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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Com cada vez mais frequência, tenho recebido em consultório tanto homens como mulheres numa fase particular e difícil da sua vida: a fase relativa ao período que antecede a concretização da separação.
Para estas pessoas em particular com quem me tenho cruzado, nesta situação particular, já nelas habita o sentimento definitivo da necessidade e vontade da separação. Muitas delas, inclusive, já têm a situação abordada com aquele que será o futuro ex-cônjuge e poderão naquele momento estar a atravessar uma fase de conflito mais ou menos aberto.
No entanto, para muitas delas o ponto importante a ser explorado em terapia consiste na neblina cinzenta que se lhes colou ao olhar e que não lhes permite avistar com transparência um futuro com maior claridade.
Sabem que estão perante uma travessia de vida nova e enigmática. Sabem que não querem voltar para trás, no entanto não sabem como continuar em frente.
Muitos não sabem do que precisam para continuar em frente!
Ao assumir que nesta fase cai de facto um nevoeiro denso sobre o caminho que se antevê, uma das questões a abordar em terapia poderá ser exatamente perceber como se acendem as luzes de nevoeiro para se poder estar atento aos eventuais perigos da estrada, visto esta poder ser a vez primeira que se toma as rédeas do volante em viagem.
De facto muitas destas pessoas raramente se aventuraram sozinhas e é então importante descobrirem o que precisam de levar na mochila, ou como o preparar ou como o adquirir.
Outras debatem-se com o atrito natural do reencontro consigo próprias, apenas porque estavam acostumadas ao desempenho desarticulado de uma dança a dois.
Esta é então uma fase em que é importante fazer testes de resistência alternados com sprints, testes de força, treinar vários tipos de saltos, fazer testes de equilíbrio, tudo na adequação aos possíveis tipos de pisos ou adversidades climatéricas.
É um treino em que se acordam forças e vontades adormecidas, denunciadas pelos olhares sempre mais amplos e luminosos.
Tem sido saboroso presenciar este encontro ou reencontro do próprio com ele próprio, e constatar como dele sai fortalecido e revigorado.
Tem sido saboroso presenciar a certeza de que doravante o caminho, esse continua desconhecido e enigmático, mas que há, no entanto, um novo e revigorado alento na vontade de seguir em frente.
Autor: Gustavo Pedrosa
Psicólogo Clínico
Quando os casais se aborrecem por algum comportamento considerado menos correto por parte de um dos elementos, tendem a repetir padrões na sua forma de interagir e encarar esses problemas. Em geral, há dois tipos de “reações-padrão”: perdão ou rejeição; aceitação ou negativismo; carinho ou raiva; desculpabilização ou agressividade, passividade ou culpabilização!
Nem sempre a expressão aberta de emoções e sentimentos em situações de conflito é vista como saudável. A psicologia positiva tem apontado para uma reação de aceitação, para o perdoar e esquecer, para uma racionalização positiva dos problemas. Também nos casais começou a haver um discurso de abertura de expressão de opiniões e sentimentos, mesmo que muitas vezes nem sempre essa abertura seja real, pois quando existe uma expressividade franca por parte de um cônjuge, nem sempre o outro tem capacidade de aceitar a mesma.
Mas, por vezes, a expressão da raiva pode ser necessária para resolver um problema relacional, contrariando a passividade e o perdão. Segundo estudos recentes, uma interação conflituosa, menos passiva e mais honesta na expressão de emoções (como a raiva) poderá, a curto prazo, ser muito desconfortável, mas parece ser a mais benéfica para a saúde da relação a longo-termo.
A eficácia do perdão está dependente do nível de aceitação do cônjuge, da severidade e frequência da transgressão. Ou seja, a longo-termo, a psicologia positiva poderá não ser a mais eficaz em todos os cenários, pois a aceitação do cônjuge leva o outro a tornar-se, nalgumas situações, menos presente e apoiante, mais irresponsável financeiramente e até infiel. A expressão da raiva sinaliza ao cônjuge que o comportamento ofensivo não é aceite, levando-o a não repetir o mesmo. E quando o comportamento negativo não se repete, há melhorias relacionais a longo termo.
Tal como a psicologia positiva, a expressão da raiva não é a panaceia para todos os problemas. Pode não ser aceite em todas as relações e em todas as situações, dependendo do contexto e do meio, das expectativas, das crenças e das experiencias anteriores, de ambos os parceiros. Lembre-se que a expressão das suas emoções poderá ser mal-interpretada, seja pela passividade ou, pelo contrário, pela expressão da raiva e agressividade. A atitude correta estará no meio de ambos os comportamentos, no equilíbrio que tão dificilmente conseguiremos encontrar entre o perdão e a expressão da raiva!
Baseado no artigo:
Daily Science News, Sometimes Expressing Anger Can Help a Relationship in the Long-Therm; Aug. 2, 2012.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Manter-se uma boa comunicação entre pais, após a separação e sobretudo uma comunicação sobre a separação é uma necessidade presente e constante, mas muito difícil de ser conseguida.
