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“A mulher só e o príncipe encantado”

por oficinadepsicologia, em 21.07.13

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As relações têm sido o tema principal abordado nas sessões de Psicoterapia de quem me procura. A elas estão sempre associadas inúmeras emoções mas também crenças, sobretudo a crença no “Príncipe Encantado”.

 

Como tal, hoje trago-vos um artigo baseado no autor Jean-Claude Kaufmann que remete para a trajetória que a mulher teve de fazer e, nalguns casos, ainda faz, para sair do seu papel tradicional em que o marido se torna “a sua vida”, na medida em que é dele que ela depende, para crescer na sua autonomia pessoal e profissional.

 

Os casamentos, ou melhor dizendo, como referem os etnólogos, as alianças, assumem desde tempos remotos uma importância extrema na formação das sociedades humanas na medida em que, para além das suas funções sociais, elas evitam as guerras entre as diferentes comunidades.

 

Devido a questões de ordem pública e interesse coletivo, algumas sociedades utilizavam o casamento simplesmente como forma de ligar famílias ou grupos sociais diferentes. A questão da união é então considerada fulcral, na medida em que torna os dois indivíduos envolvidos no casamento, num só. E nesta união está implícita uma comunicação entre os indivíduos, mas também uma abertura à autonomia individual de cada um.

 

Príncipe encantado ou marido?

“A construção do casal tornou-se difícil, mas não é proibido ter esperança (é justamente, aliás, porque as esperanças são mais fortes que o casal se tornou de construção difícil). É preciso ter esperança e é preciso sonhar para dar forma às expectativas: quem é aquele que se deseja encontrar? É aqui que intervém a figura imaginária do príncipe encantado, filtro através do qual se desempenham os cenários do futuro” (Jean-Claude Kaufmann)

 

Ao passo que antes a conceção de príncipe encantado passava pelo “filho do rei que aparecia no cavalo branco, hoje em dia é diferente, e os requisitos de um príncipe encantado passam também pela afetividade. O ser afectivo e demonstrar carinho leva a uma nova conceção de príncipe encantado, onde o sonho e o imaginário tem mais probabilidade de passar apenas do sonho e tornar-se uma “realidade real” e não uma “realidade imaginária”, onde “quanto mais forte é o impulso (até à loucura), mais o príncipe é verdadeiro”.

Os requisitos de príncipe encantado passam assim por alguém com que se possa “vibrar, partilhar coisas profundas” ou então a outra hipótese será o celibato por não existir príncipe encantado com estas características.

 

A fuga ao quotidiano faz com que estas representações façam do príncipe algo muito físico onde ele é aquele que sabe compreender e leva a um reconforto imediato.

“Para a mulher madura (mais fascinada pela sua capacidade de compreensão e não tanto pela sua beleza), ele tem um aspeto mais humano, tornando-se extraordinário quando persiste em continuar a ser o verdadeiro príncipe. Para a mulher divorciada, ele torna-se mais prosaicamente “o homem ideal” ou “homem da minha vida”, descrito segundo uma lista de critérios bastante precisos.

Assim, a eventual formação de um casal não é simples nem fácil. O príncipe passa para segundo plano, depois das questões “administrativas”, uma vez que “em jogo” estão também ligações afetivas e todo um rol de sentimentos.

 

De facto, a vida a sós é um dos aspetos da vida social em evolução, assim como a família. Esta última, e como refere o autor, encontrando-se, no entanto, numa encruzilhada em que a necessidade de autenticidade e encontro com o “eu” se confronta com a partilha e a vida com o outro. O interior da vida familiar torna-se então uma “luta” entre a possibilidade de realizar desejos pessoais e de aspirar à autonomia, mas ao mesmo tempo de obrigar o indivíduo a confrontar-se com o desconhecido e a estar intimamente ligado a alguém.

 

Assim, pode dizer-se que a essência, quer da vida a sós, quer da família, é o conhecimento do “eu”, a autonomia do sujeito, bem como a criação de laços afetivos. Quer num caso, quer noutro, o que está em causa é a afirmação, embora por vezes moderada, da autonomia.

 

publicado às 19:48

O Fenómeno das "Trocas"

por oficinadepsicologia, em 16.12.12

Autora: Irina António

 

Psicóloga Clínica

 

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Irina António

As relações humanas, tal como a nossa existência, têm uma natureza cíclica. Ao contrário daquilo que podemos pensar que tudo na vida tem uma lógica “linear” (do pior para o melhor, do mais simples para o mais complexo), as experiências reais confirmam que tudo se movimenta ciclicamente,  que os estados se alternam e que todas as histórias terminam num ponto final.

