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Este consultório da Oficina de Psicologia tem por objectivo apoiá-lo(a) nas suas questões sobre saúde mental, da forma mais directa possível. Coloque-nos as suas dúvidas e questões sobre aquilo que se passa consigo.
Autora: Vanessa Damásio
Psicóloga Clínica
A crise económica e financeira mundial está na ordem do dia, e está presente na vida e na mente de cada português, que se vê afetado em todas as áreas da sua vida. O desespero cresce dentro daqueles que não podem viver mais o sofrimento de sobreviver com pouco ou quase nada, ou porque estão desempregados, ou têm dívidas, despesas, ou porque não conseguem sequer alimentar as suas famílias. Na sequência destas necessidades básicas acresce a necessidade de alimentação emocional com atenção, segurança e conforto, para que cada pessoa se possa sentir protegida, cuidada e estável.
Observa-se assim uma diminuição da estabilidade emocional e afetiva das pessoas, que se reflete claramente nos seus comportamentos. Cria-se uma sensação de impotência e desmotivação na população em geral e parece não existir alternativas. As pessoas sentem-se zangadas, com raiva e profundamente tristes. Consequentemente parecem evidenciar-se comportamentos e estados de ansiedade, apatia, dependência e depressão, e as patologias e perturbações mentais vão-se desenvolvendo concomitantemente.
A crise está efetivamente presente na vida das pessoas a vários níveis e, como tal, vem repleta de mudanças, transformações, às quais se cria uma necessidade de adaptação. Quando estas crises são repentinas, instala-se o choque e o caos, a falta de rumo, a desesperança, a confusão, o medo seja a que nível for, familiar ou pessoal, profissional, comunitário ou mundial, económico ou financeiro.
Cada crise, à sua maneira, é geradora de uma sensação de incerteza e também de um certo descontrolo sobre o que o futuro reserva, o que poderá ser assustador e criar muita ansiedade.
Mas, as crises são também oportunidade, especialmente quando se consegue agarrar e acreditar nos recursos que se possui e redescobri-los nestes tempos, poderá ser uma alavanca para novas criações, novos passos motivados pela esperança e confiança dentro de cada um.
Os psicólogos são “especialistas das crises” e como “cirurgiões de emoções”, que reconetam ligações emocionais, cognitivas e comportamentais perdidas, confusas ou bloqueadas pela crise, os psicólogos tentam aliviar a dor destas emoções em cada pessoa.
A realidade social, económica, familiar e pessoal não pode ser alterada ou apagada, mas a forma como está a ser vivenciada e sentida pode ser, então, aliviada através de terapia psicológica, como uma boa ajuda para estas crises e realidades internas de cada pessoa em sofrimento.
Autora: Vanessa Damásio
Psicóloga Clínica
Observo que procuramos constantemente um ponto fixo, um ponto de equilíbrio, algo que nos mantenha seguros, no meio de um mundo repleto de mudanças, transformações, ou melhor, transições. Tal significa que realizamos passagens de um estado, forma ou local para outro distinto e não obrigatoriamente pior ou melhor. Dão-se constantes transições a todos os níveis da nossa vida, e inclusivamente, se repararmos bem, nem no próprio universo temos um domicílio fixo: o planeta terra viaja pelo espaço a vários quilómetros por segundo, mudando a sua posição de segundo a segundo, sendo que num segundo estamos ali, e noutro acolá, sem sequer termos consciência disso! As estações do ano seguem-se umas às outras de forma cíclica: Primavera, Verão, Outono e Inverno; e até a o estado da água pode passar por diferentes transformações segundo a temperatura e pressão do contexto, passando de líquido a sólido ou gasoso e vice-versa.
Mas uma das transições mais difíceis de aceitar será quiçá a das etapas do ciclo da vida. Passamos a vida a tentar encontrar a estabilidade nas famílias e relações, na carreira, na localização e até no universo, e muitas vezes não conseguimos digerir as passagens da idade e do tempo, principalmente a nível pessoal e familiar. A nível pessoal é de destacar o quão por vezes é difícil passar da fase infantil à adolescência e desta à fase adulta. Em cada nova fase temos que nos readaptar, transformar e reconstruir, passando por metamorfoses como se de borboletas nos tratássemos.
A nível familiar e relacional verificam-se diversos eventos naturais que, necessariamente provocam mudanças na organização do sistema familiar, que podem ser previsíveis, como por exemplo o casamento, ou imprevisíveis e que alteram o tempo e as funções da família, de forma a modificar o ciclo vital, como por exemplo a morte precoce ou a gravidez na adolescência.
A cada transição de fase do ciclo vital, a família deve enfrentar uma situação nova, que põe em cheque as antigas modalidades de funcionamento, necessitando uma nova ordem familiar.
Cada transição pressupõe assim uma certa forma de crise, mais ou menos intensa para cada indivíduo e sistema familiar em que se encontra. O problema está precisamente quando o indivíduo e suas relações não se conseguem adaptar às crises e mudanças, e quando a razão e a realidade se misturam com emoções negativas e frustrações permanentes.
Onde está o nosso ponto fixo, um “porto seguro” e reconfortante, no meio deste universo de transformação constante?
Quero acreditar que a resposta reside na capacidade que dispomos para olhar para o nosso interior, para a nossa mente e mentes que nos rodeiam, e se necessário pedir ajuda a uma relação que nos dê amor, valor e carinho, a um amigo ou familiar, ou quiçá a um psicólogo! Porque a psicologia é para todos e poderá ser esse mesmo ponto fixo que nos ajuda a superar uma transição que nos bloqueia o crescimento.