No entanto, se os pais, após a separação pretenderem manter-se informados sobre o universo dos filhos, parece sensata a manutenção da comunicação entre ambos, de forma que parece incontornável conseguir-se “olhar de frente” este fenómeno complexo denominado comunicação.
Olharmos de frente o fenómeno comunicação significa também reconhecermos que ele é frequentemente composto por ardilosas minas e armadilhas: os famosos mal entendidos, que se estendem a todas as palavras mal compreendidas e mal interpretadas.
De facto, como explicar que com frequência, após a separação, cada um dos pais defenda coisas que vão no sentido do melhor interesse dos filhos e seja frequentemente interpretado pelo outro como algo de duvidoso em relação a ele ou à sua intenção? A resposta parece ser provavelmente a ineficácia da comunicação e a tendência repetida para se gerar mal-entendidos.
Segundo Cloutier, Filion e Timmermans existem atitudes que promovem uma comunicação eficaz em contexto de separação como:
- Transmitir mensagens claras, contextualizadas e focadas nas situações presentes, ou seja falar de uma coisa de cada vez ao invés de se comunicar mensagens baralhadas ou contaminadas por histórias antigas: muitas vezes e sob pretexto de um problema concreto da criança, os pais rapidamente acabam por falar de uma questão antiga sobre a qual não haviam estabelecido acordo, o que acaba por aumentar a probabilidade de terminarem a discutir, ao mesmo tempo que se afastam do contexto atual dos problemas da criança.
- Desenvolver e fortalecer uma capacidade importantíssima, a capacidade de escuta em dois movimentos: utilizar um ouvido para ouvir e compreender o que o outro está a dizer, e utilizar-se o outro ouvido para nos ouvirmos a nós mesmos e percebermos assim o que nos sentimos tentados a dizer de forma imediata, e assim gerirmos adequadamente esta pulsão que nos leva tendencialmente a agir no sentido de cortar a palavra ao outro.
- Devolver o compreendido: na comunicação é importante não apenas o que é dito, mas também o que é compreendido. Ao transmitirmos o que foi compreendido permitimos que o outro se dê conta da importância que atribuímos às suas afirmações. Por outro lado enfraquecemos a tendência do outro poder começar a dizer “não importa o quê”, ao não se sentir escutado. Normalmente observa-se que quando um dos pais não se está a sentir ouvido tem tendência a falar mais alto, mas como isto raramente funciona o passo seguinte passa a ser dizer palavras ofensivas.
Dominar a arte de falar, ouvir e compreender, após a separação é tarefa preciosa, pois se da comunicação ineficaz nascem os conflitos, da comunicação eficaz nascem as soluções!
Fonte: Cloutier, R., Filion, L., Timmermans, H. (2006) Quando os pais se separam…Para melhor lidar com a crise ajudar a criança, Climepsi Editores, Lisboa
Autora: Inês Franco Alexandre
Psicóloga Clínica
Em terapia de casal, as crenças de cada um dos elementos sobre a relação tornam-se visíveis, através do conteúdo do que me dizem – como quando explicitam o que desejam da relação ou o que acreditam serem os factores de (in)satisfação – e também através da forma que a relação assume, mesmo em sessão – se há um dos elementos que fala mais, se os dois têm igual espaço, se existem lutas ou competição na tomada da palavra . Através da observação destas dinâmicas vamos entendendo quando um dos elementos está, naquele momento, mais centrado na relação – no nós – e menos em si (quando, por exemplo, propõe passar mais tempo em casal ou lhe é imprescindível ter projectos a dois) enquanto o outro elemento está mais focado nos espaços de diferenciação (quando propõe mais tempo individual, fala mais sobre si e das coisas de que gosta, fala mais sobre o outro enquanto indivíduo separado de si, apreciando-lhe a individualidade). Este tipo de dinâmicas, resultante de uma diferença na perspectiva que cada um adopta sobre a relação entre o eu o tu e o “nós” (ver parte I), pode facilmente causar conflito. Quando sinto que o outro não age de acordo com o mesmo modelo que eu, surgem muitas vezes medos e inseguranças – se não está tão centrado em “nós” é porque já não gosta de mim, porque esta relação não lhe faz sentido, porque não retira prazer do tempo comum, porque não lhe basto – medos estes que também estão, na maior parte das vezes, relacionados com a nossa história individual.