 

As relações humanas percorrem o mesmo caminho cíclico e o mais importante é que o contacto humano seja construído de uma forma equilibrada e adequada a cada momento do seu desenvolvimento. É importante que no início deste caminho esteja estabelecido um balanço entre segurança e interesse.

 

No início da relação temos muita curiosidade e também sentimos medo perante a pessoa que ainda é uma incógnita, apesar de todo o interesse que ela pode suscitar em nós. O mais importante não é tanto ultrapassar o medo, mas estabelecer o equilíbrio e abrir caminho para uma nova etapa – etapa de construção de relações.

 

Podemos observar o desenvolvimento das relações através do fenómeno de “troca”. Pois, quando estamos com alguém temos espectativas, queremos receber algo valioso e desejável, para poder equilibrar as nossa faltas reais ou imaginárias. Queremos trocar emoções, sentimentos, valores e atitudes pelas relações estáveis e duradouras, pela conquista do lugar especial na vida dos outros.

 

A nossa entrada no mundo de relações adultas não é inocente. Levamos connosco todo o historial de trocas que tínhamos estabelecido com os nossos progenitores. Com eles aprendemos fazer certas manipulações e na sequência delas esperamos um retorno semelhante ao que tivemos no nosso “ninho familiar”. Por exemplo, falo abertamente com o meu namorado sobre todos os assuntos da minha vida e espero que ele me responda da mesma maneira e conte todas as verdades da vida dele.

 

Abrindo um novo ciclo de relações, faria sentido dar atenção às regras que vão regular esta nova relação de “trocas”. O que estou disposto a oferecer e em troca de quê: uma cara feliz ou infeliz, um anel com brilhantes ou um prato de sopa, partilha de todo o tempo livre ou só de uma parte dele, abertura total ou vontade de manter certas coisas em segredo, proximidade ou distância física e/ou emocional. Sabemos que muitas vezes as regras de “troca” estão camufladas e nenhuma das partes sabe com clareza o que cada um dos envolvidos na troca está disposto trocar e por que preço.

 

Levamos para a relação de troca os nossos recursos, no entanto o sucesso de troca não se baseia só na qualidade e quantidade destes recursos, mas também na capacidade de ambos darmos uso adequado aos mesmos, para que a relação possa evoluir para um nível mais autêntico e favorável ao crescimento de cada uma das partes.

 

O processo de troca tem alguns segredos. Saber exactamente o que nós oferecemos para a troca, em que momento e o que esperamos receber como retorno do nosso investimento, é uma reflexão que todos podemos fazer em várias alturas das nossas vidas, abrindo e fechando os ciclos relacionais, tendo em conta que damos com alguma facilidade as respostas automáticas e baseadas no historial das relações passadas e pouco ajustadas à realidade do presente.

 

Por exemplo, se levo para a “troca” relacional uma atitude submissa, cedendo às vontades dos outros (como fazia na relação com os meus pais, ou com irmão mais velho, ou com ex-namorado) e espero receber em retorno interesse e respeito pela minha opinião, muito provavelmente este câmbio não terá o resultado mais feliz. O mesmo poderá acontecer se levo para a troca, na espectativa de iniciar uma relação séria, pouca disponibilidade de entrega emocional, total incapacidade de depender saudavelmente do outro.

 

No processo de troca o importante seria não só a capacidade de estabelecer e acordar as regras de trocas, mas também permitir experimenta-las e manter alguma continuidade, para poder perceber o que funciona e o que necessita de ser ajustado.

 

Umas trocas felizes e emocionalmente nutritivas!

 

publicado às 14:23

O que o Flirt Diz de Nós?

por oficinadepsicologia, em 15.12.12

Autora: Cristiana Pereira

 

Psicóloga Clínica

 

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Cristiana Pereira

Em diversas conversas que acontecem no dia-a-dia surge, por vezes, o tema relações. E, com isto, é bastante comum ouvir falar-se de um ponto ou de outro que causam insatisfação.

 

Perante esta insatisfação, é também bastante comum que muitas pessoas, quase sem se darem conta, procurem outra que lhes permita viver as emoções que não vivem com o companheiro(a).

