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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Pedro Diniz Rodrigues
Psicólogo Clínico
Numa era de desempenhos e competências psicológicas, em que doenças de foro neurológico ganham um elevado destaque como algo a evitar, tem vindo a surgir nas ultimas décadas toda uma cultura de práticas associadas ao treino da mente.
Estes denominados “mindgames” pretendem manter ou aumentar a juventude do nosso cérebro, podendo também ter a função de reabilitar algumas das competências psicológicas pouco desenvolvidas e em casos de doença neurológica, desacelerar a velocidade de perda dessas competências.
Pela elevada incidência deste tipo de doenças na nossa sociedade, pode-se considerar que a juventude do nosso cérebro não aparenta ser algo privilegiado pelo estilo de vida “moderno”.
Estamos normalmente expostos a níveis de stress, que são mais elevados do que gostaríamos. A sua presença terá várias razões que escapam ao nosso controlo, havendo no entanto uma pela qual somos responsáveis e sobre a qual será importante refletir. Tem a ver com a forma como o nosso cérebro está habituado a funcionar.
Pensando nalguns exemplos do nosso dia-a-dia, estamos habituados cada vez mais regularmente a nos deslocamos nos nossos carros guiados pelo GPS, que nos poupa o trabalho de pensar o caminho, de recordar ou antecipar cenários possíveis como qual o trajeto mais rápido ou menos congestionado.
A necessidade de armazenar e recuperar informação do nosso cérebro, parece estar a ser substituída por uma pesquisa rápida na internet, da qual selecionamos o tópico que nos esclarece mais rapidamente, para que tenhamos de mobilizar a atenção pelo mínimo tempo possível.
Com as situações mencionadas, podemos concluir que o conforto acrescido dos nossos tempos, nos ajuda a libertar a mente, dando-nos disponibilidade para atividades que de outra forma não poderiam ser realizadas, pois não as poderíamos fazer em simultâneo.
Como será que aproveitamos esta disponibilidade adicional?
Será que realmente rentabilizamos esse tempo?
Uma resposta possível para muitos de nós é que “talvez não”. Esta cultura de modernidade que nos traz um inquestionável acréscimo de conforto, tem também o efeito de nos tornar menos ativos mentalmente. Somos muitas vezes conduzidos, para que nos tornemos agentes passivos de quantidades excessivas de estímulos, que tornam o nosso cérebro mais preguiçoso e resistente a tudo a que o obrigue a um tipo de atividade a que não está habituado. Esta forma de interagirmos com a nossa realidade, tende a provocar o envelhecimento precoce do nosso cérebro.
Poderá perguntar-se sobre o que terá o jogo de xadrez mencionado no título, a ver com o que leu até agora.
Posso-lhe dizer que muito. Desde os primórdios da psicologia, as primeiras gerações de investigadores e criadores dos testes de inteligência, já consideravam a prática regular de xadrez, como um factor com elevado impacto para o desenvolvimento de competências psicológicas.
Ao longo de décadas, têm vindo a ser feitos numerosos estudos comparativos entre jogadores regulares de xadrez e jogadores principiantes, ao nível de competências como a memória (de trabalho e a longo prazo), percepção visual, imaginação, tomada de decisão e resolução de problemas, aquisição de conhecimento e idade cerebral.
São várias as evidências que a investigação nos fornece. Por exemplo, dois jogadores experientes podem estar a falar de um jogo que ocorreu há muito tempo atrás, sem a presença física de tabuleiro ou peças, recordando padrões de jogo, posições de peças no tabuleiro, jogadas alternativas, que para um jogador principiante, parecem aleatórias e como tal desprovidas de significado, sendo “menos memorizáveis”, mas que para os jogadores mais experientes terão um elevado significado, permanecendo assim acessíveis na sua memória.
Um outro exemplo da utilização mais eficaz do reconhecimento de padrões memorizados e capacidade de os trazer à consciência de forma eficaz, pode ser constatável ao apresentar-mos durante alguns segundos a dois jogadores, um experiente e um principiante, um tabuleiro de xadrez com peças aleatoriamente colocadas. Quando solicitados para reproduzir de memória o que viram, o jogador experiente conseguirá mais rapidamente e com maior precisão, recordar a forma como elas estavam dispostas, revelando uma maior capacidade de aceder aos conteúdos que memorizou.
É verdade que atualmente, existe à nossa disposição uma grande variedade de instrumentos ou programas de computador que permitem trabalhar de forma específica, cada uma das competências do nosso cérebro. Outras áreas como a música, programação informática, calculo matemático ou jogos de cartas como o poker, poderão desenvolver competências semelhantes às estimuladas pela prática regular de xadrez. Ou seja, não teremos naturalmente de nos restringir ao jogo de xadrez, para desenvolvermos competências psicológicas.
Independentemente dos benefícios associados, quem escolhe o xadrez como uma atividade para ocupar o tempo, beneficiará em fazê-lo pelo prazer de jogar, sendo este um motivo que a investigação confirma como sendo o mais indicado para manter a motivação e preservar o bem-estar que que a atividade confere.
Deveremos evitar utilizar o jogo de xadrez como uma ferramenta para um fim. Dessa forma, acabamos por adoptar respostas mais afectivas durante as partidas e tendemos a assumir uma atitude mais competitiva. A motivação (nestes casos mais extrínseca), fica condicionada pelos resultados menos positivos e acabamos por não desfrutar do jogo.