Alguns casais dizem-me, com alguma surpresa, que a relação entre eles é diferente na sala de terapia do que quando estão sozinhos, ainda que discutindo os mesmos assuntos. Falam-me da importância de um árbitro, que tem como função a mediação entre eles. Talvez tenham razão, porque julgo que um dos factores de sucesso da terapia seja a maior consciência dos casais de que podem e sabem fazer diferente, e que o poderão fazer também sem a presença de um terceiro elemento. No entanto, não me coloco no papel de um árbitro, porque não considero que seja minha função a de impor regras e faltas. Perguntei-me então várias vezes o que faria com que os casais conseguissem discutir, na minha presença, de uma forma que lhes trouxesse menos sofrimento. Julgo que uma das razões será o facto de, apesar de não ser neutra relativamente aos temas que me trazem (desengane-se quem imaginar que a neutralidade é uma possibilidade para algum ser humano, ainda que terapeuta), permanecer sempre disponível para conhecê-los, individualmente. Ou seja, tendo a adoptar uma postura de curiosidade e compreensão em relação a estas três entidades – os dois “eus” e o “nós” – dando espaço a cada um deles e tendo em atenção os modelos relacionais que cada um dos elementos terá como base, quais as suas crenças, o que acreditam dar-lhes significado à vida e à relação. Isto permitirá que os casais redescubram que diferentes perspectivas não implicam que o outro não nos valida ou não gosta de nós, mas simplesmente que isso resulta de uma forma diferente de olharem para si e para a relação naquele momento das suas vidas, o que por sua vez depende em grande medida da história individual de cada um. E, claro, poderão também descobrir que o modelo do outro não se coaduna com as suas necessidades e crenças fundamentais sobre o que querem para si e para a relação.
A minha presença parece então permitir que cada um dos elementos entenda que é possível que as duas perspectivas coexistam, porque eu mesma entendo que as duas podem coexistir, sem que uma invalide a outra. Para isso, tento manter uma postura de abertura e curiosidade, dando-me espaço para ouvir e compreender cada uma das pessoas. Tento por um lado colocar-me no lugar do outro, e por outro lado entender como é que a perspectiva de cada uma das pessoas me faz sentir, enquanto indivíduo. Este exercício dá-me alguma flexibilidade que me permite compreender as duas perspectivas. Por último, tento colocar mais questões e fazer menos afirmações.
Para os casais torna-se difícil, é claro, fazer este tipo de exercício, sobretudo em alturas de conflito, quando os medos e as inseguranças emergem. Ao longo do tempo fui também entendendo que, para haver este movimento de abertura e compreensão de parte a parte, que implica descentrarmo-nos e entendermos que as nossas reacções imediatas são grande parte das vezes causadas por inseguranças nossas, seria importante ter sempre presente o amor que temos pelo outro e que ele tem por nós. Por mais banal que pareça, este é o grande reservatório de energia para lidar com o conflito e que permite aos casais não colocar uma grossa armadura quando discutem. Para que esse amor esteja presente, torna-se imprescindível promover o conhecimento mútuo, estimulando a curiosidade sobre a pessoa que temos ao lado, perguntando-lhe sobre si, sobre os momentos mais importantes da sua vida, os seus sonhos, projectos, ambições, princípios de vida. Não menos essencial, será lembrarmo-nos do que nos apaixonou no outro, nos momentos bonitos da nossa história comum. Centramo-nos com frequência no que corre menos bem na nossa relação, e esquecemo-nos de relembrar e de manter o que gostamos tanto nela. E por último, não posso deixar de mencionar a necessidade de nos focarmos nos detalhes – nos bilhetes, nas mensagens, nos abraços inesperados, nos sorrisos, nas surpresas. O essencial pode estar contido num detalhe.
Autora: Inês Franco Alexandre
Psicóloga Clínica
Num casal, existem três elementos: o eu, o tu e o nós (Caillé, 1991). Existem duas pessoas, cada uma com a sua história de vida, os seus sonhos e projectos, as suas alegrias e os seus fracassos, os seus medos e fantasmas, a sua forma própria de olhar para o mundo, e uma entidade relacional, também com uma história e uma identidade própria. Em consonância com esta ideia, existirá então um espaço próprio para estas três entidades: um espaço de diferenciação de cada uma das pessoas – do eu e do tu - e um espaço de comunhão – do nós – que resulta da intersecção dos outros dois.
A conjugação destes três elementos e dos respectivos espaços nem sempre é fácil. Num casal existem, por vezes, perspectivas diferentes entre as duas pessoas sobre os espaços que a diferenciação e a comunhão devem ocupar. Isto acontece, por exemplo, quando uma das pessoas julga que o nós deverá ocupar muito espaço e exigir naturalmente disponibilidade e energia de cada um, e a outra pessoa imagina que deve existir mais espaço individual e menos de casal. Nestes casos, existe uma dificuldade na conjugação das duas perspectivas sobre o casal. É a diferença de perspectivas, e não o facto de haver uma mais válida do que a outra, que cria o conflito.
