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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Através das histórias de conhecidos e amigos bem como pelas imagens e histórias transmitidas pelos meios de comunicação social, relativas às vidas e decisões das figuras públicas, deparei-me com uma expressão e visibilidade crescente relativamente às famílias adoptivas.
Por saber que estas famílias conhecem e atravessam desafios difíceis, pareceu-me pertinente partilhar convosco etapas e fases cruciais relativas ao desenvolvimento destas famílias.
As famílias adoptivas são constituídas por famílias de pais e filhos que não tendo uma ligação biológica estão ligadas por laços afetivos ou legais.
Segundo Rosenberg, a família adoptiva nasce com a chegada da criança e esta etapa constitui-se como fase primordial na qual irá ser estabelecido o vínculo entre pais e filhos, que será tanto mais difícil quanto mais avançada a idade da criança, visto, nestes casos, já estar estabelecido um modelo interno de vinculação.
Palácios, com o intuito de avaliar o nível de risco que pode caracterizar a família adoptiva propõe um modelo em que cruza factores de risco relativos aos pais adoptivos e factores de risco relativos aos filhos adoptivos. Assim, explicita que contribuem para o nível de risco dos pais, expectativas inadequadas, pouca capacidade em lidar com o conflito e a tensão, atitudes pouco comunicativas, pouca expressão de afeto e escassez de apoios sociais e profissionais e para os factores de risco dos filhos, a elevada idade de adoção, a institucionalização prolongada, história prévia de conflitos graves e presença de problemas sérios de comportamento.
Todas estas questões poderão emergir durante o processo de adopção e ao longo do ciclo vital destas famílias e é importante que estas famílias consigam recorrer ao apoio da família alargada, social e mesmo apoio técnico.
Uma das dificuldades que os pais podem sentir com filhos pequenos diz respeito ao desenvolvimento de uma autoridade e disciplinas eficazes, por exemplo, por medo de não conseguirem o afeto da criança ou por receio de serem muito duros devido ao passado da criança.
Uma tarefa importante a realizar na idade escolar, quando a criança já é mais capaz de compreender cognitivamente o significado de adopção, será exatamente a veiculação da notícia, pois o segredo é destrutivo na estrutura familiar. Após a revelação é importante apoiar a criança a compreender esta realidade, pois esta poderá realizar nesta altura confabulações relativas aos motivos de adopção, por exemplo, assumi-la como retaliação pelo seu comportamento, podendo assim emergir problemas escolares, dependência emocional ou comportamentos agressivos ou de desafio, de forma a testar a garantia e disponibilidade do amor dos pais.
A adolescência nestas famílias constitui-se como um dos períodos mais difíceis, pois pode nascer no adolescente o desejo de ligar as várias partes da sua história de vida e assim querer conhecer a sua família biológica e raízes geográficas, sem que isso signifique que queira deixar a sua família adoptiva. No entanto, estas são tarefas dolorosas que despertam medos e angústias na díade de pais e filhos.
Apesar das tarefas difíceis explicitadas que estas famílias atravessam, segundo Relvas, observa-se que relativamente ao nível de coesão e adaptabilidade não se registam diferenças significativas relativamente às famílias biológicas, visto haver um grande investimento na coesão por parte das famílias adoptivas para fazer nascer a família, por saberem que a coesão não germina espontaneamente, sendo também que a maior parte das famílias adoptivas revela satisfação pela adopção, caracterizando-se como famílias funcionais.
Fonte: Alarcão, M. (2000), (des)Equilíbrios Familiares, Quarteto, Lisboa
Autor: Gustavo Pedrosa
Psicólogo Clínico
O Alcoolismo (dependência e abuso do álcool) representam um dos maiores problema de saúde publica, que tem atingindo diversas gerações. Como em muitos outras patologias, o alcoolismo é vivenciado pelo individuo e, segundo a perspectiva sistémica, também pela sua família, designando-a de família alcoólica.
O alcoolismo surge, muitas vezes, como estratégia de resolução de dificuldades que o alcoólico encontrou para fazer face ao seu sofrimento, à sua dor mental. Mas o alcoólico leva consigo os elementos do seu sistema familiar para um processo circular, que consome recursos e esforços.
Este forte poder organizacional do álcool cria um elevado sofrimento psicológico em todos os membros da família, especialmente pela dificuldade em encontrarem meios adequados para exprimirem ou formularem um pedido de ajuda.
Mas, como se identifica afinal um problema de alcoolismo?
