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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autor: Gustavo Pedrosa
Psicólogo Clínico
Em saúde mental, existem publicações quase “bíblicas”. O DSM – IV – TR e o CID – 10 são as referências da Psicopatologia; publicações que servem de referência aos diagnósticos e às estatísticas utilizadas para as terapias. No entanto, são tão importantes, como por vezes inúteis.
Raramente os nossos clientes possuem um quadro clinico claro, conciso e sem comorbidez, ou seja, raramente apresentam apenas sintomas de uma patologia.
Acima de tudo, estas publicações são pontos de referências para os terapeutas agruparem sintomas e para dirigirem as suas diferentes formas de fazer terapia, pois servem apenas para realizar diagnósticos simples e claros.
Em muitos casos, estes diagnósticos são mais importante para os clientes do que para os terapeutas. A necessidade que atualmente as pessoas têm em catalogar as suas patologias e em explicar o seu mau estar, leva a que haja uma procura de uma semântica patológica.
Também temos que perceber que, nessa necessidade de catalogar e agrupar patologias, há muitas vezes alguns fatores sociais envolvidos. Nos anos 90 falava-se em depressão; no início do milénio o autismo e a hiperatividade foram termos que começaram a ser usados com muito mais frequência e, atualmente, muito se discute sobre as pessoas bipolares.
Este movimento de patologia social poder-se-á explicar pela evolução na compreensão ou desenvolvimento de programas terapêuticos para cada quadro clínico, ou simplesmente pela exposição das problemáticas que anteriormente eram escondidas do panorama social.
As perturbações do desenvolvimento foram também muito exploradas nos últimos anos. Como referido acima, o autismo e a hiperatividade são termos que atualmente estão muito presentes no contexto escolar.
Também relativamente a outras patologias presentes na fase de desenvolvimento, notou-se que os familiares começaram a procurar nomes para os sintomas. Muitas vezes notamos que, por exemplo na deficiência mental, se procura saber qual a síndrome que explica a razão da existência dessa deficiência. Claro que, neste caso, além da categorização, há também a procura de uma razão e de um termo clinico que seja socialmente aceite mais facilmente. E, neste caso, mesmo os técnicos que não estão ligados diretamente à saúde mental, mas que trabalham com este tipo de população, perguntam frequentemente qual a causa e a patologia da deficiência mental.
Tudo isto serve apenas para explicar que nem sempre é fácil fazer um diagnóstico claro e conciso, pois em muitos casos existe comorbidez com diversas patologias, além dos sintomas “escondidos” ou menosprezados pelo cliente, dificultando o diagnóstico claro. E esse diagnóstico serve muito mais a compreensão e aceitação do cliente, do que a estruturação terapêutica leva a cabo pelo técnico de saúde mental. Trata-se muitas vezes de uma estruturação pessoal e social, e não tanto de uma estruturação patológica.