As perspectivas ou modelos que criamos sobre as relações dependem de muitos factores: da sociedade em que estamos inseridos, que dita quais as regras de funcionamento numa relação (um relacionamento com sucesso no mundo ocidental e no mundo oriental terá, com alguma certeza, contornos diferentes); dos modelos que tomamos como referência de sucesso - pais, avós, familiares, amigos – que nos levam a tender a perspectivar as relações da mesma forma; dos modelos que tomamos como referência de insucesso - pais, avós, familiares, amigos - e que nos fazem ter medo de repetir outras histórias e nos levam a comportar-nos de forma inversa.
Estes modelos de relação são muitas vezes inconscientes, e consistem em crenças que vamos construindo sobre como devem ser as relações para que tenham sucesso, funcionando como um guião de actuação. Como este guião é, na maior parte das vezes, inconsciente, o que sentimos, os comportamentos que adoptamos e a forma como reagimos aos comportamentos do outro também são, muitas vezes, automáticos. Ou seja, não temos consciência de que sentimos e agimos com base nesses modelos. Mais ainda, temos tendência a confirmar os nossos modelos, através do mecanismo de atenção selectiva, o que quer dizer que nos focamos nos sinais, internos e externos, que nos dizem que o nosso modelo está certo. E porquê?
Todos nós precisamos de crenças sobre as quais assentamos o nosso comportamento. Por exemplo, acreditamos que num mundo justo não devemos roubar, o que faz com que não roubemos. Estas crenças são-nos essenciais, porque são elas que nos permitem explicarmos, a nós e aos outros, o nosso comportamento, uma necessidade presente em todos os seres humanos e que parece estar relacionada com a questão da confiança: confiamos mais em quem sabe explicar melhor o seu comportamento, porque poderemos prever com maior confiança qual o comportamento que irá adoptar em circunstâncias semelhantes.
Do mesmo modo, acreditamos que para sermos felizes num relacionamento deve haver respeito, simpatia, amor, paixão, cordialidade, que devemos reservar mais ou menos tempo para o casal, mais ou menos tempo para cada uma das pessoas, devemos dar-nos com amigos ou não, sermos mais ou menos fechados, etc. E, uma crença que creio fundamental, acreditamos que é mais ou menos fácil conjugarmos quem somos, a nossa individualidade, com a criação do nós.
Construímos então teorias: sobre nós, sobre o outro e sobre as relações. Tendo como base algumas crenças, tendemos a comportar-nos de acordo com estas, e tendemos também a confirmá-las e reconfirmá-las. Por exemplo, se acredito que o outro gosta de mim, tenderei a procurar sinais que mo confirmem – o meu companheiro diz-me muitas vezes que gosta de mim, está alegre quando está comigo, envia-me mensagens carinhosas a meio do dia – e a desvalorizar sinais do contrário – não agiu como de costume, anda mal disposto há muito tempo, não faz o que lhe peço o que quer dizer que não me ouve.
Sendo incontornável termos crenças, não é incontornável que elas se mantenham as mesmas a vida inteira, e sobretudo que não as possamos flexibilizar. Ao longo do tempo os nossos modelos de actuação tornam-se rígidos, como se fossemos engrossando as paredes da nossa sala e se tornasse cada vez mais difícil comunicar entre compartimentos.
Num casal, os modelos individuais podem funcionar em determinado momento da vida, sendo fácil a conjugação de perspectivas, e não funcionar noutras, sendo necessária alguma mudança ou flexibilização. As diferentes etapas do ciclo de vida do casal, o crescimento individual, os acontecimentos por que vão passando, são elementos que vão obrigando, naturalmente, cada uma das pessoas a rever os seus modelos e o casal a mudar o seu funcionamento. Por exemplo, é provável que a conjugação dos espaços individuais numa fase inicial de paixão não seja semelhante à que acontece quando nasce um filho. Como conjugar, então, a influência de tudo isto na forma como cada uma das pessoas se vai construindo e reconstruindo, na forma como olha para o mundo e para a relação, mantendo um relacionamento satisfatório?
Nestes momentos de alguma crise, torna-se essencial transformá-la numa oportunidade de crescimento a dois. Muitos dos casais que acompanho em terapia e que ultrapassam períodos mais difíceis relatam como muito importante a sensação do esforço ter valido a pena, no sentido de fortalecimento da relação. Na parte II deste texto abordarei alguns dos aspectos que considero relevantes na gestão conjugal destes períodos.
Autora: Inês Alexandre
Psicóloga Clínica
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O despertador toca. Aguardamos 10 minutos antes que o dia comece. Tenho de levantar-me e correr para o trabalho e correr para o almoço e correr de novo para o trabalho e correr para ir buscar os filhos ou ir para o ginásio ou ir arranjar o telemóvel que se estragou ou ir comprar umas calças e também tenho de trocar aquela televisão que é pequena demais e o computador que não é tão rápido quanto eu gostaria.