Quando o consumo de álcool escapa cada vez mais ao controlo do individuo, cria-se uma ligação vital ao álcool e aos seus efeitos. Existe então uma perda de controlo sobre o álcool e também sobre a sua vida, levando o alcoólico a controlar o meio para manter os padrões de ingestão.
Como afecta a família?
A organização familiar gira em torno do alcoolismo. Assim, a família deixa de se centrar na satisfação das necessidades dos seus membros, passando a orientar-se na manutenção da relação do consumidor com os seus consumos.
Perante isso, o sistema familiar tenta reequilibrar-se, procurando uma vivência em que os papeis e padrões relacionais sobrepõem-se à necessidade dos membros da família. Assim, a família modela o ambiente, capacidades, crenças, valores, identidade e até mesmo a pertença e dependência a esse sistema.
Cria-se então uma perturbação no relacionamento entre o individuo e os seus envolventes. O álcool passa a ser um elemento adaptativo que contribui para a manutenção deste “equilíbrio” da família, e que, pela sua presença, se opõe a qualquer mudança, promovendo a disfuncionalidade.
Co-Dependência:
Toda a família fica dependente do álcool. Mas há algumas famílias que resistem à invasão do álcool, pois não aceitam ou rejeitam o comportamento aditivo, levando à rotura conjugal. Assim, o primeiro passo para uma família alcoólica acaba por ser o comportamento do cônjuge , que necessita de aceitar a adição.
Na família alcoólica criam-se algumas “REGRAS DISUNCIONAIS”. Essas regras, não estando claras ou explicitas, são criadas, mantidas e vivenciadas por todos os elementos da família. Essas regras são:
1 – Regra da Negação: consiste na atitude de banalização, racionalização, de distorção da informação, de ameaças, sedução e confusão hierárquica que ocorre na família. Os estímulos são seleccionados, modificados ou excluídos, e o seu significado alterado ou ignorado, o que impede a resolução do problema. A Negação do problema leva ao bloqueio da pessoa com informação, pois ela não a revela ou faz uso dela.
Surgem então os segredos familiares, que consistem na paralisação da história e evolução da família, moldam as relações, claras ou encobertas, as divisões, as rupturas e definem os limites. São factos que toda a família conhece, mas que cada qual acredita que é o único, ou um dos únicos a sabe-lo, não sendo por isso nunca falados. Encobrem o significado e a consequência do comportamento disfuncional (beber) e distorcem a comunicação na família, bloqueiam as interacções dos seus membros e retiram a confiança.
É proibido saber e é proibido esquecer o segredo.
2 – Regra do Silêncio:
É uma causa e uma consequência, em que a nomeação das necessidades próprias, desejos, emoções e sensações está pouco presente.
A expressão verbal relativa ao que cada um compreende e sente é muito limitada e a expressividade inibida. Existe o medo de falhar, de se enganar, não havendo palavras credíveis, e a dúvida instala-se.
As interacções são negativas e centradas na censura, o que favorece a vergonha e culpabilidade.
3 – Regra do Isolamento:
Os elementos familiares aprendem a não interagir uns com os outros (sejam da mesma geração ou entre gerações).
A crise, quando surge, pode ser salutar, servindo para pedir ajuda e manifestar alguma abertura recorrendo a intervenientes exteriores (vizinhos, autoridades, médico, psicólogo, urgência...).
4 – Regra da Rigidez:
Aqui surge simetria de comportamentos, ou seja, as relações são baseadas num comportamento similar (em espelho). O reforço de um comportamento de um elemento, reforça o comportamento semelhante do outro, e assim se minimizam as diferenças.
Surge também comportamentos de complementaridade, ou seja, a relação baseia-se na diferença; o comportamento de um ajusta-se ao comportamento do outro.
Ao nível relacional, o alcoólico caracteriza-se pela excessiva simetria. Os hábitos de beber pela rivalidade e pela semelhança – beber tanto quanto o outro, cada um paga uma rodada e mostrar ao outro que se é tão capaz quanto ele.
Assim, quanto mais o sistema repete que deve parar de beber, mais o alcoólico quer provar a sua força em resistir. Quanto mais o alcoolismo se agrava, mais a família tende a complementar, exercendo autoridade e protecção.
A mudança na família pode surgir do co-alcoólico, que começa a ter em conta as suas necessidades, os seus desejos, deixando de estar orientado para as necessidades do alcoólico.
Podem surgir assim comportamentos de controlo dos consumos por parte do cônjuge, havendo quase como uma infantilização do alcoólico, que fica sem poder se decisão.