 

Mas com que intenção? Em muitos dos casos, a intenção não é a de serem infiéis mas sim, simplesmente, de se gratificarem, de voltarem a sentir-se vivas. No entanto, encontrar alguém por quem se possam apaixonar torna-se uma possibilidade, gerando um conflito ainda maior.

 

Quando o afastamento do companheiro é notado e existe a suspeita de que há outra pessoa na sua vida, a pessoa depara-se com diversos sentimentos dolorosos, que se traduzem em pensamentos, como: “há alguém melhor do que eu”; “há alguém que desperta mais simpatia, que é mais atraente e mais inteligente do que eu”.

 

É muito comum constatar que vários casais se foram afastando ao longo dos anos e, quando aparece a suspeita da existência de uma terceira pessoa, negam que estivessem atravessar uma crise na sua relação. É como se sentissem que tudo está bem e que, do dia para a noite, alguém está prestes a destruir tudo.

 

E o que se pode fazer em situações destas? Em muitos casos, é provável que não haja nada mais do que um pequeno cortejo que tem como objectivo restaurar parte da auto-estima perdida. Por um lado, o pior que se pode fazer nestes casos é chantagem emocional, ou seja, fazer o outro sentir-se culpado do que se está a passar e acusá-lo sem ter fundamentos suficientes.

 

É preciso ter em conta que o simples facto de sentir atracção por outra pessoa não é algo repreensível em si, por mais doloroso que seja para o outro, daí que culpá-lo por sentir uma atracção não faça sentido. Por outro lado, as culpas podem funcionar durante algum tempo, mas quando alguém se adapta a elas, cada censura que surge pode gerar uma profunda irritação.

 

O que fazer então?

A comunicação numa relação é um dos factores mais importantes para que ambos a sintam como satisfatória. Neste sentido, será benéfico para os dois tirar um tempo, de preferência a sós, para reflectir seriamente sobre o que está a falhar na relação. E, assim, não deitar as culpas nem para si próprio nem para o outro.

 

Não se trata de procurar as culpas, mas sim as causas, e então pensar no que se deseja: se fazer o esforço para melhorar a relação ou acabar. Se se decidiu a continuar a relação, seduza, para que seja possível recuperar as emoções perdidas.

 

Nestes momentos, recuperar os velhos interesses e pedir apoio aos amigos é bastante importante e, assim, não sentir vergonha.

E, por último, tirar da cabeça o suposto rival, não dirigir o ódio ou a amargura para o que, de momento, não é mais do que um fantasma.

 

Se a crise que o casal atravessa não é profunda, esta é uma grande oportunidade para que as coisas melhorem, caso ambos o pretendam. Será necessário falar sem rancores sobre o que está a acontecer, com sinceridade e sem censuras. E tentar entender, sobretudo, o que cada um precisa do outro e pensar, seriamente, se está realmente disposto a proporcioná-lo.

publicado às 11:07

Autora: Inês Mota

 

Psicóloga Clínica

 

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Inês Mota

Dada a era das novas tecnologias que vivemos, é interessante verificar que cada vez mais serviços, e por isso também relações, são criadas e mantidas através de novas formas de comunicação e inclusive que mesmo muitas relações amorosas são iniciadas e alimentadas on-line.

 

É de facto cada vez mais frequente verificar que os novos meios de comunicação, como o facebook e mesmo sites para se encontrar parceiros, possibilitam verdadeiros namoros on-line, que por vezes permitem a sua continuidade para relações off-line.

 

De facto, as relações on-line preenchem funções importantes, também semelhantes às relações off-line: permitem a redução de ansiedade e expressão de emoções e por isso promovem o bem-estar.

 

No entanto, tem sido interessante verificar como muitas das pessoas que namoram on-line se sentem muito satisfeitas com a sua relação, inclusivamente com a forma como sentem que se revelam ao outro e sobretudo com a forma como se sentem compreendidas.

 

De facto muitas pessoas revelam que se sentem pessoas mais abertas e comunicam de forma mais aberta nestas relações on-line, o que pode ser explicado por dados que indicam que a experiência de anonimato promove a auto-revelação.

 

No entanto, há algo que me parece ser significativo para as pessoas que acompanho que iniciaram relações desta forma. Para além da satisfação da experiência de enamoramento que estão a viver, revelam satisfação pelo possibilidade de auto-conhecimento acerca das resistências específicas ou dos bloqueios próprios que não lhes permitiam a manifestação de afecto ou a possibilidade de o receberem, ou mesmo a descoberta de necessidades próprias que acabam então por ser possibilitadas por este tipo de encontro, independentemente de serem pessoas que já tinham ou não tinham tido relações satisfatórias no passado de forma off-line.