Vivemos assim, a mil à hora, à procura de algo que nem sabemos o que é. Consumimos produtos que nos entram em casa também a mil à hora e descartamo-los porque já não nos servem, por uma qualquer razão que inventamos também com facilidade. O consumo é imediato e centrado no prazer e na necessidade, tão presente neste tempo em que vivemos, de ter. Até as palavras que utilizamos são denunciadoras: não tenho dinheiro, não tenho tempo, não tenho saúde, não tenho amor, não tenho boas notas. Parecemos viver, de uma forma geral, centrados no consumo: temos de ter aquele carro, aquela casa, aquele boneco, aquela roupa, aquele electrodoméstico, aquela marca. O que temos define-nos, é um espelho do que somos.
E para termos, há que… produzir. Corremos para o trabalho para produzir e sermos eficazes (outra palavra cara), realizando um máximo de coisas num mínimo de tempo possível. Para que sejamos considerados e tenhamos dinheiro para poder ter, consumir rápido com o que ganhámos a produzir rápido.
Educamo-nos e aos nossos filhos assim, com os verbos ter e fazer, sem que exista grande espaço de reflexão. Lembro-me muitas vezes dos meus tempos de escola e das aulas serem orientadas quase exclusivamente para uma coisa: para podermos fazer testes e ter boas notas e entrar para a faculdade. Para aqui fazermos exames e termos boas notas para virmos a ter um bom trabalho. Para produzirmos muito e termos bastante para podermos dar aos nossos filhos uma boa educação. E o ciclo repete-se.
Os tempos de crise, dolorosos para quase todos, têm-nos trazido algo: a consciência da insustentabilidade deste modelo, não só em termos macros sociais, mas também aos níveis individual e familiar. Afinal, se nos centramos e definimos, enquanto pessoas e enquanto grupo, no capital que produzimos, o que resta de nós sem dinheiro? Quem sou eu sem as coisas que compro? O que faço com o meu tempo, no dia em que não ande a correr para produzir para a seguir consumir? O que faço comigo?
Estas são problemáticas cada vez mais presentes em consultório, nomeadamente nas consultas de terapia conjugal ou familiar. Os sistemas conjugal e familiar constituem espaços privilegiados de transformação e têm sofrido mudanças profundas. Numa sociedade virada, de uma forma geral, para o prazer e consumo imediato, a noção de esforço (e, por consequência, a de mudança) não é, muitas vezes, vista com bons olhos. Também na conjugalidade a correria é desenfreada para que possamos” ter”, “agora” e de um modo que nos satisfaça. As relações devem ser fáceis, fluidas, sem grandes dificuldades, devem preencher-nos e se possível não nos colocar em causa, pois isso envolveria o esforço de nos mudarmos.
As relações não têm de ser difíceis ou trazer sofrimento, assim como não tem de trazer sofrimento a frustração de não conseguir ter aquele automóvel que tanto desejamos. Uma relação pode ser fácil, se por fácil não entendamos sem conflito, sem dificuldades, sem ajustes, sem mudança, sem esforço. A capacidade de mudar mantendo o que nos é essencial é, no meu entendimento, uma das grandes chaves da felicidade a dois. Como nos diz Erich Fromm, “o amor é uma arte […] se queremos aprender a amar temos de fazer o que faríamos se quiséssemos aprender qualquer outra arte, como a música, a pintura, a carpintaria”. Só com esforço poderemos construir-nos, individual e colectivamente.
Talvez as soluções passem por conceder-nos outros espaços: espaços para sermos. Aqui, a terapia surge apenas como uma das possibilidades. Temos as escolas, os grupos de amigos, o tempo em casal e em família, os espaços individuais. Espaços de reflexão que nos permitam irmos descobrindo quem somos, individual e colectivamente, para que não fiquemos dependentes do que temos mas de quem somos. Espaços de partilha – no casal, na família, com os amigos, na sociedade – que satisfaçam a nossa necessidade profunda de pertença a algo maior. Espaços de auto-conhecimento, porque são estes que nos permitem compreendermo-nos, amarmo-nos e construir uma relação sólida connosco, condição fundamental para que possamos dar e amar os outros, e com eles construir relações profundas e de verdadeira intimidade.
Autora: Fabiana Andrade
Psicóloga Clínica
Ao pensar no que escrever para o meu próximo artigo, percebi que estava a ficar aborrecida com o meu formato tradicional de escrita.
Surgiu-me então a ideia de iniciar o que chamei de Contos Terapêuticos.
Observei muitas e muitas histórias de clientes, vi que muitas delas apresentam temáticas semelhantes. Essa semelhança estende-se também por histórias que observo mesmo fora do consultório, no meu próprio dia a dia e das pessoas que me rodeiam.
Assim, para cada temática decidi criar um personagem. Nesse personagem, represento características de várias pessoas e num breve conto exponho uma situação em que o personagem utiliza as suas características e o seu modo de estar para resolver situações do dia a dia. Além disso, conto ainda como, com a psicoterapia, ele foi capaz de superar seus obstáculos.
Com esse formato, espero que cada um dos leitores possa identificar-se com um ou mais personagens, e assim, encontrar inspiração nas estratégias utilizadas por eles.
