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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: André Viegas
Psicólogo Clínico
A morte faz parte da nossa vida, é universal e experienciada por todos, podendo acarretar consequências psicológicas, nomeadamente ansiedade face à morte, que poderão ter repercussões no bem-estar global do indivíduo.
Nos dias atuais, a morte não é encarada unicamente como um fenómeno instantâneo. Trata-se de um verdadeiro processo biológico e psicossocial, em que um grande número de atos vitais se extinguem numa sequência tão gradual e saliente que escapa geralmente à simples observação, suscitando na maioria das pessoas intensas emoções (Castedo & Santos, 2008).
Sabendo que o medo da morte coexiste com o ser humano desde muito cedo, também a ciência psicológica se tem interessado nas últimas décadas sobre o tema, na medida em que há um influenciar de todas as dimensões humanas. A título de exemplo, pode referir-se que fenómenos como o suicídio, o aborto, a eutanásia/distanásia, o luto, a solidão, determinadas doenças (e.g. HIV/SIDA, cancro, depressão, entre outras), encontram, não poucas vezes, alguma configuração que sublinha um posicionamento perante a morte e o morrer, uma vez que lhes subjaz, de alguma forma, uma experiência de perda.
Sendo a ansiedade um estado emocional que provém de um medo que é real ou imaginado, é conveniente o devolver da naturalidade do sentir medo e ansiedade face à morte, tendo em conta que o ser humano tem a capacidade cognitiva de se aperceber da inevitabilidade da mesma e de recear o que poderá vir após a morte.
Na maioria dos casos, essa capacidade cognitiva evoca imagens negativas e perturbadoras que evocam sentimentos de medo e ansiedade (Rebelo, 2004 cit in Campelos, 2006), ultrapassando por vezes a barreira do razoável para quem os sente. Defina-se ansiedade face à morte como uma reacção emocional resultante da percepção de sinais de perigos ou ameaça (reais ou imaginárias) à própria existência, que podem desencadear-se perante estímulos ambientais (e.g. doença grave ou ver um cadáver), estímulos situacionais que por associação com os anteriores ficam condicionados e são capazes de provocar uma resposta emocional condicionada; assim como pensamentos ou imagens relacionadas com a própria morte ou a morte alheia (Limonero, 1997).
Segundo Wong (1995; 1998; 2000), os motivos que podem despoletar este tipo de ansiedade são: a finalidade da própria morte; a incerteza de não saber o que acontece depois da morte; medo de deixar de existir; medo da dor envolvida no morrer; medo da solidão e medo da não finalização dos projectos de vida traçados. Assim, elevados níveis de ansiedade face à morte podem chegar a incapacitar a pessoa para o desenvolvimento de uma vida normal (Limonero, 1997), de forma semelhante ao que acontece quando uma pessoa sofre de níveis elevados de ansiedade geral (Miguel-Tobal & Casado, 1999).
Quando elevados níveis de ansiedade face à morte comprometem o quotidiano do indivíduo, o encontro psicoterapêutico é fundamental na medida em que facilita a compreensão destes fenómenos internos e mune o cliente de estratégias para lidar com os eventuais estímulos externos desencadeantes.