 

No entanto, estas relações têm também características particulares, devido ao meio de comunicação pelas quais são mantidas, sendo uma delas, a facilidade do encontro com alguém com as características desejadas.

 

Para além do debate (ainda que muito relevante), se as pessoas estão a comunicar com a pessoa ou com “o outro idealizado”, a verdade é que, de forma mais acessível, há um encontro com alguém que corresponde de facto ao “outro idealizado”.

 

Se a fase do enamoramento é a fase por excelência da idealização em qua a fantasia ocupa um espaço volumoso, as relações on-line, parecem-me ter necessariamente esta componente intensificada.

 

Por isso a grande questão que surge é se quando as relações on-line passam a off-line, a ligação conseguida mantém-se, ou o estado conseguido não é forte o suficiente para permanecer ON e passa a OFF ?

 

publicado às 10:54

A propósito do "coração partido"

por oficinadepsicologia, em 09.10.12

Autora: Isabel Policarpo

Psicóloga Clínica

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Isabel Policarpo

E quando o nosso parceiro de longa data, de repente foge e se muda para casa da outra? Como sobreviver à saída inesperada e abrupta do marido, sobretudo quando se acreditava estar num casamento feliz e seguro?

 

Muito tempo depois desse “dilúvio” muitas são as mulheres que continuam a sofrer intensamente. Muitas perguntam: "Mas será que eles nunca sentem remorso?". É comum os maridos justificarem as suas escolhas, culpando as companheiras pelas suas ações – ou seja, listando tudo o que não estava certo no casamento como desculpa.

 

A mulher é capaz de examinar as explicações dele durante meses, vezes sem conta na sua mente, para mais tarde chegar à conclusão de que se ele ao menos conseguisse dizer "desculpa" e realmente o sentisse, isso contribuiria para a libertar do longo caminho da sua dor.

Poucos são os homens, que mesmo após a poeira baixar, são capazes de expressar remorso. O que não quer dizer que realmente não o sintam. Mas a perspectiva de uma conversa de coração a coração com a pessoa que tão gravemente se feriu, não é algo que ninguém aprecie, pelo que seria necessário uma alma muito corajosa para se voluntariar a fazê-lo. Mas esta incapacidade leva muitas vezes a mulher a sentir-se presa e incapaz de sentir alívio.

 

O ponto de viragem para muitas mulheres que vivenciam situações semelhantes, surge no entanto quando elas são capazes de arrancar a sua visão do passado, e se viram para olhar para o seu próprio futuro. Nem sempre é possível fechar o círculo, diria que é mesmo um luxo que não temos sempre a sorte de desfrutar. Mas é exactamente a busca contínua de fecho, que mantém a mulher presa.

É irrealista esperar por um tempo em que você não vai mais ter uma pontada de tristeza ou mágoa quando ouvir no rádio a “vossa música” e não importa quanto tempo passou. Isso é da natureza humana. Mas o objetivo é ter de volta a sua vida nas suas próprias mãos e lutar para se sentir bem e feliz, apesar da mágoa que experimentou.

publicado às 11:05

Desejo, paixão, amor e... cérebro!

por oficinadepsicologia, em 07.10.12

Autor: André Viegas

Psicólogo Clínico

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André Viegas

Vários são os panos de fundo que remetem para as relações humanas, para aquilo que une, desune, para o que agrada e desagrada, para o que dói e para o que dá prazer.

 

Bastantes casos em psicoterapia traduzem vivências de sofrimento psicológico inerente a desligações relacionais; outros, traduzem alguma frustração pelo sentir do enfraquecimento da intensidade da ligação que, muitas vezes é perfeitamente natural.

Fazendo um enfoque nas relações amorosas, uma vez que é comum ouvir-se frases como:  ”(…) já não era como no início…estou preocupado(a), com medo que acabe (…)”, introduzirei uma justificação psico-biológica para tais sentimentos.

 

As várias posições científicas na área convergem no considerar que o amor acontece no cérebro através de um conjunto de reacções de índole química.  

 

A primeira fase é chamada “fase do desejo” e é desencadeada pelas nossas hormonas sexuais, a testosterona nos homens e o estrogénio nas mulheres.