Abordaremos temas como a solidão e dificuldades de relacionamento, estado de medo/ansiedade, comunicação com os filhos, comunicação com os pais, sexualidade, traumas, depressão, obesidade entre outros.
Como o projeto é contínuo, sempre que as histórias que ouço me inspirarem e remeterem a uma temática específica, transponho para o papel e partilho com todos os leitores.
Hoje decidi começar pela temática da Comunicação entre Casais!
Assim, surge-nos a Eduarda.
Eduarda é casada, tem dois filhos, e pede ajuda pois está a ter problemas no seu casamento com Carlos.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
A separação, o divórcio ou o momento de rutura de um casal é uma experiência intensa e marcante, constituindo-se como um verdadeiro choque psicológico.
De facto, o contexto específico da crise da separação faz-se acompanhar por um intenso stress que ambos os envolvidos terão de enfrentar e que é gerado por inúmeros sentimentos e realidades que se impõem. Ambos os envolvidos terão de enfrentar a partir de então, nos seus processos e ritmos certamente diferentes e de acordo com a natureza do processo da separação, a tristeza perante a partida do outro, o eventual sentimento de se ter sido abandonado ou rejeitado, a culpabilidade perante o fracasso de não se conseguir manter a relação com o outro e a insegurança perante um futuro incerto. Acrescem-se ainda a inevitabilidade das realidades que se alteram e que são também elas geradoras de um grande stress, como por exemplo, a alteração da situação económica do casal, a frequência de oportunidades relacionais com os filhos e com a família alargada do ex-parceiro/parceira.
É assim compreensível que esta convergência de fatores gere um nível de stress elevadíssimo, que torna mais claro que a resolução deste momento de crise extremamente penoso possa estender-se a 2 anos.
É preocupante que é que esta crise por ser habitada por sentimentos tão dolorosos pode tornar-se destrutiva se não forem encontradas formas de a serenar.
É então importante sabermos que dificilmente se pode eliminar o stress associado à crise, mas que podemos sim reduzi-lo para níveis não destrutivos e que no processo sejam encontradas formas de se armazenar e gerar energia capazes de gerir uma crise que parecia insuperável.
Assim, e de forma a evitar cair num caminho de destrutividade, é importante conseguir-se evitar duros julgamentos relativos aos envolvidos até porque, e apesar da natureza da tomada de decisão da separação, ambos estarão provavelmente a elaborar, a compreender e a incorporar a situação no seu projeto de vida.
Importa compreender que sob o efeito de um stress tão intenso e com a revolta como líder verifica-se a tendência a serem adotados comportamentos atípicos, estranhos ou bizarros ao ponto de os envolvidos não se reconhecerem ou reconhecerem a outra pessoa da qual tinham um entendimento que permitiu cimentar uma vivência em conjunto. Assim, o enviesamento que este choque imprime distorce frequentemente a avaliação do outro que acaba por sair naturalmente contaminada, chegando a colocar-se em causa o valor do outro, o que se torna perigoso nos casos, em que ambos necessitarão um do outro para um exercício harmonioso da “função parental”.
De forma recorrente, torna-se difícil nestes momentos evocar as memórias saborosas dos momentos partilhados a dois, e apesar de certamente estes aspetos positivos não terem desaparecido, é como se se tivessem tornado invisíveis.
De facto verifica-se que para se sobreviver enquanto pais, após a desunião observada entre marido e mulher é necessária apelar à qualidade do perdão dos erros falhas e faltas cometidas e resistir à tentação de se realçar os desvios e deslizes do comportamento do outro. De forma a facilitar a compreensão, o casal desagregou-se exatamente pela divergência e é paradoxalmente o que se solicita como tarefa: uma tolerância a essa diferença, após a separação, para que possam continuar a exercer uma função parental saudável, num regime agora diferente.
A separação é inegavelmente um momento muito difícil mas incorrer na tentação de culpar o outro não irá alterar verdadeiramente a dor e a sua compreensão.
O caminho da cicatrização interna é encontrado no caminho de olharmos para nós próprios e procurarmos o que há da nossa responsabilidade nesta crise, porque normalmente numa situação de separação ou divórcio a responsabilidade é partilhada e é importante que cada um descubra o que lhe pertence.
Ultrapassar a crise significa ter a coragem de nela mergulhar, no sentido de a conhecer, compreender e incorporar.
É importante reter que a saída desta crise pode ser uma condição melhorada e que passará por uma elevação do nível de consciência daqueles que fomos, daqueles que somos e daqueles que pretendemos ser.
Autora: Inês Franco Alexandre
Psicóloga Clínica
Nos processos psicoterapêuticos em que participo, individuais ou de casal, não é raro colocar as seguintes questões:
- Como era quando era criança?
- Quais eram os seus sonhos?