Se vamos jogar xadrez não pensamos muito nas competências que possamos estar a desenvolver. Queremos acima de tudo passar um bom bocado. Estamo-nos a implicar na atividade pelo desafio e prazer que nos dá, ou seja, com uma motivação intrínseca. É bom estarmos conscientes dos benefícios, mas quereremos acima de tudo, jogar. Se procura uma atividade construtiva com que possa ocupar a sua mente, considere dedicar algum tempo à prática deste jogo. E já agora, permita-se desfrutar...
Autora: Marta Gonçalves Porto
Psicóloga Clínica
Hoje gostaria de relembrar a história de Robinson Crusoe. Quem não se recorda da história de um dos grandes heróis da literatura inglesa? Um homem que aquando de uma intensa tempestade, ficou naufragado e sozinho numa ilha que durante algum tempo pensou estar deserta.
Torna-se fundamental, então, reflectir sobre o que permitiu a sobrevivência deste homem, tendo em consideração prévia que apenas poderá ter sido um método digno de um herói.
Crusoe ao deparar-se com a sua situação potencialmente trágica e sentindo-se com pouca esperança de um dia vir a ser salvo, decidiu, apesar das circunstâncias, reagir à adversidade. Foi exactamente esta decisão que promoveu a sua sobrevivência.
Ao concluir que nenhuma situação poderia ser tão catastrófica que leve um homem a perder definitivamente a esperança, mudou a forma como estava a encarar as suas circunstâncias. Neste sentido, ao não se entregar a um compreensível desespero que colocaria a sua vida em risco, optou por acentuar conscientemente o lado positivo da sua realidade, elegendo uma nova perspectiva.
Esta nova perspectiva foi automaticamente acompanhada de uma mudança ao nível das suas cognições, isto é, dos seus pensamentos: “Fui parar a uma ilha solitária” – “Mas ainda estou vivo e não me afoguei, como todos os meus camaradas”; “Fiquei isolado, entre todos os seres humanos fui eu o escolhido para sofrer estas privações” – “Mas também, entre toda a tripulação, fui o escolhido para escapar à morte”; “Nem sequer tenho roupa para me cobrir” – “Mas estou numa região quente, onde quase nunca precisaria de usar roupa, mesmo que a tivesse.”
Neste momento, admito que tudo o que foi supracitado pode ser fácil demais para ser verdade. Não obstante, torna-se fundamental referir que esta mudança ao nível das cognições se encontra na base de uma das Terapias mais eficazes no tratamento das perturbações mentais e do comportamento, ou seja, a Terapia Cognitiva preconizada por Aaron Beck.
Por último, gostaria de partilhar o seguinte prisma, influenciado pelo Método de Robinson: Todos nós podemos ser heróis das nossas vidas, alterando a perspectiva da nossa realidade.
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
A maior parte dos estudantes aprenderam que estudar com música favorece a concentração e muitas pessoas que trabalham em open space aprenderam que podiam construir para si próprias um gabinete musical fechado, apenas com a colocação de uns auscultadores ligados ao seu iPod, beneficiando do isolamento que as novas tecnologias oferecem e, simultaneamente, de um ambiente de trabalho propício ao desempenho intelectual. Também é instintivo para muitos de nós usarmos a música como uma forma de alterar estados de humor, para “subirmos o astral” ou nos aquietarmos e relaxarmos. Alguns vão ainda mais longe e usam a música para influenciar o comportamento dos seus animais de estimação (ou não tanto de estimação, já que me recordo de ter lido sobre a influência da música na produção de leite em vacas…) e favorecer o crescimento e saúde das suas plantas.
De facto, ao longo do tempo, tem sido demonstrado que a música ajuda a aliviar a ansiedade e depressão, melhora o estado de humor em geral e pode melhorar o funcionamento cognitivo. Mas será que ajuda a memória? De acordo com um estudo recentemente publicado na Applied Cognitive Psychology, memorizamos pior quando aprendemos uma tarefa enquanto ouvimos música – o melhor ambiente para facilitar a memória (pelo menos, a memória do tipo estudado, que exige capacidade para reter sequências numéricas) parece ser um ambiente de sossego auditivo. Por isso, se está a estudar para um exame de matemática, ou a coligir dados para uma apresentação de análise de resultados financeiros, por exemplo, silencie os ruídos em torno de si, incluindo essa música relaxante que estava a saber-lhe tão bem. Pode ouvi-la antes ou depois da tarefa de aprendizagem, mas não durante os momentos em que a sua atenção se dirige para a memorização.
Autora: Madalena Lobo
Psicóloga Clínica
Muitas vezes, o nosso mal-estar advém do facto de sabermos que precisamos de fazer algo proximamente e que representa uma fonte de insegurança ou ansiedade para nós.
Neste caso, é uma boa ideia fazer um ensaio mental, enquanto se garante a manutenção de um estado relaxado – um pouco como se estivéssemos a dizer ao organismo: “Vês? Aquilo que vai acontecer é tranquilo. Está tudo bem!”. Ao mesmo tempo, permite-nos “percorrer o filme” daquilo que antecipamos e detectar potenciais situações que requeiram a nossa atenção prévia e, mesmo, a opção por algum plano de contingência.
O exercício em si próprio é muito simples. Vamos a isso!