 

Quase paralelamente, “fase da paixão”, uma das primeiras reacções é a secreção de um neurotransmissor chamado feniletilamina que provoca sentimentos de excitação, prazer, gerando sentimentos de alegria (“estou apaixonado(a)”). A feniletilamina controla a passagem da fase do desejo para a fase do amor e é um composto químico com um efeito poderoso sobre nós, tão poderoso, que pode tornar-se viciante. O nosso corpo desenvolve naturalmente a tolerância aos efeitos da feniletilamina e cada vez é necessário maior quantidade para provocar o mesmo efeito (Ribeiro-Claro, 2006). Ao mesmo tempo são libertados outros agentes químicos como a dopamina. Por outro lado, as glândulas supra-renais libertam adrenalina que justificam a sensação de nervosismo, como a falada “borboleta na barriga”, aceleração do ritmo cardíaco e outros sintomas que sucedem quando um pessoa está posicionada perante situações de ansiedade (e.g. mãos suadas).

 

Posteriormente, “fase de ligação”, uma das hormonas produzidas é a oxitocina, conhecida como a hormona do carinho, essencial na ligação mãe-bebé (produção de leite para a amamentação).

Estabelecida uma relação amorosa, o cérebro liberta endorfinas que tem um efeito de relaxamento que provoca os sentimentos de segurança e confiança.
Quando tal sucede, os níveis de feniletilamina descem e os seus efeitos vão enfraquecendo, o que leva a muitas pessoas considerarem que a relação perdeu o interesse e a direccionarem-se para outra relação.

Aparentemente, a feniletilamina é degradada rapidamente no sangue, pelo que não haverá possibilidade de atingir uma concentração elevada no cérebro por ingestão (Ribeiro-Claro, 2006).

 

De forma sucinta, quando conhecemos uma pessoa, assim como quando estamos perante um novo estímulo, desconhecido, o nosso cérebro reage de forma a apreender o novo como um todo, integrando-o numa espécie de base conhecida. Com o decorrer do tempo, perante o mesmo estímulo, como é o exemplo duma relação, adaptativamente o nosso cérebro despende gradualmente menos energia para poder estar disponível para todos os novos estímulos do dia-a-dia, essencial de serem processados. Não seria “económico” para o nosso cérebro gastar sempre a energia máxima perante um único estímulo continuadamente.

 

É interessante pensar nisto!

publicado às 18:55

Quando somos emocionalmente dependentes

por oficinadepsicologia, em 04.10.12

Autora: Cristiana Pereira

Psicóloga Clínica

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Cristiana Pereira

Como todos já ouvimos dizer, “o que é demais faz mal” e não seria diferente em relação às nossas relações interpessoais. A dependência emocional funciona da mesma forma que as outras dependências (álcool, drogas, comida, etc.) e, por isso, merece a mesma atenção.

 

Alguém dependente a nível emocional tem medo da liberdade e caracteriza-se por comportamentos submissos, falta de confiança, dificuldade em tomar decisões, dificuldade em expressar os seus pensamentos, medo da separação, de ser abandonado e, principalmente, da solidão. A dependência emocional não se manifesta apenas no comportamento afectivo, mas em todos os contextos vivenciais (sexual, profissional, social e económico).

 

A dependência pode surgir durante o período da infância, quando a criança não tem as suas necessidades emocionais satisfeitas. Assim, esta criança cresce com a sensação de vazio, que lhe falta algo e vai em busca desse algo que a complete. Pode fazê-lo nos relacionamentos, na comida, no sexo, nas drogas, etc. Por se sentir incompleta, poderá apresentar alguma tendência para ser um adulto com pouca auto-estima e com uma necessidade excessiva de aprovação pelos demais.

 

Na dependência emocional, por norma a pessoa é extremamente prestável, criando a falsa sensação de controlo nos seus relacionamentos.

Como em qualquer outra dependência, a recuperação é um desafio, pois aparentemente é mais fácil continuar a procurar a felicidade em factores externos do que construir recursos internos para preencher o vazio.

 

O primeiro passo é procurar ajuda. Partilhar com outras pessoas as suas dificuldades facilitará o processo de independência. Como tantas grandes caminhadas, todas elas começam com um pequeno passo.

publicado às 15:41

Azares que se repetem

por oficinadepsicologia, em 15.09.12

Autora: Catarina Mexia

Psicóloga Clínica

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Catarina Mexia

Por mais vezes que repitam as promessas de que da próxima vez será diferente, estas pessoas vivem paixões intensas, mas acabam invariavelmente a chorar as mágoas de uma relação que deixa para trás recordações e destruição.