Faço-o com genuína curiosidade, tentando descobrir quem são as pessoas à minha frente: de que gostam, o que as realiza, o que é que as faz sentir-se vivas.
Não é raro, também, ouvir a seguinte resposta:
- Foi há muito tempo, não me lembro.
E a vida vai andando andando e nós esquecendo-nos. Colocamos em recônditas memórias o que queremos, o que desejamos, o que amamos – quem somos – relegando-o para segundo plano (amanhã penso nisso), como se amanhã fosse uma segunda vida. Fazemo-lo, todos (em maior ou menor medida). Porque entretanto hoje há essa (outra) vida para levar.
Num mundo em transformação como o de hoje, a insegurança é geral. A geração adulta actual cresceu a acreditar que o mundo era previsível e que a felicidade era garantida para quem tivesse certo número de anos de estudo, casa comprada a crédito e uma família “funcional”. O que não previmos foi que nestes últimos vinte anos o mundo mudasse desta forma. O trabalho não é garantido e afinal a felicidade não se compra a crédito. Salva-se a família “funcional”. Salva-se?
E a vida vai andando andando e nós esquecendo-nos. De que gostamos tanto de conversar, de escrever, de pintar, de ler, de cinema, de trabalhar, de estudar, de ouvir música, de ir à praia – quem somos. Porque entretanto hoje há essa (outra) vida para levar.
- Se nada é certo, para quê sonhar? Eu não arrisco!
A falta de sonho individual resultante de uma insegurança básica faz-nos, muitas vezes, colocar todas as expectativas nas relações amorosas, que se mantêm assim profundamente idealizadas. O meu companheiro passa a ser a minha fonte de realização e, como tal, terá de desempenhar na perfeição vários papéis: tem de ser o melhor amigo, o melhor amante, tem de adivinhar os nossos desejos, saber comunicar, ser seguro, ser sensível, ser divertido, ser profundo, ser leve, ser inteligente, etc, etc. O confronto com a realidade que é o outro é por vezes insuportável e pode originar dois tipos extremos de comportamento: a fuga para trás, ou o evitamento da relação, evitando assim também a perda do outro idealizado; a fuga para a frente, ou a luta desenfreada para que o outro mude no sentido que desejamos. A maior parte dos casais que chega à terapia adopta o último comportamento, insistindo, cada um dos elementos, na mudança do outro.
Quando insisto na necessidade de cada um se centrar em si mesmo, sou muitas vezes mal entendida
- Não quero ser egoísta!
dizem-me. Não entendendo que, pelo contrário, sermos quem somos em liberdade (respeitando, é claro, os limites do outro) é um duplo acto de amor: connosco, e com o outro, porque libertador também de um peso e de uma expectativa que muitas vezes não nos permite, verdadeiramente, amar o nosso companheiro. Em terapia de casal três processos ocorrem em simultâneo: o processo de mudança na relação, e o processo de mudança de cada um dos indivíduos. E é no momento em que cada um se responsabiliza pelo seu processo que tudo começa a acontecer.
E a vida vai andando, andando e nós lembramo-nos. Do que nos preenche, do que gostamos, do que é imprescindível fazermos acontecer para que nos sintamos vivos – quem somos. Porque entretanto hoje há esta (a nossa) vida para levar.
Autora: Catarina Mexia
Terapeuta conjugal e familiar
Numa época em que cada vez mais ouvimos falar no aumento da infertilidade feminina e masculina, nos avanços tecnológicos que permitem à medicina ter cada vez mais respostas para este problema, pode parecer estranho falar de casais que optam por não ter filhos.
Contudo, a decisão de não ter filhos não é um fenómeno recente nem uma questão pacífica no seio de uma relação. Muito se tem falado na Europa acerca do envelhecimento populacional, que parece ser um dos factores que nos tem levado a questionar fortemente as políticas dos diversos países no que se refere às formas tradicionais de apoio na velhice e na doença. Os argumentos utilizados por ambas as partes, casais com e sem filhos por opção, parecem conter uma lógica inabalável, que nos leva a dizer que ambos têm razão. Talvez a resposta esteja na compreensão destes argumentos e no respeito pelas escolhas conscienciosas de cada um.
As razões. "Não se trata de fazer a apologia da não maternidade, mas seria um erro deixar de considerar a possibilidade de nos ser difícil suportar a ideia de que quando o nosso filho deu os primeiros passos não foi para os nossos braços, ou nos momentos mais importantes não estivemos, lá." Este é um dos argumentos frequentemente encontrados para justificar a opção de alguns casais para não serem pais. Poucas pessoas compreendem porque alguém escolheria não ter filhos. Trata- se, contudo, de uma opção cada vez mais comum e, como é natural, não reflete nada de anormal nessas pessoas.
