vai praticar uma tarefa potencialmente perigosa e que exige a sua plena atenção. Nesta perspectiva, é fundamental ter em consideração os seguintes aspectos:
Para quê a agressividade?
Autora: Marta Porto
Psicóloga Clínica
A auto-afirmação espelha um conjunto de comportamentos emitidos por uma pessoa, num contexto interpessoal, no qual exprime os seus sentimentos, desejos e opiniões, ou ainda os seus direitos, de forma directa, firme e honesta, respeitando os sentimentos, atitudes e direitos dos outros. Assim, não tem como objectivo controlar, manipular ou punir os receptores, invocando simultaneamente uma atitude de respeito.
Existem três passos ou princípios para aplicar a assertividade, sendo que a sua prática segue sempre uma determinada ordem. No início, pode parecer muita coisa a aprender, mas a sua aquisição é semelhante à aprendizagem da Condução de Automóveis. Inicialmente, poderá ser complicado e difícil, contudo à medida que vamos praticando acaba por se tornar natural.
Passo1 Força-o a focalizar toda a sua atenção no seu interlocutor e não a usar o tempo que este usa para lhe falar em favor da sua defesa ou ataque. Ao escutar activamente, demonstra compreensão e empatia para com o outro e o seu ponto de vista, mesmo que não esteja de acordo com ele.
Passo 2 Leva-o a expressar de uma forma directa os seus pensamentos e sentimentos sem insistência e sem pedir desculpa.
Passo 3 É essencial, a fim de que possa indicar de modo claro, consistente com o objectivo, qual a acção e/ou resultado que deseja sem hesitações ou insistência.
Assim, a atitude de auto-afirmação, permite-lhe estar à vontade na relação face-a-face, controlar a situação, negociar na base de objectivos preciosos e claramente fixados, procurando compromissos realistas. Lembre-se sempre do seguinte: em caso de desacordo, é fundamental negociar mais na base do interesse mútuo do que na ameaça.
A Passividade: um comportamento ineficaz
Uma atitude passiva implica medo de se envolver, o que pressupõe submissão e uma tendência a evitar o conflito, o que espelha uma atitude de fuga na presença de contrariedades. Assim, a passividade caminha lado a lado com a permissão de que as outras pessoas o tratem, aos seus pensamentos e sentimentos, como eles quiserem, sem que você se defenda. Significa fazer o que os outros querem que faça, independentemente dos seus desejos.
Os comportamentos característicos da passividade são os seguintes:
1- Mostrar acordo em relação a assuntos que não lhe interessam
2- Não conseguir pedir um favor
3- Evitar contacto visual
4- Apresentar um padrão de discurso hesitante
5- Apresentar postura corporal tensa e movimentos corporais desajustados ou ansiosos
6- Falta de confiança
O comportamento passivo produz irritação, aborrecimento e pena por parte dos outros receptores, estabelecendo-se um padrão em que os outros abusam constantemente. O problema é evitado, os seus legítimos direitos são postos de lado, deixando que a zanga e ressentimento cresçam dentro de si.
Neste sentido, perante uma situação em que se depara com a necessidade de fazer face às reacções dos outros, quando deles necessita, ou quer emitir o seu desacordo (situações diárias, com os amigos, familiares ou no trabalho), a passividade não traz resultados satisfatórios, nem assegura relações agradáveis com os outros, ao passo que afirmar-se tranquilamente traz-lhe mais possibilidades de resultados positivos nos seus relacionamentos.