No alcoolismo a Intervenção Terapêutica centra-se, inicialmente, na criação de um sistema terapêutico.
Tem que ser feita uma análise da cultura familiar, padrões, estilos, costumes, segredos, mitos e problemas. Há então que compreender como se articulam os factores que bloqueiam a historia familiar e criar uma historia familiar onde o alcoolismo não constitua o ponto central de todas as relações familiares.
O terapeuta terá que demonstrar que equilíbrio familiar é possível e que a mudança não implica o caos.
Terapêutica introduz no sistema conteúdos relacionais com os seus próprios modelos, significados e sistemas de relação.
Há que haver cuidado especial na desintoxicação, que poderá levar à depressão, tanto no alcoólico como no cônjuge.
Por fim há que explorar a função do álcool nas problemáticas do casal e do individuo.
O processo tem em conta alguns condicionalismos, como:
a) Eventualidade de uma separação;
b) Autonomia dos filhos;
c) Dificuldade do casal na expressão de afectos e emoções;
d) Capacidade de viverem como um casal sem um terceiro elemento;
e) Medo do alcoólico ser engolido pela “família perfeita”.
Concluindo, é fundamental reconstruir as relações com os outros, com a família, com o terapeuta e resolver os assuntos inacabados (segredos). Promovem-se assim as narrativas com mais proactividade, que possibilitem conviver de forma mais gratificante, saudável e autónoma.
Baseado em:
Pires, U. (2009). A família com um membro adulto alcoólico. Mosaico, 43, 36-42.
Autor: Gustavo Pedrosa
Psicólogo Clínico
A chegada de uma criança com deficiência geralmente torna-se num momento bastante traumático e de mudanças, dúvidas e confusão. A maneira como cada família lida com esse evento influenciará decisivamente na construção da identidade do grupo familiar e, consequentemente, na identidade individual dos seus membros. O próprio grupo familiar é obrigado a desconstruir os seus modelos de pensamento e a recriar uma nova gama de conceitos que absorva a realidade.
A família tem o papel social de criar e desenvolver a individualidade, num sistema onde se busca a autorrealização dos seus membros. Com o nascimento de um filho com deficiência (física ou mental), a sua estrutura razoavelmente estável, a definição de papéis e o estabelecimento de regras, de acordo com os seus próprios valores, exige aos seus membros uma redefinição desses mesmos papéis, de acordo com os novos valores e padrões de comportamento, para se ajustarem ao novo estilo de vida. Na criação de novas regras, papeis e capacidades, a família, geralmente confusa, necessita de algum aconselhamento psicológico. No entanto, a maioria das famílias aprende através da tentativa e erro. A cada mudança, impacto ou crise, a família deverá ser restruturada.
O nascimento de uma “criança especial” traz muitas mudanças especiais. Na reação a esta criança podem surgir diversos tipos de reação:
- Encarar o problema de um modo realista;
- Negar a realidade da deficiência;
- Lamentações e compaixões dos pais, para com a sua pouca sorte;
- Ambivalência em relação à criança, ou seja, rejeição e projeção da dificuldade como causa da deficiência;
- Sentimentos de culpa, vergonha e depressão e padrões de mútua dependência.
Geralmente são vivenciadas fases distintas, de negação, adaptação e aceitação.
A primeira fase é de Negação. Os pais não querem acreditar no diagnóstico, não se encontrando a família preparada para conviver com algo dessa natureza. Até porque, a família esperava o nascimento de um bebé saudável, sem problemas. Os sentimentos de culpa, rejeição ou desespero, alteram as relações sociais da família e a sua própria estrutura. Os sentimentos de culpa e vergonha pela criança deficiente levam a que os pais se sintam culpados e envergonhados por os sentirem. Todas estas reações são comuns a todas as pessoas, perante situações de frustração e o conflito. Assim, muitos dos sentimentos destes pais são compartilhados por outros pais em diversas fases da sua vida. O receio da reação da família alargada, e da sociedade em geral, ligadas às dificuldades em conviver com as diferenças, leva a família a isolar-se. Algumas famílias lançam uma interminável busca por outros diagnósticos que possam negar a deficiência. Esta fase pode prolongar-se por dias, meses ou anos.
Depois desta fase, os pais começam a perceber que o seu filho apresenta necessidades que necessitam de ser atendidas prontamente.