 

Recebi recentemente em consulta uma mulher que recuperava de uma tentativa de suicídio, subsequente a mais uma ruptura na sua vida. O namoro decorreu aparentemente sem problemas e até os amigos comentavam que ela parecia muito mais feliz desta vez, capaz de falar sobre a relação, mas parecia, uma vez mais, estar a "dar tudo de uma vez". Não sendo propriamente uma relação entre jovens adultos - ambos vinham de relações anteriores das quais existiam filhos - começaram a fazer planos para viverem juntos. Subitamente o namorado recuou e cortou todo e qualquer contacto.

 

No decorrer da terapia foi possível apurar que esta foi apenas mais uma das relações que seguiu o mesmo padrão. E o sentimento de desilusão e desespero desta mulher foi tal que o suicídio pareceu a única saída.

 

O envolvimento em relações potencialmente complicadas não é um privilégio do homem nem da mulher e pode acontecer em qualquer idade. Na verdade, quem vive este padrão de relacionamento vai- se habituando, com o tempo, a suportar os embates mais terríveis à sua autoestima, acabando por fortalecer a sua capacidade de tolerar desilusões. E assim vai perpetuando o papel de vítima, continuando a lamentar a sua falta de sorte e incapacidade para mudar o destino.

 

Esta incapacidade, no entanto, não resulta de uma partida do destino, mas da inexistência de uma pausa que permita avaliar o que aconteceu para trás antes de apostar num novo relacionamento ou seja, não foram pensados os papéis, o nosso ou o do outro. Nestes casos é comum existir um processo de autocomiseração que facilmente mobiliza os outros no sentido de nos confortarem. É como ir ao posto de abastecimento da autoestima. Recuperamos alguma, voltamos ao campo de batalha das relações. Mas um depósito cheio não nos permite perceber o que funciona mal no motor. É como se nós, mecânicos do nosso bem-estar, apenas nos preocupássemos em fazer andar o carro, sem cuidar de o lubrificar, ouvir o seu funcionamento, detectar as peças que precisam ser substituídas.

 

Aqueles que não possuem uma boa autoimagem, que não se sentem suficientemente merecedores de dar e receber amor, atraem frequentemente parceiros que apenas vêm confirmar essas profecias. E quando conseguem alguém que os acarinha e estima, muitas vezes dizem para si mesmos que não estão habituados e como tal não sabem lidar com essas atenções! Está assim criada a condição para que a sua relação não vingue.

 

Trata-se de amores que começam com um relacionamento sexual e paixão muito intensas, mas um envolvimento emocional superficial. Rapidamente o abandono, a traição, falta de consideração e, no extremo oposto, a agressão física vem substituir a ilusão do início. E o amor em que estas pessoas tanto apostaram inicialmente é rapidamente substituído por sofrimento e desilusão.

 

A autoimagem faz parte integrante da nossa personalidade e começa a delinear-se na infância. Um relacionamento com um adulto significativo e importante para nós (o pai, a mãe, um professor, um avô, etc.) mas que não é capaz de valorizar, respeitar e amar o nosso ser leva-nos a acreditar que não temos valor suficiente para merecer o seu amor. Se durante o nosso crescimento este padrão de relacionamento não se alterar, muito provavelmente viremos a ser adultos possuidores de uma baixa autoestima e autoimagem. Assim, quando procuramos um parceiro, muito provavelmente iremos encontrar alguém com quem iremos repetir a situação infantil. Para ultrapassar este padrão de relacionamento precisamos de compreender quem somos, fazer alguma introspeção, recuperando e reconstruindo a nossa autoestima.

 

Vivemos uma época em que o autoconhecimento é uma ferramenta essencial. As pessoas que se envolvem neste tipo de relacionamentos caracterizam-se por uma enorme dificuldade em verbalizar — muitas vezes até em saber — o que as faz felizes, quais os seus objectivos, o que querem da vida. Geralmente, o desejo de agradarem leva-as a centrarem-se de tal maneira nas necessidades e anseios do outro, que é como se a sua própria existência apenas se justificasse em função dele.

 

Muitas vezes, o outro desfruta de um carinho e atenção que vai para além daquilo que esperou da relação. E os conflitos surgem quando se iniciam as cobranças. Aquele que se sentiu alvo daquilo que julgava ser um amor intenso e desinteressado vê-se confrontado com "fiz tudo por ti e tu nada me deste em troca".