Numa sociedade marcada pela educação judaico-cristã, o propósito da união dos seres seria o da procriação. Casava-se para ter filhos e quando tal não acontecia algo de muito errado se passava, geralmente relacionado com infertilidade imputada às mulheres. Muitas cabeças rolaram, impérios caíram, a própria Europa foi vezes sem conta redesenhada por casamentos estéreis ou sem varão. A Inglaterra optou mesmo por uma nova religião que permitisse ao seu rei casar pela igreja, até aí a última instância capaz de sancionar um casamento. Assim se percebe que predomine a crença de que um casal sem filhos não seja um casal completo.
Por opção. A realidade impõe-se e as antigas crenças são desafiadas, nomeadamente pelo crescente número de casais que escolheram viver sem filhos. Nos EUA, já em 1975, um em cada dez casais não tinha filhos. Atualmente, pensa-se que cerca de um em cada cinco não tenham filhos por opção. Mas se as dúvidas relativamente a estas opções já são antigas, a nova realidade também nos obriga a aceitar novas respostas. Se estes casais ainda sentem alguma agressividade ou incompreensão pela sua escolha, tal deve-se ao facto de que a sociedade muda mais lentamente do que os indivíduos, e aqueles que voluntariamente optaram por não ter filhos são muitas vezes visto como anormais, culpados, egoístas e deixados de fora de muitas atividades.
Escolher não ter filhos, no entanto, pode ser uma decisão saudável. Geralmente é uma escolha longamente ponderada e discutida no seio do casal e reflete um verdadeiro desejo, não existindo nada de errado para quem escolhe este estilo de vida. Com frequência, se os elementos do casal não conseguem estar de acordo sobre este assunto, geralmente ocorre uma separação. São opções de fundo e que mudam a vida de uma pessoa para sempre. Passado o tempo de procriação de uma mulher, o casal poderá sempre experimentar ser pai através da adopção, mas dificilmente serão os pais naturais de uma criança.
Estilo de vida. Muitas são as razões que levam os casais a não terem filhos, o que pode abranger desde opções religiosas ou ideológicas até a um estilo de vida. Por um lado existe uma realidade sociológica que leva a poder escolher. Escolher, porque a medicina nos permite controlar a natalidade e porque a sociedade promove valores que acentuam a liberdade individual na escolha de estilos de vida. Por outro lado, a consciência que o investimento numa carreira é muitas vezes incompatível com a noção de pais que estes casais gostariam de ser leva-os a optar pela satisfação profissional.
Ainda, e talvez o mais importante, é o sentimento que estes casais expressam de não precisarem de um filho para se sentirem completos ou encontrarem o seu objectivo na vida. Muitos, pura e simplesmente não desejam ser pais. Todos temos esse instinto? Talvez, mas a nossa condição de seres pensantes permite-nos ir para além dele e fazer opções distintas.
Partilhar o tempo. Outros casais sentem uma vontade enorme de continuar a razão que os levou a juntarem-se: partilhar o tempo. Sem as responsabilidades inerentes aos filhos, estes casais têm mais energia e tempo para se dedicarem a uma variedade de coisas que gostam de fazer em comum. Viajar costuma ser opção mais vulgar.
A lista não tem fim, mas pode incluir a carreira profissional, a melhoria da educação própria, o desenvolvimento e manutenção de amizades, o envolvimento total em atividades para além das profissionais, a procura de um maior desenvolvimento pessoal, maior liberdade e segurança financeiras.
A decisão de não ter filhos, por parte de um casal, vai ser seguramente questionada. Primeiro pela família, que esperava um neto, um herdeiro, um continuador do nome de família, depois por amigos e colegas. E nos momentos em que a culpa os assalta, devem lembrar-se que esta decisão se baseou no desafio de manter vivo, ao longo dos anos, o interesse mútuo em cada um e em atividades conjuntas, mas também num bom equilíbrio entre a partilha e a individualidade de cada um, de tal forma que ambos sejam um casal sem que um se funda no outro. Também a atitude perante a velhice é normalmente equacionada de forma diferente, na medida em que, para além dos amigos, se não existirem outros familiares, os dois elementos do casal apenas contam um com o outro, o que em geral os leva a adoptar estilos de vida mais saudáveis, em que mesmo o stress profissional é compensado com outras atividades.
Para pensar. Ainda assim, e sempre que as dúvidas nos assaltarem, devemos colocar-nos questões como: O que procuramos obter da experiência de sermos pais? O que é para nós uma vida com significado? Como é que uma criança cabe nessa concepção?
Optar por não ter filhos é um assunto polémico e geralmente discutido com emoção. São vários os sitios da Internet que debatem estes assuntos. Em 1997, Korasick, uma mulher de 32 anos casada com um homem de 30 anos criou o Child Free Website para se ligar a outros como ela: casais que não querem ser pais. Ao fim de alguns dias, Korasik foi inundada com emails de agradecimento por outros casais na mesma situação, que encontraram eco e um espaço para partilharem as suas experiências. Atualmente existem muitos sites dedicados a casais sem filhos por opção, que, inclusive, organizam atividades para confraternização.