Inicia-se então a segunda fase, de Adaptação, quando a família elaborou a perda (fez o luto) da “criança saudável” previamente concebida no imaginário familiar, começando a adequar-se ao diagnóstico, procuram informar-se e entender o mesmo. A família começa a perceber o deficiente como um ser humano genuíno, integral e pleno de significado.
Na fase da Aceitação acontece um maior e mais realista contacto com a criança e a sua deficiência. Os pais tronam-se mais participativos, procurando mais apoio, sugestões e esclarecimento. Alguns reconhecem que a tristeza e a frustração são sentimentos que devem ser encarados com naturalidade. Em geral ainda apresentam uma postura superprotectora, mas que com o tempo tende a diminuir.
Quando a criança com algum deficit deixa de ser vista pela sua deficiência e passar a ser entendida como uma pessoa integral, decorre um novo olhar, atitudes e posturas.
Os pais podem entrar em contacto com a deficiência do seu filho de várias maneiras. Poderá ser muito antes de o bebé nascer, quando são feitos exames na fase pré-natal. Mas grande parte das deficiências é apenas diagnosticada após o parto.
Independentemente do momento em que os pais entram em contacto com a deficiência do seu filho, e de quão fortes e maduros possam ser, essa é sempre uma situação envolta em muita dor, medo e incerteza. Além da família, também os técnicos de saúde têm dificuldades em lidar emocionalmente com o diagnóstico e a sua transmissão aos familiares. As atitudes destes técnicos são tão diversas como:
- Omissão e transferência para terceiros (outros técnicos de saúde);
- Transmissão da notícia de forma destrutiva, como se os pais não devessem esperar nada da criança;
- Minimização dos problemas, prometendo um futuro fantasioso;
- Transmissão da notícia de forma impessoal e distante, sem explicações do problema e sem empatia.
O ideal é que o profissional tenha conhecimento técnico da sua área e que possa ter uma atitude de empatia com a família. A família necessita de ser informada e encaminhada para a resposta às necessidades da situação.
Autora: Catarina Mexia
Terapeuta Familiar e de Casal
As crises conjugais durante os primeiros 2 anos, após o nascimento do primeiro filho, são muito frequentes. Contudo é possível acautelar a relação e evitar que o stress normal, decorrente das mudanças várias nos elementos do casal e na relação, transforme estes momentos de alegria em desilusão.
Antes do nascimento
Agora que são pais:
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
Se é pai ou mãe de filhos adolescentes, é natural que os conflitos se evidenciem e que tragam com eles as discussões, mas se tem como objectivo reduzir o volume estridente normalmente presente nas conversas em Alta Voz com os seus filhos adolescentes, mantenha presente os seguintes tópicos:
- Lembre-se que pertencem a gerações diferentes (com diferentes ideais e por isso diferentes ideias). Lembre-se que as gerações dependem umas das outras. Converse com o seu filho sobre essa continuidade e sobre as mudanças, criando assim mais pontes e não aumentando o fosso entre gerações.
-Ouça o que os media comunicam sobre a adolescência, preocupe-se q.b. mas não generalize: Quando falar com o seu filho mantenha presente a sua “ fotografia” real e não a imagem da “marca adolescência”.
- Aproxime-se do seu filho com disponibilidade genuína para ouvir as suas histórias, os seus pensamentos e sentimentos muito provavelmente confusos.
- Esteja com ele na procura de uma maior coerência para os seus pensamentos e sentimentos, e resista à tentação de impor, julgar ou recriminar pois isso conduzirá ao afastamento do seu filho e perderá assim a oportunidade de o ajudar a ver com maior nitidez “o caminho”.
- Tente encontrar formas alternativas de educar, sempre mais adaptadas às situações, não repita a forma como o educaram se não estiver a funcionar com o seu filho.
- Tente perceber se têm discussões repetidas: se sim e se já sabe como começam e acabam, e a solução passa então por fazer diferente, ex: se costumam discutir antes do jantar experimentem após o jantar, se costumam discutir na cozinha experimentem na sala, se normalmente é a sós, falem com a família reunida…
- Tente clarificar regras e limites, procure que sejam percebidas e cumpridas mas esteja disponível para negociar.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
É sabido que manter os níveis de bem-estar regularizados no seio da família não é de todo uma tarefa fácil. Desde que os mais pequenos assumem um papel e um espaço na família, inúmeros são os factores que acrescem para a entropia deste sistema, às quais reciprocamente os mais pequenos também reagem com as mais finas das sensibilidades
Como se não bastasse a multiplicação de esforços em família, surge o contacto com o meio através de uma instituição que pautará o percurso de vida dos mais novos: a escola!