 

Compreendermo-nos, é o melhor caminho para a mudança.

publicado às 09:44

Começar de novo

por oficinadepsicologia, em 09.09.12

Autora: Filipa Jardim Silva

Psicóloga Clínica

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Filipa Jardim Silva

Paro, olho à volta e demoro uns segundos até que a visão deixe de ficar turva. Sinto-me como se tivesse sido atropelada por um camião em câmara lenta. Cinco caixotes e duas malas é o que ocupa três anos da minha vida. 1095 dias reduzidos a tão pouco espaço físico, mas arquivados numa biblioteca imensa dentro do meu espaço psicológico. As coisas pesam pouco, as recordações pesam toneladas. Fecho os olhos à espera que por um segundo esteja a ter um pesadelo, mas depressa o eco de sons nesta casa vazia me puxam para a realidade. Acabou. O amor juntou-nos, o amor separou-nos. Filmes em sucessivo correm dentro da minha cabeça: filmes de amor, de suspense, de terror, de drama por fim. Tivemos tudo, terminámos no nada, quando as palavras se esvaziaram, quando nos perdemos de nós.

 

O Sol invade o meu espaço sem pedir autorização, recorda-me que começou um novo dia, quase a gritar-me que também eu estou a começar uma vida nova. Empurro-me até a um banho frio que me acorda para o momento presente. Limpo as lágrimas, visto-me e arregaço as mangas. Os músculos estão fracos, a mente trémula, mas tudo se treina e fortalece. É tempo de começar de novo no dia de hoje com intervalos para chorar o ontem e instantes para sonhar o amanhã. Não tenho resposta a todos os porquês mas também não ambiciono ter. Fecho a porta aos “se’s” que se atropelam uns aos outros. Guardo o que há bom de guardar, e a cada dia que passa a respiração serena, o sono acalma e o apetite volta. Por uma história de amor não ter um final feliz não significa que foi um fracasso. Recuso-me a sintetizar três anos da minha vida a uma palavra como falhanço. Todas as gargalhadas que dei foram magia pura, todas as partilhas cúmplices conquistas, todas as aprendizagens feitas são heranças eternas que nem o tempo nem gente podem apagar. Ninguém me tira o amor que vivi mas também ninguém me pode puxar para a vida novamente, apenas eu. É tempo de recomeçar. Voltar a preencher os dias de maneiras distintas, descobrir sítios até agora desconhecidos, viajar sozinha, carregar sacos pesados, dar espaço a novas pessoas. Não é uma vida a substituir a outra, é uma nova vida. Passado algum tempo recordo com um sorriso a história vivida e sim, há noites chuvosas que me levam a derramar uma lágrima de nostalgia sobre o que foi e mais ainda podia ter sido. Mas o dia amanhece e revigora a alma, para esta que é mesmo uma vida nova. Estou agora numa relação comigo mesma, e como em qualquer início de relação estou a descobrir-me, a mimar-me, a tentar surpreender-me, à procura das palavras que me fazem brilhar o olhar, dos sítios que me aquecem a alma, dos cheiros que me arrepiam, dos sabores que me extasiam.

 

Esta é a história da Alice que podia chorar o ontem mas estaria a enevoar a visão do hoje e a bloquear o amanhã. Podia lamentar o que não resultou e até quiçá procurar culpados, mas estaria a reduzir uma história de amor a um desencontro final. Podia designar-se de pouco afortunada mas nunca gostou de rótulos. Preferiu arrumar a bagagem das viagens passadas e seguir com uma mochila leve no presente. A Alice não é mais que ninguém e conhece bem as suas fragilidades, mas desde que saiba que merece e quer ser feliz, tem as coordenadas necessárias que a orientam por entre as tempestades e conduzem a oásis perdidos. Porque é sempre possível começar de novo.

publicado às 11:01

Amores de Verão

por oficinadepsicologia, em 28.08.12

Autora: Catarina Mexia

Psicóloga Clínica

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Catarina Mexia

O período estival é sinónimo de liberdade do corpo e do espírito. Sinónimo de despreocupação, as férias são, para muitos, ricas em aventuras e encontros amorosos. Mas serão estes amores feitos para durar?

 

Mais do que a Primavera, o Verão é, por excelência, a época dos amores. E a razão por que isso acontece não deriva do acaso. Existem diversas teorias e condicionantes que parecem contribuir.