Boas notícias para os pais dos mais novos, os estudos mostram que o reforço do acompanhamento parental ao nível do percurso escolar, tem uma influência considerável no desenvolvimento mais ajustado das crianças, através de tarefas simples como, visitas regulares e participação nas actividades promovidas pela escola.
Autora: Catarina Mexia
Psicóloga Clínica
Quando casamos e temos filhos, os nossos pais continuam a influenciar-nos. Os pais influenciam os filhos e mães as filhas. Quer tenhamos consciência disso ou não o exemplo que provém dos nossos pais influencia-nos profundamente na forma como tratamos os nossos companheiros e educamos os nossos filhos.
São muitos os exemplos que cada um de nós poderia evocar mas recordo aqui o de Jorge. No final de um dia de trabalho, este cliente gostava de chegar a casa sentar-se no sofá, ler o seu jornal, ver a televisão. Contudo o jantar precisava de ser preparado, os filhos precisavam da ajuda do fim de dia, a casa precisava de um jeito. Teresa, a mulher também trabalha fora e queixava-se que a sua profissão é tão cansativa quanto a do Jorge.
As queixas da Teresa prendiam-se com o desejo de ver o Jorge participar na vida familiar.
O Jorge é uma pessoa com um sentido de justiça ajustado que considera este pedido da Teresa perfeitamente razoável. Contudo, uma outra parte dele como que lhe recordava constantemente que este não era o papel do homem.
Para o Jorge, cuidar da casa é trabalho de mulher. Muitas vezes era assaltado pela ideia “Mas quem ela pensa que é para mandar em mim?” Para este cliente assentir nos pedidos da mulher era humilhar-se e sentir-se menos homem. Contudo, e porque gostava profundamente da mulher, percebia-se num intenso conflito.
Se por um lado fazia o que lhe era pedido, também o fazia de má vontade o que criava uma atmosfera muito desagradável em casa, um dia após o outro.
Autora: Inês Mota
Psicóloga Clínica
A família é esse lugar onde habitamos e nos desenvolvemos. É esse espaço privilegiado de interacções e aprendizagens. É esse local de vivência de relações afectivas profundas, lugar de emoções e afectos intensos e duradouros.
Nesse espaço e nesse lugar, na família, todo este conteúdo elaborado dá forma àquele vívido sentimento de sermos quem somos na pertença ou relação com aquela particular, sempre diferente, sempre única e sempre especial: a nossa Família.
“A Família” e a(s) nossas família(s) da actualidade acompanharam as mudanças religiosas, económicas e sócio-culturais de todos os tipos de sociedades nas quais estiveram sediadas e pela sua natureza criativa e inspiradora são hoje esse espaço continuamente renovado, continuamente reconstruído.
De facto, o ritmo célere da vida da contemporaneidade, o individualismo, a lei do mercado anunciam e afirmam por todo o lado o direito à reversibilidade das escolhas tendo sido a(s) família(s) marcadas por um aumento do número de separações, divórcios e recasamentos.
A Família encontra-se em vias de extinção?
A(s) família(s), lugar de afectos, fonte inspiradora continuadamente em re- criação, assume-se na actualidade sob novas formas de organização familiar que já não pedem para ser escondidas, embora a sua configuração familiar e social possa ainda não ser legalmente aceite.
Essas formas de organização familiar, (que estiveram sempre presentes, no entanto, ocultas e condenadas) constituem-se como famílias que assumem composições que a sociedade de outrora não estava habituada a observar.
Autora: Catarina Mexia
Psicóloga Clínica
Os dados estatísticos relativos à depressão demonstram que, de facto, o número de deprimidos tem vindo a crescer de forma consistente nos últimos 50 anos e que esse crescimento se verifica sobretudo nas pessoas nascidas depois de 1945. Por sua vez, os sintomas depressivos têm vindo a surgir cada vez mais cedo, perto dos 20 anos, enquanto antes não seria de esperar encontrar pessoas com esta doença com menos de 30.
A análise dos dados de estudos transculturais tem demonstrado que, embora tenham vindo a ser descobertas causas associadas a factores individuais, bioquímicos e genéticos, esta é uma condição fortemente associada a factores culturais. Podemos encontrar inúmeros factores depressores na nossa cultura e, entre outros, destacam-se a facilidade de acesso a enormes quantidades de informação e a alteração da noção de tempo, causados pela súbita evolução tecnológica. Só desde 1945 devemos ter acumulado e criado mais formas de acesso a informação do que aquelas que produzimos até então.