 

Redescobrir o corpo. Durante o ano os relacionamentos amorosos têm falta de sensualidade. As inquietações, o stress e a fadiga são os piores inimigos do desejo e a chegada do Verão revela-se o momento ideal para acordar uma libido adormecida pelos dias mais frios. O corpo, finalmente descoberto das roupas de Inverno, revela-se nas suas formas, cores e odores que despertam sensações e atracções. Geralmente apresentam-se peles bronzeadas, sem rugas de preocupações, distendidas pelo conforto da liberdade de movimentos.

Associada a esta exposição corporal parece estar a teoria que diz sermos ainda influenciados pelas feromonas, hormonas associadas à atração e disponibilidade sexuais, especialmente importantes nos animais não racionais. Para nós terão passado para segundo plano, mas muitos cientistas creem que ainda têm um papel muito importante nos mecanismos de atração entre humanos.

Verdade ou não, o que parece é que o calor favorece a libertação de odores corporais que incluem estas hormonas a que inconscientemente continuamos sensíveis.

 

Tempo livre. Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas, autorizar-se a fazer nada, tirar partido das horas extra de luz, sair e passear, tudo nesta altura parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas. A época de Verão é eleita pela maioria de nós para gozar as merecidas férias grandes. Sem imposição de horários, esquecemos os pequenos males do quotidiano que nos deixam de mau humor e subitamente descobrimos ter tempo para cuidar de nós, o que nos deixa agradavelmente felizes e bem dispostos. Interessa-nos pouco mais do que o dia-a-dia e mesmo as situações sociais daqueles que conhecemos são irrelevantes. Provavelmente travamos conhecimento com pessoas que nos agradam, mas que em circunstâncias normais nunca teríamos conhecido. A rotura do momento propicia a união de duas pessoas que fora deste tempo certamente nunca se encontrariam. O que conta é o prazer de estar junto.

 

Uma questão de luz. O sol influencia todos os nossos comportamentos. Dependemos totalmente da sua luz para o nosso metabolismo e biorritmos. Em países em que predominam as horas de luz e a presença do sol a expressão emocional é mais expansiva, como nos países latinos, enquanto que nos países do Norte da Europa, por exemplo, com menos horas de sol, essa característica é mais contida.

Estas são algumas das condições que o Verão e as férias reúnem para que o amor "ande no ar", especialmente o amor romântico, efémero por natureza. Mas raramente estes amores perduram até à estação fria. Ainda que o amor de Verão seja intenso e muitas vezes recíproco, raramente resiste à prova do tempo, da distância e da realidade. Quando estas contingências regressam, muitas vezes assistimos a verdadeiras transmutações do outro. Aquele que tinha agradado pela sua espontaneidade, alegria de viver e capacidade de aventura modifica-se radicalmente. O seu penteado torna-se mais formal, as suas roupas transformam-se em verdadeiras carapaças, máscaras que tem de envergar para enfrentar a sua profissão.

Apenas alguns encontros extraordinários parecem resistir ao fim do Verão. Mas serão eles capazes de resistir à distância?

 

Longe da vista. Além do Verão ter acabado, a distância geográfica também é uma realidade em muitos amores de Verão e pode ser uma vantagem que ajuda a manter uma relação que tanto prazer deu, não só porque mantém o drama, como evita o desgaste. Permanece a incerteza, a impaciência da espera de um sinal do outro. A alegria dos reencontros predomina e muda o humor, pois são tão raros que há que aproveitá-los bem.

A distância tem ainda a virtude de não favorecer a rotina. Estar fora de contacto impede que os hábitos de casal se instalem, tornando cada encontro uma oportunidade para novas descobertas. Os assuntos de conversa nunca se esgotam. Mais: esta distância permite continuar uma vida de celibatário, sem a necessidade de estar comprometido ou de fazer cedências imediatas.

Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas e autorizar-se a fazer nada, tudo no Verão parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas.

E evita discussões, porque raramente os elementos do casal estão em "dia não". Vêem-se tão pouco que não faz sentido estragarem tudo com críticas ou desentendimentos.

Mas o reverso da medalha existe e revela-se quando impede a criação de hábitos de partilha característicos e necessários numa vida de casal, como, por exemplo, conhecer verdadeiramente a pessoa por quem nos apaixonámos no Verão. Mesmo que a maioria dos romances de Verão não dure, a verdade é que não nos devemos privar deles, até porque nos permitem aprender a conhecer e experimentar outras características que desconhecíamos em nós.

publicado às 11:08


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